quarta-feira, junho 21

Integrar Hospitais

H. São Teotónio

Agradeço todos os comentários postados pelos colegas de blogue.

Gostaria de precisar 2 pontos em que não fui claro:

i) Tratei a integração de HH não no sentido mais “soft” (união ou agrupamento) mas como Centro Hospitalar (CH), com Unidades cujas composição e papel faz sentido apenas no âmbito integrado. Daí resultará um processo de transformação mais difícil mas com maiores benefícios (potenciais);
ii) A integração deve assentar em duplo planeamento, isto é: 1º o planeamento de saúde determina as necessidades futuras e questiona a adequação procura/oferta (considerando a realidade inicial e a opção de integração); 2º analisada e decidida a integração é necessário planeá-la, organizá-la e controlá-la.

Relativamente ao caro colega Luís Botelho, a quem agradeço vivamente as suas opiniões, gostaria de começar por frisar um ponto que me parece fundamental: âmbito e alcance dos comentários no blogue. Penso que os “bloguistas” dispõem normalmente apenas de parte da informação sendo, por isso, difícil alcançar uma maior “angular” ou aperceber-se de todo o “filme”. Desse modo os comentários são isso mesmo, apreciações, opiniões e sugestões de quem quer aprender e participar na discussão (normal em democracia). Por isso mesmo ficam excluídas análises mais profundas e concretas, próprias de consultor, como seja, por ex., o trabalho sobre a realidade concreta do CH Viseu (segundo LB entregue a “entidade independente”). Assim não me pronunciarei sobre o caso concreto, para além da apreciação possível pelo conhecimento “geral” das Unidades em causa, e comentarei apenas algumas das opiniões de LB dado o interesse que revestem para o tema genérico em análise.

a) Necessidades em saúde ou “... também as expectativas dos clientes”?
O planeamento em saúde deve cingir-se á determinação das necessidades da população (presentes e futuras), considerando as suas preferências. As expectativas dos clientes podem ser “injustificadas”, como afirma, ou mesmo irrealistas, não equitativas e inviáveis (ex. cirurgia cardíaca em Tondela) – não interessando agora questionar como e quem as criou. Acredito que os gestores não podem confundir-se com políticos irresponsáveis que tudo fazem para satisfazer as “expectativas” da população (na “expectativa” da próxima eleição), cabendo-lhe antes estudar tecnicamente, esclarecer e ajudar a difundir as soluções correctas e viáveis. Não posso concordar com a afirmação “... última coisa a fazer é cercear o capital de esperança das populações... a mensagem que se irá transmitir é a de aniquilação de um serviço público de saúde”. O serviço público de saúde (SNS) para continuar e se desenvolver deve adaptar-se constantemente, ajustando a oferta para maior racionalidade (qualidade, eficiência, equidade) e para garantir a sua sustentabilidade futura. Não o faremos satisfazendo expectativas irrealistas e “dando mais” aos autarcas e políticos autistas.

b) Dimensão mínima e “gerir pessoas, não camas”
Considerar uma dimensão mínima para reconhecer a existência de um hospital é normal justificando-se pela necessidade de garantir segurança, qualidade e eficiência (o custo unitário abaixo de determinada escala será elevado). A OMS desde 1960 que recomenda o fecho de pequenos hospitais (locais), o que tem sido seguido pela generalidade dos países. Por outro lado a proximidade é importante sobretudo quando a acessibilidade é fraca (tempo até ao hospital) – até à correcção desse problema justifica-se a continuidade de Unidades de dimensão abaixo do mínimo. Num pequeno país que tem, agora e salvo algumas excepções, boas acessibilidades, é de tomar boa nota e corrigir o que se justificar á luz dos novos tempos de acesso e das exigências da tecnologia de saúde. Por exemplo a Bélgica classifica como hospital apenas as Unidades que têm, pelo menos, 150 camas (“verdadeiras”, bens instaladas em estrutura adequada).
Os serviços (hospitais) existem em função das necessidades a satisfazer e com a dimensão e nº de pessoas adequadas, daí que tenha sido à capacidade e á estrutura que nos referimos. Admitindo uma estrutura hospitalar equilibrada a capacidade do internamento é um indicador possível e fácil de usar – o nº de pessoas pode ser um mau indicador (ex. maior % de pessoas de apoio por ausência de “outsourcing” e de informatização, ou poucos profissionais de saúde porque a produção é pouco diferenciada ou sem a segurança e qualidade requeridas).
Gerem-se camas e não pessoas (penso que houve lapso de escrita). Gerimos camas de 3 modos distintos:
i) Estruturando o hospital em Departamentos/CR de modo a melhor uso global das camas e dos recursos que o internamento impõe;
ii) Redimensionando as unidades para melhorar a eficiência (ajustar a capacidade das unidades e serviços);
iii) Fazendo a por si designada “gestão de altas”, planeando a alta e evitando a inapropriação de dias de internamento. Também desenvolvendo alternativas ao internamento (CE, C. Amb, H. Dia e MCDT) para evitar admissões inapropriadas.
Lideramos pessoas, que não são coisas, como tão bem nos elucida Stephen Covey (“8º hábito”, pág 107): “Porque as coisas, ao contrário das pessoas, não têm poder nem liberdade de escolha. E é por isso que lideramos (responsabilizamos) pessoas, mas gerimos e controlamos coisas. Seguidamente aparece uma lista de coisas que necessitam de ser geridas.
Que coisas é necessário gerir (controlar)? Coisas que não têm liberdade de escolha: dinheiro, custos, informação, tempo, estruturas, sistemas, processos, inventário, recursos físicos, instalações, ferramentas.
Por vezes ... certas pessoas optam por ser geridas sob a sua própria liderança (muitos profissionais e outros activos).”
(fim de citação).

c) H. Tondela e H. Seia com “melhores resultados” que H. Viseu
Deixe-me duvidar pelas seguintes razões:
i) Não estaremos a falar dos mesmos produtos – ex. % de DS transferidos (alta e admissão); severidade à admissão; diferenciação e complexidade dos doentes atendidos; ...;
ii) A qualidade técnica e a segurança nos 2 pequenos hospitais não podem ser comparadas às do HV (hospital com acreditação);
iii) A eficácia global dos 2 pequenos HH será provavelmente menor, seja em resultados clínicos face ao esperado (ex. mortalidade, reinternamentos) ou erm apropriação (% “verdadeiras” urgências e de internamentos de agudos).
Acredito mesmo que os profissionais desses HH não sentem nenhuma superioridade de resultados face a Viseu e quanto a sentirem relutância em serem “integrados” não sei se a questão não deveria ser: preferem que o hospital saia da rede de HH agudos ou que seja integrado no HV?
Faço notar que da integração só poderá resultar a melhoria da qualidade e da eficiência, medida p. ex pelo custo do doente saído ajustado (lembro que com a integração “desaparecerão” vários DS, os que agora são contados duplamente nas transferências entre os 3 HH).

d) “Criar uma cultura para o HV que,... , me parece não existir”
A sua afirmação é susceptível de ser mal entendida. Cultura existe sempre mesmo que não seja a por nós desejada, tendo em conta a missão, a visão e o interesse da população.

e) Concretização do “Centro Hospitalar de Entre Serras”
Suponho que o CH resulta de 2 preocupações: i) diferenciar o HV (novas especialidades e capacidades de diagnóstico e tratamento) e dar-lhe capacidade de responder ao novo papel (H. Central, referência para a Guarda); ii) viabilizar e dar segurança aos 2 pequenos HH. Se for o caso será no quadro de um grande hospital (com 3 Unidades) que tudo deve ser ser pensado e analisado. Por isso não subscreveria soluções de dividir os serviços administrativos pelos HH e teria cautela na centralização de serviços que exigem a presença de doentes (ex. Imagiologia e MFR).

f) Equipa de gestão e comunicação
Nada a dizer relativamente à velha máxima citada (“quem quer vai, quem não quer manda”), muito embora seja de considerar que os 2 HH terão um AH “residente”, admito eu. Inteiramente de acordo quanto à exclusão do Eng. Pedro Penedo da Rocha Calhau (que felizmente não conheço nem nunca me foi apresentado!) mas acredito que a comunicação não deve ser “venda” (muito menos no sentido que afirma: “vender gelo a um esquimó no Pólo Norte”) antes dialogar, mostrando as opções (seus benefícios e custos-riscos), dizendo qual a visão que temos para o Centro Hospitalar e alcançar um consenso enriquecido com a contribuição de todos.

g) Integração é excepção?
Penso que não há tantos HH como isso que sejam candidatos a integração, já que dos possíveis haverá que excluir os que serão transformados (para cuidados continuados e/ou sociais) e os que forem devolvidos aos seus proprietários – daí ter afirmado que era mais excepção.

Termino agradecendo os seus comentários e opiniões e remetendo um abraço.
Semmisericórdia

2 Comments:

Blogger tonitosa said...

Raven,
Não tardarei a dedicar-lhes alguma atenção.
Na verdade em matéria de informação, e sobretudo no que respeita aos HH muito pouco (quase nada)se conhece.
Um abraço

9:47 da tarde  
Blogger Clara said...

Muitos parabéns por mais este excelente trabalho.

Conhecimentos profundos, capacidade e gosto para os transmitir.

Além do Gestor Hospitalar, fica no ar o perfil do professor universitário competente, capaz de dar aulas de conteudo profundo, blogando.

12:11 da manhã  

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