domingo, maio 21

H. Barcelos, relatório contas 2005


O ano de 2005 foi um ano difícil. O clima organizacional interno ressentiu-se do “interregno” quanto à nomeação dos órgãos sociais do Hospital, nomeadamente das direcções técnicas, pedras basilares da estrutura organizativa. A actividade assistencial registou um abrandamento, especialmente ao nível do internamnento. Por outro lado, os custos operacionais aumentaram, essencialmente devido ao aumento exponencial com o consumo de medicamentos. link
H. Barcelos, abertura relatório contas 2005
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Há cerca de um ano eram já conhecidas as contas da generalidade dos HH SA's e havia mesmo alguns em que as Assembleias Gerais tinham já reunido para apreciação e votação dos respectivos Relatórios e Contas. Hoje, 21 de Maio de 2006, são apenas conhecidas (ou foram divulgadas) as contas de apenas três desses mesmos hospitais.
E os resultados conhecidos não são defacto famosos.
Vejamos alguns dados relativos ao Hospital de Santa Maria Maior de Barcelos:
Verificou-se em 2005 uma quebra no número de doentes saídos (-9,76%) mas um aumento de número de dias de internamento (+2,88%) com a demora média a aumentar, também (+13,92%). As primeiras consultas baixaram (-5,36%) e as subsequentes aumentaram (9,89%). Aumentou (+156,37%) o número de sessões de hospital de dia e o número de doentes tratados (37,76%), parecendo estar-se perante tratamentos significativamente mais prolongados. Com que resultados para os doentes? Diminuiu a urgência geral (-1,22%) tendo aumentado a pediátrica e a obstétrica (+18,11% e +25,5%). Aumentou a cirurugia urgente (+27,42%) ao mesmo tempo que baixou a programada (-4,52%) e o PECLEC (-70,20%). Refira-se que a taxa de ocupação (internamento) tendo aumentado 1,83%, continuou anormalmente baixa (62,83%).

Em síntese, parece que os dados da produção não evoluiram, em geral, de forma positiva. Paralelamente, os indicadores financeiros apontam para maus resultados de gestão: Regista-se uma acentuada quebra na Solvabilidade e na Liquidez Geral (-28,13% e -15,67%). Houve uma redução doa fluxos financeiros originados em Prestação de Serviços. Os Resultados Operacionais que passaram de 1,075 milhões de euros negativos em 2004 para 3,063 milhões negativos em 2005, foram o principal contributo para o resultado do exercício que se fixou no prejuízo de 2,439 milhões de euros, contrastando com o resultado de 2004 que foi positivo em 33 020 euros.
O Hospital manteve ao longo do ano depósitos a prazo na ordem dos quatro milhões de euros e encerrou o exercício com uma dívida a fornecedores de montante um pouco suoperior a quatro milhões e cem mil euros.
Constatando-se um prazo de pagamento a fornecedores da ordem dos 168 dias parece poder concluir-se que apesar da redução do prazo médio dos pagamentos (23,6%)poder-se-ía ter ido mais longe apostando na redução dos preços de aquisição (aspecto recentemente referido pelo Senhor Ministro da Saúde a propósito dos custos hospitalares).
O Relatório dá conta de uma redução de Recursos Humanos em particular na prestação de serviços de médicos especialistas em SU. Embora não esteja especificada a origem, observa-se, entretanto um agravamento dos custos em FSE superior a 20%. As matérias de consumos apresentam, um acréscimo superior a 30% relativamente a 2004. A análise das Contas permite ainda concluir que as Remunerações dos Órgão Directivos são superiores em cercade 16% às registadas em 2004.
Estes dados deixam à evidência um evolução desfavorável na situação económico-financeira do Hospital de Santa Maria Maior quando se toma por comparação o ocorrido em 2004.
Os custos com o consumo de medicamentos, como refere a Presidente do CA tiveram um aumento exponencial. Parece que este aumento é tanto mais estranho quanto é certo que a actividade de um modo geral baixou, com se pode concluir pelos proveitos originados na Prestação de Serviços.
Perante a situação ocorre perguntar: que medidas drásticas poderão inverter esta situação? Será que os gestores se sentem desmotivados, apesar do aumento dos custos com as remunerações dos Órgão Directivos? Que expicações concretas terá o CA para a "degradação" constatada? Referir o interregno na nomeação dos Órgãos Sociais parece-me muito pouco, mesmo demasiado pouco!
PS: Verificamos que este hospital reduziu drasticamente o número de cirurgias em PECLEC. A comunicação Social fez ha dias uma curta referência às "famosíssimas" listas de espera cirúrgicas, mas pouco se conhece sobre o assunto.
Tonitosa

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9 Comments:

Blogger ricardo said...

Aqui está um bom trabalho.
Trazer para a discussão pública os relatórios de contas dos nossos hospitais.
É necessário colocar pressão sobre os CA.
Temos de saber o que eles andam a fazer com o dinheiro dos nossos impostos.

12:43 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Relativamente a 2004 inverteu-se a situação: menos receitas + despesas.
De salientar o elevado número de sessões de quimioterapia que pode justificar em parte o aumento dos gastos com medicamentos.

12:57 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Será possível algum colega esclarecer-me sobre o facto dos relatórios e contas de 2003, 2004 e 2005 do HSMM serem todos assinados por Elizabete Castela na qualidade de Presidente do CA?!
É que no relatório de 2005 fala-se de interregno quanto à nomeação dos órgãos sociais do Hopital.
Houve ou não mudança?
Manteve-se a Presidente do CA?

1:42 da manhã  
Blogger saudepe said...

Foi um ano difícil !
Foi mas é um ano de gestão fracassada tendo em atenção os resultados dos anos anteriores.
O primeiro parágrafo parece mais a abertura de um livro de memórias.

O Tonitosa parece ter dúvidas sobre as medidas drásticas a aplicar.
Desde logo ,mudar a administração, concerteza.

1:45 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Correndo o risco de ser maçador (e sabendo que nem todos gostam da minha assiduidade) permitam que repita o que escrevi, já há alguns dias e que me parece ter passado um tanto despercebido.

Disse então:

Muitas das dificuldades do SNS passam defacto pelos Hospitais.
O Xico do Canto aborda uma das componentes fundamentais da gestão hospitalar, expressa no peso que os custos com pessoal têm no total dos custos de exploração.
Está a chegar a hora de "Balanço" (aliás já tardia) de mais um ano de actividade dos HH SA's relativo ao exercício de 2005.
Foi escrito no SaúdeSA o texto que se segue em relação a dados conhecidos de 2006:

"Os resultados dos HH EPE, referentes ao primeiro trimestre do corrente ano, não são famosos: subida dos consumos, custos com pessoal e fornecimentos de serviços externos (FSE) face ao período homólogo do ano anterior."

E o que se passou em 2005?

Visitei o sítio "hospitaisepe" e pude verificar que alguns (quatro) relatórios e contas de 2005 estão disponíveis.
Feita uma leitura (ainda que menos aprofundada) dos relatórios do CHAM e do HPA-VS, parece-me poder deixar aqui algumas ideias-síntese.
Embora obedecendo a uma estrutura uniforme, os dois relatórios são claramnete distintos com inequívoca vantagem para o HPA-VS. Melhor exposição literária, mais informação, melhor apresentação gráfica e melhor conteúdo, maior rigor técnico na linguagem utilizada e maior objectividade, são aspectos favoráveis ao HPA-VS.
Quanto aos resultados, também o HPA-VS apresenta uma melhoria em relação a 2004 que me parece significativa, situação inversa da apresentada pelo CHAM.
Não me proponho aqui fazer a análise dos referidos relatórios, nem isso é meu propósito.
Parece-me que o CHAM se terá afundado em 2005, a avaliar pelos dados revelados:
Os resultados operacionais, sendo negativos, deterioraram-se em 60%;
O crescimento dos custos operacionais (sendo sgnificativamente maior que o dos proveitos), é também, acentuadamente maior do que o crescimento da produção;
Os resultados líquidos negativos agravaram-se de forma desmesurada, tendo passado de 7,8 milhões de euros em 2004, para 16,5 milhões de euros em 2005;
Os capitais próprios da empresa evoluiram negativamente (79,18%);
Em matéria de Recursos Humanos verificou-se um acréscimo de 30 colaboradores, sendo que o número de médicos cresceu mais de 11% relativamente aos existentes em 2004;
Apesar do aumento referido, constata-se, também, um acréscimo dos custos com horas extraordinárias.

Não pretendemos, com estas notas emitir juízos de valor sobre a Gestão do CHAM.
Se algo se pode dizer mais é que o relatório deixa transparecer uma exagerada preocupação em apresentar os objectivos para 2006, utilizando por vezes dados que surgem a despropósito; bem diferente, também neste aspecto (para pior), do relatório do HPA-VS.
Mas quem melhor poderá avaliar os maus resultados alcançados do que o próprio CA do Hospital?
E parece que disso, há consciência do CA quando se refere no relatório ao "aumento desmesurado dos custos".
Notas:
1) Não estão disponíveis (no sítio)algumas peças contabilísticas fundamentais para uma adequada avaliação dos resultados;
2) O gráfico da página 17 contém uma gralha na legenda.

Quanto ao HPA-VS, os dados apresentam uma evolução em geral positiva, com expressão na melhoria dos resultados líquidos que, embora negativos, passaram de 6,8 milhões de euros em 2004 para 3,6 milhões em 2005, com os proveitos operacionais a crescerem 11,5%, e acima dos custos operacionais que cresceram 7,8%.
Uma análise mais profunda exigirá que se não esqueça a contribuição para os resultados do valor recebido a título de Convergência (3,1 milhões de euros) e o contributo dos resultados extraordinários no montante de 2,1 milhões de euros.
Assinale-se, neste hospital, um decréscimo do número de doentes saídos mas em relação com o aumento do número de dias de internamento (maior complexidade, certamente).
Destaca-se no relatório o aumento da cirurgia do ambulatório (30,5%) e da urgente (3,1%) e do Hospital de Dia (também verificado no CHAM) assim como o maior número de consultas externas (+6%).
Registe-se, também, a referência feita à melhoria do ICM ocorrida em 2004, contribuindo para a melhoria dos proveitos.
De reter, ainda, o aumento de FSE's (19,6%) e dos custos com pessoal (+6,8%) sendo de referir, como o fez o CA, que em FSE's se encontram registados os custos com médicos em regime de prestação de serviços.

Uma pergunta final: estarão estes resultados nos limites admitidos pelas Cartas de Missão?

2:04 da manhã  
Blogger J.G. said...

"Clima organizacional"
Tanto quanto julgo saber era só o caso da Direcção Clínica que não queria continuar independentemente da ... demora em saberem(todos) se eram reconduzidos / re-nomeados ou não e...consequentemente andar tudo ao sabor dos ventos.

8:02 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Na verdade a nova equipa do Ministério da Saúde demorou meses até que desse início às famosas reuniões com os CA dos HH (SPA e SA). Aliás disso dei aqui nota num dos comentários que fiz talvez depois do Verão de 2005.
E pior ainda, Correia de Campos numa das suas primeiras intervenções (tomada de posse das ARS's) no Infarmed, de forma infeliz disse que, a partir de então o diálogo dos CA dos HH era com os "senhores" das ARS's. Não teriam que relacionar-se directamente com os membros do Governo. E disse-o com alguma "arrogância".
Lembram-se? Alguns colegas, comentadores habituais neste blog, ali estiveram nesse dia.
CC passou, então e naquele local, um atestado de menoridade aos Gestores dos Hospitais.
É certo que não tem procedido assim. Mas começou tarde.
De certo modo, como diz o Jocapoga, as coisas andaram ao sabor dos ventos.
Durante bastante tempo houve mais preocupação com críticas a LFP do que com a gestão do SNS.

10:43 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Sinceramente, pensei que alguma quebra de continuidade de gestão pudesse explicar parte do "descalabro" que foi a actividade do HSMM no ano de 2005.
Até porque era referido um "interregno".
De acordo com a informação agora disponível, fico a saber que só um Vogal e o Director Clínico foram substituídos.
Dito isto, parece-me legítimo perguntar: o que mudou no HSMM?
Consultados os relatórios de actividades e as contas dos dois anos anteriores maior é o nosso desencanto.
Numa primeira reacção fui levado a pensar que se trataria afinal de uma consequência lógica da "Contabilidade Criativa" apregoada pelos opositores do modelo SA (CC incluído).
Mas tal hipótese parece-me de rejeitar porquanto a "criadora" seria a mesma.
Depois, poderia ser defacto consequência do "interregno" mas tendo-se mantido a Presidente do CA a continuidade estaria assegurada.
Seria então resultado das mudanças havidas no CA?
Aqui, já se pode admitir algum efeito mas, a havê-lo, teremos que concluir que "sairam os bons"(?)ou que entraram os maus(?).
Quanto aos que foram reconduzidos, correspondendo às escolhas de CC, ditadas apenas pela competência técnica, só pdem ser mesmo "bons".
E pela mesma razão a escolha dos novos só pode ter recaído em pessoas de elevada competência.
Então, porque se degradaram os resultados?
Uma hipótese legítima se pode colocar: a quebra de rumo, a falta de orientações, e sobretudo a quebra do nível de exigência do MS perante o CA e do CA perante os seus colaboradores.
Enfim, pode até admitir-se o regresso do "deixa andar" porque vem aí a EPE (e mais Estado).
Infelizmente, sejam quais forem as causas, dos (maus) efeitos já ninguém nos livra.

9:54 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Dino_sauro,
Tem razão, Defacto depois da exposição fotográfica, lá estão os Órgãos Sociais.
E na verdade não se percebe como o "interregno" pode ser apresentado como explicação para o s maus resultados!

12:48 da manhã  

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