domingo, maio 6

Desenvolvimento do SPS

hospital das descobertas
Estamos longe de ver o nosso SNS reduzido a um serviço residual. O desenvolvimento do sector privado da saúde (SPS), registado nos últimos anos, é, no entanto, deveras preocupante. No ano transacto, 501 médicos rescindiram contrato com a administração pública e 175 pediram licença sem vencimento.

O que faz com que os melhores médicos do sector público partam em debandada para o sector privado? O semanário expresso recolheu mais algumas justificações:

João Paço (hospital da CUF): «Os privados dão condições de trabalho únicas. Temos equipamentos que o sector público nem conhece». Mas há mais ‘mimos’: a formação frequente em instituições estrangeiras de renome. link

João Sá (hospital da Luz): «Este é o hospital com que sempre sonhei, mas foi uma decisão difícil. Ainda estou a fazer o luto, foram 35 anos no Estado. Saí porque no público é tudo muito lento. »

José Roquette (hospital da luz): «Isto é um degrau na carreira: a possibilidade de escolher as equipas e a tecnologia. Aqui não há as baias das instituições públicas. Havia a sensação de crescer controlado por uma administração limitada por questões políticas. Ao invés, na Luz o céu é o limite. Quem quiser ganhar mais só tem de trabalhar mais.»

A qualidade parece ser uma aposta ganha e os grupos privados têm dinheiro para investir e estão já a preparar a entrada na formação pós-graduada.
semanário expresso, caderno principal, 05.05.2007

4 Comments:

Blogger tonitosa said...

É na verdade assim. É uma triteza quando olhamos para o sector público (não só na saúde) e vemos como os responsáveis, aos diversos níveis, são escolhidos (nomeados) por critérios que quase nada têm a ver com competência. É lamentável vermos como, com a maior facilidade (irresponsabiledade e esbanjamento de dinheiros públicos), os governos substituem também quase sempre pessoas competentes por razões de mero clientelismo político.
Eu sei que alguém dirá que os que são substituídos também lá estão por critérios políticos de escolha. E é verdade. Mas não é assim que eu vejo o problema. O problema é que, como aconteceu com CC, mais uma vez quase sempre os novos Ministros (na Sáude e em todos as áreas) não procuram sequer saber (conhecer) os responsáveis em exercício. CC quando tomou posse não promoveu uma única reunião com os gestores que encontrou. CC não quis saber quem era quem. Durante meses os gestores não reuniram com responsáveis da saúde a nível do Governo e foram tratados como se tivéssem "sarna". Aliás, numa tomada de posse de ARSS's no Infarmed, CC anunciou mesmo que os gestores dos HH a partir de então apenas tinham que falar com as ARSS's. O MS substituiu cegamente os gestores e, como é claro e notório, apenas manteve os que eram seus amigos e "recomendados" de preferência a "sua gente".
E assim os mantêm mesmo quando, como sabemos, alguém se dá ao luxo de adquirir carros desportivos para uso pessoal (como foi denunciado aqui no Saúde SA).
Na verdade o Sector Privado é a oportunidade que os melhores e mais reputados técnicos têm para mostar que sabem trabalhar e não precisam das "baias" de governantes geralmente menos competentes que aqueles que dirigem. Porque também eles (governantes) são colocados nos lugares por razões que tem quase tudo a ver com "influência" política nos partidos em que militam!

12:07 da tarde  
Blogger hunterian said...

A formação post graduada vai ser o proximo desafio dos HH privados numa tentativa de garantir a sustentabilidade do negócio, visto que a quase totalidade dos seus quadros foi formada nos HH públicos... Comtudo quantos "clientes" estarão dispostos a serem tratados por "trainees" visto que apesar de tudo pagam para ser tratados por um reconhecido especialista contratado a peso de ouro....
Mais uma questão polémica para a OM se pronunciar nesta época em que as sacrossantas "carreiras médicas" parecem ter falecido de morte natural.

5:06 da tarde  
Blogger hunterian said...

A formação post graduada vai ser o proximo desafio dos HH privados numa tentativa de garantir a sustentabilidade do negócio, visto que a quase totalidade dos sues quadros foi formada nos HH públicos... Comtudo quantos "clientes" estarão dispostos a serem tratados por "trainees" visto que apesar de tudo pagam para ser tratados por um reconhecido especialista contratado a peso de ouro....
Mais uma questão polémica para a OM se pronunciar nesta época em que as sacrossantas "carreiras médicas" parecem ter falecido de morte natural.

5:09 da tarde  
Blogger e-pá! said...

“Estamos longe de ver o nosso SNS reduzido a um serviço residual. O desenvolvimento do sector privado da saúde (SPS), registado nos últimos anos, é, no entanto, deveras preocupante.”

Caro Xavier:

O SNS enclausurou-se num pungente dilema.
Façamos, um simples (rudimentar) exercício:
Se houver desenvolvimento económico e social o SPS “engordará”, fundamentalmente, à custa dos seguros de saúde e ameaçará o SNS até o tornar residual – será "frequentado pelos “menos favorecidos”.
Se continuarmos na cauda da Europa, o SNS será obrigado a sobreviver, pejado de constrangimentos essencialmente resultantes do subdesenvolvimento e, o SPS, ocupará os nichos de mercado, que previamente estudou e seleccionou e terá no conjunto da prestação de cuidados de saúde um papel complementar. Servirá os, que apesar do atraso de desenvolvimento, sejam “os mais favorecidos”. A acreditar nas previsões do sector privado cerca de 30% da população.
A pujança do investimento do SPS engloba, contudo, um dado subjacente, não explícito, mas detectável. Aposta no desenvolvimento económico e social do País. O que sendo, aparentemente, encorajador do ponto de vista económico pode ser desastroso no campo social. Isto é, confia, no campo político, no triunfo do “neo-liberalismo” e no consequente esvaziamento do Estado social, o que, se olharmos para as fatias de mercado “alvo”, deixa muitos portugueses e portuguesas de fora.
Assim, o futuro do SNS estará condicionado e prisioneiro do campo das opções políticas de fundo.

Outro problema, estritamente profissional e, em algumas situações, deontológico, refere-se à formação pós-graduada.
A formação não está, neste momento, confinada ao sector público por mero acaso. Está aí pela universalidade e pela equidade (acessibilidade) que regem as instituições públicas. Estas circunstâncias asseguram ao sector público um movimento assistencial amplo e diversificado. Sabemos que, como maior ou menor evidência, ocorrerá nos SPS, o que em termos de talho (passe a carniceira comparação), se chama “separar a carne do osso”. Não há formação adequada quando se só se come “carne” e enxota o “osso” para fora do sistema – neste caso o SNS.
Muitas das declarações dos médicos que se transferiram do sistema público para o privado têm um fundo de verdade. Todavia, é necessário não embarcar em exageros e na depreciação sistemática de que tudo o que é público é mau. Afinal, o Estado (ainda) mantêm um SNS que está colocado na 12º. posição do ranking da OMS. Portanto, é um Serviço com provas dadas e avaliado. Situação que pode ser estranha a outros sistemas.

9:06 da tarde  

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