Artistas portugueses
Após a leitura do editorial de Paulo Ferreira “ Um caso exemplar”, publicado no JP de domingo (17.09.06), dei comigo a pensar no que poderá suceder com os contratos de parceria público privado (PPP) para a construção de novos hospitais.
O Caso Exemplar referido por PF diz respeito às obras do túnel do Rossio.
I - Os factos:
"Em Outubro de 2004, sob a ameaça de colapso, o túnel do Rossio foi fechado. Efectuados os estudos necessários e lançado o Concurso Público, foi adjudicada a Obra a um consórcio liderado pela Teixeira Duarte, sendo o prazo previsto para a conclusão dos trabalhos Setembro de 2006.
Em Março passado a Teixeira Duarte pediu alargamento do prazo, intenção que a Refer, empresa pública dona da obra, negou por falta de fundamento. E há duas semanas, portanto a um mês da data prevista para a reabertura, a TD veio dizer que os trabalhos só estariam prontos em 10 de Novembro de 2011.
Entre várias acusações à TD, a Refer comunicou que ia rescindir o contrato. Depois adiou por trinta dias essa decisão, para permitir que o consórcio possa preparar a obra para a terminar no prazo de um ano.
Segundo o engenheiro Segadães Tavares trata-se de uma chantagem uma manobra da TD. Ganhou a obra com um preço que não era viável e está a ganhar a estratégia. Quando a Refer aceita que a obra se prolongue por mais um ano, esta fica mais cara e somos nós todos, contribuintes, que pagamos.
A TD ganhou o concurso com a oferta de 32 milhões de euros numa obra que segundo Segadães Tavares, sabia-se ia custar 60 a 70 milhões de euros. Depois de ter ganho o concurso, com base em preços e prazos absolutamente irrealistas, e de ter avançado com os trabalhos, tem o dono da obra como refém e pode fazer quase tudo o que quiser, pedir muito mais dinheiro, invocar trabalhos a mais (...)"
II - Os comentários:
a) – A anterior legislação sobre as empreitadas de obras públicas previa a rejeição de propostas com base no valor anormalmente baixo (cujo valor fosse 1/3 mais baixo do que a média das propostas dos outros concorrentes).
b) - Este é mais um caso, entre tantos, que nos dá conta do que se passa entre nós relativamente à impunidade e poder dos Grandes Grupos, que não se coíbem de utilizar métodos pouco claros para prejudicar a concorrência, antecipando que o Estado não consegue acompanhar e fiscalizar adequadamente os contratos de que é adjudicante (com grande prejuízo quer para o erário público quer para a economia nacional e sua competitividade).
c)- Este caso exemplar deixa-me preocupado sobre o que poderá vir a suceder em relação aos grandes investimentos planeados para a Saúde nos próximos tempos.
- Como já referi aqui anteriormente, há vários indícios de que o preço apresentado por 2 concorrentes ao concurso do Hospital Universitário de Braga PPP, é demasiado baixo e que o prazo proposto por praticamente todos os concorrentes é irrealizável na prática .
- Como as PPP representam um negócio de maior dimensão (em euros) e complexidade (construção e exploração de hospitais) e de prazo muito mais longo (contrato dura mais tempo, obrigações dos concorrentes incluem a manutenção do hospital em mais de 30 anos (além da sua exploração em 10), portanto envolvendo um maior risco, poderão dar espaço para muitos malabarismos, habilidades e jogos de influência.
- De notar que a má da fita no túnel do Rossio (e do Marquês) é aliada do Estado (!!!), pois concorre às PPP com a CGD/HPP.
Palavras para quê, são artistas cá da terra!
9 Comments:
Na celebração de contratos, as partes devem estar de boa-fé.
No caso do túnel do Rossio, se a Refer sabia que a obra ia custar 60 a 70 milhões de euros e aceitou a proposta da TD pelo valor de 32 milhões, tinha o dever de não adjudicar a obra. Ao fazê-lo tentou aproveitar-se da ignorância ou má-fé do concorrente actuando, consequentemente, também de má-fé.
E como entidade pública tinha ainda maiores responsabilidades na matéria.
Por isso é que a lei, geralmente, prevê a rejeição de propostas anormalmente baixasem concursos públicos.
Porque, lá diz o Povo: o barato tem rato.
O Estado neste caso deve actuar contra a TD, é certo, mas deve actuar contra a Refer na pessoa dos seus representantes.
Quanto às PPP parece-me haver algum excesso nas reservas, dúvidas e críticas que têm sido feitas.
É caso para se dizer: porque não voltar às nacionalizações e à entrega da gestão das empresas aos trabalhadores? E porque não voltarmos às Unidades Colectivas de Produção?
PS: não conheço (e certamente poucos conhecem) os problemas levantados e as razões invocadas pela TD. Sabemos, porém, que é uma das maiores empresas do País e com provas dadas quanto à sua capacidade para levar a cabo obras de grande envergadura. Quanto à Refer, o que se tem visto, desde há muitos anos, são só maus resultados e maus serviços às populações.
Xavier, excelente post.
Oportuna associação deste incrível caso ao processo das parcerias da saúde.
A Refer entalada entre a urgência da reabertura do túnel e as exigências do consórcio adjudicatário (certamente haverá muitos desenvolvimentos desta história que nós não conhecemos)veio extravasar a sua impotência para os órgãos da comunicação social.
A cereja no cimo do bolo desta macabra história é o facto da Teixeira Duarte ser associada do Estado nos concursos das PPP.
Autêntica República das Bananas.
O Xavier não me leve a mal.
O título mais apropriado deste post devia ser precisamente :
"República das Bananas"
O "Apito Dourado" é para a populaça.
Estes casos são do pessoal da pesada.
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a natureza das “taxas moderadoras” fica cabalmente esclarecido com mais esta habilidade de CC as aplicar ao internamento.
Como se a decisão de ser internado fosse do doente e a aplicação da taxa moderasse a utilização desta facilidade hospitalar.
Haja bom senso e honestidade. Se CC quer carregar ainda mais no esforço das famílias, como tem sido a sua prática, pelo menos não atire areia para os olhos do Zé Povinho e chame as coisas pelos seus nomes .
Encontrei ontem um amigo com quem não estava desde a primeira semana de Agosto.
Feitos os cumprimentos perguntei como tinham sido as férias.
Mais ou menos, respondeu-me.
Mas...houve algum prooblema?Perguntei.
Eh pá ...surgiu-me um problema na bexiga e tive quer ser operado. E correu tudo bem? Nova pergunta minha.
Sim, fui operado na Clínica ... na Amadora.
Ficou-me em cerca de 5000 euros mas no hospital não havia hipótese...e como costuma dizer-se: vão os anéis fiquem os dedos.
Esta é uma história real igual a muitas outras. Este é o SNS que temos e continuamos a ter. E de listas de espera ninguém fala ou ninguém quer falar.
Caro Xico do Canto,
Antes de mais um abraço...
Oportuno e conciso. Totalmente de acordo consigo. Na verdade isto a ser aplicado pode dizer-se que é "vigarice". Então depende do doente ser ou não internado?! Como bem diz, ninguém está internado por gosto a não ser os "excluídos" que provocam os chamados "casos sociais". Mas esses também não pagam. Ou será que vão pagar?!
Eu julgo que CC apanhado na pergunta disse o que lhe veio à cabeça. Talvez o Brasil o tenha perturbado!
E se o for, não estamos perante taxas moderadoras para moderar o acesso ao internamento mas sim perante mais uma forma de "sacar" dinheiro aos cidadãos.
Estamos na verdade numa época de DESPOTISMO. O MINISTRO "SOU EU" (CC dixit).
Fontes anónimas informaram-me de que estão neste momento a decorrer negociações entre o Ministério da Saúde e a Brisa no sentido de alargar o sistema Via Verde aos doentes que circulam no interior dos hospitais do SNS e deste modo poder cobrar mais confortavelmente toda a cascata de taxas "moderadoras" que CC pretende implementar até ao fim da legislatura.
O maior Artista Português parece ser CC.
Só uma curiosidade:
Se não se pagar a taxa moderadora no dia em que há utilização do serviço, o que sucede? o Hospital manda a "conta" para casa do doente. Se ainda assim o mesmo não pagar o que acontece? Segundo o teor das cartas, vai para o contencioso.
Então porque é que os serviços jurídicos dos Hospitais têm ordens para nada fazer nestes casos?
Resumindo: Se não quiser pagar a taxa moderadora ninguém se importa com isso!
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