quinta-feira, junho 22

Relatório Primavera 2006


I - Enquanto para o anterior ministro da saúde “A culminância na arte da guerra estava em se vencer o inimigo sem o combater”, CC, ainda o XVII Governo Constitucional não entrara em funções, fazia anunciar pela voz do primeiro ministro quem seria o seu principal inimigo e por onde ia atacar de imediato .
Esta forma de fazer a guerra, com alguns combates corpo a corpo como aconteceu no programa televisivo "prós e contras" com João Cordeiro, não podia deixar de marcar negativamente o desenvolvimento de toda a política do medicamento.
As recentes tréguas conseguidas com a assinatura do protocolo ANF/Governo têm sido preenchidas por CC com a inauguração de mais lojas de medicamentos de venda livre, a bem da promoção da concorrência e da automedicação.

II - O capítulo 11.º (II.ª parte) - "O Medicamento e as Farmácias", tem sido o alvo preferido das críticas de CC e FR ao Relatório do OPSS .
A forte reacção da equipa governativa da Saúde entende-se. É que, quanto a mim, os reparos feitos à política do medicamento são certeiros:

a) - A criação da função “avaliação de tecnologias em saúde” tida por crítica na área da introdução, utilização e monitorização da utilização de novos medicamentos, particularmente nos Hospitais, não passou, até ao momento, da fase de anúncio de intenção por parte do Secretário de Estado da Saúde.

b)- No ambulatório assistiu-se à continuação da legitimação, pela comparticipação, da designada “inovação incremental”, instrumento objectivamente frenador da progressão do mercado dos medicamentos genéricos, logo potenciando ganhos para a indústria farmacêutica sem a contrapartida de ganhos de eficiência para o SNS.

c) - A informação sobre a comparticipação de medicamentos deverá tornar-se num processo mais transparente, com mais e maior divulgação pública de informação. O Observatório constatou a interrupção da divulgação no sítio do INFARMED dos relatórios de avaliação pericial dos processos de pedidos de comparticipação de medicamentos.
Seria importante que o INFARMED identificasse, nos indicadores relativos à avaliação de pedidos de comparticipação, quais as novas substâncias activas que são comparticipadas. Seria igualmente muito importante que o INFARMED assinalasse:
i)- quais, de entre os novos medicamentos comparticipados, os que correspondem a inovações terapêuticas à luz da legislação em vigor;
ii)- quais, de entre os novos medicamentos comparticipados, aqueles cujo preço foi suportado por estudos de avaliação económica;
iii)- quais, de entre os novos medicamentos comparticipados, aqueles que foram objecto de contrato entre o Governo e a Indústria Farmacêutica à luz da legislação em vigor.

d) -Não existência de informação sistematizada sobre indicadores de desempenho do sistema português de farmacovigilância. Constituindo uma actividade cujo financiamento é público decisiva para a manutenção da saúde pública e para a garantia de segurança dos utentes, tal situação é inaceitável. Acresça-se que decorreram seis anos sobre a criação de unidades regionais de farmacovigilância, impondo-se, por conseguinte, a divulgação do balanço dessa experiência.

e) - Volvido um ano de governação não se identificaram medidas efectivas de promoção da utilização racional dos medicamentos.
Não foi sinalizada qualquer actividade da Comissão para a Utilização Racional do Medicamento (CURM).

III - Sobre as medidas executadas com o objectivo de produzir a diminuição da despesa:
i) - diminuição de 6% do PVP dos medicamentos com diminuição das margens de lucro da distribuição grossista (de 8% para 7,45%) e das farmácias de (20% para 19,15%).
ii) - revogação da majoração de 10% na comparticipação dos medicamentos genéricos. (pag 131).

O Relatório do OPSS poderia ter referido outras :
i) - redução em 5% no escalão máximo de comparticipação do Estado no preço dos medicamentos, quer no regime geral quer nos regimes especiais de comparticipação por patologias e grupos especiais de utentes (decreto-lei n.º 129/2005, de 11 de Agosto).

ii) – a aprovação em Conselho de Ministros da redução da majoração (comparticipação acrescida, prevista n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 118/92, de 25 de Julho, na redacção dada pelo decreto-lei n.º 129/2005, de 11 de Agosto) para o preço de referência dos medicamentos adquiridos pelos utentes do regime especial de 25% para 20% .

iii) – a obrigatoriedade de apresentação da declaração e do documento comprovativo aos pensionistas que pretendam beneficiar do regime especial de comparticipação de medicamentos (portaria n.º 91/2006, de 27 de Janeiro)

Concordo que a “criação do Formulário Nacional de Medicamentos para o ambulatório” será de todo desnecessária dada a qualidade do Prontuário Terapêutico (pag. 136) que tem uma edição recente – Fevereiro 2006.

7 Comments:

Blogger Peliteiro said...

Trés bien

12:25 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Dois grandes abraços para o Guido Baldo e o Xavier.

Mais do que nunca se justifica a almoçarada anunciada do pelouro do medicamento da saudesa.

12:38 da manhã  
Blogger ricardo said...

O impacto da liberalização do mercado dos medicamentos não sujeitos a receita médica não foi, para já, o esperado pelo Governo, e não teve um resultado positivo para o consumidor final: a redução sustentada dos preços.
DE, 21.06.06

Vai para dois anos que em termos de política do medicamento não se fala de outra coisa: Venda de medicamentos fora das farmácias.
O objectivo é claro: promover o aumento da contribuição dos cidadãos na factura dos medicamentos.
E, ainda ... aliviar a pressão sobre as consultas externas e urgências hospitalares.
Como ?
Automedicação. É o que está a dar ...

12:58 da manhã  
Blogger saudepe said...

Xavier, um grande abraço.
Vivemos no mundo da hipocrisia.

Não gostam de ouvir as verdades.
Zangam-se.

Palmadinhas nas costas e empurrões pelas costas é a receita adequada e merecida.

1:59 da manhã  
Blogger Farmaceutico de Oficina said...

Pouco a pouco as verdades, começam a vir ao de cima!!!

O sucesso das Farmácias e dos farmacêuticos tem sido ao longo das ultimas décadas tentar conciliar os seus interesses e os “seus privilégios”, com os interesses do País dos utentes dos doentes...


Diferentes inquéritos e estudos independentes demostram-no...
Os números de margens,... impostos pagos,... produtividade,... pagamento aos colaboradores,... formação profissional, benchmarketing com outros sectores de actividade económica no país e com o ramo das Farmácias noutros países, e que pouco a pouco fomos apresentado em posts anteriores demonstram-no!

Infelizmente para a pequena inveja “nacional” e parece que para este governo , ser cidadãos da classe média, Independentes...cumpridores e trabalhadores transforma-nos em “personagens pouco simpáticas” que foi preciso à luz do “interesse nacional” e das “margens supra normais que praticam” conduzir através de medidas legislativas prioritárias para os ratios da Mediocridade Nacional...

Os resultados começam a aparecer à vista dos cidadão mais atento... Quanto a nós resta-nos continuar a trabalhar... pois já ca andamos no sector pelo menos desde o antigo Egipto...

Curioso que passado este tempo todo.... se ande a discutir “taco a taco” sem resultados conclusivos a comparação das margens entre um sector em que quase metade dos seus trabalhadores são licenciados... com as margens das lojas de MNSRM do Modelo Continente...Hipermercados !!!

Se compararmos os preços dos mesmos produtos das chamadas Lojas de Conveniência do Modelo Continente nas bombas de Gasolina da Galp com as da Modelo Continente Hipermercados, chegamos a variações de Margens superiores a 100%... Acredito que os produtos são comprados todos ao mesmo preço...

Considerando que uma Farmácia de Bairro se assemelha mais com uma loja de Conveniência da MC do que uma loja de Hipermercado do MC... então onde é que andam as margens anormalmente elevadas ... Serão nas Farmácias???? e os níveis de serviço à saúde à população e ao SNS serão nos Hipermercados???? E a acessibilidade???

Um abraço!

7:40 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Ao M.S.Peliteiro,
Deixei um pequeno comentário no post "Saldo de Medicamentos".
Um abraço

11:25 da manhã  
Blogger Peliteiro said...

Obrigado.
Concordo, é óbvio.
O grande problema dos estudos é serem desligados da realidade; Os números nem sempre a retratam com fidelidade. É, por exemplo, o caso do estudo da AdC sobre o mercado farmacêutico; não digo que os autores sejam incompetentes, o que digo é que se não conheceram a realidade - e não conheciam - como a podem expressar numericamente, como a podem extrapolar e fazer previsões? Não podem. Daí a necessidade das equipas conterem elementos que conheçam bem o concreto, o real; muitas vezes isso não acontece - dá asneira!

2:32 da tarde  

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