sábado, setembro 1

Fim do tendencialmente gratuito


Num modelo económico misto em que a saúde deveria ser, de todo, tendencialmente gratuita, é curioso verificar que 45% dos portugueses não estão isentos do pagamento de taxas moderadoras. Num país com uma tributação tão elevada, é negativamente surpreendente que a saúde trilhe para um progressivo encarecimento dos serviços. Num recente estudo encomendado pelo Governo, sugere-se precisamente a actualização do valor das taxas moderadoras ao ritmo da inflação. Esta visão demasiadamente economicista esbarra com a tendência para a gratuitidade da saúde e desresponsabiliza o Estado dos serviços mínimos para os cidadãos. Deste modo, este estudo falha na percepção de que uma população mais saudável é incomensuravelmente mais produtiva para o país e os cortes na saúde apenas prejudicam a economia. Ademais, a sugestão da redução dos benefícios para a saúde dos actuais 30% para 10% corrobora este assassinato à função social do Estado. Refere-se concomitantemente que os utentes recorrem demasiado às consultas. Só quem nunca esperou num centro de saúde por uma consulta é que não sabe a barbaridade de tais afirmações. A ida a consultas é tudo menos um vício que agrada aos utentes! Deparamo-nos, presentemente, com serviços públicos de saúde que não são minimamente concorrenciais com hospitais privados que despontam agora, com alta tecnologia e apoio permanente. Por exemplo, se na época salazarista era fornecido à população medicina dentária sem custos, agora a medicina dentária desapareceu por completo dos hospitais portugueses. Por seu turno, pagamos mais neste momento em impostos para a prestação de cuidados de saúde do que na ditadura.
Aliás, a aplicação destas regras dantescas corporiza o fim do Welfare State, i.e. o Estado demite-se escandalosamente dos serviços sociais a que sempre esteve obrigado.
Gonçalo Tapadas JN 01.09.07

4 Comments:

Blogger Joaopedro said...

Troca do tendencialmente gratuito pelo tendencialmente lixado.

O texto levanta algumas questões pertinentes em relação ao sistema de saúde que estamos a construir.

O certo é que em relação às urgências hospitalares que sentiam maior pressão da procura, nota-se uma melhoria acentuada.

As pessoas que procuravam os serviços hospitalares por dá cá aquela palha, deixaram-no de o fazer.
O poder dissuasor das taxas é inequívoco.

1:03 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O autor do texto incorre num erro habitual, e na demagogia fácil: precisamente porque muita gente recorre aos serviços de saúde quando não precisa, quem necessita encontra demasiado tempo de espera. As poucas vezes que precisei de recorrer ao centro de saúde da área de residência encontrei sempre à frente "veteranas" (porque serão maioritariamente do sexo feminino?), que entupiam o sistema. Na ultima vez a funcionária indicou delicadamente que se tinha enganado no dia e aparecido um dia antes; resposta imediata, se mesmo assim não podia aproveitar para ver a sr. dra. e voltava amanhã também!

Infelizmente, a barreira monetária ao abuso excessivo é eficaz e pode ter que ser usada.

10:33 da tarde  
Blogger raguiar said...

"Por exemplo, se na época salazarista era fornecido à população medicina dentária sem custos, agora a medicina dentária desapareceu por completo dos hospitais portugueses"

Tem a certeza que conheceu a época Salazarista?? Tenho muitas dúvidas. Ou ouviu falar?

11:06 da tarde  
Blogger vivo.numa.epe said...

Curiosamente quando se conversa com os utentes fica a noção de que os elevados tempos de espera associados a determinadas côres da triagem de manchester (que os doente já começam a conhecer) poderá ter sido tão importante para dissuadir a população como o aumento das taxas. Agora com a côr verde já sabem que nem vale a pena refilar se a demora fôr muita... mais vale ir a outro sítio e da próxima vez nem passar pela urgência...

3:34 da tarde  

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