Iraque, esforço inútil
(...) Poucos dias depois de Bremer ter chegado a Bagdad, quis visitar um hospital. link Os seus assessores pensaram que seria uma boa oportunidade para a fotografia. Em direcção a um hospital, Browning acompanhava Bremer no seu Suburban blindado. Browning achou que podia aproveitar para falar dos seus planos para o ministério e da necessidade de uma injecção maciça de ajuda estrangeira, mas Bremer só falava da Operação Sorriso , uma instituição americana de caridade que envia médicos para o estrangeiro para fazerem cirurgias reconstrutivas a crianças com deformidades faciais. De início, Browning acenava educadamente com a cabeça, mas como Bremer continuava a falar apenas da Operação Sorriso, Browning interrompeu-o.
«Ouça, tem de compreender a situação existente no terreno», disse ele «Estamos a tentar prevenir doenças epidémicas. Tentamos dar alguma água potável decente às pessoas… Estamos a tentar restaurar o serviço básico nos hospitais… e obter medicamentos e equipamento médico. É ridículo estar a falar de alguma coisa como a Operação Sorriso. (...)
Rajiv Chandrasekaran, "A vida imperial na cidade esmeralda", cap. esforço inútil, edições 70, Julho 2007.
2 Comments:
O recente ataque suicida a condomínios de uma aldeia no norte do Iraque, terrivelmente desvastador, onde estão contabilizados (provisoriamente) em 200 mortos e 300 feridos, vem tornar pertinentes, ou melhor, mais do que oportunas, as avisadas observações de Browning a Bremen relatadas no citado livro (Rajiv Chandrasekaran, "A vida imperial na cidade esmeralda", cap. esforço inútil, edições 70, Julho 2007.).
Os EUA nunca souberam lidar com outras culturas e sempre tiveram um comportamento imperialista. Os seus planos humamnitários (onde incluo as questões de saúde) sempre foram deslocados, a começar na América Latina. Aliás, não é preciso ir até ao Médio Oriente para compreender o que está por detrás das "ajudas humanitárias" americanas. Basta, rever o seu passado, ao pé da porta, na América Latina. Todos estes "esforços" tiveram um denominador comum - coleccionaram inimigos e promoveram o "anti-americanismo" de que os liberiais (por cá) tanto invectivam - sem o compreender.
Mas pior, a incapacidade dos EUA em organizar e coordenar cuidados médicos e sociais, em situações catastróficas, teve a sua prova de fogo em New Orleans, depois do tufão "Katrina". Um ano depois, 200.000 habitantes da cidade berço do Jazz não tinham regressado a casa. Não é preciso acrescentar mais...
Mas, há outro pormenor que flagela os esforços da administração Bush. A nefasta tendencia para colocar em situações chave "incompetentes" - mas, atenção: atentos, veneradores e obrigados...
Já foi assim com o (ir)responsável da protecção civil em New Orleans e, segundo o texto, passar-se-à o mesmo no Iraque. O afastammento de Frederick M. Burkle Jr. , um técnico competente por James K. Haveman Jr., um homem do sistema - amigo do malogrado, tenebroso e corrupto Wolfowitz. O "sistema" funciona em todo o lado...
No texto acima, caracterizei como "imperialista" a "ajudas americanas", por este Mundo.
Na verdade, o que se pretende é vender produtos, materiais, programas, "operações", etc. Adaptados, ou não, às situações é um pormenor irrelevante e sistematicamente ausente.
O objectivo primordial é (sempre) outro: vender, impingir - para lucrar.
Por isso não admira que numa situação tétrica, dramática em termos humanitários, como aquela que a administração Bush e a sua camarilha de "neocons" criaram no Iraque, Bremen só pensasse em vender a "Operação Sorriso".
Parece o sorriso da hiena. Come esterco, alimenta-se de cadaveres, e quando uiva parece rir-se...
De quê ou de quem?
A História o dirá!
Adenda (um pouco a despropósito...)
Sacco e Vanzetti, emigrantes italianos nos EUA, foram executados há 80 anos (Agosto de 1927).
O Juiz que os condenou à morte por electrocussão declarou:
"Este homem [Vanzetti], apesar de talvez não ter cometido realmente o crime que lhe é atribuído, é todavia culpado, porque é o inimigo das nossas instituições."
Instituições que, passadas oito décadas, soçobram, diariamente, no Iraque...
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