Cuidados Continuados
Uma das grandes prioridades que estabelecemos foi fazer um diagnóstico à realidade e para isso tivemos o apoio de uma empresa consultora espanhola (Catalã), que aliás tem sido quem me tem acompanhado em todo este percurso de concepção do modelo e implementação e acompanhamento do plano de acção, que integra uma equipa de médicos de saúde pública, médicos de cuidados primários e especialistas em planeamento estratégico que se debruçaram sobre a nossa realidade portuguesa com dados dos hospitais e dos centros de saúde (através de um inquérito que realizámos aos trezentos e tal centros de saúde do país) e com dados da própria segurança social conseguimos fazer um diagnóstico, que penso bastante interessante e realista da realidade portuguesa ao nível dos cuidados continuados e do impacto que o envelhecimento e as doenças crónicas têm nos hospitais link
Esse diagnóstico poderá ser consultado no site da Direcção-Geral da Saúde (DGS), e tem a meu ver resultados bastante surpreendentes para quem pensa que tudo se resolve nos hospitais ou que tudo se resolve no modelo clássico dos cuidados primários de listas de doentes ou por consultas. Esse diagnóstico foi o nosso ponto de partida e como era de esperar como um dos condicionantes da eficácia hospitalar apareceu o grande impacto do envelhecimento das pessoas que procuram os hospitais, o grande impacto das doenças incapacitantes e crónicas das pessoas atendidas nos hospitais e a inexistência praticamente total de cuidados de longa duração, ou de cuidados continuados. Veja a percentagem brutal de reinternamentos, e esse é um dado surpreendente do diagnóstico, como um factor que é no fundo o produto da inexistência de cuidados pós-agudos. Só para lhe dar uma noção entre 2000 e 2003 os reinternamentos hospitalares aumentaram mais de 15%, sendo que 50% (quarenta e oito virgula oitenta e tal por cento) trata-se de pessoas de mais de 65 anos.
A aplicação ao terreno vai ser corporizada através de experiências piloto em que se pretende testar a aplicação do modelo que gizámos teoricamente a cada realidade regional, mas adaptado às características epidemiológicas e demográficas concretas. Mas trata-se de um modelo que assenta em dois pilares fundamentais; a integração no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e integração no Sistema de Protecção Social.
Maria Inês Rodrigues dos Santos Guerreiro, coordenadora nacional para a Saúde das Pessoas Idosas e Cidadãos em Situação de Dependência. (nomeação e competências- despacho n.o 23 035/2005, 2.a série, 17 de Outubro de 2005) link, Entrevista publicada na revista Gestão & Saúde, n.º 4, edição de Janeiro de 2006.
Maria Inês Rodrigues dos Santos Guerreiro, coordenadora nacional para a Saúde das Pessoas Idosas e Cidadãos em Situação de Dependência. (nomeação e competências- despacho n.o 23 035/2005, 2.a série, 17 de Outubro de 2005) link, Entrevista publicada na revista Gestão & Saúde, n.º 4, edição de Janeiro de 2006.
Em 21 de Abril teve lugar a sessão de apresentação da Rede de Cuidados Continuados Integrados link
9 Comments:
O que pensará do que tem vindo a ser feito em relação aos Cuidados Continuados o Dr. André Rosa Biscaia, médico do Centro de Saúde de Cascais, investigador e autor de um excelente trabalho, recém publicado: “ Cuidados de Saúde Primários em Portugal - Reformar para novos sucessos".
Sugiro ao Xavier o envio ao Dr. Biscaia de um conjunto de três perguntas, não mais, sobre a Reforma dos Cuidados Primários.
Realmente é urgente saber:
- Como foram calculadas as necessidades? Rátios demográficos, sócio-demográficos, sanitários, prevalência de patologias...
- Como foram identificadas as experiências piloto? (referidas na apresentação pública)
- Quem vai pagar, quanto e com que verbas?
Os Catalães já trataram de tudo.
A entrevista da Dra. Inês Guerreiro é demasiado maçuda. Vê-se claramente que foi um entrevista escrita e mais parece um relatório.
Ao contrário da entrevista de CC que aqui foi postada há dias, esta parece-nos exgeradamente voltada para a promoção pessoal.
Basta vermos as (auto)referências às suas pós-graduações e experiências vividas, em Portugal e no Estrangeiro. Até porque se trata de uma Coordenadora e o trabalho é certamente de toda a equipa.
A Dra. Inês Guerreiro fala em nome pessoal quando está em causa um trabalho de equipa. E parece que a empresa espanhola que refere está ao "seu" serviço quando diz: tivemos o apoio de uma empresa..."que me tem acompanhado em todo este percurso"....
E para que serve a publicação do currículo no final, em jeito de pé-de-página?
Feito este reparo, tenho que me confessar pessimista sobre os resultados de tanto e tanto trabalho (a avaliar pela entrevista!)
Daquela destaco algumas passagens que me fazem pensar que talvez estejamos a "ter mais olhos que barriga".
Parece que dentro de alguns anos viveremos num País perfeito, onde todo e qualquer cidadão, em todo e qualquer lugar, terá cuidados continuados e paliativos em sua casa ou em Instituições capazes de lhe garantir a adequada necessidade de tratamento e reabilitação.
E sabemos como pelo meio tantas e tantas carências existem em matéria de consultas e tratamentos hospitalares (cuidados agudos) e de acesso aos Centros de Saúde (cuidados primários).
Estamos, em minha opinião, a elaborar um modelo ideal, para um país ideal...que efectivamente não somos e dificilmente seremos nas próximas décadas.
Estarei até a ser demasiado pessimista, admito, mas as passagens seguintes da entrevista da Dra. Inês Guerreiro merecem reflexão.
Diz a "entrevistada":
"É nos serviços comunitários que vamos apostar ou seja, procurando levar ao local onde a pessoa vive a prestação dos cuidados, porque a pessoa tem esse Direito e o Estado tem o Dever de manter o cidadão no local onde ele vive, que é normalmente onde a sua qualidade de vida pode ser melhor mantida, embora haja casos em que assim não é possível.
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Mas também pretendemos garantir que pessoas que vivem isoladas em Trás-os-Montes ou no Alentejo onde há grande dispersão geográfica possam ter os cuidados a que têm direito no seu local, através da utilização das tecnologias e de unidades móveis que permitem que mesmo o que é distante possa estar
próximo
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…evitar que a pessoa saia do seu meio de vida, e monitorizar a qualidade dos serviços que serão prestados na rede de cuidados continuados; demoras médias, ganhos em autonomia à saída da rede, análise dos níveis de dependência à entrada e à saída, o destino dos doentes depois da alta de cada unidade, tudo isso são registos que as Instituições que irão incorporar a rede, nomeadamente as do próprio SNS terão que fazer como prática no dia a dia.
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E há um aspecto que é importante é que os Centros de Saúde (CS) terão que conhecer a sua população, quando cerca de vinte e tal por cento das pessoas da área geográfica de um CS, têm mais de 65 anos de idade e este não tenha visitação domiciliária nem adequação de serviços a essa população algo está desfasado.
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Ao nível dos acordos com as diversas instituições também vão ocorrer grandes mudanças: os preços terão por base pacotes de serviços que serão permanentemente avaliados em ganhos de saúde, em ganhos de independência e em ganhos de qualidade e satisfação dos doentes e profissionais e isso será feito de forma adequada de acordo com as tipologias de cuidados que serão contratualizadas. Não vai haver mais pagamentos de camas, onde ninguém afere o que lá se faz nem o que isso traz de mais valia para o doente.
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Nesta primeira fase da rede o pacote dos serviços de cuidados continuados será tendencialmente gratuito conforme a Constituição prevê para os cuidados de saúde em geral, agora, a família vai participar e participar com os rendimentos que tem e pode, e esse não deve ser factor distintivo dos serviços que são prestados.
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Tem de haver uma forte participação das pessoas para que tudo isso seja sustentável, e também acredito que o mercado se vá moldando e as seguradoras à semelhança do que ocorreu noutros países…
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Sabe que eu acho que as pessoas (todas) apesar das diferenças culturais, de raça, de localização só têm uma ambição, é ser felizes. E essa felicidade de cada um passa por se sentirem protegidos e dignificados. O SNS e o Sistema de Protecção Social têm que procurar assegurar essa protecção e essa dignidade a todos e a cada um dos cidadãos."
O meu contributo para este debate aqui fica e acho que as passagens transcritas merecem que sobre elas sejam feitas algumas considerações.
Como já escrevi, não sei se os "ganhos financeiros" de uma tal mudança serão defacto compensadores. Creio até que os custos tenderão a crescer o que em tempo de crise financeira do SNS poderá ser um entrave ao seu desenvolvimento.
A Dr.ª Inês Guerreiro deu a cara pelo “seu” projecto. Um pouco mais de humildade, característica dos líderes dignos desse nome, aconselhá-la-ia a dar a cara pelo projecto da sua equipa.
Contrariamente à apreciação do TONITOSA, nem sempre se está de acordo, gostei de ver o CV no fim da entrevista. Permitiu-me confirmar o que é pratica corrente em termos de critério de escolha, por CC, para a liderança dum projecto que, pela sua importância, merecia alguém com provas dadas. E ele conhece técnicos, até do seu partido, com provas dadas nesta temática.
A temática dos cuidados continuados tem sido abordada, estudada, e ensaiados modelos de resposta pelos anteriores governos (PSD e PS) através de vários técnicos. Que é feito desses trabalhos e dos profissionais que, na matéria, se têm destacado? Somos assim tão ricos que possamos deitar para o lixo o trabalho realizado pelos técnicos nacionais? O fiasco conseguido pelas empresas espanholas na elaboração de planos estratégicos para alguns hospitais e ARLVT, no reinado de Guterres, não nos ensinou nada? Outros valores, e interesses, se acolhem neste país do faz de conta.
A propósito do país do faz de conta. Acabo de ler a circular 22/DFI, de 15/5/2006, da DGS. Nela se dá conta do objectivo de, em 2010, ter uma taxa de cobertura em cuidados continuados de 60%. Anuncia uma acção de formação para profissionais de saúde financiada pela Saude XXI. A DGS não se responsabiliza por quaisquer despesas de deslocação ou alojamento. Aceitam-se inscrições. Não serão selecionadas candidaturas de profissionais da ARSLVT.
Comentários para quê?
Caro Xico do Canto,
Estou de acordo consigo no que respeita à divulgação dos "currículuns". Mas não no momento e no contexto em que este foi apresentado, depois de uma entrevista de auto-promoção.
De resto deveria ser regra a publicação dos "currículuns" de todos os que são chamados a desempenhar altos cargos.
Mas, mais do que a "pessoalização" do trabalho realizado, o que vale a pena debater é o que se refere à Rede de Cuidados Continuados e Cuidados Paliativos.
Manifestei já o meu "cepticismo" face ao que a entrevista nos dá a conhecer.
O projecto aposta fortemente na componente social a cargo de IPSS's e outras Organizações Sem Fins Lucraticos (o que pode explicar a escolha da senhora coordenadora). Ora em Portugal não existe uma forte cultura de mecenato e voluntariado que permita o desenvolvimento de um verdadeiro mercado social. As IPSS's são entre nós muito subsídio-dependentes. Isto é, as Instituições envolvidas dependerão essencialmente das receitas com base em subsídios do Estado (pagamento dos serviços) e das contribuições dos particulares (utentes). E é aqui que me parece que a "poupança" para o SNS (e Segurança Social) pode não ter a expressão que se anuncia.
É certo que só deverão permanecer nos hospitais os doentes agudos, mas a não se assumirem como "hospitais de rectaguarda" (eu não percebo qual o problema em assim serem designados!) as IPSS's dificilmente poderão desempenhar as funções enunciadas. Deverão, além do mais, dispor de apoio médico e de enfermagem, de medicina física e de reabilitação, etc., enfrentando a carência de recursos por que passam os próprios hospitais.
Hoje as IPSS's têm já muita dificuldade em receber nas suas instalações doentes acamados e muito idosos e haverá sempre "pressão" para que os doentes que sejam acolhidos nas suas instalações prolomguem a estadia pelas mais diversas razões e em particular por falta de meios e apoios no seu domicílio.
Quanto aos que devam retornar aos seus domicílios e aí receberem os cuidados (de saúde) se a cobertura for nacional exigirá o "trabalho" de um elevadíssimo número de pessoas (médicos, enfermeiros, etc.,) com custos necessariamente elevados.
Acresce que as deslocações (porta-a-porta) ocuparão uma significativa parcela dos "horários de trabalho" dos profissionais envolvidos.
Talvez a solução seja mais viável nos aglomerados urbanos mas mesmo assim, e até pelas dificuldades de deslocação, a relação profissionais/utentes tenderá a ser elevada.
A coordenadora dos cuidados continuados + presidente do CA do SUCH o que é que têm em comum ?
São ambas assessoras da Drª Pignatelli.
Vamos esperar para ver qual será a próxima assessora a sair para umcargo de "responsabilidade".
É evidente que com a má língua e insinuações não vamos a lado nenhum.
Desde a cerimónia de apresentação tem havido poucas ou nenhumas notícias sobre este projecto.
Penso que seria útil enviar à Dr.ª Inês Guerreiro o conjunto de perguntas formuladas pela Maria.
Pode ser que obtenhamos resposta às nossas dúvidas.
Por acaso conheço a Dra. Inês Guerreiro e sempre a vi movimentar-se bem nos corredores do Poder.
Mas não me sinto envolvido na crítica de Maria. A minha crítica à pessoalização da entrevista não pretendeu ser um ataque pessoal mas sim a discordância pelo que me parece ser a desvalorização do trabalho de equipa e a auto-promoção.
Depois o que fiz foi expressar opinião sobre o tema em si mesmo, baseado na informação contida na entrevista.
Levantei dúvidas, coloquei interrogações e concordo que é esse debate que mais importa.
Mas não estamos impedidos de emitir opinião sobre um "texto" (chamei-lhe relatório) escrito e publicado sob a forma de entrevista.
Quanto às escolhas para lugares, tenho procurado não as comentar. Mas nada me surpreende.
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