Manuel Delgado
Uma grande entrevista à revista “Tempo de Medicina”.
MD, cada vez mais, a confirmação de reserva futura consistente para liderar o MS. link
(...) TM — Disse numa entrevista que as horas extraordinárias ainda são vistas como um complemento salarial e uma compensação pelas baixas remunerações, e que é preciso mudar essa filosofia. O «ponto» irá ajudar?
MD — Acho que o controlo de assiduidade é um instrumento, mas essa é uma questão estruturante do sistema. A questão é saber que modelo remuneratório vamos utilizar para os profissionais de saúde e quando chegaremos ao ponto em que acabamos com o álibi do «ganho pouco, trabalho pouco» ou do «ganho pouco, tenho de fazer horas extraordinárias para receber aquilo que considero suficiente». Isso são os álibis que adulteram o modelo. O médico considera-se mal pago na base (e provavelmente estaremos todos de acordo) e por isso vai trabalhar fora para ganhar mais — e aí surge o primeiro problema, que é a acumulação de funções públicas e privadas, a promiscuidade que há e a tolerância que temos todos em relação a isso, já que na Saúde é tolerável a acumulação, o que não seria, por exemplo, na actividade bancária. Por outro lado, se o médico ganha pouco de remuneração base, tenta, na própria instituição pública onde trabalha, criar condições para ganhar mais, por exemplo fazendo projectos à parte, integrando equipas de Urgência, fazendo horas extraordinárias ou prevenções.
TM — Pensa, então, que muitas das horas extraordinárias que se fazem são desnecessárias?
MD — Estou convencido de que são.
TM — Nessa entrevista disse também que os médicos têm de perder autonomia em favor da racionalidade económica. Reitera esta afirmação?
MD — Esta questão prende-se com a rapidez do acesso aos medicamentos por parte dos doentes e com a rapidez com que a inovação entra nos hospitais. E há aqui um problema, pois nem tudo o que é inovação é bom para os doentes. O facto de termos tecnologias e medicamentos muito bons e modernos não invalida que tenhamos sobre estes uma apreciação rigorosa quanto à sua utilização. E nos hospitais, tal passa por um crivo muito sério das comissões de farmácia e terapêutica. Estas comissões, com a panóplia de tecnologias que já têm ao dispor dos doentes, vão aferir da oportunidade e da eficiência dos novos produtos. Há benefícios que representam um valor acrescentado muito pequeno e têm preços astronómicos.
TM — Considera que a decisão de dar ou não esse medicamento ao doente não deve ser do médico, mas sim da comissão de farmácia e terapêutica?
MD — Claro, tem de haver uma política de medicamento no hospital. O hospital não é uma selva, em que cada um exerce a Medicina que lhe apetece e utiliza os medicamentos que quer. Por exemplo, há estudos rigorosos e aprofundados sobre o uso de stents com fármacos ou stents sem fármacos. Nós fomos ao NICE, em Inglaterra, e perguntei ao responsável se utilizavam stents com fármaco; ele respondeu que as recomendações para o serviço nacional de Saúde inglês iam no sentido de que os stents com fármacos têm indicações muito precisas. Em Portugal, quando apareceram, estes stents começaram a ser adoptados em todos os centros que fazem intervenção cardíaca e neste momento em muitos hospitais já vamos nos 80% e 90% de utilização. Ora, isto é uma perfeita inutilidade do ponto de vista clínico, e significa que cada um faz o que quer. (...)
TM - Outra questão que tem levantado alguma polémica é a saída de médicos para o sector privado. Isso preocupa-o?
MD - Em parte. Quando vejo sair um médico que o hospital apoiou, acarinhou, que acrescentou valor ao hospital, não posso negar que isso deixa tristeza.
TM - E geralmente são os médicos mais diferenciados que saem…
MD - Eventualmente. Mas não me preocupa tanto o volume, porque o sector privado não tem massa crítica suficiente, são dois mundos incomparáveis. O sector público tem uma dimensão que não tem paralelo no privado, seria até um pouco infantil dizer que os médicos do público vão todos para a privada e o sector público fica sem ninguém. Agora é muito fácil ir buscar, e pagar-lhes bem, pessoas que já estão formadas, nas quais o sector público investiu -- porque é bom dizer que quando um médico aparece sénior e experiente no privado ele custou milhões de euros ao erário público e aos portugueses. Provavelmente também irá chegar o tempo em que o sector privado faz investimento na formação médica, mas até agora não é assim.
TM - Deveria haver algum tipo de compensação para o hospital que formou o médico que sai para o privado?
MD - Penso que sim, e acho que vai haver inevitavelmente um modelo contratual que estabelecerá regras muito mais transparentes e justas para a saída do sector público para o privado. Isso vai ter de existir, porque o investimento brutal que fazemos na formação médica tem de ser justamente compensado no momento em que o médico sai.
Agora não acho que haja uma sangria, há médicos bons que saem, o que é pena, mas o sector público também tem grande capacidade de regeneração, porque é nos hospitais públicos que todos fazem a sua formação.
Entrevista conduzda por Maria F. Teixeira, TM 1.º CADERNO,.12.11 07
MD, cada vez mais, a confirmação de reserva futura consistente para liderar o MS. link
(...) TM — Disse numa entrevista que as horas extraordinárias ainda são vistas como um complemento salarial e uma compensação pelas baixas remunerações, e que é preciso mudar essa filosofia. O «ponto» irá ajudar?
MD — Acho que o controlo de assiduidade é um instrumento, mas essa é uma questão estruturante do sistema. A questão é saber que modelo remuneratório vamos utilizar para os profissionais de saúde e quando chegaremos ao ponto em que acabamos com o álibi do «ganho pouco, trabalho pouco» ou do «ganho pouco, tenho de fazer horas extraordinárias para receber aquilo que considero suficiente». Isso são os álibis que adulteram o modelo. O médico considera-se mal pago na base (e provavelmente estaremos todos de acordo) e por isso vai trabalhar fora para ganhar mais — e aí surge o primeiro problema, que é a acumulação de funções públicas e privadas, a promiscuidade que há e a tolerância que temos todos em relação a isso, já que na Saúde é tolerável a acumulação, o que não seria, por exemplo, na actividade bancária. Por outro lado, se o médico ganha pouco de remuneração base, tenta, na própria instituição pública onde trabalha, criar condições para ganhar mais, por exemplo fazendo projectos à parte, integrando equipas de Urgência, fazendo horas extraordinárias ou prevenções.
TM — Pensa, então, que muitas das horas extraordinárias que se fazem são desnecessárias?
MD — Estou convencido de que são.
TM — Nessa entrevista disse também que os médicos têm de perder autonomia em favor da racionalidade económica. Reitera esta afirmação?
MD — Esta questão prende-se com a rapidez do acesso aos medicamentos por parte dos doentes e com a rapidez com que a inovação entra nos hospitais. E há aqui um problema, pois nem tudo o que é inovação é bom para os doentes. O facto de termos tecnologias e medicamentos muito bons e modernos não invalida que tenhamos sobre estes uma apreciação rigorosa quanto à sua utilização. E nos hospitais, tal passa por um crivo muito sério das comissões de farmácia e terapêutica. Estas comissões, com a panóplia de tecnologias que já têm ao dispor dos doentes, vão aferir da oportunidade e da eficiência dos novos produtos. Há benefícios que representam um valor acrescentado muito pequeno e têm preços astronómicos.
TM — Considera que a decisão de dar ou não esse medicamento ao doente não deve ser do médico, mas sim da comissão de farmácia e terapêutica?
MD — Claro, tem de haver uma política de medicamento no hospital. O hospital não é uma selva, em que cada um exerce a Medicina que lhe apetece e utiliza os medicamentos que quer. Por exemplo, há estudos rigorosos e aprofundados sobre o uso de stents com fármacos ou stents sem fármacos. Nós fomos ao NICE, em Inglaterra, e perguntei ao responsável se utilizavam stents com fármaco; ele respondeu que as recomendações para o serviço nacional de Saúde inglês iam no sentido de que os stents com fármacos têm indicações muito precisas. Em Portugal, quando apareceram, estes stents começaram a ser adoptados em todos os centros que fazem intervenção cardíaca e neste momento em muitos hospitais já vamos nos 80% e 90% de utilização. Ora, isto é uma perfeita inutilidade do ponto de vista clínico, e significa que cada um faz o que quer. (...)
TM - Outra questão que tem levantado alguma polémica é a saída de médicos para o sector privado. Isso preocupa-o?
MD - Em parte. Quando vejo sair um médico que o hospital apoiou, acarinhou, que acrescentou valor ao hospital, não posso negar que isso deixa tristeza.
TM - E geralmente são os médicos mais diferenciados que saem…
MD - Eventualmente. Mas não me preocupa tanto o volume, porque o sector privado não tem massa crítica suficiente, são dois mundos incomparáveis. O sector público tem uma dimensão que não tem paralelo no privado, seria até um pouco infantil dizer que os médicos do público vão todos para a privada e o sector público fica sem ninguém. Agora é muito fácil ir buscar, e pagar-lhes bem, pessoas que já estão formadas, nas quais o sector público investiu -- porque é bom dizer que quando um médico aparece sénior e experiente no privado ele custou milhões de euros ao erário público e aos portugueses. Provavelmente também irá chegar o tempo em que o sector privado faz investimento na formação médica, mas até agora não é assim.
TM - Deveria haver algum tipo de compensação para o hospital que formou o médico que sai para o privado?
MD - Penso que sim, e acho que vai haver inevitavelmente um modelo contratual que estabelecerá regras muito mais transparentes e justas para a saída do sector público para o privado. Isso vai ter de existir, porque o investimento brutal que fazemos na formação médica tem de ser justamente compensado no momento em que o médico sai.
Agora não acho que haja uma sangria, há médicos bons que saem, o que é pena, mas o sector público também tem grande capacidade de regeneração, porque é nos hospitais públicos que todos fazem a sua formação.
Entrevista conduzda por Maria F. Teixeira, TM 1.º CADERNO,.12.11 07
11 Comments:
Vejo aqui relectida nesta entrevista alguns dos temas que há tempo expliquei: A falsa questão de perda de autonomia na prescrição por parte dos médicos.
A cultura(tantas vezes subjugada a interesses..ocultos ou ingénuos) de evidenciar em demasia o que é novo como se de extraordinário se tratasse, e referi especificamente esta questão dos stents revestidos e não revestidos. Fico contente por haver mais alguém que partilhasse das minhas preocupações.
Subentendo também que MD abriu a porta à criação de universidades privadas de Medicina ao falar da possibilidade de instituições privadas terem a necessidade de criarem "capital humano". Até porque havendo cada vez mais hospitais privados e de maior dimensão deixar-se-á de se falar em falta de condições de qualidade para o ensino de Medicina, o que última análise aumentaria o número de médicos, diminuindo a escalada de preços pedidos pelos serviços prestados e pondo fim a algo que como cidadão encaro como um contrapoder excessivo que são os lobbies exercidos pela Ordem dos Médicos.
Há um ditado popular que é oportuno nesta fase do ciclo político que se anuncia:
"Não se apanham moscas com vinagre".
MD, tem dado uma prestimosa e algo frequente colaboração ao TM, orgão de divulgação de temas de Saúde, com uma vasta distribuição entre os médicos.
A entrevista ao TM é extensa e vamos focar, para não nos estendermos muito, as questões que, de modo candente, atingem os médicos. Não só de agora.
Fazem parte de um longo processo que é datado, isto é, diz respeito às alterações que foram ocorrendo na administração e gestão dos HH's, nos últimos anos.
Mais, coincidem com outra circunstância: a ideia de que o MS, como sensível área social que é, não deve ter uma condução política, mas sim tecnicista para a qual os AH's, os economistas, os gestores estariam particularmente predestinados.
MD, nem pelo teor das intervenções, nem pela apresentação de soluções, parece estar - como em entrelinhas o Xavier sugere - em plena caminhada para a João Crisóstomo.
Dá a nítida sensação de "mais do mesmo".
Isto, partindo do princípio que a mudança de direcção é inevitável.
O que, como sabemos, não é um dado adquirido.
CC, apesar de todos os deslizes políticos que protagonizou no MS, tem sido um solidário camarada na caminhada orçamental deste Governo.
Isto para Sócrates pode bastar!
Há afirmações, que pela sua redundância são a concretização de estilo especulativo, aparentemente subtis mas, na realidade, tremendamente depreciativos, sobre os processos de gestão de recursos humanos.
São, em minha opinião, meras especulações ou, pior, acintosas generalizações que, de facto, mais não pretendem do que lançar anátemas sobre grupos profissionais.
Pretendem exorcizar poderes fátuos.
Se não vejamos:
Parte do princípio que o médico está mal remunerado na base ("O médico considera-se mal pago na base (e provavelmente estaremos todos de acordo)". MD "cola-se" aqui a CC que deixou "no ar" esta afirmação na deslocação aos HUC (Coimbra), onde falou muito sobre "controlo biométrico".
A partir deste pressuposto - para o qual não propõe qualquer solução - começam as acusações.
Primeiro, aquela de comparar um Hospital a um Banco é, em termos psicologia comparada, sintomática. Não vamos dissecá-la por ela encerrar no seu seio suficiente carga alienante e espelha a visão financeira das prestações sociais da Saúde. Aliás, sobre o equívoco das remunerações, MD deve possuir - como presidente da APAH - dados sobre o pessoal (médico, gestores, etc.) contractualizados pelos Hospitais Privados já em funcionamento. Adiante.
Depois, o conceito de promiscuidade relativo à "não-separação", nas práticas clínicas, entre instituições públicas e actividades privadas. Promiscuidade será não separar estas águas. Estou convicto que a grande maioria dos médicos o faz, mais, beneficia com essa distrinça.
Convém, no entanto, adesivar a ideia de "promiscuidade" aos médicos, na generalidade. Depois deste rótulo, parte-se para todas as suposições, fundamenta-se a "domesticação" em termos laborais, interfere-se nos ritmos e nos tempos de realização actos clínicos e lavantam-se a desprósito constragimentos técnicos, etc.
Em nome de quê:
Na convição que a luta pela tal abolição da "promiscuidade" traz um inevitáveis aumento de produtividade.
Ah! E, então, esqueçamos o tal vencimento base...sobre o qiual vamos dizendo umas "coisinhas" para empalear.
Estamos, de modo directo ou indirecto, mas sempre ligeiro, a falar de 30% do PIB afecto à Saúde.
Não é?
Já agora, os AH ou economistas que trabalham no SNS e que são sócios ou colaboram com empresas de consultoria na área da saúde, são também "promíscuos"?
Para além deste "ferrete" da promiscuidade vem um outro. Os médicos para "alargar" a tal parca renumeração base (que se reconheçe, mas ignora-se) lançam-se a inventar urgências. Estes maleóvolos criam falsas necessidades nos HH's.
Se compararmos os números de actos praticados nos serviços de urgência hospitalares (diferentes de urgências reais) com os dos HH's europeus das 2 uma:
- Ou estamos à espera de um galhardão Guiness a Portugal;
- ou temos que arranjar outras justificações (a montante).
Mais uma vez todos sabemos, que existem, nomeadamente na área das prevenções (de determinadas prevenções) situações atípicas e a reformular. Mas continuamos a confundir a árvore com a floresta.
Infelizmente as urgências continuam a resolver, em todo o País, em todos os HH's com serviço de urgência de porta aberta, problemas de rotina. Muitos agudos, outros nem isso.
Finalmente, as Comissões de Farmácia e Terapêutica Hospitalares (CFT)
O circuito do medicamento hospitalar é muito complexo. Todos os médicos hospitalares recorrem às CFT quando precrevem medicamentos extra-formulário. É uma prática de há muitos anos, sem problemas. Os conflitos entre o médico prescritor e às CFT contam-se pelos dedos.
O problema são os critérios, tanto de prescrição como de decisão.
No processo de decisão, o fundamental, na minha opinião, é a isenção, a equidade e a competência técnica destas Comissões.
Aliás a legislação diz que as CFT devem integrar "recursos humanos com conhecimentos técnico-científicos específicos" que contemplem um triplo objectivo:
1.) a racionalidade de custos (que MD tanto distingue e salienta)
2.) a uniformização de critérios;
3.) a eficácia no tratamento dos doentes.
Penso que os AH's não se incluem entre os recursos humanos com conhecimentos técnico-científicos específicos para estas funções que estão atribuídas às CFT's definidas ainda no tempo de Luis Filipe Pereira.
Elas devem integrar em partes iguais médicos e farmacêuticos.
Pelo que a seguinte afirmação de MD (para todos os efeitos um AH):
"Há benefícios que representam um valor acrescentado muito pequeno e têm preços astronómicos." pode ser uma incidental farpa sobre os custos da assistência medicamentosa, uma desconfortável desilusão sobre resultados terapêuticos esperados, ou uma simples aleivosia.
O fim de semana que se desenrola ensolarado e ameno, com o S. Martinho à mistura, não me permite dissecar melhor esta entrevista, nomeadamente, na área da formação médica, que mostra haver muito tempo passado em gabinete e pouco nos serviços clínicos (urgências incluídas), isto é, na cabeceira do doente, onde o essencial se decide e muitos dos formandos dão o "litro".
Fiquei sem perceber... são os médicos mal remunerados ou não?
Não são assertivas as críticas de MD ("Há benefícios que representam um valor acrescentado muito pequeno e têm preços astronómicos") nomeadamente quanto aos stents revestidos e não revestidos?
Nega-se a evidência de que não se deve sobrecarregar o médico com demasiadas decisões burocráticas que só o desviam da sua real vocação que é lidar com doentes deixando a parte gestora para profissionais devidamente habilitados (AH)?
A sua intervenção, nomeadamente em relação à utilização do medicamento,parece-me certíssima.
Hoje em dia, se tivermos em atenção as melhores práticas, a prescrição de medicamentos deixou de ser prerrogativa exclusiva do médico. Nela devém intervir um conjunto de técnicos com o objectivo de conciliar a melhor eficácia terapêutica à eficácia económica.
Por sua vez, a utilização de novos farmacos deve obedecer a critérios rigorosos tendo em vista a determinação da sua verdadeira eficácia, as vantagens terapêuticas, face aos custos cada vez mais exorbitantes.
Trata-se afinal de intoduzir critérios de gestão clínica numa área dominada até à bem pouco tempo pelo critério clínico único do médico assistente (como se tem vindo a provar em todos os países não é exclusivmente clínico), de forma a conseguir uma melhor racionalização dos reursos, única forma de poder estender a prestação de cuidados a toda a população.
MD mantém com os órgãos de comunicação social uma disponibilidade permanente, traduzida em intervenções quase diárias, opinando com elevado grau de acerto sobre tudo o que mexe na Saúde.Isto é, por vezes, uma arma de dois gumes.
MD tem provado saber conduzir o barco.
Chama-se a isto saber gerir a carreira.
MD saberá muito bem para onde quer ir. Falta saber se disporá de condições favoráveis. (CC só à segunda conseguiu uma situação estável).
Se as coisas correrem mal, talvez ganhemos mais um razoável jornalista da saúde.
MD tem tomado nos últimos anos algumas posições corajosas se bem que a favor das posições do ministro da saúde.
Foi o caso da crítica à rentabilidade dos médicos de família; ao grau de autonomia dos médicos assistentes, no que concerne à prescrição de medicamentos; ao referir que vai pôr médicos na mobilidade especial.
Estes assomos de coragem poderão ser também interpretados como um sinal para José Sócrates, na eventualidade do primeiro ministro se ver obrigado a mudar de pneus na Saúde.
Uma interpretação mais realista da actuação de MD desde que CC é ministro da saúde,só poderá concluir que o presidente da APAH tem sido uma preciosa ajuda, atacando determinados sectores onde o ministro pretende introduzir reformas.
O futuro a Deus pertence.
O próximo ministo da saúde é ainda uma grande incógnita, uma vez que CC está para lavar e durar.
"porque é bom dizer que quando um médico aparece sénior e experiente no privado ele custou milhões de euros ao erário público e aos portugueses".
Isto foi dito em plena consciência ? ou é demagogia barata ?
Ficaram-lhe foi a dever muito dinheiro e ele, farto de dar para o peditório pôs-se a caminho como quaquer outro profissional de outra área.
Um médico custa dinheiro ao Estado na licenciatura e nos 1ºs anos da especialização - a partir daí, graças ao Senhor, passa a dar lucro, naturalmente.
Mas perguntem-lhe se ele está dispodto a financiar de forma diferente os Serviços do Curry Cabral que fazem formação e os que não fazem ?
Ele quer é mais consultas. mais cirugias, mais transplantes - mais e mais - mas eles têm de ser feitos por quem sabe.
Quem não sabe, chapéu !
Sempre que MD espirra os AH’s são acometidos de uma epidemia de gripe!
O que é compreensível tantos e tantos foram os anos de uma protecção corporativa apoiada na ENSP e na APAH. Assim se comprendem a generalidade dos aplausos às suas tiradas!
E são conhecidos, desde há muitos anos , os “desamores” entre os Médicos e os AH’s. E mesmo quando o Director do Hospital passou a ser um Clínico, eram os Administradores Delegados os donos da loja (nos então HH SPE’s ). Não surpreendeu, portanto, o pavor com que em 2002 viram chegar aos HH SA's gestores com novos perfis e novos olhares sobre a gestão hospitalar.
E logo surgiu MD a clamar contra a competência de LFP e dos gestores por ele nomeados.
E quantos disparates lhe saíram da boca para fora, santo Deus!
Com a "repescagem" de CC para MS logo os AH (como se verificou aqui no Saúde SA) vieram dizer: António, tens aqui a tua gente! E não tardaram a ser engordados os quadros dos HH com novos AH's, autêntico remake dos célebres "jobs for the boys".
Voltaram assim, e sem grande demora, os HH a ser "enxameados" com AH's. Os novos gestores logo chamaram os seus "subditos" para junto de si!
Mas, pior isso, é constatar-se que, muitos deles, são desnecessários e incompetentes.Os escolhidos estão, na maioria dos casos, longe de serem os melhores;e nem sempre se percebeu com que critérios foram admitidos. Ao mesmo tempo, outros, bem melhores e até (alguns) autores de brilhantes de comentários neste blogue foram preteridos.
Com Conselhos de Administração recheados de AH, MD já não tem desculpas pelos frequntes fracassos da gestão.
Volta-se então para os seus velhos "inimigos" - os médicos. E, assumindo-se como o super homem, pretende mesmo dar-lhes lições sobre o modo de exercerem a sua profissão. Acusa-os de receberem remunerações injustificadas e de serem os verdadeiros reponsáveis pelos elevados custos da saúde.
O que MD não refere são os maus resultados da sua gestão no HPV, que nem mesmo a roupagem dos "relatórios de gestão" consegue esconder.
PS: só um exemplo: lembram-se dos carros de luxo dos HH SA's? Como procedeu nessa matéria MD enquanto Pres. do CA?
Sobre a eventual corrida de MD para a João Crisóstomo acho oportuno rferir esta resposta de Miguel Beleza ao Semanário económico
Num cenário de fusão quem seria o melhor CEO?
Conheço bem Fernando Ulrich e Filipe Pinhal. Gostaria de ver o Filipe Pinhal durante os primeiros cinco anos. Fernando Ulrich é muito bom, mas ainda é verde.
O bastonário da Ordem dos Médicos classificou de «provocação» a instalação de aparelhos de controlo de assiduidade dos médicos através de impressão digital nos Hospitais e Centros de Saúde, considerando que este sistema introduz «rigidez» e «diminuição» da produtividade.
«Esta medida vai criar rigidez nos serviços, diminuindo a produtividade, mas não vamos contestar porque entendemos que é quase uma provocação, um insulto aos médicos», disse à Agência Lusa Pedro Nunes, acrescentando que «se o ministro da Saúde quer destruir o Serviço Nacional de Saúde isso é com ele».
As declarações do bastonário surgem no seguimento do anúncio feito em Setembro pelo ministro da Saúde, Correia de Campos, de que até ao final do ano todos os hospitais e centros de saúde vão ter instalados aparelhos de controlo electrónico de assiduidade dos médicos, os chamados dedómetros.
O hospital de Santa Maria, em Lisboa, o hospital do Montijo e a maternidade Alfredo da Costa são alguns dos locais que já têm em funcionamento o controlo electrónico de assiduidade dos médicos.
«Já está na altura de deixar de disfarçar as incapacidades da sua política passando a mensagem para a opinião pública que são os médicos que não querem trabalhar», argumentou Pedro Nunes, adiantando que a medida introduzida pelo Governo resulta de «uma absoluta incompetência de gestão do ministro da Saúde, que vai dificultar a forma como as equipas se organizam e como se organiza o trabalho».
De acordo com o bastonário da Ordem dos Médicos, «a maior parte dos médicos trabalham muito mais nos hospitais e centros de saúde do que lhes pagam e se começar a haver um relógio de ponto rígido, com hora de entrada e de saída, seguramente os médicos vão trabalhar menos».
Pedro Nunes acusou ainda o Governo de procurar «diminuir a produtividade de modo a reduzir o custo com o sistema para que o ministério pague menos».
Luís Miguel Santiago, médico do centro de saúde de Eeiras, em Coimbra, manifestou-se contra o controlo horário biométrico, alegando que o facto das pessoas passarem pelo «pontómetro», não implica que «essas pessoas tenham estado a produzir».
«Seria mais útil que as chefias soubessem orientar e motivar mais os médicos», disse.
«Se o que se pretende é um controlo, não é o relógio que vai fazer esse controlo, o que interessa saber é o que as pessoas estão a fazer», justificou.
Opinião contrária aos profissionais têm os utentes, que na sua maioria consideram a medida positiva.
«Acho que controlo deve haver em todo o lado e nos médicos sobretudo para ver se conseguimos reduzir a lista (de espera) que temos», defendeu Manuel Lopes Ferreira, utente do Centro de Saúde de Oeiras.
Tânia Vasco partilhou a ideia de Manuel Ferreira, garantindo que muitas vezes precisa de marcar consultas e não pode fazê-lo porque a sua médica «não se encontra».
Já António Pagonis afirmou que o serviço se poderá tornar mais eficaz e lembrou que «muitos médicos não cumprem porque vão trabalhar a outros sítios e o utente está mais tempo à espera».
DD 12.11.07
"Nega-se a evidência de que não se deve sobrecarregar o médico com demasiadas decisões burocráticas que só o desviam da sua real vocação que é lidar com doentes deixando a parte gestora para profissionais devidamente habilitados (AH)?"
Primeiro pensamento: raramente tive oportunidade de ler uma argumentação tão espúria.
Depois,
Pensava eu, que as “vocações” – nos tempos que correm – encaixavam-se, preferencialmente, nas profissões místicas que por aí proliferam;
Pensava eu, que as decisões das CFT’s eram decisões eminentemente técnicas a ser tomadas por profissionais habilitados;
Pensava eu, que outras virtudes dessas Comissões, como por exemplo, a equidade e a racionalidade, são atributos de qualquer profissional da Saúde;
Pensava eu, que a parte burocrática numa comissão seria da competência administrativa (e não da gestão);
Pensava eu, que lidar com doentes era, fundamentalmente, fazer a gestão da doença;
Pensava eu, que a gestão médica dos serviços não devia - para salvaguarda dos doentes - ser abandonada aos “bichos”;
Pensava eu, que se calhar – antes de continuar a lidar com doentes – deveria inscrever-me na Escola Nacional de Saúde Pública.
Pensava eu, finalmente, que, com concepções deste teor (onde está a evidência?), o SNS não vai longe.
Pensava eu... que a gestão "médica" já deu provas da sua eficiência e eficácia no passado.
Pensava eu... que os profissionais técnicos da saúde: enfermeiros, médicos , técnicos de diagnóstico e terapêutica, entre outros, estariam principalmente vocacionados para lidar com pessoas( e não só doentes), que apesar de terem necessidade de terem conhecimentos na área de gestão e adminitração de serviços não podem ambicionar, nem o devem esperar, ter a mesma competência de alguém especialmente formado para gerir (supondo que estão mesmo habilitados para tal, mas não é isso que está aqui em questão).
Penso eu... que isso da vocação não pode ser associado a "habilidosos" mas sim algo que, podendo não ter-se inicialmente pode ser adquirido e espanta-me até que alguém que é também um "artista" (ou não é a Medicina também em parte uma arte?) possa produzir afirmações deste teor.
E não percebo como pode chamar a minha argumentação de espúria.
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