Saúde grátis? Não, obrigado
1º Lembrar e reafirmar
1.1. Começo por sublinhar a minha convicção de que o SNS precisa de uma terapêutica mais centrada na oferta que na procura (cf. referência em “Mil ideias”). Isto é, a sustentabilidade obtém-se não tanto por contribuição muito maior dos doentes, antes por:
i) Reorganizar a oferta (qualificar e encerrar urgências e maternidades, garantir RRH, articular convenções com produção pública face à capacidade existente no SNS, etc.);
ii) Despolitizar e gerir adequadamente o SNS, globalmente e nos diferentes níveis;
iii) Melhorar a gestão das Unidades (reduzir o desperdício, aumentar a qualidade, coordenar os cuidados, etc.).
1.2. Importa também reafirmar o que aqui deixei escrito relativamente a sistemas de saúde, como o dos EUA, que “endeusam” a responsabilidade individual, pouco fazendo para garantir a devida solidariedade (prejudicando a equidade e a coesão social). Sistemas assentes em seguros e pagamentos individuais, excepção para os muito pobres e para os idosos (e não abrangendo todo o tipo de cuidados), geram consequências indesejadas:
i) Crescimento constante e cada vez maior peso da despesa global em saúde (ineficiência macroeconómica);
ii) Exclusão de parte da população (mais de 48 milhões), sobre consumo dos mais favorecidos (informação, riqueza) e sub consumo dos que mais cuidados deviam ter (pobres e marginalizados que têm maior risco em saúde), isto é iniquidade;
iii) Produção excessiva de cuidados, seja porque os doentes pedem e pagam (alguém paga por eles, ex. Medicare) e/ou porque actos compensam (preço Vs risco para prestadores que, na dúvida, fazem). Esta produção excessiva provoca maior despesa global e pode levar a pior saúde (ex. acidentes clínicos, morbilidade e morte).
1.3. Assim não defendemos, no sistema de saúde e para garantir bons resultados globais, o recurso preferencial a pagamentos directos dos consumidores (doentes, famílias) e, em geral, o uso apenas de subvenções ou do mecanismos dos preços. Pelo contrário esses mecanismos devem ter um papel mais adjuntivo e complementar aos instrumentos e metodologias próprias dum SNS (ex. organização da oferta com controlo de acesso por níveis de cuidados e coordenação clínica; prioridades e orientação de doentes clinicamente definidas). O papel instrumental das taxas destina-se a ajudar, na regulação e orientação da procura, minorando os problemas provocados pela ausência de preços e de pagamentos dos consumidores (doentes, famílias).
1.4. Dito isto podemos passar à análise do papel dos preços/taxas.
2º Solidariedade sim.... responsabilidade individual também.
2.1. A solidariedade supõe o funcionamento pleno do “seguro público”: o afluente paga para o pobre, o são para o doente/diminuído temporariamente e o jovem (geração activa) para o inactivo/reformado (geração que já contribuiu para outros). Assim se garante que não é pelo rendimento que se exclui alguém da saúde e que a haver discriminação ela será positiva (mais cuidados para quem mais precisa/está em risco) – a isenção de taxas concorre para esse desiderato. Ora Portugal tem uma percentagem elevada de pessoas isentas (55%), por problemas do sistema fiscal, sendo de admitir que haverá até 10% de pessoas cuja isenção não se justifica;
2.2. Gostava de lembrar que solidariedade não significa como alguns, demagogicamente, parecem defender: i) Tudo, “à porta”, do melhor e mais inovador, ”já”; ii) Completamente grátis para todos. Porquê? Porque seria insustentável economicamente e seria iníquo, como vamos ver.
a) Veja-se, com 5 exemplos, o que acontece quando há abuso da gratuitidade/subvenção pública:
i) Preço do pão quase gratuito na URSS, camponeses usavam-no para alimentar o gado;
ii) Quando ADSE subsidiava (reembolsava) todos os produtos farmacêuticos muitos beneficiários só usavam pastas de dentes e cremes “medicinais” (saíam-lhes mais baratos, porque nós pagávamos para eles);
iii) Dar camas articuladas e cadeiras de rodas sem critério social (e controlo), depois são revendidas pelos particulares (custo público, benefício privado);
iv) Quando alguns antibióticos eram gratuitos, foram usados no gado vacum (em Portugal e Espanha);
v) Medicamentos totalmente gratuitos para pessoas com rendimento abaixo de X ... muitos a pedirem receitas em seu nome (todos pagam para os “mais espertos”/com menos escrúpulos).
b) Concluiria, com a teoria económica (“não há nada mais prático que um boa teoria”!), que quando o preço não actua haverá: consumo excessivo/uso irresponsável; tráfico de bens (pagos/subvencionados publicamente); incentivos para produzir demais (do que é economicamente vantajoso e em detrimento doutros bens/serviços de maior utilidade social). Como isto afecta o SNS (saúde)?
i) Consumo excessivo – como o preço (efeito negativo no rendimento) não actua (plenamente) tende a consumir-se demais. Por exemplo recorre-se exageradamente ao SU porque o preço não actua (isenção ou taxa moderadora pouco significativa face ao rendimento da pessoa) e pela mesma razão há indução da procura (ex. consultas subsequentes e meios de diagnóstico e tratamento – “Sr. Dr. passe-me um TACO”). Como não se paga nada no internamento pede-se ao médico que o doente continue internado mais uns dias (como há camas e não há CC nem condições para ter o doente em casa...);
Nota: Também é verdade que doentes vão demais ao SU porque o SNS «deixa» e não tem oferecido os cuidados necessários em CP e ambulatório programado hospitalar (no NHS não é nada assim).
ii) Irresponsabilidade (doentes, famílias) – além do exemplo referido da ADSE vejam-se os seguintes:
– Pessoa que sabe os efeitos do seu vício na saúde (ex. tabaco ou abuso de álcool), mas nada faz para prevenir e mudar, porque o Estado pagará tudo quando precisar de cura;
– Doente isento que falta à consulta (MCDT) porque nada paga, o SNS suporta custo significativo com este comportamento (fazem-se menos de 80% das consultas programadas em vários hospitais, mas suporta-se o custo da inactividade dos profissionais e o custo de processar a consulta – registos, recolher/levar processo clínico,...); (válido também p/ não isentos porque não lhes é imposta qualquer penalização p/ falta)
– No internamento de crónicos ninguém paga nada (o Estado paga uma pensão ao doente que deveria, primordialmente, ser afectada ao custo do internamento) – ninguém parece importar-se, a despesa é paga por todos e a família receberá ainda a pensão acumulada (por morte);
– Doente não tem motivos para pensar duas vezes (por ex. nos riscos do TAC ou da operação proposta) e na dúvida faz a operação ou o tratamento de risco;
– Não fazer seguro à empregada porque ela é isenta e não paga nada se disser que caiu em casa;
iii) Tráfico de bens – vejam-se dois exemplos: o referido da cama articulada e cadeira de rodas (revendidas); medicamento que é gratuito para uns e pago para outros, pode levar a transacções que beneficiam os particulares envolvidos em desfavor de nós todos que pagamos o indevido;
iv) Produzir demasiado (pouco) – se a oferta seguir a procura (indevida) pode levar a usar demasiado os hospitais (internamento, SU e cuidados sofisticados) em detrimento de cuidados de proximidade:
– Maior inapropriação no hospital (dias internamento, atendimentos no SU e CE subsequentes, MCDT duplicados e desnecessários)...
– ... Menor uso de CP, de cuidados continuados e sociais, bem como menor esforço de prevenção da doença e de promoção da saúde (nos hospitais e CP) e menos visitas médicas domiciliárias nos CP;
c) As consequências estão á vista quando a oferta tenta responder à procura, contribuindo para:
i) Gasto global em saúde maior do que seria de esperar (face outros países da OCDE), seja pelo nível do PIB seja pela qualidade dos serviços de saúde (públicos, privados);
Duas notas: 1ª Os impostos são já muito altos em Portugal e o esforço a fazer é para os tentar reduzir (doutro modo lá vai a nossa competitividade); 2ª SNS tem sido responsável por défices sucessivos que significaram mais dívida e mais juros a pagar de futuro – assim a dívida pública cresceu e começa a afogar o Estado. Para evitar uma «pesada herança» será melhor aumentar a equidade/responsabilidade de todos.
ii) Grandes quadros hospitalares e contínua insuficiência de especialistas (SU e inapropriação hospitalar “oblige”), inadequação da % de médicos e enfermeiros nos hospitais (versus CP) com os CP com nº insuficiente de médicos, quase só cuidados curativos e alguma “colonização” pelos hospitais (ex. ir fazer SU); (também: MCDT e BO ineficientes e gastos crescentes em convenções efectuadas por médicos, que não têm incentivos para produzir mais nos hospitais);
iii) Como os profissionais e os gestores dos serviços não têm doentes revindicativos (porque não pagam) têm menos risco e menos motivação para introduzir mudanças... continua a qualidade e eficiência baixas – depois todos pagamos a factura em impostos.
2.2. São motivos suficientes para defender a existência de taxas, sua actualização periódica conforme a inflação geral e correcção pontual (quando houver afastamento dos custos do SNS daquela inflação). Também para exigir aos gestores que cumpram o seu dever assegurando a cobrança efectiva das taxas, para equidade e evitar o aumento do défice do SNS (pago depois com juros por todos).
P.S.: Pensei em fazer uma 2ª parte deste post (Que fazer?) mas desisti por 2 razões: 1ª o pouco tempo disponível; 2ª há uma comissão a estudar o financiamento, sendo necessário respeitá-la, aguardando os resultados (depois veremos).
Semmisericórdia
1.1. Começo por sublinhar a minha convicção de que o SNS precisa de uma terapêutica mais centrada na oferta que na procura (cf. referência em “Mil ideias”). Isto é, a sustentabilidade obtém-se não tanto por contribuição muito maior dos doentes, antes por:
i) Reorganizar a oferta (qualificar e encerrar urgências e maternidades, garantir RRH, articular convenções com produção pública face à capacidade existente no SNS, etc.);
ii) Despolitizar e gerir adequadamente o SNS, globalmente e nos diferentes níveis;
iii) Melhorar a gestão das Unidades (reduzir o desperdício, aumentar a qualidade, coordenar os cuidados, etc.).
1.2. Importa também reafirmar o que aqui deixei escrito relativamente a sistemas de saúde, como o dos EUA, que “endeusam” a responsabilidade individual, pouco fazendo para garantir a devida solidariedade (prejudicando a equidade e a coesão social). Sistemas assentes em seguros e pagamentos individuais, excepção para os muito pobres e para os idosos (e não abrangendo todo o tipo de cuidados), geram consequências indesejadas:
i) Crescimento constante e cada vez maior peso da despesa global em saúde (ineficiência macroeconómica);
ii) Exclusão de parte da população (mais de 48 milhões), sobre consumo dos mais favorecidos (informação, riqueza) e sub consumo dos que mais cuidados deviam ter (pobres e marginalizados que têm maior risco em saúde), isto é iniquidade;
iii) Produção excessiva de cuidados, seja porque os doentes pedem e pagam (alguém paga por eles, ex. Medicare) e/ou porque actos compensam (preço Vs risco para prestadores que, na dúvida, fazem). Esta produção excessiva provoca maior despesa global e pode levar a pior saúde (ex. acidentes clínicos, morbilidade e morte).
1.3. Assim não defendemos, no sistema de saúde e para garantir bons resultados globais, o recurso preferencial a pagamentos directos dos consumidores (doentes, famílias) e, em geral, o uso apenas de subvenções ou do mecanismos dos preços. Pelo contrário esses mecanismos devem ter um papel mais adjuntivo e complementar aos instrumentos e metodologias próprias dum SNS (ex. organização da oferta com controlo de acesso por níveis de cuidados e coordenação clínica; prioridades e orientação de doentes clinicamente definidas). O papel instrumental das taxas destina-se a ajudar, na regulação e orientação da procura, minorando os problemas provocados pela ausência de preços e de pagamentos dos consumidores (doentes, famílias).
1.4. Dito isto podemos passar à análise do papel dos preços/taxas.
2º Solidariedade sim.... responsabilidade individual também.
2.1. A solidariedade supõe o funcionamento pleno do “seguro público”: o afluente paga para o pobre, o são para o doente/diminuído temporariamente e o jovem (geração activa) para o inactivo/reformado (geração que já contribuiu para outros). Assim se garante que não é pelo rendimento que se exclui alguém da saúde e que a haver discriminação ela será positiva (mais cuidados para quem mais precisa/está em risco) – a isenção de taxas concorre para esse desiderato. Ora Portugal tem uma percentagem elevada de pessoas isentas (55%), por problemas do sistema fiscal, sendo de admitir que haverá até 10% de pessoas cuja isenção não se justifica;
2.2. Gostava de lembrar que solidariedade não significa como alguns, demagogicamente, parecem defender: i) Tudo, “à porta”, do melhor e mais inovador, ”já”; ii) Completamente grátis para todos. Porquê? Porque seria insustentável economicamente e seria iníquo, como vamos ver.
a) Veja-se, com 5 exemplos, o que acontece quando há abuso da gratuitidade/subvenção pública:
i) Preço do pão quase gratuito na URSS, camponeses usavam-no para alimentar o gado;
ii) Quando ADSE subsidiava (reembolsava) todos os produtos farmacêuticos muitos beneficiários só usavam pastas de dentes e cremes “medicinais” (saíam-lhes mais baratos, porque nós pagávamos para eles);
iii) Dar camas articuladas e cadeiras de rodas sem critério social (e controlo), depois são revendidas pelos particulares (custo público, benefício privado);
iv) Quando alguns antibióticos eram gratuitos, foram usados no gado vacum (em Portugal e Espanha);
v) Medicamentos totalmente gratuitos para pessoas com rendimento abaixo de X ... muitos a pedirem receitas em seu nome (todos pagam para os “mais espertos”/com menos escrúpulos).
b) Concluiria, com a teoria económica (“não há nada mais prático que um boa teoria”!), que quando o preço não actua haverá: consumo excessivo/uso irresponsável; tráfico de bens (pagos/subvencionados publicamente); incentivos para produzir demais (do que é economicamente vantajoso e em detrimento doutros bens/serviços de maior utilidade social). Como isto afecta o SNS (saúde)?
i) Consumo excessivo – como o preço (efeito negativo no rendimento) não actua (plenamente) tende a consumir-se demais. Por exemplo recorre-se exageradamente ao SU porque o preço não actua (isenção ou taxa moderadora pouco significativa face ao rendimento da pessoa) e pela mesma razão há indução da procura (ex. consultas subsequentes e meios de diagnóstico e tratamento – “Sr. Dr. passe-me um TACO”). Como não se paga nada no internamento pede-se ao médico que o doente continue internado mais uns dias (como há camas e não há CC nem condições para ter o doente em casa...);
Nota: Também é verdade que doentes vão demais ao SU porque o SNS «deixa» e não tem oferecido os cuidados necessários em CP e ambulatório programado hospitalar (no NHS não é nada assim).
ii) Irresponsabilidade (doentes, famílias) – além do exemplo referido da ADSE vejam-se os seguintes:
– Pessoa que sabe os efeitos do seu vício na saúde (ex. tabaco ou abuso de álcool), mas nada faz para prevenir e mudar, porque o Estado pagará tudo quando precisar de cura;
– Doente isento que falta à consulta (MCDT) porque nada paga, o SNS suporta custo significativo com este comportamento (fazem-se menos de 80% das consultas programadas em vários hospitais, mas suporta-se o custo da inactividade dos profissionais e o custo de processar a consulta – registos, recolher/levar processo clínico,...); (válido também p/ não isentos porque não lhes é imposta qualquer penalização p/ falta)
– No internamento de crónicos ninguém paga nada (o Estado paga uma pensão ao doente que deveria, primordialmente, ser afectada ao custo do internamento) – ninguém parece importar-se, a despesa é paga por todos e a família receberá ainda a pensão acumulada (por morte);
– Doente não tem motivos para pensar duas vezes (por ex. nos riscos do TAC ou da operação proposta) e na dúvida faz a operação ou o tratamento de risco;
– Não fazer seguro à empregada porque ela é isenta e não paga nada se disser que caiu em casa;
iii) Tráfico de bens – vejam-se dois exemplos: o referido da cama articulada e cadeira de rodas (revendidas); medicamento que é gratuito para uns e pago para outros, pode levar a transacções que beneficiam os particulares envolvidos em desfavor de nós todos que pagamos o indevido;
iv) Produzir demasiado (pouco) – se a oferta seguir a procura (indevida) pode levar a usar demasiado os hospitais (internamento, SU e cuidados sofisticados) em detrimento de cuidados de proximidade:
– Maior inapropriação no hospital (dias internamento, atendimentos no SU e CE subsequentes, MCDT duplicados e desnecessários)...
– ... Menor uso de CP, de cuidados continuados e sociais, bem como menor esforço de prevenção da doença e de promoção da saúde (nos hospitais e CP) e menos visitas médicas domiciliárias nos CP;
c) As consequências estão á vista quando a oferta tenta responder à procura, contribuindo para:
i) Gasto global em saúde maior do que seria de esperar (face outros países da OCDE), seja pelo nível do PIB seja pela qualidade dos serviços de saúde (públicos, privados);
Duas notas: 1ª Os impostos são já muito altos em Portugal e o esforço a fazer é para os tentar reduzir (doutro modo lá vai a nossa competitividade); 2ª SNS tem sido responsável por défices sucessivos que significaram mais dívida e mais juros a pagar de futuro – assim a dívida pública cresceu e começa a afogar o Estado. Para evitar uma «pesada herança» será melhor aumentar a equidade/responsabilidade de todos.
ii) Grandes quadros hospitalares e contínua insuficiência de especialistas (SU e inapropriação hospitalar “oblige”), inadequação da % de médicos e enfermeiros nos hospitais (versus CP) com os CP com nº insuficiente de médicos, quase só cuidados curativos e alguma “colonização” pelos hospitais (ex. ir fazer SU); (também: MCDT e BO ineficientes e gastos crescentes em convenções efectuadas por médicos, que não têm incentivos para produzir mais nos hospitais);
iii) Como os profissionais e os gestores dos serviços não têm doentes revindicativos (porque não pagam) têm menos risco e menos motivação para introduzir mudanças... continua a qualidade e eficiência baixas – depois todos pagamos a factura em impostos.
2.2. São motivos suficientes para defender a existência de taxas, sua actualização periódica conforme a inflação geral e correcção pontual (quando houver afastamento dos custos do SNS daquela inflação). Também para exigir aos gestores que cumpram o seu dever assegurando a cobrança efectiva das taxas, para equidade e evitar o aumento do défice do SNS (pago depois com juros por todos).
P.S.: Pensei em fazer uma 2ª parte deste post (Que fazer?) mas desisti por 2 razões: 1ª o pouco tempo disponível; 2ª há uma comissão a estudar o financiamento, sendo necessário respeitá-la, aguardando os resultados (depois veremos).
Semmisericórdia
15 Comments:
Palmas e mais palmas.
Lúcido. 100% de acordo.
Venha a continuação, com comissão ou não.
Texto assim enche a alma e o da comissão encherá ou não.
Com o devido respeito pela opinião exposta no post posso aceitar genericamente os pressupostos referentes à reorganização, despolitização e melhoria da gestão, mas não posso estar de acordo com a sua convicção de que " o SNS precisa de uma terapêutica mais centrada na oferta que na procura".
Eu diria que necessita de terapeutica centrada nas duas por igual, uma vez que ambas estão interligadas.
Mais do que criar taxas para sustentabilizar o SNS a sustentabilidade de qualquer sistema só é possível se ambos, os que oferecem e os que procuram, forem educados, forem informados e se consciencializem do que representa:
1.o oportunismo ou a esperteza de alguns com a anuência de outros (5 exemplos),
2. a sobre-utilização de serviços,
3. a irresponsabilidade da procura,
4. o trafico de bens
5. etc,
que representam gastos que efectivamente tornam o sistema insustentável se usados duma maneira irresponsável.
Para quê pedir um recibo pela venda dum produto ou pela prestação dum serviço, se posso pagar menos se não o pedir?
É primariamente evidente que o IVA que o recibo exige não vai beneficiar directamente o consumidor nem o vendedor. Mas não é criar uma taxa que faz lembrar a ambos a necessidade do recibo.
Há que consciencializar ambos, prestador e consumidor do que representa o recibo , o que um simples recibo, entre milhões, contribui para uma melhor sustentabilidade das finanças públicas.
Sem consciência colectiva, dos que oferecem e dos que procuram, da importância dum bem público como o são os serviços de saúde, não é possível sustentabilidade. Acima de tudo porque a prevenção e cura da doença deve ser um direito a que todo o cidadão deve ter acesso e como direito colectivo que é também lhe deve dar o seu devido valor e de preservá-lo com se só dele fosse pretença.
Mais ima dissertação do Semmisericórdia que, como se vem verificando, actua de acordo com o princípio "stop and go". Ou seja, após períodos de ausência mais ou menos longos, o colega surge, com bem elaborados textos, em defesa da sua dama. Dama que neste caso será acabar com a gratuitidade da saúde. Posição da qual claramente discordo.
Desde logo porque, para a saúde (e não só) eu, assim como todos os não isentos, já pagamos impostos. Pagamos impostos sobre o rendimento, sobre os combustíveis, sore o consumo, circulação automóvel, IMI, etc.,etc.. E é para termos acesso aos bens públicos que os pagamos. E já paga mais quem maior rendimento tem! Depois a solução para os problemas que equaciona - crítica generalizada e teorizada pelos defensores do mercado - não pode ser transposta de forma linear como me parece defender (?) para a área da saúde. E o Semmisericórdia sabe, muito bem, como é evidente, que o Mercado também tem as suas falhas. E na saúde essas falhas serão mais evidentes.
Para abreviar refiro ainda que as "taxas de punição", por exemplo, são bem diferentes das chamadas taxas moderadoras.
Uma pergunta: será correcto pensar-se que o médico passa um TAC (não ridicularizo com o termo TACO) só porque o doente lhe pede? E será que alguém deseja continuar internado num hospital (ainda em muitos casos em precárias condições) se tiver meios para ser acompanhado fora do internamento?
Mas não serão afinal, tendencialmente, os isentos os que mais dificuldades têm em ser acolhidos pelos seus familiares para lhes prestarem os cuidados (continuados) que merecem? E os isentos vão continuar a poder manter-se internados gratuitamente.
E refere tantas histórias em torno dos medicamentos que mais parece vivermos num mundo de loucos. No que eu não acredito. A excepção não pode ser transformada em regra!
Não deixo de estar de acordo com alguns aspectos citados, como por exemplo, o pagamento das pensões no caso dos internados crónicos.
Mas, vale ainda a pena referir que a eficácia dos gastos em saúde, como aliás CC escreveu, não pode medir-se só em termos de doentes tratados e respectivos custos; há inúmeros benefícios induzidos de natureza económica e social que não devem ses escamoteados.
É certo que hoje, politicamente, não convém destacar os efeitos induzidos, mas essa é outra história.
Estamos perante mais um excelente texto do semmisericórdia.
Deste vez vai-me desculpar mas tenho de discordar do seu conteúdo.
A defesa que faz da moderação de todas as prestações gratuitas, documentada a preceito com inúmeros exemplos, não faz sentido quando se trata de taxar o internamento e as cirurgias.
Taxar a doença desconfigura profundamente o Serviço Nacional de Saúde, tendencialmente gratuito e universal.
É certo que o semmisericórdia fundamenta excepcionalmente bem as suas posições, com grande profundidade e sabedoria, bastante melhor do que o fizeram hoje CC e o primeiro ministro do debate do orçamento de estado de 2007 na AR.
É de lamentar, no entanto, que tamanho conhecimento e talento estejam ao serviço de ideias tão liberais, capazes de aniquilar de vez o nosso SNS. Porque o que está aqui em jogo é fazer com que tudo, todas as prestações, tenham um preço (custo já sabemos que têm, pago pelos nossos impostos),condição primeira para a privatização do SNS.
Nas taxas de punição como nas portagens nas SCUT's, o primeiro ministro esteve pouco à vontade e não convenceu. Fez promessas e confirmou promessas ainda há cerca de um ano que hoje ficaram, mais uma vez, plasmadas no debate do OE como não sendo cumpridas.
E nem com o seu falar mais alto conseguiu convencer.
Com um pouco de honestidade não será difícil reconher-se que as taxas moderadoras de Santana Lopes (mera hipótese então colocada) seriam bem mais dissuasoras das falsas urgências. Para uma família abastada o sacrifício (dissuasão) de ir a uma urgência não é o mesmo que para uma família de baixos rendimentos. E as taxas de punição de "moderação" nada têm. E mais uma vez as famílias abastadas não serão por isso afastadas dos hospitais.
Para que não restem dúvidas devo mais uma vez reafirmar que sou por princípio de dignidade e justiça social contra o pagamento, qualquer que ele seja, da saúde em estabelecimentos públicos.
Já bastam os impostos que pagamos segundo as regras de "saque" em vigor.
Desta vez temos o SemMisericordia no seu melhor.
Não sei se o título do artigo "Saúde grátis? Não, obrigado" é, ou não, de sua autoria. Se é borra ainda mais a pintura.
Mas desde quando é que a saúde dos portugueses é de borla?
Não são os impostos, tendencialmente crescentes, que os pagam?
Por ser um pagamento indirecto, pagando mais quem mais pode, já se classifica de gratuito?
Se o SemMisericordia acha que deve pagar a dobrar, concedo-lhe esse direito.
Não lhe dou o direito de sugerir que seja eu fazê-lo.
Esperava dele uma análise mais científica. Será que já se esqueceu dos fundamentos e enquadramento teórico dos BENS PÚBLICOS?
Sinceramente!
Agora que o Manuel Delgado estava a melhorar...
Registo "semMisericordia" os comentários que fez ao que por mim foi dito mas reafirmo a contradição (ao contrario do que diz) entre o que eu penso e o que transparece do seu post e que se confirma uma vez mais no comentário que faz ao "tonitosa".
E como diz "justamente aqui, no dever que ele (cidadão) tem de usar bem o direito (à prevenção e cura), é que está, ou não, o problema", eu acrescentava "(...)o problema de se poder manter um SNS tendencialmente gratuito".
Assim sendo, na minha opinião, exige-se que o consumismo da saúde por parte dos cidadãos e a medicina defensiva e concorrencial por parte dos prestadores seja desaconselhado do nosso SNS para que os gastos diminuam com a saúde diminuam e a iatrogenecidade de algumas "exigências" (de ambos os lados, "Jesus Cristo é mau médico" e "pedir um TAC para me defender") não se multipliquem.
Trata-se de um excelente trabalho.
Infelizmente a defender um ponto de vista errado.
Como se tem visto, o Tonitosa não grama do Semmisericórdia.
É areia demais para a sua camioneta.
Goste-se ou não do ponto de vista defendido pelo semmisericórdia o trabalho merece a pena ser discutido.
Parece-me, no entanto, que o lançamento desta questão das taxas de internamento por CC, visa essencialmente lançar a discussão sobre o sistema de financiamento do SNS.
Discutir a forma de moderar o consumo excessivo, a utilização inapropriada das prestações de saúde, é uma coisa.
Trata-se essencialmente de uma questão técnica.
A abordagem das taxas de utilização remete-nos para uma discussão política.
E neste ponto podemos estar de acordo com o semmisericórdia e em desacordo profundo com o ministro da saúde.
Há, de facto, muito abuso. E continuará a haver, muito provavelmente.
Presenciei há tempos, no centro de saúde(!?) da Buraca, uma cigana que entrou ao mesmo tempo que eu no gtabinete médico, pediu e levou carradas, sim, carradas de receitas. E o médico, qual escriba, tudo prescreveu.
E o pior dos abusos é que paga sempre o justo pelo pecador.
Outra cigana, que acompanho desde criança, ignora simplesmente o dito centro de saúde (!?) - vai sempre directamente ao hospital Amadora-Sintra. Claro, não paga nada e vai continuar a não pagar.
Registo de interesses: nada tenho contra qualquer etnia (até porque apoio extensivamente, há anos, várias crianças e jovens ciganas).
Odete Pinto
Gosto de tudo o que a Odete Pinto escreve.
Veja se consegue colaborar mais vezes connosco.
Obrigado.
Este pessoal é tenrinho!
O Semmisericórdia já os triturou a todos.
KO, ao primeiro assalto.
Quando não mete mexericos o pessoal desanima.
Este debate foi exemplar das limitações da nossa intervenção na discussão dos temas de saúde.
Depenica aqui, depenica ali.
Participação sim desde que não chateie muito.
Aprofundar ideias, está quieto.
E se não for para dizer mal de alguém não há motivação.
É evidente que há excepções.
De qualquer maneira fiquei muito decepcionada com alguns dos habituais participantes deste forum.
Mas o que e que se pode fazer?
É o país, os cidadãos que temos.
Embora continuando a discordar com a oportunidade as teses defendidas em relação a este tema, o meu reconhecimento para com o semmisericórdia pelo brilho e profundidade que consegue dar aos temas que traz a debate.
AINDA MAIS PARA O SNS ?
(comentário do Aidenós - via mail)
Todos derivamos do respeito da personalidade humana o direito aos cuidados fundamentais para manter, desenvolver ou recuperar a saúde; porque esta tem custos, o Estado, seja qual for o veículo, tem de assumir a responsabilidade do financiamento do “tendencialmente gratuito”, seja qual for a sua tradução percentual.
Se estão certas as estatísticas correntes, a Saúde absorve mais de 10% do nosso PIB: cerca de 7% pelo O.E. (contrapartida ao SNS “tendencialmente gratuito”) e 3% por contributos directos das famílias (vector este em que vamos à frente da Europa – em alguma coisa haveria de ser! –) ou por outras despesas do Estado com saúde (Ex.: ADSE).
O drama está em que a totalidade dos mais de 10% já são pagos pelo Tonitosa, por mim e pelos restantes integrados no “pelotão dos 45%” e, para cúmulo do nosso azar, ainda se fala em insustentabilidade do SNS, pelo que nos arriscamos a que nos exijam ainda mais.
Se os 10% do PIB para a Saúde nos colocam já no pelotão da frente da Europa no que diz respeito às despesas de saúde, e mesmo assim se revelam insuficientes, então, necessariamente, o MS já não pode queixar-se de sub financiamento e tem de preocupar-se muito seriamente com a sub produtividade do dinheiro gasto. Só terá legitimidade para exigir mais do MF ou do “pelotão dos 45%” depois de se mostrar capaz de eliminar a sub produtividade ou desperdício do SNS. É aqui que está a verdadeira questão ou o desafio que, hoje, se coloca ao MS: O que é necessário para eliminar o desperdício e não nos obrigar a pagar mais do que o que tem de ser pago?
Claro que sei pouco disso. O que me parece mais importante até já o deixei na minha primeira intervenção neste Blog (salvo erro, sob o tema SNS-Trave Mestra) e, obviamente, não vou repeti-lo. Mantenho a convicção de que as coisas não caem do céu e só acontecem quando podem acontecer: há uma lógica e uma sequência que têm que ser respeitadas e que é totalmente imune a sentimentalismos e a boas intenções. Não temos legitimidade para nos surpreender.
A saúde tendencialmente gratuita, como se prevê na Constituição, parece-me bem. Mais dinheiro para o SNS, no contexto actual, será injusto a todos os títulos. É como deitar areia em saco roto. Por favor, remendem-no primeiro ou troquem de saco. Ou, em alternativa, proclamem que nossa saúde é melhor do que nos restantes países da C.E. que o país precisa de rir.
Aidenos
P.S. Entendi o post do Semmisericórdia como pretendendo demonstrar que o SNS totalmente gratuito induz distorções e acaba por prejudicar objectivos dos SNS (equidade, acessibilidade e eficiência) e, no meu entender, a demonstração ficou feita. Este comentário pretende apenas destacar que, a meu ver, o principal problema do SNS é a sub produtividade e que boa parte dela deriva das características coladas no SNS que temos.
AIDENÓS
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