Avanços & Recuos
(...) Há cerca de dois meses foi decido pelo Ministério da Saúde, reforçar o Centro de Saúde de Vendas Novas, atribuindo-lhe novas valências – mais médicos, uma unidade de raio-x e outros meios de diagnóstico complementar. Reforçava-se Vendas Novas de forma a poder dar resposta aos utentes desta cidade e de Montemor. Tudo isto fazia perfeito sentido. link O concelho de Vendas Novas tem mais habitantes que o de Montemor; Vendas Novas fica a 50 quilómetros do hospital distrital (Évora), enquanto Montemor se situa a 28 quilómetros do mesmo; existe pelo menos uma freguesia do concelho de Montemor que fica mais próxima de Vendas Novas e cujos habitantes a esta cidade recorrem nos cuidados de saúde; acresce ainda um conjunto importante de riscos que Vendas Novas suporta e que Montemor não tem e que passo a referenciar. Vendas Novas suporta um polígono industrial onde diariamente trabalham cerca de 1.500 trabalhadores; é nesta cidade que está sediada a Escola Prática de Artilharia, com todos os elevados perigos de origem bélica que esta situação compagina; ainda nesta cidade conflui o movimento ferroviário das linhas do Alentejo e do ramal do Setil; por fim, referir que Vendas Novas possui um parque escolar frequentado por centenas de jovens. Por todo este conjunto estrutural de situações, justificava-se e exigia-se a programação que o ministério adequou. Mas afinal o que se passou? Há cerca de três semanas, sem que nada o fizesse supor, o ministério veio dar o dito por não dito e mostrar a intenção de encerrar a urgência em Vendas Novas a curtíssimo prazo, transferindo para Montemor toda a logística pensada para Vendas Novas e anteriormente referenciada. Tal decisão deixou todos os habitantes do concelho incrédulos. Como foi possível a tomada desta decisão? Em que novos desconhecidos pressupostos, a mesma se baseou? Além de configurar um estrondoso erro estratégico e de alcance desconhecido, é um exemplo de como não se deve fazer uma reforma – mostrar uma clara desorientação perante os cidadãos. (...)
António Gaspar, DE 21.02.07
António Gaspar, DE 21.02.07
3 Comments:
Uma vez o processo enredado nos meandros dos vários interesses locais, é morte certa.
Valença/Monção
Vendas Novas/Montemor
Parecem casos idênticos de avanços e recuos.
Vejam e releiam o artigo do PKM em 10/12/2006 publicado no DE, e digam lá da vossa justiça no que diz respeito a capacidade de análise e comparem a sua abordagem com a abordagem de Pedro Pitta Barros mencionado no post anterior a este...
"O Serviço Nacional de Saúde (SNS) português é uma caixinha de surpresas. O documento para audição pública produzido pela Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências (CTAPRU), trouxe-nos uma nova interrogação sobre a racionalidade da gestão dos últimos 20 anos de SNS.
Para nosso espanto, constatamos que, sem qualquer tipo de justificação racional apareceram, desde 2001, 34 serviços de urgência (SU) não formais. Ou seja, dos actuais 73 SU apenas 39 tinham sido formalmente criados. Os outros, não eram formais!
Refeitos da surpresa, ele há outras questões para o debate. Ao contrário do apregoado em alguns foruns mediatizados, a proposta preconiza, de facto, um alargamento da rede de SU. Dos 39 formais, definidos em 2001, para 83 propostos para a nova rede. Mesmo incluindo os 34 que surgiram informalmente (?), a proposta continua a preconizar um aumento efectivo.
O que confunde a população é a reclassificação dos SU existentes em 3 níveis de diferenciação: 1) Serviço Urgência Polivalente (SUP) preparado para as situações clinicamente mais exigentes; 2) Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica (SUMC) preparado para responder a situações de complexidade intermédia; 3) Serviços de Urgência Básica (SUB) a situar, em larga escala, em Centros de Saúde (CS). Confunde a população que o seu SU possa ser reclassificado. E sem explicação sistemática, o processo continuará confuso.
Há que observar, por outro lado, que não é apresentada qualquer argumentação técnica para justificar a existência dos três níveis. Sendo que alguma investigação recente preconiza diferentes abordagens com mais ou menos níveis, esta não é uma questão menor. Neste aspecto, a pré-definição imposta pela legislação poderá ter limitado as opções dos técnicos. Poderá, até, ter eliminado algumas alternativas inovadoras.
O relatório contém algumas recomendações muito discutíveis que proponho para debate: a) as linhas de Sintra e/ou Cascais não terão um único Serviço de Urgência Polivalente? b) com que racional se justificam três SUP dentro da cidade de Lisboa? c) em Loures, onde se planeia um grande hospital, haverá apenas uma pequena urgência? d) A região centro terá um número de SU superior ao norte ainda que tenha bastante menos população? e) ainda na região centro, dois dos SUP estão em Coimbra, e um outro em Viseu. A região oriental (Covilhã, Guarda, Castelo Branco) ficou esquecida?
Por outro lado, o relatório levanta dúvidas metodológicas só desculpáveis porque nenhum dos membros da comissão é investigador ou académico. Apesar do meu respeito e empatia por estes profissionais de indiscutível competência clínica, esta fragilidade afecta, por tabela, a sua argumentação. O documento agora disponibilizado não tem referências concretas aos estudos internacionais em que se baseou. E a pesquisa nas resvistas científicas de gestão da Saúde, indica-nos uma grande diversidade de modelos que poderiam justificar outras recomendações, quiçá mais racionais e sem questionar a equidade. Preocupados com a sustentabilidade do SNS?
Atentemos também no facto de, aparentemente, se ter perdido a oportunidade de partilhar o risco com os novos hospitais em Parceria Público-Privado, que ficaram fora desta reconfiguração. Ou seja, para o Estado, a oportunidade para modernizar, a expensas privadas, uma parte significativa da rede de urgências do país parece ter passado ao lado, tal como uma diversidade de novas abordagens organizacionais. Por exemplo, em 2001, a Audit Commission, do Reino Unido, publicou o relatório Reforming Emergency Care que clarificava opções organizacionais e desafios de competências multi-profissionais necessárias para satisfazer as novas necessidades de cuidados de Saúde das populações. Este relatório português parece ter-se auto-limitado a uma visão geográfica e quilométrica do fenómeno. Não faz qualquer alusão à evolução do perfil do utilizador dos SU, à exclusão dos médicos de medicina interna do centro deste processo, às elevadas taxas de reinternamentos, não alude à escassez de médicos especialistas em grandes áreas geográficas, nem ao facto de mais de 50% dos utentes dos SU não serem caracter urgente, conforme comprovado pelo Protocolo de Triagem de Manchester.
Ainda não constatamos, como os finlandeses, que mais de metade dos problemas de Saúde se resolvem fora SU e com o apoio do sector social."
Esta última frase é particularmente interesaante para o debate actual!
Notica Jornal Expresso, abril 2005
Antes de ler, sabe quem é o VP do SUCH?
Que contratos foram assinados ultimamente? Com quem? Porque será?
Contratos à pressa para os hospitais
O Ministério ordenou aos hospitais SA que assinassem vários contratos com privados até 5 de Março
OS HOSPITAIS SA receberam uma directiva para assinar, até 5 de Março, vários contratos com empresas privadas de informática, escolhidas pelo Ministério da Saúde sem qualquer concurso nem consulta prévia. Esta urgência não foi explicada aos gestores dos SA, que receberam mal a notícia, na sexta-feira da semana passada, na sede do Ministério, numa reunião para a qual tinham sido convocados também de urgência.
A informação foi prestada pelo responsável da Unidade de Missão do grupo dos hospitais SA, Pedroso Lima, que expôs, durante cerca de duas horas, as vantagens de assinar os referidos contratos com as quatro empresas escolhidas pelo Ministério - sem concurso público, nem consulta prévia. O ministro Luís Filipe Pereira esteve presente, mas só no final desta reunião.
Na sua exposição, Pedroso Lima informou os administradores dos 31 SA que a opção por aquelas empresas tinha a ver com o facto de a Unidade de Missão ter obtido a garantia de descontos substanciais, caso a compra dos programas informáticos fosse feita em grupo. Na reunião terá mesmo dito que estes descontos podiam atingir os 70% e assegurou que os hospitais que aderissem até seriam premiados, com um subsídio especial retirado do orçamento da própria Unidade de Missão.
Segundo soube o EXPRESSO, trata-se de contratos para comprar, por ajuste directo, aplicações informáticas para a gestão de várias áreas de trabalho dos hospitais: a financeira, os recursos humanos, a urgência e a farmácia hospitalar. No total, este negócio - que os hospitais foram aconselhados a fazer com a Capgemini (que instalará a solução da espanhola Meta 4), a CPC, a GES System (com a solução da Oracle) e a MNI - pode ascender aos 150 milhões de euros.
A Capgemini, sobre quem recaiu a escolha para a aplicação de gestão de recursos humanos, tem como consultor o ex-ministro Mira Amaral - de quem Luís Filipe Pereira foi secretário de Estado na década de 80 e o seu adjunto António Mocho, assessor de imprensa. Foi, aliás, o próprio ex-ministro a apresentar a empresa à Unidade de Missão, confirmou ao EXPRESSO Pedroso Lima.
A opção pela aplicação de gestão financeira da Oracle provocou reacções por parte do IGIF (Instituto de Gestão informática e Financeira da Saúde), uma vez que este está a concluir o concurso público realizado precisamente para comprar uma aplicação destas para os hospitais públicos, inclusive para os SA. Um dos sistemas candidatos é o da Oracle. Alberto Serrano, do IGIF, disse esta semana ao «Jornal de Negócios» que, por isso, a iniciativa da Unidade de Missão não fazia «qualquer sentido».
Liberdade total
. Pedroso Lima afirmou ao EXPRESSO que «ninguém obrigou ninguém a nada», uma vez que «os hospitais SA têm total autonomia para decidir se querem e com quem querem fazer negócios». E explicou que apenas pretende «agilizar os procedimentos», dada a «extrema carência» dos hospitais SA em sistemas de informação.
Confrontado com a questão da urgência na assinatura dos contratos com as quatro empresas por si escolhidas, Pedroso Lima explicou que «esse prazo tem a ver com a necessidade de apurar com exactidão o desconto feito pelas empresas, valor que depende do número de hospitais que aderirem a isto». Por outro lado, acrescentou, «este calendário tem também a ver com o facto de querermos acelerar o mais possível a instalação destes sistemas» - que se pretende esteja concluído até ao final do ano, por ser «estratégico» para os hospitais. «E isto demora o seu tempo», adiantou, esclarecendo: «De qualquer modo, alguns hospitais disseram que precisavam de mais tempo», pelo que a data de 5 de Março poderá já não ser cumprida. Pedroso Lima fez ainda questão de salientar o facto de o mandato da Unidade de Missão terminar em Janeiro de 2006, para justificar o seu empenho neste projecto e no cumprimento do seu calendário.
Os gestores dos SA mantêm muitas dúvidas em relação a todo este processo. Alguns dos contactados pelo EXPRESSO manifestaram reservas à imposição de uma data para a assinatura dos contratos, enquanto outros se mostraram preocupados com a promessa dos descontos a fazer pelas empresas - que até consideram muito aceitáveis. Isto porque os contratos que já lhes foram apresentados não fazerem referência, por exemplo, aos custos da instalação e da manutenção dos sistemas.
Graça Rosendo, jornal expresso, Abril 2005
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