quarta-feira, abril 19

Despesas em Saúde: Idosos Contam Muito


No último “post” demos relevo ao efeito que a % de idosos tem nas despesas em saúde – nos países ricos com uma maior % haveria maior peso da despesa de saúde no PIB. Porém outros comentaristas argumentam, reportando a estudos conhecidos, que a idade teria um peso marginal no crescimento dos custos sendo o factor essencial a inovação tecnológica. Haverá contradição?

I – O que os estudos mediram?
a) Importa reconhecer que é diferente estudar o efeito que num país (com estrutura etária fixa/determinada e com um certo nível de consumo de saúde) a idade no seu conjunto terá Vs afirmar que uma sociedade que se desenvolva e que envelheça terá despesas em saúde muito maiores.
b) Convém não esquecer que as despesas em saúde não são apenas as agudas, as hospitalares e muito menos unicamente o internamento. Haverá que considerar toda a despesa (pública e privada, institucional ou não) nos diferentes níveis de cuidados – primários e auto-cuidados, diferenciados, cuidados não agudos. É muito um aumento de procura anual de 1,5%: em 20 anos resultará +34,7%, em 40 anos +81,4%.
c) A inovação tecnológica deve ser entendida como verdadeira novidade (técnico-científica) que foi implementada (difundida), concretizando-se em técnicas, em equipamentos/sistemas e em produtos (novos fármacos, por ex.). Considerar os medicamentos e outros produtos inovadores ou as novas técnicas (que viabilizam a multiplicação da cirurgia de dia, por ex.) poderá produzir diferentes resultados. Também não será indiferente considerar o efeito dos novos equipamentos (PET e RMN, por ex.) em contexto de restrição (SNS e controlo da alta tecnologia) ou em país de rápida difusão e de acesso imediato às inovações em saúde.
d) A inovação em saúde é, por regra, mais aditiva que substitutiva e provoca diminuição do custo unitário dos actos mas aumenta a despesa global (mais actos por doente). Porém não actua do mesmo modo em actos que se dirigem para jovens, adultos ou idosos (como veremos).
e) Convém lembrar que muitas inovações tecnológicas se destinam apenas, ou sobretudo, a idosos (sejam, por ex., novos fármacos para Alzeimer ou para cancro, ou novas técnicas e equipamentos a usar em falência de funções ou órgãos). Nesse caso o efeito de aumento de despesa pode até ser atribuído à inovação mas é óbvio que quanto mais idosos tiverem acesso maior será a despesa. Note-se que é normal que muitas inovações nos EUA se dirijam a idosos: é grande o nº de vidas que é possível salvar; a sua parte na despesa de saúde é muito elevada; o Medicare paga a factura em % esmagadora.

II – Porque a despesa em saúde com idosos será mais elevada?
a) Segundo a obra citada haverá que considerar três efeitos cumulativos que são: maior número de idosos, maior consumo per capita pelo sucesso do sistema de saúde e por acesso a tecnologia médica.
i. A chegada de maior nº de pessoas aos seniores (efeito simples da demografia) amplia a despesa de per si e pelo uso de novas tecnologias (ex. medicação para prevenir osteoporose, colesterol,…);
ii. Efeito do sucesso do sistema de saúde:
– Salvando vidas sem qualquer lesão ou limitação: maior despesa futura com prevenção da doença (ex. medicamentos p/ prevenir ataque coração ou a gripe, CE de rotina), cuidados agudos e não agudos.
– Idem subsistindo problemas de saúde: as limitações aconselham maior consumo de produtos (ex. uso de medicação permanente/frequente), a utilização mais intensa de serviços diferenciados (ex. internamento e consulta hospitalar, hemodiálise) e/ou outros serviços (cuidados primários, p/ crónicos e reabilitação).
iii. Efeito da inovação tecnológica: a inovação permite aos idosos o acesso a novos actos/serviços ou a sua multiplicação face à frequência anterior (ex.1: com cataratas e hérnias em HD o seu nº por pessoa aumenta; ex.2: próteses em idosos vulgarizar-se-ão; ex.3: angioplastias e cir. cardíaca até idades mais avançadas).
b) Acrescentaria o efeito das condições de vida e expectativas:
– A condições de vida conduzirão a mais actos no futuro: hábitos actuais e suas consequências na saúde (ex.: exercício físico e obesidade); problemas típicos de idosos não activos (ex. isolamento e problemas mentais), institucionalização de crónicos p/ falta de condições em casa;
– As expectativas e nível de vida: a melhoria de rendimento e informação facilitará o acesso a mais actos e serviços de agudos; revindicação de cuidados paliativos e actos sem eficácia na saúde.
c) A despesa de saúde com idosos é já muito elevada nos países em que há informação (Portugal deverá ser significativamente inferior) como se conclui de:
Figura 1 que mostra o peso elevado da despesas com seniores na Holanda em 1994 link ;
– As referências aos EUA que indicam em gastos per capita em cuidados de saúde: i) maiores de 75 anos gastam 5X mais que 25-34; ii) maiores de 65 anos gastam 3x mais que menores de 65; iii) maiores de 85 gastam 3x mais que 65 a 74 anos.
d) A inovação tecnológica parece afectar mais o grupo dos mais idosos que a restante população link em cuidados agudos.
e) Por outro lado verifica-se, nalguns países, sub consumo de actos médicos no grupo dos idosos por ausência de oferta (ex. cuidados continuados e paliativos), pela sua insuficiência ou por dificuldade de acesso (ex. pessoas sem médico de família). O potencial de crescimento de consumo será ainda maior se associado a: mais informação; maior afluência; maior % de população urbana; maior acesso a serviços de saúde (ex. em países da EU) – penso que é o que se irá passar em Portugal.
Nota: além do consumo justificado será de considerar % para inapropriação ou indicação precipitada.

III – Consequências?
a) O crescimento variará nos diferentes países sobretudo em função de: situação de partida (maior ou menor sub consumo, % inicial de idosos), da evolução demográfica e do acesso futuro a serviços de saúde (em particular à designada tecnologia médica).
b) Para a Holanda e 1994-2015 as previsões são de grande crescimento da despesa com maiores de 65 anos
link , sobretudo em cuidados agudos.
c) Para os EUA o economista de saúde Victor Fuchs prevê que de 1995 para 2020 o peso das despesas de saúde com idosos no PIB mais que duplicará (de menos de 5% do PIB para 10%).
d) Qual será a evolução futura em Portugal?
Parece prudente e razoável esperar pelas conclusões da douta Comissão de Financiamento ao invés de adiantarmos alguns argumentos para forte crescimento – maior nº de idosos e efeito do sub consumo actual mas com tendência crescente (programas: listas espera, cuidados primários e continuados; maior afluência, urbanização e informação;…). (
observação: não descartaria também o efeito DIDI…)
Semmisericórdia

5 Comments:

Blogger Peliteiro said...

Impossível SemMisericórdia ser CC.

Em primeiro lugar porque o primeiro em tempos admitiu aqui não ser expert em medicamentos e política de medicamentos - CC adora estes temas, aliás deve até sonhar com eles.

Em segundo lugar, e mais significativo, o SemMisericórdia tem, nota-se, a discrição e a humildade dos sábios - CC tem a arrogância e a vaidade dos parvos.

2:16 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Ainda sobre esta matéria, penso que vale a poena ler:

"Dépenser pour durer ?
Publié le: mars 2006

Existe-t-il un lien entre les dépenses de santé et l’espérance de vie ? Pas nécessairement. Ainsi que le souligne la dernière édition de L’OCDE en chiffres 2005, les Japonais ont la plus longue espérance de vie de l’OCDE, alors que leurs dépenses de santé, à près de 8 % du PIB, sont loin d’être les plus importantes.

D’autre part, les États-Unis ont les dépenses de santé les plus importantes (15 %), mais ils ne sont que 22èmes pour l’espérance de vie, bien que les Américains dépassent en moyenne 77 ans. Le pays le moins dépensier est la Corée (5,5 % du PIB), avec également une espérance de vie de 77 ans.

Celle-ci dépasse 80 ans dans six pays, dont l’Espagne, où les dépenses de santé ne sont que de 7,7 %. La Turquie est le seul pays de l’OCDE où l’espérance de vie est inférieure à 70 ans, bien qu’elle ne soit que le sixième pays le moins dépensier (6,6 % du PIB). Toutefois, l’espérance de vie augmente dans tous les pays de l’OCDE. Un autre rapport, Les soins de longue durée pour les personnes âgées, montre que la proportion de personnes de plus de 80 ans dans la population de l’OCDE a triplé depuis les années 1960, pour se situer à plus de 3 % aujourd’hui. Ce pourcentage devrait doubler d’ici 2040. Selon le rapport, cette situation pèsera sur les services et le prix des soins, à moins que les soins à domicile ne se développent."

©L’Observateur de l’OCDE, n°251, septembre 2005

3:27 da tarde  
Blogger xavier said...

Sobre esta matéria o semmisericórdia enviou-me o artigo:

Age-specific increases in health care costs
Johan J. Polder; Luc Bonneux; Willem Jan Meerding; Paul J. Van Der Maas
European Journal of Public Health; Mar 2002; 12, 1; Health Module
pg. 57

Poderei enviá-lo aos interessados por email.

12:07 da manhã  
Blogger xavier said...

Interessante a lista do semmisericórdia.
Deixa no entanto de fora algumas reconhecidas estrelas.
Estou a pensar numa administradora hospitalar que não destoaria neste naipe.

2:07 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Só uma AH? Onde está a paridade?
Será a mesma em que estou a pensar?
Bem, convenhamos que nem sempre os "académicos brilhantes" são bons executores na aplicação prática das ideias que eles próprios defendem.
Todos conhecemos ilustres alunos de Faculdades que não conseguem ir além da mediania na vida profissional.
Que fique claro que não estou a dirigir este comentário a nenhuma das pessoas citadas tanto mais que não as conheço a não ser (praticamente) de nome e de algumas aparições (uns mais outros menos) públicas.
Pena é que muitas vezes aos "pensadores" não sejam dadas oportunidades para poderem desenvolver aquilo de que são capazes.

6:20 da tarde  

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