quarta-feira, agosto 11

Verão quente de 2004


1. - Não são só os campos a arder.
Os políticos este ano não foram de férias. Senão, vejamos:
a) - O director-geral da Polícia de Segurança Pública "bateu com a porta", em protesto silencioso.
b) -Na TAP, consumou-se a ruptura, há muito anunciada, entre o brasileiro Fernando Pinto e o português Cardoso e Cunha.
c) - O desembargador Adelino Salvado, Director Nacional da Polícia Judiciária, demitiu-se na sequência do caso das gravações do jornalista do "Correio da Manhã" Octávio Lopes sobre o caso Casa Pia.
d) - O ministro Fernando Negrão revelou que há na Segurança Social um "buraco" de 500 milhões de euros. Que terá Bagão Félix a dizer?

2. - O caso das gravações da conversa entre Adelino Salvado e Octávio Lopes, do "Correio da Manhã", em que o ex-director da PJ terá protagonizado fugas de informação selectivas e contribuído para a eventual violação do segredo de justiça no processo Casa Pia, assume contornos de especial gravidade.
Sabe-se, de há muito, das ligações promiscuas entre poder político e órgãos de informação, ambos empenhados em obter vantagens da conspiração política, que, desgraçadamente, substitui num grande número de casos o combate político que deveria ser travado às claras no Parlamento. No entanto, surpreende-me, sempre, o conhecimento da verdade nua e crua de factos de tal gravidade.
Sobre este tema um excerto do texto exemplar de JPP no Abrupto:
" O crescimento do poder dos jornalistas e magistrados fez-se durante os mesmos anos e pelas mesmas razões: a pressão populista das oposições e a cedência cobarde de governos, para a constituição de contra-poderes que fizessem, fora do sistema político, aquilo que deveria ser feito por uma Assembleia forte e um sistema judicial equilibrado e eficaz. Como ninguém quis fortalecer a democracia onde ela devia ser fortalecida, criou-se um monstro que, a prazo, devora quem o gerou e degrada a vida pública."
"É verdade que tudo isto acontece pela miserável prática, que quase toda a gente acha normal, de fazer confidências como “fonte” dos jornais e televisões. Esta prática gera cumplicidades, e impedimentos que depois introduzem mais silêncios e incomodidades no completo esclarecimento dos casos. Acaba por haver culpados de um lado e de outro e, no momento decisivo, eles calam-se para não se comprometerem e se protegerem. Como na corrupção".

  • Cópia dos Textos de JPP, publicados no Abrupto
  • 1 Comments:

    Blogger Francisca said...

    Apetece comentar todos os posts deste seu Blog - que só agora descobri, apesar de constar nos nossos favoritos (além de novata sou mesmo distraída:) - mas não posso, pelo menos para já.
    O percurso do seu raciocínio (muito lúcido) é completo.
    Até as pontas do novelo que - numa aparente singeleza - deixa cair, revelam o conhecimento profundo sobre o que diz e o que deixa por dizer.
    Tipo: assim não vale:)
    Talvez num próximo. Até lá, obrigada.

    7:33 da tarde  

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