«Porque me chamas bom?
Ninguém é bom senão Deus!» (Lucas, 18, 18)
Lisboaearredores desafiou-me, aqui, no Saudesa, há algum tempo, para dizer o que é, em meu entendimento, um bom Administrador Hospitalar. Tenho de lhe pedir desculpas por só agora lhe poder responder. E só agora o faço, pelos seguintes motivos:
1º- Só esta semana deixei de ter problemas com a Internet em casa. Cancelei a Netcabo e a ligação à Clix fez-se com dificuldades com que eu não estava a contar.
2º- Mas a principal razão prende-se com a dificuldade em responder à questão que me colocou. Tenho de reconhecer que, embora tenha andado a matutar na resposta a dar-lhe, não é tão fácil como à partida parece, dizer o que é um bom ou um mau Administrador Hospitalar.
Ainda assim, uma resposta é possível.
Começo por uma verdade de La Palisse: um bom Administrador Hospitalar é aquele que é capaz de reunir na sua pessoa, conhecimentos técnicos profundos com elevadas competências humanas e sociais. Quanto às primeiras, podemos ainda acrescentar, que um Administrador Hospitalar será tanto melhor quanto mais e melhor conhecimentos dominar: conhecimentos de direito e de leis (conhecer leis não é sinónimo de saber direito, embora me pareça muito importante nesta actividade complexa e muito regulamentada), de gestão económica e financeira, dos princípios, técnicas e regras da gestão pública e (agora, cada vez mais) de gestão privada, conhecimento aprofundado do Sistema de Saúde, do que é um Hospital (da sua organização, das suas regras e do seu modo de funcionamento), e bem ainda conhecer algumas regras do jogo diplomático (Manuel Barquín, teórico argentino de Administração Hospitalar, dizia que a primeira qualidade de um AH é ser um bom diplomata).
É tecnicamente bom ainda o AH:
1º- com capacidade de decisão. O bom Administrador é aquele que decide, de preferência bem. A decisão é a a actividade central da actividade de Administração. A boa decisão é a melhor decisão possível no contexto de imposições legais, de correcção técnica, de correcção económica e financeira e de satisfação de objectivos organizacionais e/ou pessoais.
2º - que tem visão estratégica mais do que visão operacional;
3º- capaz de realizar objectivos ambiciosos com recursos escassos;
4º- capaz de envolver as pessoas da organização na realização dos objectivos e de as motivar sem ser necessariamente com base em incentivos económicos;
5º- que sem falsas modéstias nem falsas humildades é capaz de aprender continuamente com os outros e com tudo, mesmo com os erros e sabe assumi-los quando são da sua responsabilidade;
6º- que se assume mais como um «inter-pares», seja em que contexto for, do que como «chefe».
Mas, para um Administrador Hospitalar ser bom não basta ter conhecimentos profundos em diversas áreas do saber e da técnica, é preciso ainda que tenha elevadas competências humanas e sociais.
Que saiba mover-se segundo alguns princípios e normas, em especial princípios e normas éticas e morais. E porque assim penso, não vejo melhor argumentação do socorrer-me de alguns lógias de Cristo (expoente máximo da ética e da moral) como bitola de avaliação, nomeadamente dos seguintes:
1º- Do princípio a que eu chamaria da bondade relativa, que se pode retirar da pergunta formulada por Cristo ao jovem rico: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom, senão Deus» (Lucas, 18,18). Neste sentido, não vejo que seja possível dizer que este AH é bom e que aquele é mau. O que é ser bom ou o que é ser mau é sempre relativo. Desde logo, depende do juízo ético e moral de quem julga (e também aqui nos é dado um conselho: «não julgues para não seres julgado»). Tal como não pode dizer-se que há pessoas absolutamente boas ou pessoas absolutamente más, também não se pode dizer que há Administradores absolutamente bons ou absolutamente maus. Apenas podemos dizer que há Administradores que actuam de acordo com os nossos princípios éticos e morais e outros não.
2º- O segundo princípio (que eu designaria de princípio do aperfeiçoamento permanente) está contido num outro logia que refere: «Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» (Mateus, 5, 48), de onde resulta, desde logo, que o melhor Administrador, dentre os bons, é aquele que procura a perfeição, neste caso, a perfeição ética e moral segundo um determinado padrão. O que nos leva a dizer que um Administrador será tanto melhor quanto mais se aproxima desse padrão previamente fixado.
O meu padrão do que deve ser um bom Administrador, balizado por estes dois princípios acabados de referir, integra nomeadamente as seguintes características humanas e sociais:
É honesto, justo, com bom relacionamento social e inter-pessoal, tem um respeito absoluto pelos outros, segundo a máxima «amarás o teu próximo como a ti mesmo», é compassivo e humano, liberto de interesses materiais e pessoais legal e moralmente indevidos, é altruísta, respeitador intransigente da coisa pública (dinheiros públicos, bens públicos e interesse público), respeitador dos direitos das pessoas e rigoroso quanto ao cumprimento dos deveres, em suma, alguém capaz de ser admirado como um exemplo a seguir, segundo valores morais e princípios éticos tendencialmente universais e tendo em atenção («cum grano salis») os valores socialmente dominantes num determinado momento e local. Um líder, portanto, entendido neste sentido.
Acrescentaria ainda, citando as palavras recentes de Cavaco Silva, no seu Discurso de Tomada de Posse como Presidente da República, a propósito dos agentes políticos: o bom tem «de ser um exemplo de cultura de honestidade, de transparência, de responsabilidade, de rigor na utilização dos recursos do Estado, de ética de serviço público, de respeito pela dignidade das pessoas»
Outras qualidades que um bom AH deve ter (segundo a ENSP de Rennes):
-Criatividade
-Reflexão prospectiva
-Sentido de trabalho em equipa
-Aptidão para a concertação e para a negociação (não fugir dos sindicatos, da imprensa e dos problemas, mas enfrentá-los com frontalidade)
-Capacidade de conciliar lógicas diferentes
-Grande rigor metodológico e organizacional
-Capacidade de decisão
-Sentido de comunicação
Como máxima final para o bom Administrador Hospitalar apontaria a seguinte:
«Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? (Lucas, 22, 26-27)
A finalizar, um bom AH com estas características, mede-se?
Lisboaearredores desafiou-me, aqui, no Saudesa, há algum tempo, para dizer o que é, em meu entendimento, um bom Administrador Hospitalar. Tenho de lhe pedir desculpas por só agora lhe poder responder. E só agora o faço, pelos seguintes motivos:
1º- Só esta semana deixei de ter problemas com a Internet em casa. Cancelei a Netcabo e a ligação à Clix fez-se com dificuldades com que eu não estava a contar.
2º- Mas a principal razão prende-se com a dificuldade em responder à questão que me colocou. Tenho de reconhecer que, embora tenha andado a matutar na resposta a dar-lhe, não é tão fácil como à partida parece, dizer o que é um bom ou um mau Administrador Hospitalar.
Ainda assim, uma resposta é possível.
Começo por uma verdade de La Palisse: um bom Administrador Hospitalar é aquele que é capaz de reunir na sua pessoa, conhecimentos técnicos profundos com elevadas competências humanas e sociais. Quanto às primeiras, podemos ainda acrescentar, que um Administrador Hospitalar será tanto melhor quanto mais e melhor conhecimentos dominar: conhecimentos de direito e de leis (conhecer leis não é sinónimo de saber direito, embora me pareça muito importante nesta actividade complexa e muito regulamentada), de gestão económica e financeira, dos princípios, técnicas e regras da gestão pública e (agora, cada vez mais) de gestão privada, conhecimento aprofundado do Sistema de Saúde, do que é um Hospital (da sua organização, das suas regras e do seu modo de funcionamento), e bem ainda conhecer algumas regras do jogo diplomático (Manuel Barquín, teórico argentino de Administração Hospitalar, dizia que a primeira qualidade de um AH é ser um bom diplomata).
É tecnicamente bom ainda o AH:
1º- com capacidade de decisão. O bom Administrador é aquele que decide, de preferência bem. A decisão é a a actividade central da actividade de Administração. A boa decisão é a melhor decisão possível no contexto de imposições legais, de correcção técnica, de correcção económica e financeira e de satisfação de objectivos organizacionais e/ou pessoais.
2º - que tem visão estratégica mais do que visão operacional;
3º- capaz de realizar objectivos ambiciosos com recursos escassos;
4º- capaz de envolver as pessoas da organização na realização dos objectivos e de as motivar sem ser necessariamente com base em incentivos económicos;
5º- que sem falsas modéstias nem falsas humildades é capaz de aprender continuamente com os outros e com tudo, mesmo com os erros e sabe assumi-los quando são da sua responsabilidade;
6º- que se assume mais como um «inter-pares», seja em que contexto for, do que como «chefe».
Mas, para um Administrador Hospitalar ser bom não basta ter conhecimentos profundos em diversas áreas do saber e da técnica, é preciso ainda que tenha elevadas competências humanas e sociais.
Que saiba mover-se segundo alguns princípios e normas, em especial princípios e normas éticas e morais. E porque assim penso, não vejo melhor argumentação do socorrer-me de alguns lógias de Cristo (expoente máximo da ética e da moral) como bitola de avaliação, nomeadamente dos seguintes:
1º- Do princípio a que eu chamaria da bondade relativa, que se pode retirar da pergunta formulada por Cristo ao jovem rico: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom, senão Deus» (Lucas, 18,18). Neste sentido, não vejo que seja possível dizer que este AH é bom e que aquele é mau. O que é ser bom ou o que é ser mau é sempre relativo. Desde logo, depende do juízo ético e moral de quem julga (e também aqui nos é dado um conselho: «não julgues para não seres julgado»). Tal como não pode dizer-se que há pessoas absolutamente boas ou pessoas absolutamente más, também não se pode dizer que há Administradores absolutamente bons ou absolutamente maus. Apenas podemos dizer que há Administradores que actuam de acordo com os nossos princípios éticos e morais e outros não.
2º- O segundo princípio (que eu designaria de princípio do aperfeiçoamento permanente) está contido num outro logia que refere: «Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» (Mateus, 5, 48), de onde resulta, desde logo, que o melhor Administrador, dentre os bons, é aquele que procura a perfeição, neste caso, a perfeição ética e moral segundo um determinado padrão. O que nos leva a dizer que um Administrador será tanto melhor quanto mais se aproxima desse padrão previamente fixado.
O meu padrão do que deve ser um bom Administrador, balizado por estes dois princípios acabados de referir, integra nomeadamente as seguintes características humanas e sociais:
É honesto, justo, com bom relacionamento social e inter-pessoal, tem um respeito absoluto pelos outros, segundo a máxima «amarás o teu próximo como a ti mesmo», é compassivo e humano, liberto de interesses materiais e pessoais legal e moralmente indevidos, é altruísta, respeitador intransigente da coisa pública (dinheiros públicos, bens públicos e interesse público), respeitador dos direitos das pessoas e rigoroso quanto ao cumprimento dos deveres, em suma, alguém capaz de ser admirado como um exemplo a seguir, segundo valores morais e princípios éticos tendencialmente universais e tendo em atenção («cum grano salis») os valores socialmente dominantes num determinado momento e local. Um líder, portanto, entendido neste sentido.
Acrescentaria ainda, citando as palavras recentes de Cavaco Silva, no seu Discurso de Tomada de Posse como Presidente da República, a propósito dos agentes políticos: o bom tem «de ser um exemplo de cultura de honestidade, de transparência, de responsabilidade, de rigor na utilização dos recursos do Estado, de ética de serviço público, de respeito pela dignidade das pessoas»
Outras qualidades que um bom AH deve ter (segundo a ENSP de Rennes):
-Criatividade
-Reflexão prospectiva
-Sentido de trabalho em equipa
-Aptidão para a concertação e para a negociação (não fugir dos sindicatos, da imprensa e dos problemas, mas enfrentá-los com frontalidade)
-Capacidade de conciliar lógicas diferentes
-Grande rigor metodológico e organizacional
-Capacidade de decisão
-Sentido de comunicação
Como máxima final para o bom Administrador Hospitalar apontaria a seguinte:
«Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? (Lucas, 22, 26-27)
A finalizar, um bom AH com estas características, mede-se?
vivóporto
Etiquetas: Vivóporto
2 Comments:
Lembram-se, sobre este assunto, o que nos dizia o saudoso Prof. Coreolano?
Em regra socorria-se do antigo regulamento dos Hosp. Civis de Lisboa, lendo o perfil do enfermeiro-mor, que tinha as funções de administração.
Arrematava, após enumerar o rol das suas qualidades, dizendo que só um Santo as podia satisfazer!
Parece-me estar aqui a fazer-se uma descrição mais do perfil de um Bom Gestor Hospitalar do que de um Bom Administrador Hospitalar.
De qualquer modo, acho o VivóPorto demasiado exigente (optimista). Segundo o perfil que nos apresenta, atrevo-me a dizer que: não há "BONS" Administradores/Gestores hospitalares.
O "modelo" é ideal e perfeito...e na verdade "perfeito só Deus" (e ainda assim há quem discorde).
Parece-me porém que, um Bom AH/GH tem que saber, quando necessário, (contexto) assumir-se como chefe não devendo ser um "inter-pares" "seja em que contexto for".
Ele é chefe por Missão e não pode deixar de assumir, quando necessário, essa qualidade.
Enviar um comentário
<< Home