terça-feira, maio 24

Estudo da EE


1. - O estudo encomendado pelo anterior ministro da saúde, Luís Filipe Pereira, à Europe Economics - Sistema de Comparticipação de Medicamentos e a sua Adequação à Reforma da Saúde, incluindo o Regime de Preços dos Medicamentos a Comparticipar pelo Estado - parece ser a última paixão do actual ministro da saúde, Correia de Campos (link)(link)
Mas não só.
Alguma da nossa imprensa considerou as conclusões do estudo da Europe Economics (EE) revolucionárias (JN).
Puro exagero.
2. - O levantamento do mercado do medicamento em Portugal, efectuado pela EE, não traz nada de novo:
- Volume elevado de prescrições
- Despesa com medicamentos com uma elevada percentagem em relação ao PIB
- A Despesa com medicamentos não é particularmente elevada quando considerada em termos de despesa per capita.
- A comparticipação dos utentes na aquisição de medicamentos é das mais elevadas da Europa.
- A despesa pública com medicamentos tem sido um factor importante no crescimento da despesa da Saúde.
- Nos últimos anos a taxa de crescimento anual da despesa com medicamentos reduziu de dois para apenas um dígito, continuando, no entanto, a ser bastante superior a taxa de crescimento do PIB.

3. - O estudo propõe várias medidas. Também aqui não há novidades:

- Simplificação e unificação dos regimes especiais de comparticipação através da criação de uma taxa mínima única de comparticipação de 80% a 85 % para as doenças crónicas, majorável conforme o rendimento de cada utente;
- Eliminação/redução da majoração de 10% dos genéricos;
- Fim da majoração de 25% para os utentes do regime especial;
- Alteração do regime de remuneração das farmácias e armazenistas;
- Fixação do preço de referência com base no preço do genérico mais barato;
- Alargamento do sistema de preços referência através do uso de protocolos terapêuticos a grupos homogéneos de medicamentos em que não existam ainda genéricos, podendo cobrir assim produtos ainda sob patente. Nestes protocolos são definidos quais os medicamentos que devem ser usados num determinado tratamento. O preço de referência recomendado seria usado como preço de referência de todos os medicamentos prescritos para aquela patologia.

4. - Em relação às principais medidas propostas no estudo da EE, entendemos o seguinte:
a) - A fixação do preço de referência com base no preço do genérico de preço mais baixo, utilizada em muitos países da EU, já anteriormente recomendada pela OCDE, há muito que devia estar implementada.
b) - O fim da majoração de 25% prevista para os utentes do regime especial significa uma forte e injusta restrição à acessibilidade do medicamente em relação à fatia da população portuguesa de mais baixos recursos.
c) - Os protocolos com a listagem dos medicamentos recomendados para cada patologia, além das dificuldades relativas à sua criação, suscitam o problema do seu cumprimento por parte dos médicos prescritores. Se até à data não conseguimos que os médicos prescrevam por DCI, relativamente aos medicamentos comparticipados pelo SNS, como é que vamos conseguir que cumpram estes protocolos terapêuticos.
d) - O estudo da EE tem como preocupação dominante a redução da comparticipação do estado na despesa com a aquisição de medicamentos, não abordando o contributo da tecnologia do medicamento para os ganhos de saúde registados em Portugal.
Não conseguimos, por outro lado, descobrir qualquer análise sobre o regime de fixação dos preços dos medicamentos ou das ineficiências resultantes do incumprimento da regulamentação do medicamento em vigor no nosso sistema.

6 Comments:

Blogger xavier said...

O acesso ao relatório da Europe Economics pode ser efectuado através do link inserto neste post.
Agradecíamos aos experts da área do medicamento(estou a pensar por exemplo no Avelino) que dessem a sua ajuda na discussão desta matéria.

9:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O pior erro que se poderá cometer em relaçãp à política do medicamento será substituir o acyual sistema de comparticipação, pois ainda não foram exploradas todas as suas potencialidades.
Há toda a vantagem em introduzir alterações e melhorias graduais.
- Tornar obrigatória a prescrição por DCI em relação a todos os medicamentos comparticipados pelo Estado;
- Tomar como preço de referência o preço do genérico do mesmo grupo homogéneo de preço mais baixo;
- Proceder à revisão periódica dos preços dos medicamentos, aferindo-os em relação aos países de referência: Itália, Espanha e França.
- Continuar a revisão dos preços excessivos.
- Fazer uma verdadeira reforma da farmácia hospitalar.
- Criação de farmácias sociais.

10:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ANF denuncia violação da lei dos preços dos medicamentos
Joana Ferreira da Costa

Farmácias defendem que os genéricos deveriam custar pelo menos metade do preço de um produto de marca

O presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), João Cordeiro, defendeu ontem que os medicamentos em Portugal são mais caros porque os laboratórios violam a lei dos preços. Se a legislação fosse cumprida, o Estado e os doentes teriam poupado 50 milhões de euros em apenas 15 medicamentos, disse. Em seu entender, o preço dos genéricos deveria ser no mínimo metade do custo do equivalente de marca.
Numa conferência de imprensa em Lisboa, o responsável da ANF explicou que a violação da lei é um dos motivos pelos quais os medicamentos em Portugal, quer de marca quer genéricos, são mais caros do que noutros países.
A associação estudou os 100 medicamentos de marca que mais dinheiro custam ao Estado e concluiu que todos eles violam as regras de fixação do preço em vigor em Portugal. A lei estabelece que um remédio à saída do laboratório não pode custar mais do que o equivalente mais barato em Espanha, França ou Itália. "Mas isso não está a ser cumprido em Portugal", defendeu.
João Cordeiro deu exemplos de 15 medicamentos onde esta violação é particularmente significativa, havendo situações onde o preço do medicamento português é superior em 60 por cento ao seu equivalente italiano. É o caso de um anti-inflamatório, que o Estado comparticipa em 70 por cento, e que custa, à saída da fábrica, 7,49 euros em Portugal, quando devia custar 2,98 - o preço que tem em França.
Não admira por isso que, depois de calculadas as margens de comercialização e os impostos, o preço de venda ao público seja muito superior em Portugal. "Se a lei fosse cumprida este medicamento custaria menos 60 por cento", adiantou Cordeiro.
Por isso, diz a ANF, é preciso que o Governo garanta o cumprimento da lei ou, se houver de facto uma lacuna, que substitua a legislação que está em vigor há 15 anos. O PÚBLICO tentou sem êxito durante a tarde contactar a Direcção-Geral de Empresa, entidade do Ministério da Economia responsável pelo controlo económico dos medicamentos. No entanto, um dos seus responsáveis, Pedrosa Basto, justificou ao Diário Económico esta situação, defendendo que há uma lacuna na legislação: os laboratórios entram no mercado com o preço correcto mas depois aumentam-no, e essa situação não está prevista na lei, que só estipula o preço para a entrada no mercado. "O espírito da lei não é cumprido", mas legalmente não há nada a apontar, lê-se.
Independentemente da correcção desta situação, defendeu ontem a ANF, há condições em Portugal para obrigar a que os genéricos sejam por lei no mínimo 50 por cento mais baratos do que o seu equivalente de marca - e não apenas 35 por cento, como acontece actualmente.

Críticas de fundo a estudo
encomendado pela tutela
A ausência de referências a esta lacuna na lei foi uma das ferozes críticas da ANF ao mega-estudo encomendado pelo Ministério da Saúde à consultora britânica Europe Economics, divulgado pela imprensa (ver PÚBLICO de ontem). "Para quem encomendou um estudo profundo sobre o sector é no mínimo estranho que a questão do cumprimento da lei não tenha sido analisada", defendeu Cordeiro. "Se eu fosse responsável, nem pagava o estudo", frisou.
Além de se opor a muitas das conclusões avançadas - como o fim do bónus de 25 por cento dado pelo Estado na comparticipação aos doentes do regime especial - a ANF considera que a análise tem lacunas graves e revela "amadorismo e superficialidade" nas suas abordagens.
"Nas suas conclusões o estudo é muito pobrezinho. Mas a situação é sobretudo grave pelo que o estudo não diz", adiantou Cordeiro. O trabalho não fala das implicações da prescrição médica por denominação comum internacional [o nome da substância activa], em vez do nome de marca. Nem do facto de a actual receita permitir ao médico impedir o farmacêutico de substituir um medicamento de marca por um genérico.
"Não ponho em causa a credibilidade da empresa que fez o estudo. Mas as conclusões são muito semelhantes às defendidas pela Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica", concluiu.
Jornal Público

12:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ponto primeiro, agradecer ao xavier a prontidão do link. As mais de 200 páginas do estudo vão levar algum tempo a digerir, e convém reservar as opiniões criticas para depois dessa leitura - basear observações apenas no que vem na imprensa é sempre perigoso.

Apenas, de momento, uma nota rápida à reacção da ANF/João Cordeiro - a opinião sobre estudo dependente de alinhar pelas suas ideias preconcebidas e interesses da Associação a que preside. João Cordeiro não pagava o estudo, nem provavelmente o divulgava até que as conclusões fossem as que ele pretende.

Mas voltaremos com comentários ao estudo em futuro próximo, espera-se.

2:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O Estudo custou mais de 200 000 euros.
Só pode ser Comics...

11:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A proposta base deste estudo, a implementação dos protocolos terapêuticos é inexequível.
Quanto ao resto não era preciso fazer a encomenda de um estudo deste tipo a uma empresa estrangeira.
Para justificar o dinheiro gasto o governo pode fazer um pacote com as restantes medidas e implementá-las.

3:00 da manhã  

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