quarta-feira, agosto 29

Qualidade do Socorro


Vindo de Férias, não posso deixar de romper o meu silêncio perante um post link tão sério mas sem estar estribado, em qualquer argumento que o fundamente a não ser na opinião de quem pelos vistos acha, que a qualidade do socorro e a percentagem da sobrevivência resulta da proximidade dos cuidados e na menor distância percorrida pelas ambulâncias de socorro.

Vim de férias do Algarve, região onde há bem pouco tempo foi anunciada pelo MS as Vias Verdes do AVC e Coronária.
Com dúvidas "consultei" presencialmente a rede, e fiquei deveras surpreendido.
Unidade de Cardiologia de Intervenção em Faro a funcionar 7 dias por semana, 24 horas. SAPs de Albufeira, Loulé e Vila Real Santo António (24 horas), com RX digital com transmissão para H. Faro, ECG com desfibrilhador em todos eles, ligados telefónicamente a Faro e ao INEM. Podem fazer fibrinólise se necessário. Urgência de Lagos com as mesmas características e ligada a Portimão. Ambulância medicalizada em Portimão para transferir doentes para Faro. Unidade de AVC em Faro e outra em Portimão para abrir em Outubro. Três VMERs em Portimão. Albufeira e Portimão com ECG com desfrilhador ligado ao INEM nacional.

É disto que precisamos pelo país, organização, comando, qualificação do socorro e rapidez de intervenção. Se querem dados, consultem-nos na página da ARS Algarve, numa apresentação do DR. Veloso Gomes, aí sim há dados sobre a sobrevivência!!!
Mais tarde ou mais cedo necessitaremos deles nós próprios ou as nossas famílias.

No que se refere ao preço pago pelo transporte e à questão do transporte, recomendo vivamente um Documento da ERS link sobre a matéria, que tem circulado por aí quase que clandestinamente.
Nos dias de hoje há muito por fazer, seguramente muito que investir no socorro qualificado pré-hospitalar.

Finalmente o INEM, a reboque da agenda política, dá sinais de mudança, com a contratação de técnicos paramédicos e com a promessa do MS de contratar 100 médicos uruguaios. É aí que necessitamos de melhorar e muito a actuação do sistema.

Mas há quem queira continuar a atirar a baixo, a não ver o que está a mudar e a dar acolhimento aos interesses de grupo, como o dos transportes.
Avicena

7 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Avicena:

"... a qualidade do socorro e a percentagem da sobrevivência resulta da proximidade dos cuidados e na menor distância percorrida pelas ambulâncias de socorro."

Como todos sabemos não é "só" isso, mas é também "isso", na falta de outras condições.

Um texto de "naoseiquenome usar"
em resposta à "Helena" sobre as mortes por paragem cardio respiratória, esclarece muitas das condicionantes no que diz respeito à "prontidão" de uma assistência qualificada.
A taxa de sucesso de reanimação (recurso ao desfribilhador) nas situações englobada "via verde coronária" é extremante dependente do tempo de intervenção - na verdade muito curto, contabilizado em minutos.
Reconheço que nos AVC isquémicos o tempo útil para a fibrinólise será mais alargado (à volta das 6 horas).

Portanto, pelo menos indirectamente, a distância não é tão desprezível, nem está tão ausente. Normalmente, e embora os SAP's enunciados (Albufeira, Loulé, VRStoAntónio, ...) estejam minimamente equipados para estas emergências, estes acidentes (fundamentalmente os coronários) podem - em muitas circunstâncias -ocorrer longe dos SAP's... (até em campos de futebol). E o tempo de intervenção, dependente da proximidade ou do distanciamento de meios, é determinante. Uma boa via (como as estradas) funciona quando largamos os atalhos e tem um fácil fluxo de drenagem e não se congestiona (nas horas de ponta).

Bem, mas existem três questões, que persistem:
1 - a agilização operativa da rede pré-hospitalar não está próxima de uma optimização (no País);
2 - Nem todos os SAP's, por este País, estão abertos 24 horas;
3 - Mem todos os SAP's terão meios de actuação em situações de emergência (AVC e coronários) disponíveis.

Caro Avicena, o seu "exemplo algarvio", louvável, corre o risco de ser uma exposição de alguma inequidade.
Embora, indubitavelmente, a existência de unidades de intervenção qualificadas, a diversos níveis, sejam o bom caminho. Resta contemplar o resto do País.
E interrogar-nos: como estamos globalmente, no contexto de rede pré-hospitalar, nas questões de suporte avançado de vida?

1:08 da tarde  
Blogger Unknown said...

Caro E-Pá

Penso que existe alguma confusão entre a paragem cardíaca com o recurso a ressuscitação cardíaca, suporte básico de vida, bem como o recurso a DAE, desfibrilhador automático externo, operado por qualquer cidadão treinado e as vias verdes coronárias e de avc. No primeiro caso, quase tudo está por fazer a educação e a formação de profissionais de saúde e cidadãos em ressustiação cardíaca, a colocação de DAE em unidades de saúde ou em locais de grande movimento, a legislação que permita a utilização de DAE por não médicos, etc. INEM e MS têm ainda muito que pedalar para o bem de todos. No caso a Via Verde do EAM, estamos a falar de pessoas com diagnóstico de EAM com supradesnivelamento de ST, comprovado por ECG com leitura assistida por cardiologista e quem podem ser submetidos a terapêutica fibrinolítica ou terapêutica de reperfusão na sequência de uma coronariografia de urgência. A terapêutica escolhida, de acordo com as recomendações nacionais, recentemente publicadas, acessíveis na página do Alto Comissariado, recomendam os seguintes tempos de acordo com o início do EAMCSST : < 2 horas – fibrinólise de imediato se terapêutica de reperfusão estiver a mais de 30minutos, considerar fibrinólise pré-hospitalar. EAMCSST >2 horas >6 horas – terapêutica de reperfusão se o centro estiver a menos de 30 minutos e o tempo porta-agulha for menor de 30 minutos. Se não fibrinólise. EAMCSST > 6 horas e 12 horas – coranoriografia de urgência e terapêutica de reperfusão se o tempo total for menor de 60 minutos. No que se refere ao AVC, a janela terapêutica é de 3 horas, o doente tem de fazer TAC préviamente e a fibrinólise é necessáriamente dentro do hospital, portanto nada de urgências básicas ou urgências médico-cirúrgicas sem TAC temos é que ir "directinhos" para uma urgência com TAC e possibilidade de fazer fibrinólise. Muito há por fazer no que respeita ao AVC uma vez que só uma campanha pública dirigida ao cidadão, de forma a que conheça os sinais de alarme, uma boa utilização do 112 e eventualmente do 808 24 24 00, um transporte rápido para o Hospital e uma via verde para a Unidade de AVC, de forma a que o doente possa fazer um TAC em menos de 3 horas, para poder ter acesso à fibrinólise. Não ficando estacionado na triagem , na urgência a aguardar uma observação ou um TAC. Seguramente que ainda há muito que fazer.

O "exemplo algarvio" poderia ser um exemplo de inequidade, eu prefiro acreditar que é o começo de uma mudança de qualidade no diagnóstico e tratamento de centenas de portugueses que deixarão de falecer antes do tempo ou de ficarem marcados para toda a vida por sequelas desnecessárias.

Em relação aos SAP´s, parece-me evidente que no caso do Algarve e de acordo com o documento nacional para reestruturação da urgência, estes são os pontos de rede das urgências básicas propostos (lagos, albufeira, loulé e vila real de santo antónio), o que parece ter sido feito é por a rede a funcionar.
Quanto ao resto tem toda a razão é necessário que o INEM responda às solicitações do MS e do país e abandone um modelo de socorro centrado nos médicos, é que não os temos para as necessidades.

11:42 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Caro Avicena:

Talvez não tenha sido bem exxplicíto. a minha dúvida é se haverá situações deficitárias no domínio do concreto, em Portugal, sobre a "cadeia de sobrevivência".

Sendo o SAV o ultimo elo dessa cadeia, os elos anteriores, isto é, a confirmação da paragem cárdio-respiratória (fibrilhação ventricular + taqquicardia ventricular (>180 p/m) >>> assistolia e, de imediato ( a tal questão dos minutos) a tentativa de reversão por desfibrilhação (DAE) seguida de medidas de SBV.
Não falando das VMER's (com condições para implementar o SAV), a minha interrogação era, se por exemplo, nas tripulações que integram as "vulgares" ambulâncias, os bombeiros têm treino na utilização imediata de DAE's e formação em Suporte Básico de Vida (SBV)?
E, se o têm, se isso se verifica em todo o País?
Ou, se "só" existem uns escassos "exemplos algarvios"?
Ou, ainda, para sermos mais abrangentes, qual o "estado da arte" na montagem da rede de emergência pré-hospitalar?

Isto para falar do básico, do indispensável, porque tenho a noção de que o European Ressuscitation Council e o Conselho Português de Ressuscitação defendem uma política de generalização da sua aplicação, como meio de salvar milhares de vidas por ano. Mas isso é um problema genérico e muito vasto de educação para a saúde, quando não de educação cívica.

É reconfortante o seu entusiasmo pelo "exemplo algarvio", mas parece-me ser (ainda) preocupante o "exemplo nacional". Acredite que desejaria estar equivocado...

Quanto ao INEM, à sua capacidade de resposta, à sua potencialidade de articulação com outros meios de emergência e de sobrevivência, apesar de alguns atritos corporativos, penso que estaremos todos de acordo no essencial: criar um Sistema Integrado de Emergência Médica (SIEM).

Isto é, dar o pequeno passo do INEM para o SIEM...
Pequeno para nós profissionais de saúde, grande para os doentes.

"Integração" começa a ser uma palavra chave na Sáude (em todo o seu "edifício" como prestador e gestor de cuidados) e será determinante no suporte de vidas, em situações críticas.

10:49 da manhã  
Blogger Paulo Ferreira said...

Em primeiro lugar existe desmistificar uma situação, as ambulâncias INEM são legalmente ambulâncias de socorro, idênticas as ambulâncias de socorro existentes nos Bombeiros ou na CVP, basta ver a portaria que regulamenta o transporte de doentes.
Existem actualmente 461 corpos de Bombeiros que fazem pré hospitalar, desses 465 corpos de Bombeiros somente existem 184 corpos de Bombeiros são PEM, recebem uma ambulância de socorro e uma verba mensal de 1.080 euros para manter uma tripulação de dois homens com formação, 1TAT e 1 TAS,24 sobre 24 e recebem em média por cada serviço prestado cerca de 40 cêntimos por quilómetro.
Essa verba tem que pagar:
Ordenados, com subsídios de férias e natal,
Materiais consumíveis
Combustível
Formação
Etc.
Sabendo que em média uma ambulância de socorro custa em média só em vencimento cerca de 4800 euros mensais, e pagando mal, quem suporta o resto da despesa? Porque os corpos de Bombeiros não recebem qualquer outra ajuda financeira de outra organização governamental, para manter esse serviço tipo de serviço em permanência a população
Pior estado estão os outros corpos 277 corpos de Bombeiros que nada recebem, desde viaturas ou outra verba de algum organismo governamental, para manterem equipas em permanência e equipamento, mas que são obrigados a efectuarem os serviços existentes dentro das suas AAP, recebendo unicamente o que podem cobrar aos utentes ou da ARS depende da existência ou não de acordos.
Estou a falar da existência de uma só ambulância por corpo de Bombeiros, o que é meramente insuficiente nas maiorias zonas, para ter um socorro digno a população.
Outra situação a falta de definição o que é “ Transporte de urgente Primário” e “ Transporte não urgente secundário”, onde nos últimos anos o CODU/ INEM se recusa suportar financeiramente o transporte de doentes vítimas de doença súbita, doença prolongada ou trauma não complicado, onde a situação não implica a sobrevivência momentânea do doente, onde os familiares são aconselhados a ligar para os bombeiros obrigando o cidadão suportar os custos do socorro e transporte s, onde na maioria das vezes são os próprios Bombeiros a suportar o custo do socorro e transporte e socorro, por falta de incumprimento do pagamento por parte dos cidadãos, situação idêntica as taxas moderadoras hospitalares, onde muita gente não paga, mas que as unidades hospitalares se vêem na obrigação de prestar o tratamento ao doente, mesmo que exista dividas avultadas por pagar.
Assim o que existe vive sobre uma bola de neve, onde nada é garantido, nem mesmo o que exista ligado ao INEM e ao SNS, onde se prevê brevemente a colapso do sistema se as coisas se mantiverem assim.
É uma opinião minha, e aceito criticas, mas as coisas nem sempre são assim como os políticos e as identidades querem transparecer como são.

9:24 da tarde  
Blogger naoseiquenome usar said...

Santo Deus.
Caro Paulo Ferreira, vai aí uma "embrulhada" de palavras difícil de descodificar.
Mas lembro-o apenas do seguinte: as Associações de Bombeiros, são supostamente, entidades sem fins lucrativos e, os seus elementos "voluntários".
Quantos conceitos bonitos ultrapassados.
Os BV são voluntários sim mas para que serviços? ... Parta os fogos. Escusar-me-ei a comentar porquê.
Os hospitais, são normalmente (por culpa própria, pois não exigem rigor)"obrigados" a pagar aos BV todos os Kms que lhe são debitados, ibndependentemente de terem ou não sido realizados, ou quando realizados sobrefacturados para distâncias e percursos inexistentes.O mesmo acontece com o transporte de doentes em táxis.
Quando o caso é grave, como saberá, os CODU's passam uma "ficha" aos BV e o "serviço" é pago. De resto há ambulâncias INEM sedeadas nas centrais dos BV.
E já agora quase todos têm o "TAS" e pelo menos o curso de SBV, ministrado pelo INEM. Mas precisam de mais. Precisam de treino em SAV e, qualquer ambulância de transporte ou socorro deverá no mínimo estar equipada com um desfibrilhador externo e ser tripulada por pelo menos um elemento que o saiba utilizar.

11:59 da tarde  
Blogger Paulo Ferreira said...

Pelas tuas escrita deves desconhecer a formação existente no Pré-Hospitalar.

Formação de DAE já é dada a alguns anos na formação dos TAS, quer no INEM quer na ENB, como é dado formação no apoio ao SAV, e as tripulações das ambulâncias de socorro legalmente são constituídas actualmente por 1 TAT e um TAS, um erro grave onde antigamente eram de 2 TAT e um TAS, quer as do INEM, Bombeiros ou CVP.

No Pré Hospitalar devia existir rigor e fiscalização, mas toda a gente sabe muito bem porque não existe.

Em relação ao pagamento, fica sabendo que o pagamento é efectuado pela estimativa informática pelo o SNS, que avalia o percurso desde o local da ocorrência até unidade de saúde de saúde, onde o sistema informático leva sempre em consideração o percurso mais curto, mesmo que esteja desactualizado a uma década geograficamente, e pelos preços pagos, nem vale a pena me pronunciar.

Em relação ao INEM fica sabendo que a maioria dos serviços, mesmo situações graves, eles não querem assumir a despesa, Vendas Novas é um caso, e nada garante que todas as ambulâncias INEM sejam tripuladas por TAS, para isso não existia dois preços, um com TAS e outros com TAT.

Aumento de competências das tripulações é melhor formação é uma exigência que a muito pedida a muito tempo, mas dificilmente tem sido conseguida.

9:47 da tarde  
Blogger Paulo Ferreira said...

Já agora qualquer ONG existente, não quer dizer que todas as pessoas não sejam retribuídas financeiramente pelo trabalho executado, porque tudo tem custos, e actualmente no Pré-Hospitalar os custos são elevados, porque o grau de existência para o comprimento do regulamento de transportes de doentes é elevado para as receitas recebidas pelas identidades governamentais e privadas.

Obrigada pelo tempo dispendido, no meu blog tento ser mais esclarecedor

10:07 da tarde  

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