Deus reside no pormenor
Com a má consciência de meio milhão de concidadãos desempregados cumpriu-se o ritual de mais um santo Natal .
Como de costume, calharam-me algumas pérolas de presente. Merecedor de destaque o livrinho da gradiva com a décima palestra proferida no Nexus Institute por george steiner sobre "A ideia de Europa":
«O génio da Europa é aquilo que William Blake teria chamado «a santidade do pormenor diminuto». É o génio da diversidade linguística, cultural e social, de um mosaico pródigo que muitas vezes percorre uma distância trivial, separado por vinte quilómetros, uma divisão entre mundos.
O computador, a cultura do populismo e o mercado de massas fala anglo-americano desde as discotecas de Portugal ao império de comida rápida de Vladivostok. A Europa morrerá efectivamente, se não lutar pelas línguas, tradições locais e autonomias sociais. Se se esquecer que «Deus reside no pormenor».
Mas como se poderão equilibrar as proposições contraditórias da unificação económica-política com aquelas da particularidade criativa ? Como poderemos associar uma riqueza salvífica de diferenças da longa crónica de ódios mútuos ? Não sei a resposta. Só sei que aqueles mais sábios do que eu têm de a encontrar, e que a hora é tardia».
O computador, a cultura do populismo e o mercado de massas fala anglo-americano desde as discotecas de Portugal ao império de comida rápida de Vladivostok. A Europa morrerá efectivamente, se não lutar pelas línguas, tradições locais e autonomias sociais. Se se esquecer que «Deus reside no pormenor».
Mas como se poderão equilibrar as proposições contraditórias da unificação económica-política com aquelas da particularidade criativa ? Como poderemos associar uma riqueza salvífica de diferenças da longa crónica de ódios mútuos ? Não sei a resposta. Só sei que aqueles mais sábios do que eu têm de a encontrar, e que a hora é tardia».
george steiner, a ideia de europa,gradiva
Os sábios deveriam aconselhar Portugal a investir na cultura.
6 Comments:
Natal e Bem-estar social
Portugal em crise? Meio milhão de desempregados?
Aos estudantes de economia (e outros) é ensinada a ideia de mínimo de subsistência em relação com o mínimo de bem-estar social e dele se transmite o conceito de grandeza relativa.
Parece-me ser este um conceito bem presente neste nosso Natal de 2005.
Tanto se tem falado de crise, tanto se tem falado de pobreza e exclusão social que, ao lermos os números relativos a compras nesta quadra natalícia, ao vermos como os centros comerciais viveram dias de grande movimento (consta que um deles atingiu o limite de segurança - peso - ao ponto de ter de limitar as entradas, se nos coloca inevitavelmente a dúvida: onde está a crise?!
É bem possível que, muitos dos que atafulharam carrinhos de compras, dentro de pouco tempo venham lamentar-se de que o salário não chega, ao verificar ser-lhe retirada a correspondente parcela do "Visa". Podem até ficar dívidas por pagar mas...a euforia do Natal cada vez mais nos torna irracionais.
A crise existe, o desemprego existe, mas em boa verdade mais uma vez o conceito de relatividade nos leva a pensar que o "Sol quando nasce não é para todos".
Ouvir uma entrevistada na televisão dizer que em "prendas de Natal" gastou cerca de 4 000 euros é na verdade "um insulto aos pobres" . Não aos que, dizendo-se pobres, carregam o carro de compras com o seu TV de plasma...mas que, possivelmente, vivendo em habitação social nem a renda (pequena) pagam.
E passada a euforia dass compras de Natal não passaram senão breves dias até que novamente se clame contra as dificuldades do dia-a-dia. Mas mais uma vez só para alguns (ao que parece cada vez mais).
Meus Senhores: a economia paralela existe e é bom que os "caçadores de impostos", com Teixeira dos Santos à cabeça, não olhem só para a contenção dos salários dos funcionários públicos.
Este trabalho do Carlos Bica fica a milhas do CD "Azul" com o Frank Möbus e o Jim Black.
De qualquer forma vale a pena.
Ofereci-me este Natal.
Joaopedro
Qual será o orgulho dos Portugueses no seu País?
A avaliar pelo dos Italianos...e pelas nossas preferências pelos produtos importados, devemos estar abaixo dos 10%! Não?
Bem talvez não, porque afinal somos pobres e fazemos vida de ricos?!
Hoje foi dia de tolerância. E lá se foram 0,25% do PIB (foi este o número que um colega aqui lembrou há alguns dias).
Não sou contra a tolerância, mas quem tanto criticou uma medida idêntica do anterior Governo, não devia ter "lata" para fazer igual.
Há dias, o meu herói que veio a Portugal passar o Natal com os "cotas" foi renovar o BI. Prazo de entrega: seis dias. Mas...foi desde logo avisado que os seis dias terminam na próxima sexta-feira (são 7 dias) porque havendo tolerância de ponto, hoje, este dia não conta.
Ora é isto que acho errado. Com dedicação e mais produtividade, deveria ser possível compensar este não-dia-de-trabalho.
E fica um recado a quem de direito pois sabemos que o Saude SA chega a todo o lado: se é possível criar uma empresa na hora (dizem, e eu acredito)porque razão se não tira um BI na hora? E porque se não renova um BI extraviado, sem uma certidão de nascimento (que se vai buscar à conservatória - entrega imediata) se é possível verificar via informática, se temos dívidas ao Estado e à Segurança Social, através do cruzamento de dados?!
E porque não serve um Passaporte (válido), de cidadão português, para renovar o seu BI, se aquele é emitido a partir do BI?
Fará sentido que para cidadãos portugueses os Serviços de Identificação não acedam à Base de Dados dos Registos Centrais, sem necessidade de mais papelada?
Eu sei que as explicações lá virão com os argumentos de "segurança" e protecção de pessoas. Mas não será exactamente a burocracia que facilita a vida aos vigaristas?
Ainda a tempo:
Na verdade, qualquer pessoa pode dirigir-se à Conservatória e obter uma certidão de nascimento de outro cidadão. Basta referir o nome e a conservatória e se souber, (mas não é impeditivo) a data de nascimento. Mas se não acertar na conservatória, por exemplo, os serviços fazem a localização.
E a certidão é emitida.
Somos uns Burguesões.
A rede Multibanco, gerida pela Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), bateu todos os recordes este Natal. Em termos absolutos, foi no dia 23 que se registou o pico de procura, quer ao nível de levantamentos quer em compras. Nesse dia, foram levantados nas 10 550 caixas automáticas instaladas pelo País mais de 115 milhões de euros (mais de 23 milhões de contos).
CM 27.12.05
O que acontece é que cada vez há mais desigualdades. Uns com muito e outros sem ter para comer.
E o que não deixa de surpreender é que, nesta primeira semana pós-Natal os Centros Comerciais continuam a abarrotar de gente. Que faz novas compras.
Se o endividamento das famílias era de 118% do seu RD, esta quadra Natalícia deve ter dado um grande impulso a este indicador, já de si preocupante.
Enfim, POBRETES MAS ALEGRETES!
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