sábado, junho 30

CC


Tenho estado a assistir da varanda àquilo que já esperava: a derrocada de CC e a sua inevitável transformação num pequeno Gauleiter. CC não tem nenhuma qualidade política que o recomende. Gere mal a política de saúde, gere mal o Ministério, totalmente descoordenado, sem nexo e à deriva; não coordena a actuação dos secretários de estado, figuras cinzentas, sem iniciativa política, de costas, claramente voltadas um para o outro, ou seja, dessintonizados e dessincronizados e, é notório, sem empatia mútua; deixou as ARS soltas e sem freio, os serviços sem orientação. Enfim, um desastre político. A agravar tudo isto, a tendência visceral, refreada com custo e a cada passo a voltar à tona, para proferir atoardas políticas. «Outspoken», pois claro.
Até a única qualidade política que parecia ter, CC desbaratou. Parecendo ser um político decidido, na prática, o que se constata, é que é um político autoritário e mesquinho. Incapaz de gerir com êxito a política de saúde, promove ou deixa promover (e nisso a ARS do Norte está a dar cartas, em especial os seus agentes do Minho, ou não tivesse o 28 de Maio partido de Braga) perseguições soezes, anti-democráticas, intimidatórias. «Especialista em luta livre francesa», pois claro, foi aqui dito.
Receoso de ser demitido, politicamente fraco, porque viveu sempre em função de um objectivo, ser Ministro, tem vindo, de há algum tempo a esta parte, a imitar o Generalíssimo, sendo de todos os Ministros, o mais papista que o Papa.
Acossado, ultimamente, politicamente por todos os lados (até o Jornal de Notícias, jornal conotado com o PS), CC, como é das regras, nestas situações, está a assumir-se, cada vez mais, como um pequeno Gauleiter.
«É uma intenção, é uma estratégia, é um plano minuciosamente preparado e meticulosamente posto em prática. Passo a passo. Com ordem de prioridades. Primeiro os instrumentos, depois as leis, a seguir as medidas práticas, finalmente os gestos. E toda a vida pública será abrangida», dizia António Barreto (Publico, de Domingo passado, a propósito do clima de medo e de intimidação que o Governo está a promover. «A moral da história é simples: o PS, que os portugueses se habituaram a ver como o defensor da liberdade e da democracia, não passa hoje de um partido intolerante e persecutório, que age por denúncia (...) e tem uma rede potencial de esbirros, pronta a punir e a liquidar qualquer português por puro delito de opinião. Pior ainda, personagens como Correia de Campos colaboram pessoalmente nesta lamentável empresa de intimidação. Não admira.», diz Vasco Pulido Valente, no jornal Público de hoje.
Onde vão as intenções de CC expressas na Carta ao Amigo António!
É chegada a altura de seguir o conselho do amigo António. «Se estiveres globalmente frustrado, pede para sair. Farás um favor ao País, ao Primeiro-Ministro, à tua Família, a ti próprio».
Assim fazem todos os que não estão agarrados ao poder, os que têm a dignidade e a coragem de os deixar a falar sozinhos e de não se deixarem enlamear com as companhias.
«Mais vale morrer de pé, do que viver toda a vida de joelhos» (Dolores Ibarruri?)
vivóporto

Etiquetas:

sexta-feira, fevereiro 16

O Elogio do Silêncio



CC está a revelar-se um excelente técnico de Economia da Saúde. Já era reconhecido por todos, de longa data, a sua grande preparação teórica nesta área, em que foi pioneiro e, durante muito tempo, o único especialista, em Portugal.
Uma coisa, porém, é ensinar, outra é pôr em prática aquilo que se ensina. Nem sempre o bom professor é um bom técnico, nem sempre um bom técnico, é um bom político. CC é (foi) um bom professor, CC é um bom técnico. CC, porém, tem revelado muitas fragilidades políticas. Que o podem prejudicar irremediavelmente. Sobretudo por não saber gerir a palavra e, pior ainda, por não saber gerir o silêncio. Saber falar, e, sobretudo, saber calar, é uma arte. Em especial, na Saúde (quer se seja Ministro, quer gestor), dever-se-ia cultivar o silêncio, mais do que a palavra. Falar pouco e fazer muito. «A melhor maneira de dizer, é fazer», dizia Guevara. CC tem feito muito, deve falar pouco. Sobretudo, não deve procurar falar, melhor dizendo, não deve ir à procura de falar (o que foi fazer a Matosinhos, em plena contestação ao sistema de controlo de assiduidade? O que o fez fazer declarações a tordo e a direito sobre as questões do aborto? O que o faz pronunciar-se sobre tudo e sobre todos os aspectos, e envolver-se em dabate-papos com o Cordeiro, com o Pedro Nunes, com qualquer bicho-careta?). CC, expõe-se de mais, quando fala. Deste modo, fragiliza-se, politicamente. «Nada realça a autoridade melhor do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos», dizia De Gaulle. Não aceito como válida a regra, que alguns defendem, que, em política, «o que é preciso é que falem de nós, nem que seja para dizer mal». CC deve resguardar-se mais. A coragem, em política, como na guerra, nem sempre é boa.
O mal de CC, como tem sido, muitas vezes, constatado, até pelo próprio, não está no que tem feito, mas, sobretudo, no que tem dito.
Custa, porém, a emendar-se.
Cautela, pois. Pela «boca morre o peixe».

Alguns conselhos (retirados do livro O Elogio do Silêncio, colecção Xis, edição de O Público):
«Cala-te ou diz qualquer coisa melhor que o silêncio»
«Saber calar-se é mais difícil que saber falar bem»
«Aquele que nada sabe, sabe o suficiente se souber manter-se em silêncio»
«O silêncio também é uma resposta»
«Aquele que quer economizar deve começar pela sua boca»
«A boca do sábio está no seu coração, o coração do tolo está na sua boca»
vivóporto

Etiquetas:

terça-feira, janeiro 30

Por CCA

O artigo de CCA link é interessante. Não pela razão que aqui tem estado a ser comentada, a do investimento ou não em sistemas informáticos ou outro qualquer investimento. Entendo a referência ao investimento em sistemas informáticos como um mero exemplo. Podia ser outro. Contudo, este exemplo até está muito bem escolhido. Talvez seja mesmo o melhor exemplo que CCA podia ter dado para ilustrar a questão central do seu artigo que é, no meu entender, o carácter pacóvio e saloio que caracteriza alguns dos nossos gestores hospitalares. E que ilustra também, o desnorte (se é que o Ministério sabe onde é o Norte, nesta matéria) que parece campear pela João Crisóstomo, em matéria de estratégia informática da saúde.

Não pode negar-se razão a CCA quando, sem o dizer explicitamente, deixa implícito que há gestores que fazem uma gestão de mera aparência, que se preocupam muito pouco com os aspectos essenciais de uma boa gestão (investir com base num plano de investimento assente numa boa estratégia e em planos anuais de actividades, uma e outros participados e aceites pela organização), e parecem mais preocupados em querer levar avante, teimosamente, contra tudo e contra todos, determinadas acções, determinados investimentos, por vezes avultados (e aqui o exemplo do investimento em sistemas informáticos é um bom exemplo, volto a repetir), cuja necessidade não está suficientemente interiorizada, nem suficientemente amadurecida, sem equacionar alternativas credíveis (menos dispendiosas, menos arriscadas e tecnicamente fiáveis), sem atender aos custos e às inevitáveis consequências, boas e/ou más, que um grande investimento sempre tem.

Há gestores hospitalares («jeitosos da gestão», diria eu, pois, em bom rigor, não se lhes pode chamar gestores hospitalares) que pensam que administrar um hospital é apenas mostrar «obra», no sentido literal do termo, deitar paredes abaixo, levantar paredes, pintar, autorizar todos os pedidos, dar, dar, dar..., é fazer política com a gestão dos hospitais, enfim, é gastar. Raramente olham para os custos (nem para os proveitos, diga-se em abono da verdade), raramente olham para o Orçamento, não gostam de ouvir falar em contenção de despesas, não gostam de ouvir falar em equilíbrio financeiro, aceitam como inevitáveis as derrapagens, como se não fosse possível travá-las, ainda que, se necessário, desagradando. E é aqui a que a porca torce o rabo. Porque alguns parecem mais preocupados em manter o lugar, agradando a todos, do que em gerir, desagradando a alguns. E o que é curioso, e o artigo de CCA demonstra-o, é que as pessoas (os médicos) até sabem aceitar um não, quando fundamentado. O que as pessoas, em geral, não aceitam bem, isso sim, é que se lhes fale de rigor quando se tem uma atitude perdulária; se fale de compreensão, quando não se compreende, que se fale de motivação, quando não se motiva, se queira adesão quando se fala de cima da burra, se queira fazer ouvir quando só se fala.

O exemplo do investimento em sistemas informáticos é um bom exemplo, pois bem! Porquê? Porque é uma área onde o basbaque fácil. É fácil embasbacar e, mais fácil ainda, é ficar embasbacado. E os vendedores riem-se, de tanta basbaquice. Com facilidade, comem os gestores por parvos. Com facilidade enredam os hospitais nas suas teias, ainda que mal amanhadas, que depois de envolvidos, se tornam presa fácil e permanente. A área da informática é, dentro nos hospitais, a área em que se vêm mais «doutores» a falar e menos pessoas a saberem o que dizem. É a área, portanto, em que se corre o risco de fazer maus investimentos, diria Dupont. Diria mais... Muito maus investimentos, diria Dupont.
Só que se Dupont diz mata, Dupond diz esfola!
É aqui que se pergunta: o que está o Ministério da Saúde a fazer com o seu silêncio. Que informática da Saúde, pretende o Ministério?

Algumas ideias, para quem queira ser um bom gestor:

«O plano estratégico deve ser um compromisso da empresa no seu todo e não apenas da administração e do seu grupo de chefes de divisão e área»

«Nenhuma estratégia é funcional se não existir coerência entre o seu conteúdo e os princípios da empresa»

«A inovação não significa só a criação de novos produtos ou serviços para acrescentar ao catálogo da empresa. Significa, também, mudar sistemas, políticas, atitudes, processos, estratégias, estruturas, objectivos e até a missão da empresa, para os adequar aos novos tempos e aos novos desafios que se avizinham»

«A inovação deve ser permanente, mas não é necessário realizar mudanças espectaculares para que seja efectiva.»

«Quando uma empresa atravessa uma boa fase, é fácil perder de vista os fluxos de caixa. Não há nada mais reconfortante do que ter um excesso de tesouraria. Porém, é precisamente nessas fases boas que se torna necessário consolidar a posição financeira da empresa para que se aguente com tranquilidade os tempos maus que estão fora do seu controlo...»

«Como é óbvio, se os custos e as despesas aumentam mais rapidamente do que as vendas o efeito sente-se directamente nos lucros»

«Depender apenas de um cliente é tão perigoso como depender apenas de um fornecedor»

«O grande desenvolvimento tecnológico que se vive na actualidade pode deslumbrar-nos e fazer-nos esquecer que as novas tecnologias podem ser postas ao serviço do homem para facilitar muitas tarefas, não para isolá-lo»

«Muitas vezes pensamos que as nossas ideias são as únicas, que ninguém jamais as terá, nem agora nem nunca, e com essa arrogância intelectual demoramos uma eternidade para as pôr em prática»

«À medida que a humanização da empresa ganha terreno, maior é o número de colaboradores que exigem ser tratados condignamente. Mas há empresas onde ainda se acha que se pode comprar a fidelidade e a eficiência com dinheiro»

(Estas e outras ideias podem ser lidas em Luis Castañeda, 2006, Como destruir uma empresa em 12 meses ...ou antes. Lisboa. Actual Editora.)
Vivóporto

Etiquetas:

domingo, janeiro 14

Directores de Serviço, precisam-se







O Xavier fez bem em voltar à liça com a questão dos medicamentos e à figura do Director Clínico. Hoje, de facto, a diferença entre a boa gestão hospitalar e a gestão hospitalar de excelência, passa pelo modo como um hospital gere os seus medicamentos: se tem uma política de medicamentos, se tem uma estratégia de medicamentos, se faz uma efectiva gestão do medicamento. Isto, atendendo à fatia que os Medicamentos representam no Orçamento Hospitalar, por um lado, mas sobretudo pela importância do medicamento na missão, nos fins e atribuição principal de um Hospital, que é o de tratar doentes, o maior número de doentes possível ao menor custo. O papel principal, na gestão do medicamento, está reservado ao Director Clínico. Para além do papel insubstituível que lhe cabe enquanto tal (Director Clínico), cabe-lhe, fundamentalmente a ele, enquanto Vogal também Executivo do Conselho de Administração, propor essa política, delinear a melhor estratégia, fazer uma boa gestão, coadjuvado ou não pela Direcção dos Serviços Farmacêuticos e, eventualmente, por um Gestor de Medicamento.
A gestão da maior parte das restantes áreas do hospital pode ser feita sem dificuldade por qualquer bom administrador hospitalar, incluindo o exercício das funções de Presidente do Conselho de Administração. Talvez seja esta a razão porque estamos a verificar, na maior parte dos hospitais, uma cada vez maior eficiência na área económico-financeira, nas aquisições, na gestão informática, na gestão de doentes, na gestão dos recursos humanos, áreas onde um bom gestor (e há muitos) pode fazer um bom trabalho sem para isso precisar de grande ajuda dos médicos e até do Director Clínico. Na área do medicamento, porém, não há gestor que valha ao hospital se não estiverem verificados alguns pressupostos: que o Director Clínico seja um gestor clínico competente (como clínico e como gestor), que seja um líder efectivo da classe médica que «dirige», que saiba distinguir o acessório do essencial da sua função, que tenha a coragem, quando necessária, de afrontar os colegas, que consiga convencer, quer interna quer externamente, da bondade da sua política e tirar do seu fracasso, se fracasso tiver, as devidas ilações: assumindo a responsabilidade pelo fracasso ou, em ultima instância, demitindo-se se for demonstrado o seu fracasso ou se não conseguir convencer quem de direito da sua boa gestão.
Como diria Camões, se um fraco rei faz fraca a forte gente, um forte rei faz forte a fraca gente. Um Director Clínico «forte» pode fazer forte a fraca gente. E é sobretudo aqui que está o grande busílis dos hospitais: o rei é, na maior parte dos casos, fraco e sendo fraco não torna forte a fraca gente. Fraca por diversa razões, ou porque não se interessa pelos destinos do hospital, quando muito apenas se interessam pelo seu destino, um ou outro haverá que se interessam pelo destino do seu serviço; ou porque são ignorantes, e não maior parte das vezes, são-no (nunca vi tanta ignorância e tanta falta de cultura geral em pessoas com formação elevado nível académico como nos médicos. Nem sequer interiorizaram a célebre frase de um dos seus melhores, Abel Salazar, que dizia que o «o médico que só sabe medicina nem medicina sabe»), ou porque são arrogantes (a arrogância médica é, em regra, detestável, e, quanto mais incultos e incompetentes, mais arrogantes são), ou, pura e simplesmente, não gostam de ser médicos (apenas gostam do dinheiro que a medicina pode dar, e, alguns, nisso são exímios, estando pura e simplesmente a cagar-se para os doentes e para nós todos). Dá dó, ver o comportamento da classe médica hoje, nos hospitais (falo da classe, não de indivíduos): não têm postura de classe, não têm valores de classe, não têm pura e simplesmente valores, não conseguem ver além do seu nariz, têm preocupações rasteiras (o bom carro, as boas gajas, férias na neve, as tainadas, bahh…uns escarros, alguns!).
Onde vemos hoje médicos com a fibra de Abel Salazar, Pulido Valente, Albino Aroso, António Galhordas, Miller Guerra?
Onde vemos hoje médicos preocupados com os direitos dos doentes, com a economia do seu hospital, com a imagem do seu hospital, onde vemos hoje médicos a defender a ortodoxia (os valores clássicos da medicina. «Nunca houve nada tão perigoso e tão excitante como a ortodoxia», dizia Cheterston, citado por Slavoj Zizek. Não pensam assim os médicos, concerteza!).
Os médicos têm de se re-organizar, «re-ordinizar». A sua Ordem continua a dar a pior imagem de corporativismo que se conhece. Nós, primeiros nós, sempre nós, depois o resto. No entanto, enquanto não se «re-ordinizam», que os homens (médicos) de bem se assumam como grandes homens (médicos) de bem. Que assumam o seu papel de autênticos gestores clínicos. E assumindo-o (o papel de gestores clínicos) que transformem um mau hospital num bom hospital e um bom hospital num excelente hospital.
A pedra de toque da boa gestão clínica, da qualidade do Director Clínico, está na boa gestão do Medicamento. Gerir bem o Medicamento é dar ao doente o que ele precisa ao menor custo possível!
vivóporto

Etiquetas:

quarta-feira, janeiro 10

Controlar gastos com Medicamentos Hospitalares


Porque é dificil. Dez hipóteses:

1º Os Directores Clínicos hospitalares, são, em regra,incapazes de controlar os gastos com Medicamentos: não têm vontade, não têm poder, não querem afrontar a classe;

2º A margem dos Administradores nesta matéria é reduzida;

3º As medidas de contenção de gastos com Medicamentos (outras também: veja-se o controlo da assiduidade, o problema a exclusividade, a acumulação de cargos de coordenação, etc.) são mais eficazes quando são ditadas de fora para dentro. As administrações têm necessidade/precisam de culpar o «Outro» (é um resquício cultural do salarismo);

4º A evolução dos gastos com Medicamentos em áreas especializadas (oncologia e VIH, por exemplo) e em hospitais em fim de linha é, em grande medida, incontrolável;

5º A ausência de regras claras de referenciação leva à desnatação em desfavor dos hospitais de fim de linha, sobretudo quando os tratamentos são caros;

6º Os Directores dos Serviços Farmacêuticos Hospitalares não são coadjuvados por um Gestor (de Medicamentos);

Ainda prevalece nos hospitais a ideia de que alguém há-de pagar a conta;

8º Os médicos, na sua grande maioria, desconhecem (por falta de formação, de informação e, embora menos vezes, de vontade também) os mecanismos de gestão económico - finaceira dos hospitais;

9º Os médicos, na sua grande maioria, não são envolvidos na gestão (não participam, não são informados, não têm conhecimento das principais peças de gestão: planos de actividade, contratos-programa, etc.), apenas esperam deles que trabalhem;

10º A influência da indústria farmacêutica ainda tem um peso excessivo.
Vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, janeiro 8

Retrocesso

Saúde Pública vai passar para a esfera, competência e gestão das Autarquias link
Regressamos ao paradigma da Saúde Pública higienista do Século XIX em que a Saúde Pública era um problema de Polícia (competia à Polícia combater as principais doenças de saúde pública, combatendo as prostitutas, os mendigos, os pobres) e não das competência do Ministério da Saúde. Foi assim entre nós até à legislação sanitarista de Gonçalves Ferreira. Onde está o Novo Paradigma da Saúde Pública?
É claramente um retrocesso.
CC voltou a perder a clarividência?
vivóporto

Etiquetas:

sábado, dezembro 30

Doze Passas (do algarve) para CC


Clarificação do sistema de saúde. Unidade de Saúde Familiares, Rede de Cuidados Continuados, continuação da empresarialização, reorganização da saúde mental (onde se esconde o Relatório do Prof. Caldas de Almeida?), reorganização das urgências, reorganização das «maternidades», certo, tudo certo, mas que Sistema de Saúde é o que CC pretende construir?
Prof., faça o favor, de, num documento, simples, claro e elucidativo nos dizer para onde caminham todas estas medidas. Recomendo-lhe que utilize como guião a célebre Navalha de Ockham: entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem (as entidades não devem ser multiplicadas além do necessário) ou, dito de modo mais simples, se uma explicação simples basta, não há necessidade de buscar outra mais complicada. A Navalha de Ockham também é conhecida por "Princípio da Economia". Já agora, ponto fulcral em qualquer sistema de saúde, é saber como flúem todas estas peças («peças de ligação», dizem Béresniak e Duru, «que permitem associar entre si as peças contidas nas três caixas anteriores», referindo-se à «quarta e última caixa» em que assenta o seu conceito de sistema de saúde. As outras três caixas são, a organização da Oferta de Cuidados (primeira caixa), o Financiamento (segunda caixa) e a organização da Procura (terceira caixa). Até agora, o que temos visto tem a ver essencialmente com a 1ª caixa. Que modelo de Financiamento? Que coerência na organização da oferta, que modelo/medidas de organização da Procura (as medidas relativas às taxas moderadoras têm alguma coisa a ver com isto?). Por favor, Prof, seja pedagógico!

2ª O Sistema Informático do Sistema de Saúde. O Ministério lavou as mãos deste assunto. Como Pôncio Pilato. As aplicações informáticas desenvolvidas no âmbito do IGIF estão caducas, mas ainda assim vão funcionando, e não se vê melhor (e mais barato…!). Concorrência nesta área, Drª Carmen Pignatelli? Onde? O que se pretende, lançar os serviços de saúde nas mãos da CPC ou da MNI (quem pode suportar as despesas de investimento? Quem pode arriscar na completa dependência quanto à manutenção futura? Que credibilidade têm estas soluções? Que flexibilidade burocrática existe nos processo de aquisição? Poderão os serviços de saúde ficar reféns de empresas com estrutura técnica, económicas e financeira tão incertas, tão pouco fiáveis, tão pouco credíveis ? E como «ligar» (Ah, esta minha mania das ligações!) todas estas peças para construir um «sistema» informático de saúde nacional? Pode o Ministério da Saúde continuar sem qualquer estratégia neste domínio, absolutamente fundamental? Pode o Ministério da Saúde incentivar o «salve-se quem puder»?

3ª A Saúde Pública (há, meu Deus, a Saúde Pública!). Que foi feito, até agora, «Do Novo Paradigma para a Saúde Pública»?

4ª Os Cuidados Continuados. Temo que venha a ser um flop. Ao preço de 83 euros a diária, das duas uma: ou vai ter de ser revisto o preço ou as experiências vão todas por água a baixo. O processo, além disso, parece não estar a começar muito bem. Ou CC olha com mais atenção para este assunto ou corre o risco de ver morrer na praia a menina dos seus olhos (leia-se a Tese de Dissertação para concurso de professor auxiliar de Economia da Saúde da ENSP, “Adequação da Intensidade de Cuidados aos Níveis de Dependência dos Idosos. Análise Económica das Ineficiências”, de 1982, para se perceber do interesse antigo de CC por estas matérias. CC não merece, portanto, que a Rede venha a fracassar!). Atenção, muita atenção, portanto, Professor!

5ª Um Acordo Colectivo de Trabalho para os HH EPE. É urgente (urgentíssimo, diria mesmo!) avançar com este assunto.

Acções de Formação para os membros dos Conselhos de Administração dos Hospitais (e não só dos Hospitais) (em especial para os Médicos, mas, não só), centradas, nomeadamente:
a) Eixos e vectores fundamentais da Política de Saúde (há dirigentes da saúde que ignoraram, não estão minimamente sintonizados com a Política de Saúde do Governo. Convenhamos, porém, que a culpa não é só deles, como se disse em 1);
b) Importância do Planeamento Estratégico e dos Instrumentos de Gestão Previsional (Contratos-Programa, Planos de Actividade, Plano Estratégico a 3 anos, Relatórios de Gestão). (Fazê-los, com rigor, e segui-los escrupolosamente);
c) Monitorização e cumprimento dos Contratos-Programa (importância, instrumentos, consequências);
d) Os GDH e o Financiamento: o que é uma boa gestão clínico-administrativa dos doentes, importância de uma boa gestão clínico-administrativa dos doentes, porquê uma boa codificação, a necessidade de um bom sistema de informação, etc.);
e) A Gestão e a Lei: a natureza pública da gestão, dierenças entre gestão pública-gestão privada, a necessidade do cumprimento de normas legais e regulamentares, as normas legais e regulamentares a cumprir nas aquisições de bens e serviços e nas empreitadas de obras públicas, em especial nos Hospitais-Empresa, o Estatuto dos Hospitais EPE – aspectos inovadores: autonomia, os poderes de tutela do Ministério da Saúde, etc., etc.,
f) Centros de Responsabilidade e Contratualização Interna
g) Benchmarkings de iniciativas e medidas de contenção de custos.
h) Parcerias Público-Privado de partes diferenciadas dos Hospitais;
i) Novos modelos de organização interna hospitalar (deverão os Hospitais portugueses continuar a apostar na estrutura burocrático-taylorista?);

A finalidade destas acções visa, além da aquisição de conhecimentos por alguns membros dos CAs (novos, para uns, de reciclagem, para outros), uma certa sintonização com a Política do Ministério (que alguns desconhecem), a uniformização de procedimentos e o conhecimento e troca de impressões entre os CA dos diferentes Hospitais. Julgo que a maior parte não se conhece e nunca terá trocado ideias e sugestões entre si.

Melhoria e reforço do Controlo e Monitorização da Actividade dos Serviços de Saúde. O empenhamento directo dos responsáveis do Ministério (dos Secretários de Estado, nomeadamente) nas acções de monitorização e controlo, parece-me uma boa experiência a continuar;

Carreira de Administração Hospitalar. Não há, então, nada a fazer ?

Medicamentos. A contenção dos gastos nos hospitais não se fará apenas por obra e graça dos respectivos dirigentes. Penso que as acções mais eficazes poderão/terão de vir de fora para dentro.

10ª Grandes projectos de investimento. A intervenção central do Ministério é fundamental (na autorização, no financiamento, no controlo, na medição do impacto). A continuação do Saúde XXI ou de Programa congénere parece fundamental a este nível.

11ª Financiamento Hospitalar. A fim de ser preservado o princípio da igualdade, deve ser tratado desigualmente o que é desigual. O sistema actual penaliza alguns hospitais, injustamente. Há necessidade de prever algumas “válvulas de segurança”.

12ª (esta passa é para ser oferecida pelos comentadores deste blogg)

Bom Ano Novo, Professor! Gostei especialmente do seu desempenho político recente e da grande performance técnica e humana que FR tem vindo a evidenciar.
Vivóporto

Etiquetas:

domingo, outubro 15

O Mestre das Escaramuças


QUEM É ?
1. «Decidiu, desde o primeiro dia, surpreender e tomar a iniciativa. (...) Para tal escolheu um método: designar um adversário, denunciar um privilégio, tomar uma medida e atacar com a lei»;
2. «Até agora, temos estado perante uma estratégia consolidada e deliberada»;
3.«Mas com o tempo, tem-se percebido que a técnica de (...) se tem limitado ao superficial»;
4. «Houve uma altura, aqui há uns meses, em que se chegou a pensar que (...) estava disposto a ultrapassar o efémero e o remendo. Mas agora as ilusões acabaram»;
5. Reconheça-se que, entre tantas medidas e no meio desta pletora de intenções, há muito que se aproveite»;
6. «Quando monologa, (...), é um homem doce e de aparência convincente. Se contrariado, revela uma rispidez ácida e uma pulsão vingativa surpreendentes»;
7. «O Mestre das Escaramuças especializou-se em raides súbitos».

Se respondeu (...), enganou-se.
Ver resposta certa: «O Mestre das Escaramuças», de António Barreto, JP 15 out 06.
vivóporto

Etiquetas:

sexta-feira, outubro 6

Haverá um Todo ?


Dizia Nietsche (filósofo, amigo de Wagner), referindo-se sarcasticamente à inclinação preferencial de Schumann (compositor), para as pequenas formas (cfr. Vieira Nery, libreto do dísco nº 11 editado com o público às 5ªs feiras), «que o gosto de Schumann era basicamente um gosto pequeno». Diz Vieira Nery: «para se impor definitivamente perante o grande público Schumann precisava, pois, de abordar os "grandes géneros"- a sinfonia, o concerto, a ópera e a oratória». Vem isto a propósito da política de saúde até agora desenvolvida por CC. Um gosto decididamente para o «pequeno», se por pequeno entendermos, intervenções parciais no sistema de saúde, intervenções soltas, aparentemente com poucas ligações umas com as outras: transformação dos HH SA em HH EPE, rede de cuidados continuados, unidade de saúde familiar, fecho das maternidades, fecho das urgências, taxas moderadoras no internamento, etc. Ainda que, quando vistas isoladamente, uma ou outra destas medidas possa ser considerada uma pequena obra prima (não digo que o sejam !), ainda assim pode perguntar-se que ligação têm elas umas com as outras, do ponto de vista global do sistema de saúde? Que sistema de saúde se quer construir (re-construir? destruir?), que SNS se pretende modelar, com elas? Subsistem todas as dúvidas, pois, conhecendo-se algumas partes não se conhece o todo (haverá um todo?). Tal como um grande compositor só se revela quando compõe uma grande obra (uma sinfonia, um concerto, uma ópera, uma missa, um requiem, em que todas as partes têm de estar harmoniosamente integradas, devem soar melodiosas, ao mesmo ritmo, todas articuladas em uníssono de tal modo que o que se percebe é apenas um som,e não vários sons, desgarrados, desarmoniosos, a ritmos diferentes, gerando muito mais ruído do que música), também CC, só poderá vir a recolher os apausos do grande público (não precisa recolher a unanimidade), quando compuser, e submeter ao nosso juízo, a sua sinfonia, o seu concerto, a sua ópera, a sua missa. Enfim, o seu sistema de saúde, o seu modelo de SNS.
Queira Deus, porém, que CC não esteja a compor um Requiem .
Vivóporto

Etiquetas:

terça-feira, agosto 29

Sobre os SA & EPE

1. - SA: Foi chão que deu uvas, não vale a pena bater mais no ceguinho. Como experiência de empresarialização foi uma medida positiva. O fim último (a privatização, com a sua entrega em grande escala ao Grupo Mello, parece-me inegável, com os custos da «empresarialização» a serem assumidos por todos nós – registos, conversão de procedimentos e de práticas, redução ao mínimo da expressão dos funcionários públicos, a infestação dos HH por gente do Grupo Mello ou do Grupo Amorim, com outras lógicas que não a do interesse público, e, depois de estarem no ponto de rebuçado, entregá-los ao sector privado. Dentro da lógica, há muitos anos denunciada por Vital Moreira, de que «o que dá prejuízo socializa-se, o que dá lucro privatiza-se». Quando os HH SA estivessem prontos a dar lucro, viria então a privatização. Alguém duvida?)

2.- EPE: é importante voltar ao tema. A transformação dos HH SA em HH EPE, para além da mensagem política que significou a sua criação, veio atrapalhar senão de vez, pelo menos muito seriamente o objectivo prosseguido pela direita, em particular por LFP e pelo Grupo Melo. Mas há outras inovações, para além desta, nomeadamente, quanto ao estatuto dos membros do Conselho de Administração (agora também o Director Clínico e o Enfermeiro Director são vogais executivos, o que pode trazer novidades interessantes em matéria de delegação de competências), quanto à dinamização das ARS e das Agências de Contratualização, que uma vez apetrechadas, podem vir a revelar um papel bem mais interessante e mais agilizador para os HH EPE do que aquele que tinha a Unidade de Missão (se bem que um órgão central de apoio à actividade das Agências de Contratualização, desenvolvimento de instrumentos de natureza transversal, tratamento e divulgação centralizada de informação me pareça ter justificação), a extinção de um órgão inútil como era a Assembleia Geral da SA, a procura de moralização dos procedimentos de contratação de pessoal e de compras de bens e serviços, pelo cumprimento obrigatório de diversos princípios por que se deve pautar a actuação do Estado, «mesmo quando actue no âmbito da gestão privada» (princípios estes que foram sistematicamente violados pelos SA, com um autêntico fartar vilanagem de clientelismo e compadrio, a beneficiar sempre os mesmos), etc. etc.
vivóporto

Etiquetas:

quarta-feira, agosto 23

Carta Breve

AO MINISTRO DA SAÚDE DO AMIGO ANTÓNIO

Excelência,
Desculpe tratá-lo deste modo tão reverencial, mas o tempo entre as nossas epístolas começou a ser tão longamente espaçado e os efeitos do poder costumam ser tão inevitáveis (o poder modifica as pessoas, ainda que se diga e pense o contrário) que temo que a nossa relação de amizade possa ter sido abalada. Espero que não. É neste pressuposto, por isso, que lhe escrevo, pensando, apesar de tudo, que a muita amizade que sempre tive e continuo a ter por si me dará a liberdade de lhe escrever para lhe chamar a atenção para um aspecto recente da sua governação que me deixou muito preocupado e também muito perplexo. Preocupado, pois sinto que o meu caro amigo ainda não terá ido de férias e temo que esteja a precisar delas com urgência, absolutamente. Digo isto, porque tenho verificado que depois de muitas medidas acertadas e corajosas (já agora, deixe-me que lhe diga que aprecio enormemente a sua coragem política. Talvez seja esta, entre todas a sua principal qualidade, sobretudo num país de meias-tintas, de arranjinhos, de conveniências, e de mansidão, V. Exª tem sabido ser firme nas suas decisões, elas próprias de enorme coragem e de grande valia técnica e política), V. Exª começa a dar sinais de algum desnorte. Precisa de assentar. De retomar a sua recente clarividência. Digo isto a propósito de um recente despacho de contenção de despesas nos Hospitais do SNS que é um sinal evidente de algum esgotamento emocional governativo e o motivo da minha perplexidade e a razão principal desta minha carta.
De facto, este despacho, nas mãos de um Eça (Conde de Abranhos) ou de um Camilo (A Queda de um Anjo), bem lapidado, evidenciaria um verdadeiro diamante do disparate, da política kisch, do focus-fatuum (o povo português é politicamente cego, eu sei, mas embora). Não o vou dissecar. Embora me apetecesse. Deixo isso para o Vasco Pulido Valente, agora distraído com a Guerra no Líbano, ou para o Sousa Tavares, mais distraído ainda com o início da temporada futebolística, o seu FCP e o seu Movimento Anti-anti-tabágico. Espero, por si, que eles não dêem conta da matéria – prima que têm nas mãos.
Entretanto a si, Excelência, apenas lhe peço, pela grande amizade que lhe tenho, vá de férias. Não sem antes encaixilhar o despacho, pendurá-lo no Gabinete, bem à vista, para que, quando V. Exª regressar de férias não se esquecer do que não deve ser feito, que há aspectos que não devem merecer um minuto do seu precioso tempo e que outros bem mais importantes carecem da sua maior atenção, por exemplo, o estado da informática hospitalar da saúde, em particular da informática hospitalar, completamente à deriva com consequências que antevejo muito funestas a curto prazo.
Um abraço, de quem apenas espera, para bem de todos nós, que faça um bom lugar e que descanse muito. Suba ao Pico. Reflicta. (Re)leia o Assim falava Zaratustra e volte com genica.

P.S. Vejo que perdeu uns quilitos. Não lhe faz mal, nenhum. Mas cuidado, não exagere!
O Amigo de sempre,
António.
vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, agosto 21

É tarde professor

Agora, são peanuts, Senhor, só peanuts !

Vejamos:
1º Os gestores hospitalares do PSD banquetearam-se, durante o reinado de Luís Filipe Pereira, com diversas mordomias aqui oportunamente denunciadas, a maior das quais foi sem dúvida a aquisição de carros. Apenas num hospital, foram contabilizados nos 3 anos que durou o mandato laranja, para cima de 500 mil euros gastos, na compra de carros (mais de 230 mil euros), gasolina, seguros, impostos (sabia V. Exª que a compra de carros de luxo, em empresas deficitárias, pagam imposto sobre os valores que excedem determinado montante? Pois bem, alguns hospitais, deficitários, compraram carros de luxo, e com isso criaram para o hospital o dever de pagar impostos que se traduziram em custos desnecessários), etc.
2º Apesar disso, e conhecida, como era, a situação, a maioria desses gestores foram mantidos no poder cerca de um ano, pelo Governo PS. O que veio a suceder com isso? Não obstante, o Governo ter aprovado uma Resolução que veio vedar o direito da opção das viaturas por esses indivíduos, a partir de Julho de 2005, esses indivíduos, ao terem sido mantidos na gestão dos hospitais, mais tempo do que o que deviam, terão «ganho» o direito de opção de compra daquelas viaturas. Por tuta e meia. Tramando os respectivos hospitais que agora têm de comprar outros carros.
Isto é, beneficiou-se o infractor!(e tramou-se o interesse público!)
Mas não foi por falta de avisos, aqui feitos, Professor!
3º Terão ganho também, alguns dos gestores que vieram a ser, mais tarde, afastados, com a demora na sua substituição, o direito a ser indemnizados. Escusadamente, Professor, escusadamente, se tivessem sido substituídos quando aqui foi clamado que o fossem!
4º Também aqui foi clamado que as mordomias dadas aos gestores não tinham razão de ser, estando o país em dificuldades. Não obstante, caro Professor, foi aprovado um despacho conjunto da Saúde e das Finanças que veio consagrar essas mordomias, nomeadamente o direito de uso pessoal de viatura de serviço aos membros dos CAs (cinco membros agora contra os três vogais executivos anteriores com esse direito). Não havia necessidade, mas ao dar-se esse direito, com que legitimidade vem agora criticar-se quem comprou os ditos carros? Como é, dá-se o direito e quer-se depois que as pessoas abdiquem dele? A que título? Por altruísmo em relação à Pátria? Bom, nesse caso, o melhor teria sido nomear frades franciscanos para os Conselhos de Administração. Talvez estes, com o seu voto de pobreza e com os conselhos sensatos do Padre Melícias, fossem mais comedidos. O que está mal, o uso de um direito, ou que esse direito, que ninguém pediu, lhes tivesse sido dado?
Serão os gestores do PS, gestores de segunda em relação aos do PSD, perguntarão alguns, com alguma razão?
5º A questão não está no direito, dirá V. Exª, mas na imoralidade, no abuso, desse direito! Todos concordamos, aliás o tema foi aqui bem glosado, a propósito da compra de carros desportivos num hospital, de que não digo o nome por algum decoro corporativo. Mas era conhecido o perfil de quem lá foi posto! Também não havia necessidade, Professor!
6º A questão dos carros foi levantada aqui, recentemente, neste blogg a propósito de um Hospital do Norte. Não sei se é verdade, se é mentira. Até gostaria que fosse mentira, nesse caso concreto. Em todo o caso, a ser verdade, apenas gostaria de perguntar aos responsáveis desse hospital: porquê, a compra agora, só agora, e não antes, no tempo do Governo PSD, se V. Exªs já lá estavam como gestores? Serão os euros socialistas mais fáceis de gastar do que os euros social-democratas? Ou foi o apenas uma questão de demonstration effect tardio (efeito de imitação: «a maior parte das pessoas não só procura elevar o seu nível de vida como tenta imitar os consumos das pessoas mais ricas com quem estão em contacto» - Teixeira Ribeiro, Lições de Finanças Públicas: 126)), agora desinibido por que o Governo não é da nossa cor!

MEU CARO PROFESSOR, DEPOIS DE TUDO O QUE AQUI FOI DITO NESTE BLOGG- E ALGUNS AVISOS, BEM PODIAM TER SIDO APROVEITADOS- TODA ESTA QUESTÃO PARECE-ME AGORA MAIS POPULISMO BARATO DO QUE UMA ATITUDE DA QUAL IRÁ RESULTAR QUALQUER EFICÁCIA REAL.
O MAL ESTÁ FEITO (JÁ FOI FEITO): o direito foi criado, os carros foram comprados, alguns gestores PSD continuam a fazer das suas, alguns dos novos gestores foram má escolha, e agora, o que fazer ?
PEANUTS, PROFESSOR, SÓ PEANUTS!

P.S. E quanto à carreira de Administração Hospitalar?
vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, março 27

Revisão da Carreira AH

AS MINHAS CONCLUSÕES DEFINITIVAS SOBRE A REVISÃO DA CARREIRA DE AMINISTRAÇÃO HOSPITALAR
A necessidade de definir novas regras para o exercício da Administração Hospitalar em Portugal, a curto prazo, decorre dos seguintes aspectos:

1º- Das implicações verificadas a nível da Administração Hospitalar, decorrentes das diferentes formas de gestão hospitalar criadas a partir da Lei de Gestão Hospitalar de 2002, em especial com a criação dos hospitais - empresa (SAs, EPEs, PPPs) caracterizadas pelo uso crescente de regras de gestão privada;

2º- Do aumento crescente do nº de hospitais privados, que abre novas e diversificadas oportunidades para o exercício da Administração Hospitalar;

3º- Do elevado nº de Administradores Hospitalares (quer seniores quer jovens em início de carreira ou recém-diplomados) que já aderiram a formas de contratação em regime de direito privado;

4º- Do facto de o Estado estar a generalizar a obrigatoriedade de frequência de um curso específico para «alta direcção em administração pública» quer para os lugares de topo da Administração Pública quer intermédios o que, por maioria de razão deve ser extensível a todos os hospitais, pelo alto grau de complexidade e de especificidade da sua administração (a prática que tem vindo a ser seguida desde 1988, não só têm representado um retrocesso àquilo que antes ocorria como está agora em clara dessintonia com o que o Governo quer generalizar para toda a Administração Pública);

5º- Da necessidade inelutável de os Hospitais deverem ser administrados e dirigidos por pessoas altamente qualificadas, para o que é uma condição necessária, embora não suficiente, a posse de um curso específico em Administração hospitalar, a nível de pós-graduação;

6º- Do facto de haver hoje muitas Escolas de Ensino Superior (quer públicas quer privadas) que podem vir a estar em condições de formar administradores hospitalares, mediante rigorosos critérios de aferição prévia de idoneidade científica, a definir pelo Ministro da Saúde e do Ensino Superior;

7º- De não ser viável continuar a apostar no sistema de carreira, uma das formas típicas de organização do trabalho da Sociedade Industrial, que se tem vindo a revelar incompatível com o modo de trabalhar na actual Sociedade Pós-Industrial;

Nestes termos, e tendo ainda em conta:
a)- o que é dito no documento da APAH;
b)- a opinião sensata e valiosa de alguns comentadores deste blogg, em especial pelo Lisboaearredores e pelo Tonitosa (que curiosamente, não são AH);
c)- o desinteresse manifesto dos AH (quer dos mais antigos quer dos mais novos) em pronunciarem-se sobre estas questões sempre que aqui têm sido postas a debate;
d)- o facto de serem alguns AH (mais do que seria de supor) a «traírem» a sua própria profissão,
d)- o facto de todos os Ministro da Saúde, desde Leonor Beleza, até ao actual Ministro, terem mostrado ou uma clara animosidade ou indiferença relativamente à carreira de AH, em alguns casos, mesmo, aos AH (caso de luís Filipe Pereira),
LEVAM-ME às seguintes conclusões definitivas sobre a carreira de AH:
1º- A CARREIRA COMO TAL DEVE ACABAR. O Quadro Único deve manter-se apenas para os seu actuais titulares, não deve haver mais concursos para o quadro único. Os AH que se encontram no quadro único devem aí continuar a progredir, como até aqui. São de manter, também, para isso os actuais lugares de AH existentes nos Hospitais, que irão sendo extintos à medida que vagarem O quadro único deverá ir-se extinguindo de igual modo à medida que os lugares nele também forem vagando.
OS DIREITOS E DEVERES DOS ACTUAIS AH DEVERÃO MANTER-SE SEM ALTERAÇÃO.

2º- COM EXCEPÇÃO DO PRESIDENTE, DO DIRECTOR CLÍNICO E DO ENFERMEIRO DIRECTOR, OS RESTANTES VOGAIS DOS CONSELHOS DE ADMINISTRAÇÃO DEVERÃO SER OBRIGATÓRIAMENTE DIPLOMADOS EM ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR;

3º- OS HOSPITAIS PODERÃO CRIAR OS LUGARES DE ADMINISTRADORES, DE DIRECTORES DE DEPARTAMENTO E DE DIRECTORES DE SERVIÇO QUE ENTENDEREM. Contudo, o seu preenchimento, deverá ser obrigatoriamente reservado a diplomados com um curso de pós-graduação em Administração Hospitalar, quer se trate de serviços clínicos (para o que será exigível, nestes casos, também ser médico) quer se trate de serviços não clínicos.

4º- O EXERCÍCIO DO CARGO SERÁ FEITO EM REGIME DE COMISSÃO DE SERVIÇO, NOS TERMOS PREVISTOS NO ARTIGO 249º DO CÓDIGO DO TRABALHO E DAS CONDIÇÕES QUE CONSEGUIREM NEGOCIAR;
PODERÃO CELEBRAR ACORDO DE COMISSÃO DE SERVIÇO NOS MESMOS TERMOS OS AH QUE SE ENCONTRAM NA CARREIRA, SEM PERDA DO DIREITO AO LUGAR DE ORIGEM AQUANDO DA CESSAÇÃO E PODENDO CONTINUAR A DESCONTAR PARA A ADSE E CGA;


5º- SERÃO COMPETENTES PARA MINISTRAR CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO HOSPITALAR TODAS AS ESCOLAS SUPERIORES (PÚBLICAS OU PRIVADAS) A QUEM VIER A SER CONFERIDA IDONEIDADE CIENTÍFICA ESPECÍFICA PARA ESSE EFEITO PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE E DO ENSINO SUPERIOR;

6º- DEVERIA HAVER A OBRIGATORIEDADE DE UM CERTIFICADO DE HABILITAÇÃO PROFISSIONAL PARA O EXERCÍCIO DA PROFISSSÃO DE AH A EMITIR PELO MINISTÉRIO DA SAÚDE COM REGISTO OBRIGATÓRIO DOS AH.

7º- A APAH DEVERÁ REVER OS SEUS ESTATUTOS EM CONFORMIDADE COM AS NOVAS REGRAS DA PROFISSÃO.
Vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, março 20

Discussão da Carreira (II)


Acabo de chegar, de ligar a Internet e de ver o documento da APAH (link)
A uma primeira leitura rápida, apraz-me desde já dizer o seguinte:
1º- Antes de mais felicitar o Xavier e o Saudesa, por colocar o documento à discussão pública. É importante que os AH debatam o documento da APAH, como é importante ouvir a opinião da «sociedade civil» (dos nossos amigos, em primeiro lugar: Tonitosa, Lisboaearredores e outros comentadores não-AH deste blogg) sobre o que pensam. Já conhecemos as ideias de muitos, é importante conhecer as ideias de todos, nem que seja para repetir o que aqui tem sido dito, sistematizadas à volta deste documento.
2º- Felicitar o Manuel Delgado e a APAH por este passo, que me parece decisivo para o futuro imediato da carreira e, talvez mais do importante do que a carreira, da profissão de AH. Muitos de nós gostariam que este passo já tivesse sido dado. Pensando bem, contudo, talvez agora tenha sido o momento certo:
2.1. Muitos AH regressaram aos CAs dos HH; outros retomaram, com dignidade funções de que se encontravam arredados; noutros casos, pela negativa, também podem colher ensinamentos sobre o comportamento de alguns AH. Tudo somado, pode dizer-se que hoje podemos debater algumas questões com melhor conhecimento de causa do que há algum tempo atrás.

2.3. Hoje tem-se melhor ideia do que pretende fazer CC com a Saúde, podendo perspectivar-se mais claramente qual o papel a reservar para os AH;

2.4. A afirmação do Saudesa como uma voz reconhecida e de prestígio nos meios da Saúde, permite-nos alargar o debate a gente séria, competente e com vontade de contribuir para a reflexão da saúde e, por inerência, também sobre o papel dos AH;

2.5. A posição política do Governo e de CC pode hoje também ser mais transparente.
A oportunidade para o debate parece-me, assim hoje melhor do que ontem.

Para melhor disciplina da discussão e sem prejuízo da liberdade de opinião de cada um seria útil utilizar como guião o conjunto de questões que são formuladas no documento pela APAH.

A seu tempo procurarei também alinhavar algumas ideias.

Finalizo, acrescentando que, a conjugação objectiva de esforços que neste momento aqui se verifica entre o Saudesa e a APAH pode vir a contribuir em muito para que se possa vir a fazer a revisão que a carreira merece e o país e os hospitais precisam.
Vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, março 13

«Porque me chamas bom?

Ninguém é bom senão Deus!» (Lucas, 18, 18)

Lisboaearredores desafiou-me, aqui, no Saudesa, há algum tempo, para dizer o que é, em meu entendimento, um bom Administrador Hospitalar. Tenho de lhe pedir desculpas por só agora lhe poder responder. E só agora o faço, pelos seguintes motivos:
1º- Só esta semana deixei de ter problemas com a Internet em casa. Cancelei a Netcabo e a ligação à Clix fez-se com dificuldades com que eu não estava a contar.
2º- Mas a principal razão prende-se com a dificuldade em responder à questão que me colocou. Tenho de reconhecer que, embora tenha andado a matutar na resposta a dar-lhe, não é tão fácil como à partida parece, dizer o que é um bom ou um mau Administrador Hospitalar.
Ainda assim, uma resposta é possível.
Começo por uma verdade de La Palisse: um bom Administrador Hospitalar é aquele que é capaz de reunir na sua pessoa, conhecimentos técnicos profundos com elevadas competências humanas e sociais. Quanto às primeiras, podemos ainda acrescentar, que um Administrador Hospitalar será tanto melhor quanto mais e melhor conhecimentos dominar: conhecimentos de direito e de leis (conhecer leis não é sinónimo de saber direito, embora me pareça muito importante nesta actividade complexa e muito regulamentada), de gestão económica e financeira, dos princípios, técnicas e regras da gestão pública e (agora, cada vez mais) de gestão privada, conhecimento aprofundado do Sistema de Saúde, do que é um Hospital (da sua organização, das suas regras e do seu modo de funcionamento), e bem ainda conhecer algumas regras do jogo diplomático (Manuel Barquín, teórico argentino de Administração Hospitalar, dizia que a primeira qualidade de um AH é ser um bom diplomata).
É tecnicamente bom ainda o AH:
1º- com capacidade de decisão. O bom Administrador é aquele que decide, de preferência bem. A decisão é a a actividade central da actividade de Administração. A boa decisão é a melhor decisão possível no contexto de imposições legais, de correcção técnica, de correcção económica e financeira e de satisfação de objectivos organizacionais e/ou pessoais.
2º - que tem visão estratégica mais do que visão operacional;
3º- capaz de realizar objectivos ambiciosos com recursos escassos;
4º- capaz de envolver as pessoas da organização na realização dos objectivos e de as motivar sem ser necessariamente com base em incentivos económicos;
5º- que sem falsas modéstias nem falsas humildades é capaz de aprender continuamente com os outros e com tudo, mesmo com os erros e sabe assumi-los quando são da sua responsabilidade;
6º- que se assume mais como um «inter-pares», seja em que contexto for, do que como «chefe».

Mas, para um Administrador Hospitalar ser bom não basta ter conhecimentos profundos em diversas áreas do saber e da técnica, é preciso ainda que tenha elevadas competências humanas e sociais.
Que saiba mover-se segundo alguns princípios e normas, em especial princípios e normas éticas e morais. E porque assim penso, não vejo melhor argumentação do socorrer-me de alguns lógias de Cristo (expoente máximo da ética e da moral) como bitola de avaliação, nomeadamente dos seguintes:
1º- Do princípio a que eu chamaria da bondade relativa, que se pode retirar da pergunta formulada por Cristo ao jovem rico: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom, senão Deus» (Lucas, 18,18). Neste sentido, não vejo que seja possível dizer que este AH é bom e que aquele é mau. O que é ser bom ou o que é ser mau é sempre relativo. Desde logo, depende do juízo ético e moral de quem julga (e também aqui nos é dado um conselho: «não julgues para não seres julgado»). Tal como não pode dizer-se que há pessoas absolutamente boas ou pessoas absolutamente más, também não se pode dizer que há Administradores absolutamente bons ou absolutamente maus. Apenas podemos dizer que há Administradores que actuam de acordo com os nossos princípios éticos e morais e outros não.
2º- O segundo princípio (que eu designaria de princípio do aperfeiçoamento permanente) está contido num outro logia que refere: «Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.» (Mateus, 5, 48), de onde resulta, desde logo, que o melhor Administrador, dentre os bons, é aquele que procura a perfeição, neste caso, a perfeição ética e moral segundo um determinado padrão. O que nos leva a dizer que um Administrador será tanto melhor quanto mais se aproxima desse padrão previamente fixado.
O meu padrão do que deve ser um bom Administrador, balizado por estes dois princípios acabados de referir, integra nomeadamente as seguintes características humanas e sociais:
É honesto, justo, com bom relacionamento social e inter-pessoal, tem um respeito absoluto pelos outros, segundo a máxima «amarás o teu próximo como a ti mesmo», é compassivo e humano, liberto de interesses materiais e pessoais legal e moralmente indevidos, é altruísta, respeitador intransigente da coisa pública (dinheiros públicos, bens públicos e interesse público), respeitador dos direitos das pessoas e rigoroso quanto ao cumprimento dos deveres, em suma, alguém capaz de ser admirado como um exemplo a seguir, segundo valores morais e princípios éticos tendencialmente universais e tendo em atenção («cum grano salis») os valores socialmente dominantes num determinado momento e local. Um líder, portanto, entendido neste sentido.
Acrescentaria ainda, citando as palavras recentes de Cavaco Silva, no seu Discurso de Tomada de Posse como Presidente da República, a propósito dos agentes políticos: o bom tem «de ser um exemplo de cultura de honestidade, de transparência, de responsabilidade, de rigor na utilização dos recursos do Estado, de ética de serviço público, de respeito pela dignidade das pessoas»

Outras qualidades que um bom AH deve ter (segundo a ENSP de Rennes):
-Criatividade
-Reflexão prospectiva
-Sentido de trabalho em equipa
-Aptidão para a concertação e para a negociação (não fugir dos sindicatos, da imprensa e dos problemas, mas enfrentá-los com frontalidade)
-Capacidade de conciliar lógicas diferentes
-Grande rigor metodológico e organizacional
-Capacidade de decisão
-Sentido de comunicação

Como máxima final para o bom Administrador Hospitalar apontaria a seguinte:
«Convosco, não deve ser assim; o que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve. Pois quem é maior: o que está sentado à mesa, ou o que serve? (Lucas, 22, 26-27)

A finalizar, um bom AH com estas características, mede-se?
vivóporto

Etiquetas:

terça-feira, janeiro 24

Notas Breves


1. Sobre o Estado.
É curioso ver que aqueles que se dizem defensores do liberalismo, adeptos do mercado contra o Estado, são os primeiros a servir-se do Estado, a chulá-lo até ao tutano, à nossa custa, em nome de uma apregoada sacrossanta lógica de eficiência e de eficácia. Se queremos um Estado Mínimo, não devemos deixar de exigir um Estado rigoroso na sua gestão, sério e honesto nos seus procedimentos, imparcial, transparente, etc. Como não podemos deixar de condenar todos quantos de uma maneira vergonhosa se têm servido dele para benefício próprio, o que, infelizmente, é mais frequente do que o que parece. Sobretudo, por parte daqueles (regra geral, a direita) que tão mal falam do Estado e dos funcionários públicos, mas não hesitam perante despesas sumptuosas em proveito próprio, tão mal gerem quando à luz do interesse público.
A este propósito, não posso deixar de referir o facto de, pela primeira vez (concorde-se ou não com as políticas tomadas), a esquerda não estar a ter medo de decidir, de estar a olhar para a coisa pública sem o laxismo habitual e de estar a mexer em aspectos e áreas fundamentais que antes geral tabu para a esquerda. Só é pena, que a lógica não atinja com a mesma virulência» quem mais tem e quem mais pode» (diz o Jerónimo), embora também se note uma lógica diferente (por exemplo, quando a lei que cria os HH EPE vem obrigar estes a depositar as suas disponibilidades e aplicações financeiras na Direcção Geral do Tesouro em detrimento da banca comercial, como até agora sucedia. O que irá fazer a banca?)

2. Sobre a rapaziada do INA. Circula nos hospitais uma lista com alunos do INA recém diplomados a oferecer-se através da DGAP para serem colocados por quem os quiser. São nomeados a título definitivo para os lugares de quadro, com a categoria de técnicos superiores de 2ª classe. Se não tiverem quadro, fica, além do quadro. Há juristas (muitos), psicólogos, economistas, gestores de recursos humanos, licenciados em Gestão e Administração Pública, engenheiros (de produção industrial, florestais, do ambiente, etc. Vantagem: não precisam de concurso, podem ser admitidos de imediato, têm a garantia da selecção e de já estarem prontos para o trabalho. Mas nos HH EPE, cujos quadros estão a extinguir quando forem vagando e em que as admissões são feitas em CIT, como é?

3. Sobre as eleições.
O pior que tiveram foi o terem-nos demobilizado a todos, por mim falo. Parabéns ao tonitosa. Não se esqueça de nós quando for para assessor do PR para a área da Saúde. Pela parte que me toca, jamais votaria em tal personagem, mas como dizia o Alegre, não me tirou o sono. Dormi como um justo.
4.E o Delgado, quem viu o Delgado?
Rapaziada, voltemos ao trabalho!
vivóporto

Etiquetas:

HH SA e HH EPE

hospital são teotónio- viseu

Sobre os SA: foi chão que deu uvas, não vale a pena bater mais no ceguinho. Como experiência de empresarialização foi uma medida positiva. O fim último (a privatização, com a sua entrega em grande escala ao Grupo Mello, parece-me inegável, com os custos da «empresarialização» a serem assumidos por todos nós – registos, conversão de procedimentos e de práticas, redução ao mínimo da expressão dos funcionários públicos, a infestação dos HH por gente do Grupo Mello ou do Grupo Amorim, com outras lógicas que não a do interesse público, e, depois de estarem no ponto de rebuçado, entregá-los ao sector privado. Dentro da lógica, há muitos anos denunciada por Vital Moreira, de que «o que dá prejuízo socializa-se, o que dá lucro privatiza-se». Quando os HH SA estivessem prontos a dar lucro, viria então a privatização. Alguém duvida?)

2. Sobre os EPE: é importante voltar ao tema. A transformação dos HH SA em HH EPE, para além da mensagem política que significou a sua criação, veio atrapalhar senão de vez, pelo menos muito seriamente o objectivo prosseguido pela direita, em particular por LFP e pelo Grupo Melo. Mas há outras inovações, para além desta, nomeadamente, quanto ao estatuto dos membros do Conselho de Administração (agora também o Director Clínico e o Enfermeiro Director são vogais executivos, o que pode trazer novidades interessantes em matéria de delegação de competências), quanto à dinamização das ARS e das Agências de Contratualização, que uma vez apetrechadas, podem vir a revelar um papel bem mais interessante e mais agilizador para os HH EPE do que aquele que tinha a Unidade de Missão (se bem que um órgão central de apoio à actividade das Agências de Contratualização, desenvolvimento de instrumentos de natureza transversal, tratamento e divulgação centralizada de informação me pareça ter justificação), a extinção de um órgão inútil como era a Assembleia Geral da SA, a procura de moralização dos procedimentos de contratação de pessoal e de compras de bens e serviços, pelo cumprimento obrigatório de diversos princípios por que se deve pautar a actuação do Estado, «mesmo quando actue no âmbito da gestão privada» (princípios estes que foram sistematicamente violados pelos SA, com um autêntico fartar vilanagem de clientelismo e compadrio, a beneficiar sempre os mesmos), etc. etc.
vivóporto

Etiquetas:

quarta-feira, janeiro 11

Outros falarão

Se Delgado se cala

Manuel Delgado está zangado connosco. Claramente, decidiu fazer black-out.
O mal é dele. O melhor que temos a fazer, doravante, é ignorá-lo. Estamos a dar-lhe publicidade imerecida. Mesmo quando não falamos bem dele e da postura que ultimamente tem assumido. «O que é preciso é que falem de mim, nem que seja para dizer mal», pensará Delgado.
Ignoremos Manuel Delgado. Façamos o funeral à APAH. De resto, já há muito tempo que a APAH não existe. Pouco mais é do que uma sigla que tem servido a muito poucos. A MD mais do que a ninguém. Tiremos-lhe o tapete. Deixemo-lo a falar sozinho. É tempo de nos convencermos a partir para outra. O SaúdeSa é neste momento mais eficaz do que a APAH. A nossa estratégia deve passar por aumentar o poder de influência deste blogg. Com comentários mais técnicos (Sem Misericórdia, Xico e Tonitosa, são bons exemplos), mais políticos ou mais culturais ou de outra natureza qualquer. Acima de tudo, comentários sérios, de qualidade, rigorosos, sem prejuízo do estilo de cada um e sem violentar a maneira de ser de cada um. A riqueza deste blogg, que se tem vindo a reforçar, assenta, nisto mesmo, em ser «uno na diversidade» ou «diverso na unidade», como dizia Lucas Pires, a propósito da Europa.
O blogg é a nossa «comunidade de destino», a «comunidade de destino», sobretudo, dos AH. Mais do que a APAH.
Contudo a APAH tem uma história. Feita de bons momentos. Feita de algum voluntarismo e generosidade. Há outros protagonistas, além de MD. Porque não dar-lhe voz, a estes outros protagonistas, neste momento?
O que pensará Santos Cardoso?
O que pensará Fernanda Dias? O que pensará Lopes Martins? E Jorge Varandas? Raul Moreno? Sá Ferreira? E muitos outros que nesta ou naquela ocasião deram a cara pelos AH?
Não seria altura de sabermos o que eles pensam? Da carreira, do futuro da profissão, do papel dos AH no actual contexto hospitalar, sobretudo nos hospitais empresarializados, do que pensam que deveria ser a posição do Presidente da APAH, eles (alguns deles) que já passaram por esse lugar.
Xavier, como mobilizar os patriarcas a juntar-se à luta, no blogg?
vivóporto

Etiquetas:

terça-feira, dezembro 13

A Gestão Hospitalar

Não é politicamente neutra

Por diversas vezes, temos visto aqui defender por alguns comentadores (Poole da Costa, Tonitosa, Coyote, entre outros) que o que importa é a competência dos gestores (avaliada não se sabe como, mas a ver pelo que se tem passado, fundamentalmente com base na cor do cartão do partido no poder, rede de apoios e de influência ou pagamento de favores), devendo estes serem capazes de trabalhar com qualquer Governo, sendo «absolutamente indiferente a cor partidária, filiação clubistica ou outra qualquer motivação que não seja a da competência» (Coyote dixit). Caber-lhes-á, tão só, não «conspirar contra a tutela ainda que de orientação politica diferente» (idem), e cumprir «a missão, os objectivos e as metas» que lhes forem definidas» (Poole da Costa dixit). Como se as pessoas fossem politicamente neutras. Mas não são, já aqui o defendi quando referi, e mantenho a opinião, que «nem a gestão dos hospitais é politicamente neutra, nem, muito menos, são neutros os seus protagonistas». E isso é tanto mais verdade quanto o método utilizado na escolha dos gestores hospitalares assentou/tem assentado em critérios de natureza meramente política. Tendo sido estes gestores, na sua quase totalidade, escolhidos por razões políticas (gestores políticos por isso), pensar-se que alguma vez serão neutros, que serão capazes de se sintonizarem com outras políticas, ou que deixarão de estar condicionados pela sua visão da sociedade, do que entendem ser um hospital, pelos valores que defendem ou das amizades e relacionamentos que têm, das duas três: ou são uns grandes oportunistas, e procuram aguentar-se nem que seja vendendo a alma ao diabo, ou são uns dissimulados, aparentando defender uma política quando na prática estão a implementar outra, ou estão a ser sinceros consigo próprios mas nem por isso deixam de «pôr tudo quanto são no mínimo que fazem» (Pessoa) assim desvirtuando uma política, os valores, uma «cultura de empresa» que não é intrinsecamente a sua.
Temos tido exemplos disso, no modo como se fazem as admissões de pessoal, no modo de relacionamento inter-institucional, interno e externo, no modo como se gerem as pessoas e os problemas,nas opções estratégicas que definem, no sentido das decisões que tomam, até na posição que tomam (e as razões porque as tomam) perante a abertura da linha Amarela do Metro do Porto, como aqui foi relatado por alguém, etc. Eu pergunto, quantos socialistas ou votantes socialistas se revêem na gestão que está a ser feita nos hospitais onde ainda «mandam» os gestores de LFP?
Não resisto a transcrever a este propósito uma afirmação retirada do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa, de Dezembro) que hoje recebi, a propósito da alteração, desde 1 de Janeiro de 2005, das normas que as empresas europeias cotadas na Bolsa devem passar a respeitar na apresentação das suas contas consolidadas. Diz o autor do artigo intitulado «União Europeia aposta nas “normas americanas”. Uma contabilidade feita por medida para os accionistas»: «apesar das aparências, a contabilidade é uma questão eminentemente política, na medida em que reflecte a visão que se tem de uma empresa e, além disso, da sociedade. Optando por subcontratar a elaboração das suas normas contabilísticas a uma organização privada sob influência americana, a União Europeia claramente escolheu o campo dos accionistas, o que diz muito sobre o “modelo social” que pretende promover».
A Contabilidade («uma disciplina muitas vezes encarada como neutra», refere-se na 1ª página), quem diria?!!!
vivóporto

Etiquetas:

segunda-feira, dezembro 5

Os Pecados de CC

Em Pensamentos, Palavras, Obras e Omissões.
Tem razão Tonitosa, quando diz que em concreto, até agora, muito pouco foi feito por parte deste Ministério da Saúde. A não ser a publicação de alguns documentos tardios sobre o que espera vir a fazer em matéria de saúde pública, de cuidados de saúde primários, de cuidados continuados, e, agora, o projecto de D.L. sobre os HH EPE, além de uma ou outra medida avulsa, muito tonitruante, mas de pouco impacto real na melhoria da Saúde e na organização do sistema de saúde: a liberalização na venda de alguns medicamentos, a mudança (sem nexo) de alguns gestores, a revisão «em baixa» dos preços das áreas convencionadas, e conversa, muita conversa, conversa de mais.
E, pelo meio, muitos silêncios (alguns dos quais começam a produzir ruído a mais: sobre a carreira de Administração Hospitalar, p.ex), muitos erros (a não alteração do sistema de nomeação dos gestores hospitalares, a manutenção da maior parte dos gestores nomeados por LFP, a manutenção do processo das PPP, as declarações polémicas, as inúmeras guerrilhas injustificadas e sem nexo, a descredibilização, mais uma vez, da classe médica, os ataques cegos, aos utentes, aos prestadores convencionados, etc.)
Já decorreram nove meses, tempo mais que suficiente para já se terem visto no terreno os efeitos das políticas.
Sucede porém que CC não tinha uma missão, não tinha objectivos estratégicos bem definidos, não tinha uma estratégia, não soube definir os «inimigos» nem precisar, reunir e preparar os «amigos». Não tem sabido explicar-se. Parece um pistoleiro que não sabendo manejar uma arma atira para todos os lados, para cima, para baixo, para os lados, sem acertar no alvo. Correndo o risco de acertar mais em quem não deve e pouco ou nada em quem deve.
Daqui resulta, como principal aspecto dominante da saúde a total desorientação que se vive, a desmotivação generalizada, a mistificação que alguns Conselhos de Administração vão fazendo da sua actuação, a tentativa que outros de tudo fazerem para se manterem à frente dos Hospitais. Recentemente, o Presidente de um desses Conselhos, em entrevista certamente encomendada (a altura é propícia para isso, o fim dos mandatos está próximo), dizia: «é-nos dado o mandato de três anos, mas é certo que o instituto vai mudar de estatuto, de SA [Sociedade Anónima] para EPE [Entidade Pública Empresarial] e pode levar a renomeação dos conselhos de administração. Nesse caso, cabe ao ministro decidir. Da nossa parte, estamos dispostos a continuar o trabalho, porque temos uma postura de profissionais, devemos ser leais ao Ministério e cumprir os objectivos de quem manda. Por mim, não tenho objecções de fundo que me impeçam de fazer parte desta mudança». Quem assim fala, é um dirigente do PSD do Porto, um dos mais emblemáticos gestores hospitalares de LFP, «reconduzido» por CC e que deste modo pretende ver renovada a sua comissão de serviço por mais três anos. A entrevista dada nesta altura e nos termos que se podem ler no 1º de Janeiro de Sábado, dia 3, em de que o entrevistado é um colaborador assíduo (ali publica crónicas com regularidade), é uma clara tentativa de se impor ao Ministro. De mostrar serviço. Só não vê quem não quer ver.
Mais uma vez pergunta-se:
Será CC alguma vez capaz de nos surpreender?
De mostrar clarividência, de mostrar senso político, de mostrar as qualidades que lhe advieram da sua condição de Professor de Economia da Saúde, de se revelar um bom organizador, um bom gestor, um inovador, capaz de fazer história?
O que vier a passar-se com a nomeação dos CAs dos HH EPE é para mim o momento decisivo que se segue que irá dizer definitivamente se sim ou não.
Porque o modo como CC vier a lidar com esta questão politicamente relevante (mais relevante, sintomática, paradigmática da política de CC, como já foi dos outros, do que possa parecer), determinará todo o resto do seu mandato.
Se vier a gerir mal a questão, estou certo de que não irá ser Ministro da Saúde até ao fim da legislatura.
vivóporto

Etiquetas: