segunda-feira, abril 23

SNS, mudança de paradigma

manif. centro saúde de carnide

Para onde vai o SNS ?
Há muito que CC vem dando sinais de defender uma mudança de paradigma no SNS. É natural que o sector privado esteja atento e aproveite a progressiva diminuição do lado público da prestação de serviços de saúde.
Sinceramente não me parece que estes factos, LINK só por si, constituam motivo de grandes preocupações. Os problemas poderão surgir quando o novo modelo começar a ter o seu impacto na equidade, pois sem uma forte intervenção reguladora por parte do Estado dificilmente deixaremos de ter um sistema de saúde a duas velocidades.
Todos sabemos que à medida que o risco de co-pagamentos e falhas de cobertura vai aumentando, as classes mais favorecidas tenderão a transferi-lo para as seguradoras, enquanto os menos favorecidos continuarão a viver do que sobrar do SNS...
Vladimiro Jorge Silva

4 Comments:

Blogger helena said...

Unidades de saúde familiar tardam a chegar

O Ministério da Saúde estabeleceu como objectivo a criação de cem Unidades de Saúde Familiar (USF) até ao final de 2006, mas até ao momento só conseguiu pôr em funcionamento 56. Este atraso reflecte-se na instituição de normas de funcionamento das mesmas, cujo diploma só foi aprovado a 1 de Março de 2007, pelo Conselho de Ministros.

Mas não só. Em termos de financiamento, "os médicos que estão a trabalhar no terreno e avançaram para as USF, não têm, até agora, nada de concreto [em termos de melhoria salarial] e têm estado a trabalhar mais, recebendo apenas o mesmo que recebiam antes", realçou Isabel Caixeiro, presidente do conselho regional do sul da Ordem dos Médicos (OM), revelando o receio de que esta situação se mantenha indefinidamente.

A OM considera que estes são os pontos fracos do processo de reforma dos cuidados de saúde primários, que se iniciou em Outubro de 2005. "Os atrasos no desenvolvimento do suporte legal e da definição do financiamento" põem também em risco o que consideram ser "um bom modelo", disse Isabel Caixeiro.

As críticas foram aprovadas ontem no final da assembleia-geral da Union Européenne des Médecins Omnipracticiens (UEMO), cuja presidência está a cargo de Portugal desde 1 de Janeiro de 2007. No documento, a OM lança alertas e recomenda alterações no processo de reforma em curso no nosso país.

É fundamental que o Governo "torne claro qual vai ser o desenvolvimento desta reforma, o que até agora ninguém conseguiu fazer", alertou Isabel Caixeiro, também presidente do encontro europeu de médicos de família e clínicos gerais.

"Não se pode só pensar em Unidades de Saúde Familiar e depois logo se vê o que é que acontece", avisou a representante da OA, tendo em conta que no mesmo centro de saúde coabitam as novas USF com o anterior regime de médico de família. "Assim, corremos risco de criar médicos de família de primeira com doentes de primeira e médicos de família de segunda com doentes de segunda", lamentou.

Questões como a quem compete o grosso da intervenção comunitária; qual o papel das USF em relação à comunidade; qual o modelo de enfermagem; como se vai fazer a reconfiguração dos centros de saúde estão, para a OA e parceiros europeus, ainda por responder.
DN 23.04.07

1:48 da manhã  
Blogger Unknown said...

Trabalho extra continua a ser mais rentável

USF deverão cobrir toda a população da Feira até ao final do ano


Os elevados ordenados conseguidos por muitos médicos de família nas urgências hospitalares e nos serviços de atendimento permanente (SAP) dos centros de saúde parecem ser um dos obstáculos à multiplicação de USF. Há casos em que chegam aos 7600 euros mensais só em horas extra, justamente em distritos onde ninguém parece interessado em aderir ao novo modelo de organização dos cuidados.

É no interior, onde há menos falta de médicos de família, que a realidade das USF é mais negra. Castelo Branco, Guarda e Portalegre não apresentaram nenhuma candidatura. Precisamente os distritos onde os rendimentos são mais altos. Ora, são zonas que, segundo o Ministério da Saúde (MS), têm médicos suficientes para a população. As listas de utentes não chegam aos 1500 por clínico, definidos como adequados para atender eficazmente a população, dentro da actual lógica do Serviço Nacional de Saúde. Cada profissional daquelas três zonas tem, em média e respectivamente, 1492, 1459 e 1415 utentes, quando há distritos litorais - onde pululam as USF - com mais de 1800 utentes por médico. É o caso do Porto, de Braga, Aveiro e Faro. Em Setúbal são 2227.

Dispersão no interior

Luís Pisco, coordenador da missão encarregue de reforma dos cuidados primários de saúde, admite que os actuais vencimentos médicos são um obstáculo à criação de USF, mas não o principal. O grande problema é a dispersão de unidades de saúde muito pequenas, que não permite criar equipas que possibilitem a intersubstituição, um dos princípios de base das USF. Um argumento que Bernardo Vilas-Boas, da Federação Nacional dos Médicos, contraria. "Já há experiências de profissionais de três ou quatro extensões de saúde que estão a propor equipas". Depois, o facto de serem unidades pequenas permite-lhes já uma organização mais próxima do cidadão, sem passar para um novo modo de funcionamento.

Mas, efectivamente, os profissionais gozam de uma compensação pela interioridade que os trava perante a mudança. São solicitados para urgências nos hospitais e para os SAP, o que resulta nos tais ordenados chorudos. A atestar nos números do MS, a média mensal em horas extras chegou aos 2800 euros em Vila Real, 3482 em Bragança, mais de 3000 em Castelo Branco e mais de 4000 na Guarda, onde há casos de 5500 e 7600 euros.

"Fazem contas à vida, é lícito", diz Carlos Arroz, do Sindicato Independente dos Médicos. E 24 horas do fim-de-semana no hospital "garantem 1200 euros". Numa USF, a correr bem, um médico arredonda os cinco mil euros mensais. Num centro de saúde tradicional, com horas extras, facilmente passa dos seis mil. Esta é, de resto, uma das razões que, diz Pedro Nunes, da Ordem dos Médicos (OM), levam os médicos a aceitar ir para o Interior.

Solução difícil

A proposta de Luís Pisco é "separar claramente cuidados primários e hospitalares, para os médicos de família se concentrarem naquilo que devem fazer". Uma proposta que os sindicatos corroboram, mas que a OM questiona. "Se não fizerem urgência nos hospitais, deixa de haver quem as faça. E morre gente".

O problema é que ao fazerem urgências, os médicos perdem tempo para o atendimento normal dos utentes que lhes foram atribuídos. Mas, lembra Carlos Arroz, só fazem "as horas que lhes pedem". A disfunção está no sistema.

Negociações difíceis com enfermeiros

O verdadeiro impulso à criação de USF só acontecerá depois de aplicado o decreto-lei que as define. Aprovado em Conselho de Ministros a 1 de Março, está agora a ser discutido com os parceiros. E se as negociações com médicos e administrativos estão praticamente fechadas, o mesmo não se poder dizer dos enfermeiros, que se opõem ao modelo não responde a todas as necessidades das populações, dizem no Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Já a Ordem dos Enfermeiros lamenta que serviços como psicologia, nutrição e a existência de um médico de prevenção à noite sejam remetido para a carteira adicional que as USF só propõem se quiserem. Depois, os enfermeiros rejeitam a remuneração em função de listas ponderadas de utentes, propondo antes a compensação por mérito. Na Missão para os Cuidados Primários de Saúde espera-se que as conversações terminem este mês, para ter a lei em vigor até ao fim do ano.
JN 23.04.07

2:44 da manhã  
Blogger e-pá! said...

Felizmente, para os portugueses, que uma mudança de paradigma, não pode ser decidida pelo MS.
Agora, o que está à vista é um modelo (SNS) que vem sofrendo repetidos entorses...

A situação sugere-me cuidados "alegórico/satíricos":
- se "engessar-mos" preventivamente as "articulações - PP (Público-Privadas)", poderemos evitar uma fractura (exposta).
- se não, temos a terapêutica: cirurgia a "quente"...

5:50 da tarde  
Blogger tonitosa said...

Julgo ter lido uma notícia, (não posso precisar onde) segundo a qual se teria demitido o Director da primeia USF que se constituíu.
As dificuldades começam a surgir e a "procissão ainda só vai no adro".
Estamos, naturalmente, perante uma das mais difíceis mudanças no SNS.
Talvez a melhoria devesse iniciar-se, antes, pela requalificação/reequipamento dos Centros de Saúde. E provavelmente a solução seria mais barata e não menos eficaz.

8:41 da tarde  

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