sábado, julho 28

HIDP, EPE, Relatório de Contas 2006


Mas, vejamos um pouco mais os dados do relatório.link
Como sabemos, trata-se de um documento longo cuja análise detalhada não é tarefa fácil. Acresce que a sua impressão (em papel) tem custos para cada um de nós (e por isso a não faço) e a leitura directa, no monitor, também não facilita o trabalho de análise.
Para já avancei um pouco mais na leitura daquele documento (até à pag. 24) e ocorreram-me os seguintes comentários:

1.- De um modo geral sob o ponto de vista técnico o relatório é pouco mais que "sofrível". E tem afirmações que merecem reparo. Por exemplo: " O HIDP assitiu a um ano de 2006 com fortes desafios pela frente e que, maioritariamente, se pode afirmar que foram alcançados"(sic).
Isto não é claro, não é preciso e até parece ser uma "afirmação" (conclusão?) a despropósito.
Os desafios foram alcançados? Que desafios?
Adiante...

2.- Curiosa a afirmação de que o contrato-programa foi muito ambicioso em termos de produção assistencial para os recursos humanos existentes no HIDP à data da sua celebração.
E acrescenta-se: "...não será estranho o facto de o mesmo não ter sido cumprido..." (o contrato-programa, entenda-se).
Isto torna evidente a "levesa" (falta de seriedade? Ignorância?) com que a gestão do hospital foi encarada.
E é bom que se diga que a negociação dos contratos-programa por natureza não é fácil. Mas quem o assina deve ter a noção de que assume a responsabilidade de o fazer cumprir. E o CA do HIDP parece pretender "alhear-se" do incumprimento ou, parece encarar isso como algo que à partida foi assumido. E até parece que a responsabildade de assinar o contrato não foi sua.
Esta conduta não é "séria". Ou o CA assinou um contrato-programa baseado em pressupostos (condições futuras) que não foi capaz de concretizar?! Mais olhos que barriga em gestão empresarial não é de todo aconselhável. Há que ter os pés bem assentes no chão.
E se houve factores externos, imprevistos, que não permitiram atingir os objectivos de produção contratados, então o CA deve ser claro na sua justificação. O que não será fácil quando se verifica que os efectivos médicos e de enfermagem cresceram acentuadamente no exercício.

3.- A merecer atenção é o que se refere às novas intalações da Urgência. E isto porque, como se diz, a sua dimensão aumentou para o triplo das instalações provisórias. O que levou a maior necessidade de RH. Mas, depois, não se vislumbra a contrapartida dessa admissão de recursos quando se avalia a produção.
E não teremos uma Urgência sobredimensionada?

4.- A contenção de custos também não foi conseguida. E aqui há mesmo algo de incongruente. O CA considera que os objectivos (+4%; 5% com medicamentos) foram atingidos. Mas terá havido contenção quando se constata que tais custos foram originados por uma menor produção em quase todas as áreas?
Qual foi o aumento dos custos por doente tratado?

5.- A um aumento de RH de 5,3% (6,2% sem internato médico) correspondeu uma acentuada baixa do indicador "doentes saídos/médico" (107,76 para 95,67) e também a degradação do indicador "doentes saídos/enfermeiro" (36,44 para 35,35). Mais uma "desgraça"!

6.- Lemos a certa altura que a menor produção pode ser explicada pelo facto de médicos mais experientes e idosos terem sido substituídos por médicos mais jovens e menos experientes.
É uma afirmação que poderá dar lugar a uma "mais profunda reflexão" pois sabemos, nomeadamente, que os "mais velhos" são acusados, muitas vezes, de já não produzirem (ou produzirem menos...).
Mas, seria de esperar que jovens médicos auferissem, também, menores salários.
E que vemos? O rácio "ordenados e salários/efectivos globais" agravou-se em mais de 5%!
Parece que uma explicação são "os custos consideravelmente superiores dos contratos individuais de trabalho face aos da função pública".
Então e a produtividade? Se os "novos contratados ganham mais" não é expectável que produzam mais? Será que o CA, com tal política de salários, desmotivou os trabalhadores vinculados à função pública?!
As explicações são pouco consistentes e mais parecem "desculpas de mau pagador".

7.- Ainda em matéria de produção merece destaque a redução da taxa de ocupação (74,40% para 70,90%) e de doentes saídos por cama (39,52 para 37,35).

8.- Perante tudo isto, e muitos outros dados observados na rápida leitura que fiz, como pode o CA afirmar que a Actividade em 2006 foi muito semelhante à de 2005?!
Só uma semelhança se pode defacto considerar: os maus resultados alcançados.

PS
: sou pouco dado a textos longos neste tipo de "sites". Mas aqui não vejo alternativa. Se "em tempo útil" o puder fazer voltarei a este caso.
tonitosa

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7 Comments:

Blogger naoseiquenome usar said...

Sublinhe-se apenas que, "finalmente aparecem os primeiros RC de 2006 e logo sem parecer dos ROC'S"

12:26 da manhã  
Blogger tonitosa said...

"Um objectivo primordial de qualquer entidade é o da rentabilização da capacidade
instalada de forma a aumentar os níveis de eficiência na sua utilização e, simultaneamente,
obter acréscimos de produção e de produtividade com reflexo quer em termos de custos,
quer em termos de proveitos alcançados".

A afirmação acima transcrita consta do relatório e contas do HIDP.
E pode ler-se também o seguinte:

"No quadro anterior podemos analisar que a actividade do ano de 2006 foi muito
semelhante à desenvolvida em 2005 já que em traços gerais se pode concluir que:
A lotação praticada manteve-se em número idêntico a 2005, excepto no final do ano
em análise já que se registou a necessidade de reabrir uma enfermaria do piso 7 para
internamento de doentes de Medicina Interna;
O número de doentes assistidos em regime de internamento sofreu um ligeiro
decréscimo, sem se ter verificado uma redução da demora média, o que significa que não
se conseguiu obter uma melhor rentabilização da capacidade instalada ao nível dos serviços
de internamento;
Manutenção da demora média, reflectindo-se numa menor rotatividade das camas no
internamento atendendo a que se registou uma diminuição do número de doentes por
cama – resultado;
O número de consultas externas manteve-se semelhante ao ano anterior, apesar de se
ter verificado uma redução do número de primeiras consultas apenas compensado por um
acréscimo de consultas subsequentes;
O número de sessões de hospital de dia sofreu uma redução administrativa motivada
pela necessidade de retirar os meios complementares de terapêutica do número de sessões
de hospital de dia;
O serviço de Urgência continua a registar uma taxa de crescimento positiva
superando o limiar dos 125.000 episódios, mantendo a tendência recente dos últimos anos;
O óbice da actividade desenvolvida foi, efectivamente, aquela que diz respeito ao
Bloco Operatório já que se verificou um novo decréscimo do número de cirurgias
realizadas, quer em regime de ambulatório, quer em regime convencional;
A este facto acrescente-se terem-se realizado, em 2006, cirurgias através do
programa SIGIC em número inferior ao registo de 2004.

7.2 INTERNAMENTO
Uma das questões relevantes em análise é a do aumento do número de doentes saídos do
hospital, visto que tem implicações directas com o financiamento do hospital,
nomeadamente em termos de Contrato-Programa e com a obtenção de economias de
escala reduzindo os custos variáveis e fixos do Hospital.
Contudo, enquanto que, a nível global de regime de enfermaria, se obteve um ligeiro
acréscimo de 61 doentes internados, registou-se um decréscimo acentuado de doentes em
regime de SO, o que resulta duma melhor gestão das transferências internas de doentes.
Aliás desse facto, deduz-se da diminuição da demora média deste tipo de doentes que se
reduziu de um dia para meio dia, reflectindo a importância atribuída à rápida transferência
de doentes para as enfermarias das respectivas especialidades.
Relativamente ao indicador de Demora Média, de elevada importância para aferir da
rentabilização dos serviços com impacto ao nível dos doentes tratados por cama,
salientem-se os seguintes serviços com as variações mais significativas face à sua dimensão:
Medicina Interna e Psiquiatria, com as reduções próximas de um dia de internamento
por doente;
Cirurgia Geral, com a redução de meio dia de internamento por doente, mantendo a
tendência que vem desde 2004;
Em sentido inverso, assinale-se:
Neurologia, com o acréscimo de meio dia de internamento por doente;
Ortopedia, com o acréscimo de quase um dia de internamento, regressando ao nível
registado em 2004;
Pneumologia, com o acréscimo de mais de um dia de internamento por doente".

Para além do que se diz, o quadro de produção global, a pags. 23, permite que coloquemos a seguinte pergunta:
Consegiu o HIDP atingir aquele que no entender do CA deve ser o seu objectivo primordial?
Parece que, a continuar assim nem de "carro desportivo" lá vamos!

11:11 da manhã  
Blogger Coscuvilheiro said...

Quem terá decidido atirar a Administração do H.I.D.Pedro,epe, às feras?

2:55 da tarde  
Blogger saudepe said...

É disto que o meu povo gosta

"É disto que o país precisa", disse Sócrates ao anunciar mais 5400 camas no Algarve.
JP 29.07.07

Entretanto o povo está descontente com as 549 camas previstas para o novo hospital central algarvio.
Queria mais camas.
Se possível o dobro das camas.
Para o record. Para o guiness.
É disto que o meu povo gosta.

3:35 da tarde  
Blogger deserto eterno said...

Não é atirar o Conselho de Administração do HIDP às feras, é exorcizar a incompetência do ministro da saúde e dos conselhos de administração nomeados, pois não tendo sendo sido ainda demitido este conselho de administração do HIDP, EPE, tudo é permitido na gestão hospitalar até à derrocada final dos hospitais públicos.

4:41 da tarde  
Blogger tonitosa said...

O fim de semana aqueceu. E bastante.
Mas ainda assim deu para chegar ao fim da leitura detalhada do relatório e contas do HIDP.
Para além dos comentários feitos anteriormente, pouco masi tenho a a acrescentar.
Confirmei de um modo geral um "annus horribilis" (a acrescentar ao que já havia acontecido em 2005) das gestão do HIDP.

Não me alongo em mais comentários.
Deixo apenas a transcrição do que considero as "pérolas" do relatório, que se seguem;

1.- "A este propósito mencione-se, então, que aqueles serviços que registaram variações
negativas de actividade, e pelos motivos expostos, foram aqueles que não cumpriram as
metas previstas no documento de planeamento da actividade de 2006, sendo que as
restantes, maioritariamente, alcançaram a produção estimada ou registaram desvios pouco
significativos."

2.- "Refira-se que nesta descrição apenas constam os encargos resultantes dos investimentos
aprovados em sede de projecto co-financiado, pelo que não se mencionam os variados
investimentos paralelos que se fizeram com recursos do próprio hospital para assegurar o
sucesso dos próprios projectos."

3.- "Por força da reestruturação operada na assistência médica do Serviço de Urgência, reduziuse
o recurso a prestação de serviços médicos em regime de prestação de serviços, quer
sejam tarefeiros ou sejam em regime simples de prestação de serviços, substituindo-se por
prestações de serviços realizadas por empresas especializadas.
É tal facto que justifica os decréscimos acentuados em termos de custos finais com a
rubrica de honorários já que os acréscimos de necessidades de pessoal, e em consequência
dos respectivos custos, transitaram para a rubrica de Outros Trabalhos Especializados
como se constatará em ponto subsequente."

4.- "A alteração do regime de remuneração do trabalho extraordinário do pessoal
médico forçou a contratação de serviços a empresas especializadas neste domínio, com
custos unitários mais elevados, para assegurar a prestação do serviço de Urgência nas
vertentes de especialidade;"

5.- "Nesse sentido, concluiu-se que, apesar do que numa primeira análise se poderia
deduzir, a facturação de episódios de internamento registou um acréscimo de
6,56% face ao ano anterior e que se deveu, sobretudo, a uma melhoria
significativa na qualidade do registo e auditoria da actividade desenvolvida e
facturável."

6.- "A facturação dos episódios de consulta externa, urgência e hospital de dia mantêm a
tendência dos anos mais recentes de comportamentos de crescimento assinalável que
permitiram um crescimento da facturação com o ambulatório do hospital.
Contudo, atente-se que o factor que originou o acréscimo em causa prende-se, sobretudo,
com o ênfase dado à qualidade de registo da actividade que permitiu compensar, ao nível
da facturação, o decréscimo do ambulatório do hospital, exceptuando-se o serviço de
Urgência."

Uma nota final:
Dos dados publicados é possível concluir que as remunerações dos órgão directivos apresentam um acréscimo superior a 13% (2006/2005) que não deixa de contrastar com os 5% de acréscimo nas restantes remunerações.
E uma pergunta:
Quem se lembra das "mordomias" dos gestores SA's?
Vejam os mapas das remunerações dos membros do CA!
Na verdade...Bem prega Frei Tomás!...

10:50 da tarde  
Blogger Ferros Curtos said...

Mordomias.

Aumentos para financiamento do CA acima percentualmente de quaisquer outros.

Contratos individuais de trabalho acima do que ganha o Chefe de Serviço mais antigo ou mesmo o Director de Serviço.

Corrida da Directora Clínica tornada bode expiatório de tudo o que era mau.

Destruição do Departamento de Medicina para defender a privada de um ilustre clínico de Aveiro.

É so esperar pela implosão ! Que é rápida.

11:32 da tarde  

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