sexta-feira, novembro 10

SNS, problemas de articulação

Meus amigos
Também penso que os cuidados de saúde primários (CSP), pelo seu papel curativo e essencialmente preventivo, devem constituir o pilar central do nosso sistema de saúde
link

Mas o problema da interligação dos CSP com os cuidados de saúde hospitalares (CSH) tem sido, desde há muitos anos, objecto de vários estudos e da criação de modelos experimentais com o objectivo de melhorar a acessibilidade dos doentes, uma vez que a interdependência do diagnóstico e do tratamento das patologias requer coordenação eficaz. Mas toda esta preocupação desenvolveu-se, até há bem pouco tempo, num só sentido: cuidados primários / cuidados hospitalares.
Raramente se questionou a necessidade de, no sentido inverso, cuidados hospitalares / cuidados primários, merecer a mesma preocupação.
É frequente vermos reportagens dos “media” sobre as dificuldades dos utentes conseguirem consulta nos Centros de Saúde, quando, não tão mediaticamente, sabemos quanto dificil é para os doentes conseguirem uma consulta de especialidade hospitalar.
Começou-se, na década de 80, sob a pressão da referida mediatização, a dar mais importância à medicina familiar mas descurou-se, malgrado os múltiplos alertas, a formação planeada não só em relação à quantidade de licenciados em medicina mas também à qualidade no que se refere à sua pós-graduação na área hospitalar. Tarde se corrigiram estes problemas de “reposição” da massa de licenciados em medicina, mas a correcção que se realizou não foi baseada numa projecção consistentes das necessidades a médio e longo prazo, mas em função dos “numerus clausus” de acesso às velhinhas e novas Faculdades de Medicina, definidos em função das suas capacidades e do seu “entender” de como a Medicina devia ser “ensinada”.
Com o envelhecimento dos quadros médicos hospitalares que se prolongará por mais de uma década, associado à assimetria da sua distribuição regional e ao crescente aumento da procura de consultas de especialidade (devido à melhoria da acessibilidade e à medicina cada vez mais defensiva), agravou-se a insuficiente resposta dos CSH face ao aumento crescente dos pedidos dos CSP.
E que foi feito?
Experiências piloto, das quais a mais emblemática foi a ULS de Matosinhos.
Perante tão bons resultados desta experiência, os responsáveis governamentais e das ARS incentivaram a adopção deste modelo de organização que deveria ser replicado por todo o país.
A mesma vontade foi expressa por CC em Junho de 2005, quando anunciou que até 2006 iriam ser extintas as 18 sub-regiões de saúde e os Hospitais e Centros de Saúde deixariam de funcionar de forma autónoma passando a ter uma gestão integrada.
A exemplo da USL de Matosinhos, os CSP e os CSH de todo o país, seriam organizados em USL(s) integrando numa mesma gestão todos os cuidados necessários para servir a população de cada zona, com “autonomia financeira para gerir acordos com entidades privadas e sociais nas várias áreas: dos cuidados continuados aos laboratórios de análises, passando pelas clínicas médicas.
Que idílico isto era…
E que foi feito?
Desviou-se o objectivo das USL para as Unidades de Saúde Familiares (USF), e, trocando o “L” por “F”, mudou-se a prioridade que antes era a melhor para o cidadão. No lugar das USL, o desafio foi o arranque de 100 unidades até ao final de 2006, objectivo que pelos vistos falhou.
Criadas as USF como vai ser a sua articulação futura com os hospitais?
USF(s) cada uma com a sua gestão individual e contratos programa por objectivos a funcionarem desligadas dos Hospitais EPE(s), ou integradas em USL(s) com uma única gestão de forma a constuituírem uma entidade única?
Vamos ver como vai ser resolvido, nos tempos mais próximos, este grave problema. Eu cá por mim o Serviço Nacional de Saúde sofre de doença crónica das articulações.
J.S.

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nenhum protagonismo me move nos comentários que faço aos posts apresentados para debate em SAUDE SA.
Mas que posso eu mais comentar quando o post que agora é apresentado por Xavier e assinado por "JS", me aviva a memória e me diz já o ter escrito quase na sua totalidade (com excepção dos últimos parágrafos),como comentário ao post também do SAUDE SA "E as Unidades de Saúde Locais" de 8 de Novembro?

Para trás tudo bem e depois...

"(...)E que foi feito?
Desviou-se o objectivo das USL para as Unidades de Saúde Familiares (USF) e mudando-se só a letra "L" por "F" muda-se tudo o que anteriormente era o melhor para o cidadão.
O mesmo objectivo que CC propunha para as USL (em 2006 estarem todas – quantas?- a funcionar) foi o mesmo que também para 2006 propôs para as USF ( 100 unidades até ao fim do ano) e a aposta falhou.
Em que ficamos?
USF(s) cada uma com a sua gestão individual e contratos programa por objectivos a funcionarem desligadas dos Hospitais EPE(s), ou USL(s) com uma única gestão englobando Unidades Hospitalares e Centros de Saúde sem autonomia individual?
E sendo assim qual o papel dos Hospitais EPE(s) e das USF(s) que entretanto se vão constituindo "às pinguinhas"?
Que "trapalhada" (como alguém disse) ser Ministro CC... que trapalhada.
É melhor não dizer mais nada do que ainda muito teria para dizer.
É assim que se vai concretizando o "Plano Nacional de Saúde."

E repito... é melhor não dizer mais nada porque muito teria para dizer.
Sobre as USL(s), bem entendido

12:15 da manhã  
Blogger saudepe said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

12:37 da manhã  
Blogger saudepe said...

A construção de USL mantém-se.

O que se pretende, dando prioridade á criação de USF, é a reformulação dos CSP.

Depois da construção das USF e efectuação das centralizações entendidas por necessárias é a altura indicada de por no terreno as USL, desde que os Conselhos dos Hospitais assim o entendam.

Não vejo justificação de qualquer reparo relativamente a este projecto, como JS faz no seu texto.

12:39 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"joaopedro"
A dita "tese" que não o é, já está comprovada com a USL de Matosinhos quanto mais não seja pelo seu abandono como medida a implementar por todo o país (ninguém fala sobre).
E a as USF só há meses começaram a funcionar (poucas ainda) e nada na sua constituição legal ou programática as define como integradoras de USL a criar(que eu saiba).
O que às vezes transparece não é aquilo que se vê como realidade, são só sombras...

1:58 da manhã  
Blogger helena said...

Bom post.

2007 vai ser o ano da confirmação do fracasso da jóia da coroa da política de saúde do ministro da saúde: a reforma dos cuidados primários.

2:25 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home