Saúde Pública
“O Plano Nacional de Saúde, em vigor até 2010, é um excelente documento em matéria de Saúde Pública, revelador das nossas insuficiências e do muito esforço que há a fazer neste domínio”
No passado dia 10 de Abril o Ministério da Saúde, comemorou, com uma sessão pública a preceito, o Dia Mundial da Saúde.
Ocasião natural para se falar sobre a Saúde Pública e sobre a Saúde dos Portugueses.
A área da Saúde Pública tem sido, sistematicamente, secundarizada em benefício das áreas de prestação de cuidados (primários ou secundários) embora todos saibamos que os investimentos que se façam com impacto directo na colectividade são mais custo-efectivos, promovem a Saúde e previnem a doença.
O Plano Nacional de Saúde, em vigor até 2010, é um excelente documento em matéria de Saúde Pública, revelador das nossas insuficiências e do muito esforço que há a fazer neste domínio: a prevenção das doenças cérebro-vasculares e das doenças infecciosas, muitas delas sexualmente transmissíveis, o acompanhamento de crianças e adolescentes, a diabetes, a saúde oral, a obesidade, os gravíssimos problemas da Saúde Mental, são alguns dos tópicos considerados prioritários no Plano Nacional de Saúde, a par da prevenção primária e secundária do cancro que, em Portugal, embora com menos incidência relativa face aos nossos parceiros europeus, mata mais do que nesses países. Importa destacar o trabalho notável que tem sido realizado pela Direcção-Geral da Saúde nos últimos anos de que é ilustrativo a entrevista que nos dá, neste nº da G.H., o actual Director-Geral, Dr. Francisco George. Mas importa realçar também o cortejo de dificuldades que encontramos nesta área.
Desde logo, o facto dos principais problemas de Saúde Pública terem na sua origem questões sociais e comportamentais: estilos de vida não saudáveis – sedentarismo, tabagismo, alcoolismo; comportamentos de risco – acidentes de viação e de trabalho, prática sexual sem protecção; desemprego, marginalidade e isolamento que, associados a grupos sociais fragilizados, como os idosos, os pobres e os imigrantes, agravam as respectivas condições sanitárias. Acresce a estas dificuldades, uma outra de natureza estrutural: as mudanças em Saúde Pública exigem um planeamento sustentado na execução coordenada de políticas e programas de médio e longo prazo, que não se compadecem com critérios de oportunidade política ou com sucessivas alterações nos seus protagonistas.
Importa ainda, neste contexto, realçar dois tipos de problemas: um já antigo, mas um pouco escondido que se prende com as doenças crónico-degenerativas, que afectam milhares de doentes (a esclerose múltipla e a doença de Alzheimer, Alzheimer, p. ex.), com as devastadoras consequências no seio familiar, muitas vezes, único “refúgio”, doloroso e prolongado, dessas situações. Um novo que, pela positiva, convém rapidamente enfrentar e monitorizar, que se prende com a I.V.G. e o cumprimento adequado das suas regras. Num caso e noutro, estamos perante importantes questões de Saúde Pública em que o Estado tem, e deve assumir, grandes responsabilidades.
Uma nota ainda para a política do medicamento vista na perspectiva da Saúde Pública. Parece hoje inquestionável que o acesso aos medicamentos está muito mais facilitado: aumento do número de fármacos sem exigência de receita médica; novos postos de venda; aumento de produtos genéricos e consequente diminuição dos preços; hipótese, já considerada, de campanhas de saldos ou promoções, com a consequente atracção de novos compradores e mais consumo.
No contexto português, em que os gastos com medicamentos são mais elevados no cotejo europeu e o desregramento no consumo é frequentemente evidenciado em diversos estudos, seria de toda a oportunidade desenvolver rapidamente formas de promover a racionalização do seu uso. Aliás, o P.N.S. prescreve a criação de uma Comissão Nacional de Racionalização dos Medicamentos, matéria sobre a qual pouco se avançou entretanto. É uma questão da maior relevância em Saúde Pública, face aos riscos conhecidos pelo uso inapropriado de fármacos.
Em jeito de rodapé, uma referência às condecorações que o Ministro da Saúde, em boa hora, decidiu atribuir a um conjunto vasto de profissionais que trabalham ou trabalharam no SNS. Muitos, ilustres desconhecidos, que no anonimato das suas vidas representaram pilares fundamentais para que os Serviços funcionassem e se desenvolvessem.
Mas não podia deixar passar esta oportunidade sem referir três dos galardoados em especial:
– o Dr. Albino Aroso, agraciado com o principal galardão, pelo muito que o País lhe deve na área materno-infantil;
– o Prof. Caldeira da Silva, alto funcionário do Ministério, Professor distinto de Saúde Pública, Director da E.N.S.P. a quem hoje devemos a sua existência, olhando para o período conturbado em que se propunha a sua pura e simples extinção, há alguns anos atrás;
– a Drª Fernanda Dias, uma das principais figuras da Administração Hospitalar Portuguesa a quem muito devemos como exemplo do exercício independente, coerente e competente de uma profissão.
Ocasião natural para se falar sobre a Saúde Pública e sobre a Saúde dos Portugueses.
A área da Saúde Pública tem sido, sistematicamente, secundarizada em benefício das áreas de prestação de cuidados (primários ou secundários) embora todos saibamos que os investimentos que se façam com impacto directo na colectividade são mais custo-efectivos, promovem a Saúde e previnem a doença.
O Plano Nacional de Saúde, em vigor até 2010, é um excelente documento em matéria de Saúde Pública, revelador das nossas insuficiências e do muito esforço que há a fazer neste domínio: a prevenção das doenças cérebro-vasculares e das doenças infecciosas, muitas delas sexualmente transmissíveis, o acompanhamento de crianças e adolescentes, a diabetes, a saúde oral, a obesidade, os gravíssimos problemas da Saúde Mental, são alguns dos tópicos considerados prioritários no Plano Nacional de Saúde, a par da prevenção primária e secundária do cancro que, em Portugal, embora com menos incidência relativa face aos nossos parceiros europeus, mata mais do que nesses países. Importa destacar o trabalho notável que tem sido realizado pela Direcção-Geral da Saúde nos últimos anos de que é ilustrativo a entrevista que nos dá, neste nº da G.H., o actual Director-Geral, Dr. Francisco George. Mas importa realçar também o cortejo de dificuldades que encontramos nesta área.
Desde logo, o facto dos principais problemas de Saúde Pública terem na sua origem questões sociais e comportamentais: estilos de vida não saudáveis – sedentarismo, tabagismo, alcoolismo; comportamentos de risco – acidentes de viação e de trabalho, prática sexual sem protecção; desemprego, marginalidade e isolamento que, associados a grupos sociais fragilizados, como os idosos, os pobres e os imigrantes, agravam as respectivas condições sanitárias. Acresce a estas dificuldades, uma outra de natureza estrutural: as mudanças em Saúde Pública exigem um planeamento sustentado na execução coordenada de políticas e programas de médio e longo prazo, que não se compadecem com critérios de oportunidade política ou com sucessivas alterações nos seus protagonistas.
Importa ainda, neste contexto, realçar dois tipos de problemas: um já antigo, mas um pouco escondido que se prende com as doenças crónico-degenerativas, que afectam milhares de doentes (a esclerose múltipla e a doença de Alzheimer, Alzheimer, p. ex.), com as devastadoras consequências no seio familiar, muitas vezes, único “refúgio”, doloroso e prolongado, dessas situações. Um novo que, pela positiva, convém rapidamente enfrentar e monitorizar, que se prende com a I.V.G. e o cumprimento adequado das suas regras. Num caso e noutro, estamos perante importantes questões de Saúde Pública em que o Estado tem, e deve assumir, grandes responsabilidades.
Uma nota ainda para a política do medicamento vista na perspectiva da Saúde Pública. Parece hoje inquestionável que o acesso aos medicamentos está muito mais facilitado: aumento do número de fármacos sem exigência de receita médica; novos postos de venda; aumento de produtos genéricos e consequente diminuição dos preços; hipótese, já considerada, de campanhas de saldos ou promoções, com a consequente atracção de novos compradores e mais consumo.
No contexto português, em que os gastos com medicamentos são mais elevados no cotejo europeu e o desregramento no consumo é frequentemente evidenciado em diversos estudos, seria de toda a oportunidade desenvolver rapidamente formas de promover a racionalização do seu uso. Aliás, o P.N.S. prescreve a criação de uma Comissão Nacional de Racionalização dos Medicamentos, matéria sobre a qual pouco se avançou entretanto. É uma questão da maior relevância em Saúde Pública, face aos riscos conhecidos pelo uso inapropriado de fármacos.
Em jeito de rodapé, uma referência às condecorações que o Ministro da Saúde, em boa hora, decidiu atribuir a um conjunto vasto de profissionais que trabalham ou trabalharam no SNS. Muitos, ilustres desconhecidos, que no anonimato das suas vidas representaram pilares fundamentais para que os Serviços funcionassem e se desenvolvessem.
Mas não podia deixar passar esta oportunidade sem referir três dos galardoados em especial:
– o Dr. Albino Aroso, agraciado com o principal galardão, pelo muito que o País lhe deve na área materno-infantil;
– o Prof. Caldeira da Silva, alto funcionário do Ministério, Professor distinto de Saúde Pública, Director da E.N.S.P. a quem hoje devemos a sua existência, olhando para o período conturbado em que se propunha a sua pura e simples extinção, há alguns anos atrás;
– a Drª Fernanda Dias, uma das principais figuras da Administração Hospitalar Portuguesa a quem muito devemos como exemplo do exercício independente, coerente e competente de uma profissão.
Manuel Delgado, editorial GH n.º 26
15 Comments:
Caro "aidenós":
O actual DGS???
Actual porque vai ficando, vaio ficando, vai ficando e ainda lá está é isso?
O PNS, documento constituído por 2 volumes, em papel, dá a resposta a esta questão, que podemos generalizar à saúde, a fls. 172: " os diagnósticos efectuados e publicados referentes ao desempenho dos serviços de saúde têm demonstrado a existência de um grande desiquilíbrio entre o nível de prestação dos profissionais e a adequação dos contextos organizacionais e afirmação de lideranças em que estes trabalham".
... Afinal quem é a autoridade de saúde a nível Nacional?
Mas também podemos perguntar: para que servem as CRSP? (Bem, podíamos alargar o leque e perguntar para que servem as ARS's e as ainda SRS's).
Quando não há coordenação nem liderança, a população, em teremos de saúde pública, está entregue a Delegados de saúde Copncelhios/Autoridades de Saúde que não são da Saúde Pública, mas antes Clínicos Gerais/MMGF, muitos Directores de CS que nem recebem nada por isso actualmente, que têm adjuntos que são todos adjuntos uns dos outros, dependendo apenas ... da "boa vontade" de cada um, no sentido do cumprimento dos "serviços mínimos" como certificar óbitos.
É urgente passar esta área para as Câmaras Municipais.
e, em jeito de parêntesis, como diria o esculápio, este texto está cheio de cerejas em bom tempo... prova inequívoca de que o diletantismo na saúde é um bonito exercício, mas não se compadece de todo com a realidade.
O galardão atribuído à Dr.ª Fernand Dias é uma decisão justíssima.
Aidenós e é urgente passar esta área para as Câmaras Municipais.
Alguém anda a consumir aguardente de cerejas em excesso!
Parabéns à Dr.ª Fernanda Dias.
Parabéns à Dr.ª Fernanda Dias.
Para quando um questionário breve da saudesa à Dr. FD?
Parabéns à Fernanda Dias.
«desenvolver rapidamente formas de promover a racionalização do seu uso.»
Plenamente de acordo.
No entanto o que se viu até agora foi muito pouco.
Está em vias de sair ma espécie de manual de boas maneiras sobre a utilização do medicamento hospitalar.
Desenvolvimento de protocolos terapêuticos, guidelines, sistemas de requisição on line, comissões de farmácia e terapêutica, são algumas das ferramentas disponíveis para o controlo dos consumos.
Há também a comissão de avaliação e o processo burocrático para fazer atrasar a entrada da nova tecnologia.
Nos Centros de Saúde o MS conta certamente com a actuação das USF na racionalização dos consumos (no entanto ainda são muito poucas).
Contará a médio prazo com os HHs PPP.
Não é neste exercício, no entanto, que este objectivo será conseguido.
Parabéns à Fernanda Dias.
Conheço Manuel Delgado como Presidente (a eternizar? Ele não tem culpa) da APAH e de um ou outro encontro fortuito em acções supostamente de interesse para profissionais de saúde. Não mais do que isso. Manuel Delgado é o autor confesso e declarado, com nome por baixo, do texto (Saúde Pública) que é suposto ser aqui comentado.
Sobre o texto, nenhum comentário meu. Apenas uma nota. Acabado de ser nomeado Presidente do CA do H. Curry Cabral, eu, no seu lugar, mesmo que já o tivesse escrito, não teria postado o texto nesta oportunidade. Disse o que pensa e deu prova de isenção intelectual? Não me custa acreditar, mas haverá quem possa pensar que está a pagar um preço, e há aquele aforismo da mulher de César …
O que não entendo é por que razão a Nãoseiquenome usar (duas vezes) e o João Pedro chamam pelo Aidenos para uma guerra que este não abriu e para a qual não foi recrutado. É verdade que gosto de cerejas, mas a César o que é de César.
Parabéns à Dr.ª Fernanda Dias.
Parabéns à Dr. Fernanda Dias.
Caro "aidenós":
Talvez por lapso momentâneo do autor do blog, ou por indução inusitada provocada pela leitura outros posts, "vi" o AIDENÓS a seguir ao epíteto GH...
As minhas desculpas.
Alguns dos comentários fazem-me lembrar a história do mirone que observava um mariscador que apanhava paulatinamente caranguejos ali para os lados da Ria Formosa, colocáva-os calmamente no balde perante o olhar atónito do mirone que esperava a toda a hora que os caranguejos se pirássem. Até que o mirone perguntou - então oh Mestre não tem medo que os caranguejos fujam? - resposta do mariscador - Mão, não vê que são caranguejos portugueses, quando quer sair os outros agarram-no!
Só um desconhecimento muito profundo do que se tem feito na área do Plano Nacional de Saúde pode permitir que se façam comentários destes. Não sabem que os CRSP acabaram e as SRS vão ser extintas! Que vamos ter novas ARS's IP com responsabilidades aumentadas no planeamento e na contratualização.
:)
prove-me que as CRSP acabaram e que para além da vontade política as SRS'S vão ser extintas! :))) força aí! :)
(quanto às SRs's, para além da da portalegre, que foi absorvida pela USLNA..., claro)
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