sábado, janeiro 5

Pantomineiros



«Uma doente deu entrada na Urgência do Hospital de Aveiro pelas 14:00 e, na fase de triagem, foi-lhe atribuída a cor amarela, pelo que teria de ser observada por um médico no espaço de uma hora . Quando finalmente ia ser observada por um médico, pelas 17:45, três horas e 45 minutos depois de ter dado entrada, estava morta. »

«A direcção clínica do hospital já reconheceu a sua responsabilidade por esta ocorrência.» link link

Entretanto, o bastonário substituto da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, «responsabilizou o Governo e o primeiro-ministro pela morte da idosa do Hospital de Aveiro, atribuindo a situação à sobrecarga da urgência, e ilibou a unidade de saúde e os profissionais.»

Por sua vez, o líder do PSD, Luís Filipe Menezes, aludiu ao caso da morte de uma paciente, em Aveiro, para referir "estar a aumentar a pressão de hospitais que não estão preparados para receber mais pessoas”.

Também Cláudia Pereira, porta-voz da comissão de utentes do HDA, responsabilizou o ministro da Saúde pela morte da idosa. "O aumento de utentes em virtude da política de encerramento de serviços não foi acompanhado de melhor resposta da urgência. Provou-se que o serviço não pode ser bem prestado".

Dava jeito entalar CC.

7 Comments:

Blogger e-pá! said...

Na situação do Hospital de Aveiro todos - mas mesmo todos - estão a falar à mão.
Para além da assumpção de responsabilidades da direcção clínica, cuja atitude é de louvar por não ser comum, julgo que haverá um inquérito em curso. O resultado desse inquérito deve ser público e não um trunfo na manga do MS, que o utiliza quando convém.
Além disso, na altura que todos prestaram declarações niguém conhecia em definitivo a posição da família, fundamentalmente, se paraticipará (ou não) ao MP.

Mas CC, vai-se entalando aos poucos.
Ontem ficamos a saber algumas "novidades" na entrevista prestada pelo presidente da Câmara de Anadia, p. exª:
O ecocardiografo que iria lá por, já lá está há 2 anos;
A "visita de estudo" a Hospitais da Andaluzia deixou o ministro em Elvas e não entrou em nenhum hospital.

Finalmente, segundo um médico que trabalha no referido hospital, e em declarações no mesmo jornal da RTP1, o pessoal médico clínico, em serviço, é constituidos por 15 elementos. Porque foi avançado o número de 30?

Se isto não for um "entalanço", então o esclarecimento dos factos pode ser um apito!

Nota Final:
E o cúmulo de tudo isto, é que, provavelmente, todas as propostas do Ministro, sobre o futuro do Hospital de Anadia, têm razão de ser.
Mas explicar, justificar, não é embrulhar tudo.
Como justificar a passagem da mensagem se CC ainda não conseguiu "convencer" Manuel Alegre?

1:21 da tarde  
Blogger Clara said...

A DEMAGOGIA NÂO SALVA VIDA: MATA!

Debate urgente

Há um hospital no Canadá que só opera hérnias. link

É uma espécie de fábrica especializada onde se realizam milhares de operações destas: cada cirurgião trata entre 600 a 800 hérnias por ano, muito mais do que um cirurgião normal tratará ao longo de toda a sua vida. O resultado reflecte-se nas estatísticas: neste hospital privado, a operação demora um terço do tempo a ser executada, custa metade do que em qualquer outro sítio e tem uma taxa de insucesso (recorrência) de apenas 1%, contra os 10 a 15% habituais. Resumindo: a prática e a repetição são essenciais para o êxito em medicina. Sem elas, o risco para a saúde dos doentes aumenta dramaticamente.

Vem isto a propósito do fecho das urgências em Portugal. Ontem, a morte de uma octagenária no Hospital de Aveiro voltou a lançar gasolina sobre a ferida. A doente entrou na urgência às 14h00 e, na fase de triagem, foi-lhe atribuída a cor amarela: teria, por isso, de ser observada por um médico no período máximo de uma hora. Não foi, no entanto, o que aconteceu: quando ia ser vista, três horas e 45 minutos depois de ter dado entrada – muito fora do prazo –, já estava morta. Neste caso, o erro e o desmazelo do hospital são chocantes, mas será que o encerramento das urgências é a principal justificação para o que aconteceu no Hospital de Aveiro, como acusa a Ordem dos Médicos?

Só uma investigação séria responderá à questão com propriedade. Só nessa altura saberemos se o encerramento da urgência da Anadia foi ou não compensada com o reforço dos médicos no Hospital de Aveiro para responder ao aumento previsível da procura naquela região. De qualquer maneira, sobra a questão de fundo – e essa já tem resposta: a reforma desencadeada pelo ministro da Saúde faz todo o sentido. Fechar as urgências que não têm meios capazes de responder aos problemas com que são confrontadas é uma inevitabilidade. Ao contrário do que parece, ter um ‘hospital de campanha’ em cada lugarejo ou vila pode dar alguma tranquilidade, mas é uma falsa e perigosa tranquilidade.

Hoje, a medicina exige meios de diagnóstico e tratamento que, pelo seu custo, não estão disponíveis em todo o lado. O país não é rico, tem de gerir os seus recursos (é curioso como este ideia simples é desprezada). Manter aberta uma urgência, que depois inevitavelmente chuta os doentes para o hospital adequado, é uma desperdício de tempo que se traduz em vidas perdidas ou outras sequelas. Dito de outra maneira, as ‘falsas urgências’ são o problema, não a solução. A prática dos médicos – como as hérnias do Hospital canadiano – e a existência de meios técnicos actualizados são condições essenciais para uma boa saúde pública. O resto é demagogia. E a demagogia não salva vidas: mata
André Macedo, DE 04.01.08

Felizmente começa a haver alguns temas da saúde devidamente tratados por alguns jornalistas esclarecidos.

7:06 da tarde  
Blogger tambemquero said...

ESTAMOS naquela altura do ano.
Os jornais e telejornais contam histórias inspiradoras, histórias de coragem e heroísmo, de sobrevivência e bondade, e daquilo a que Hemingway chamava «grace under pressure», a capacidade de manter uma certa graça na adversidade e na tragédia.

A minha história não é inspiradora nem alegre. Começa num hospital público, o Hospital Pulido Valente, onde fui visitar uma doente no Dia de Natal. Estava a chover, um céu de chumbo vergado a água, e a cor do dia não ajudava à paisagem terminal de um dos hospitais mais tristes que conheci na minha vida. Há quase trinta anos visitei aquele hospital todos os dias e recordo a impressão amarga que aquelas paredes e corredores e enfermarias deixaram em mim. Um asilo vitoriano, saído da revolução industrial e dos romances de Dickens, com fumo e vapor a escapar dos respiradouros e dos canos, cheiro a humanidade e febre, arbustos de cor indefinida e paredes de verdete. Deficiente iluminação, janelas cegas, lâmpadas esbranquiçadas que fazem dos doentes moribundos. Não há em todo aquele hospital uma partícula de alegria, nunca houve, nunca haverá.

Ao regressar, concebi a ideia idiota que o hospital estaria melhorado. Estamos no século XXI, ministros e ministros foram afirmando com sorrisos que iam transformar o Serviço Nacional de Saúde, moralizá-lo.

O SNS foi, até ao dia em que escrevo, a melhor e mais séria criação do Partido Socialista em toda a sua democrática existência. Devia ser uma coisa que qualquer socialista teria orgulho em apresentar e preservar. Melhorar e racionalizar. Moralizar, e sublinho a palavra moralizar. Os portugueses não se importariam de pagar um pouco mais, em vez de serem explorados pelas seguradoras, se tivessem acesso a um sistema mais honesto e racional, que não se alimentasse do desperdício e da mediocridade, da burocracia e do laxismo.

A grande ameaça, incluindo a ameaça socialista, é a de extinguir o SNS. Ou reservá-lo para os pobres e miseráveis, o que começa a acontecer.

Nunca consegui perceber exactamente o que quer o PS fazer com a sua criatura.
Consegui, em todo o caso, como utente e como visitante do SNS, perceber que em décadas de dinheiro mal gasto em faustosos equipamentos culturais e afins, vazios e desertos, hospitais como o Pulido Valente continuam a ser uma «piolheira», como diria o rei D. Carlos. Mais decadente e mais velho do que há trinta anos.

Enquanto os privados abrem hospitais do século XXII, os públicos mantêm hospitais do século XIX.

É preciso um certo heroísmo para se ser um doente num lugar destes no Dia de Natal, e o pessoal de serviço comporta-se heroicamente como se não estivessem num asilo para desgraçados. Europa? A Europa não chegou ali. Aquilo é Terceiro Mundo.

A doente que fui visitar tem uma perna amputada e é diabética. Como todas as pessoas mutiladas, a sua vulnerabilidade é imensa, à mercê da generosidade de estranhos, como a Blanche Dubois de Tennessee Williams. Ia morrendo, parece que tinha um coágulo numa perna, depois de uma TAC que demorou semanas a ser feita.

Conta, com a resignação dos desesperados, que o médico do Hospital Fernando Fonseca, onde estava a ser seguida, recusou-se a vê-la depois de horas à espera na consulta para mostrar um exame feito noutro hospital. Com as palavras: escusa de estar aí que não a vejo, não sou obrigado a vê-la, tenho uns 40 doentes e só sou obrigado a ver 15.

Se ele tivesse visto o exame a tempo, a doente a tempo, em vez de lhe marcar consultas e exames para daí a meses, talvez ela não tivesse sido operada de repente para lhe colocarem um cateter na perna que lhe resta, salva in extremis pelo cirurgião vascular. Talvez não tivesse passado o Natal no hospital vazio, ouvindo a chuva bater nos vidros.

O médico acabaria por vê-la perante a insistência de outros, e a gravidade do caso. Um ano antes, dando-lhe alta dois dias (!) depois da amputação, o médico teria dito «Isto aqui não é um hotel».

E eu que pensava que o exercício da compaixão era nos médicos uma segunda natureza. Estes e outros exemplares por aí andam, atormentando doentes atormentados, exercendo uma autoridade despótica sobre quem não pode defender-se por ser fraco. Doente. Pobre.

Outros médicos acabam por salvar os doentes que estes médicos condenam. Outros doentes não chegam a ser salvos e morrem ou são maltratados sem que a sua voz se faça ouvir.

No europeu século XXI, o SNS está dividido entre as bestas e os anjos, entre os que têm «cunhas» nos hospitais e os que não têm.

Entre o público, o privatizado e o privado.

No site, o Hospital Fernando Fonseca, privado com parceria pública, lê-se o lema A Razão do Nosso Empenho é o Doente. E o Hospital tem por missão «ser o Hospital de referência em Portugal pela consistência da qualidade dos cuidados prestados e do respectivo nível de serviço, pela excelência técnica, reputação e elevada motivação dos profissionais, por um sólido desempenho económico que permitirá o desenvolvimento sustentado da organização». «Valores do Grupo José de Mello Saúde».

Isto quer dizer apenas que o Estado paga ao Fernando Fonseca a gestão privada dos doentes do SNS, os doentes que o hospital trata e os que maltrata.

Clara Ferreira Alves, expresso 05.01.08

9:49 da tarde  
Blogger e-pá! said...

Segunda-feira, no "Prós e Contras", CC tem uma grande oportunidade de esclarecer para onde vai o País em questões de saúde...

Ninguém me pediu qualquer opinião, mas não me coíbo de antecipar o que acho essencial que seja dito, redito e publicitado.

É fundamental que CC faça 3 coisas:
1 - esclareça sobre a necessidade e o âmbito da reestruturação das urgências;
2 - sossegue a "revolta" que grassa.
3 - dê uma visão realista do "day after".

Mas adiantaria outras achegas:
O MS tem de aproveitar o ensejo para falar claro, directo e pedagogicamente, para esses portugueses que o criticam, que estão revoltados, que não se conformam, que estão inquietos, que mostram um profundo desassossego.

O MS não deve, também, cair em 2tentações:
a) desafiá-los (aos utentes e os autarcas),
b) nem mostra-se arrogante.
Sugestão: Leia ou releia, antes do programa, para descontrair, a entrevista de Ferro Rodrigues à Visão.

A primeira coisa que se aprende no Teatro (falo de Teatro porque é um dos meus "amores") é a importância de saber quem está sentado na plateia.
Se estiver uma velhinha de 90 anos, quase cega, praticamente surda, sentada na última fila, tenho de procurar colocar-me debaixo dos projectores, fazer gestos largos e projectar a voz. Se for uma tenager na 1ª fila, junto ao fosso da orquestra, insinuo gestos, procuro rondar a penunbra, falo baixinho, cicio.
Na TV, é semelhante. Só que a plateia é muito vasta,são milhões de portugueses.
Mas, neste momento, estão a plateia atenta, são utentes que, por uma ou outra razão, se consideram injustiçados.
O problema que se arrasta penosamente, não está arrefecido. Pelo contrário, entrou em 2008, ao rubro.

Finalmente, espero que o MS não caía na tentação de responder politicamente ao PR que, ab initio, levantou a questão. Como já escrevi, estou convicto que a questão visava o PM, deixe-o, portanto, ficar com toda a liberdade para responder.

12:09 da manhã  
Blogger Unknown said...

Penso que se deveria inquirir a directora clínica sobre as suas declarações acerca da triagem feita pois esta quando diz:


Maria de Lurdes Sá (directora) reconheceu que o prazo para o atendimento foi "largamente ultrapassado", atingindo quase as quatro horas e considerou que, perante o desfecho do caso, "seria talvez de atribuir uma pulseira vermelha". (FONTE : RTP)

Urge instruir esta directora acerca dos princípios da Triagem de Manchester

6:21 da manhã  
Blogger Clara said...

Há muitos profissionais da Saúde, honestos

Decisão surge na sequência da morte de idosa link

A direcção clínica do Hospital Distrital de Aveiro (HDA) decidiu fazer alterações no atendimento dos doentes na urgência depois da morte de uma idosa, a 2 de Janeiro, após quatro horas numa maca sem ser observada por médicos. A partir de amanhã, logo após a triagem de "Manchester", a cargo de enfermeiros, os utentes sinalizados com fitas amarelas (urgências intermédias) passam a ser "imediatamente encaminhados para uma avaliação médica", informou a directora clínica, Lurdes Sá.

É reforçada a prioridade em relação aos que inspiraram menos cuidados (azuis e verdes). Far-se-á a observação "imediata" dos casos mais graves (vermelho e laranja).

Até aqui, os doentes da urgência, a seguir à triagem, eram encaminhados para as áreas de observação por médicos de clínica geral (fitas azuis e verdes), enquanto os mais graves (fitas amarelas, cor de laranja e vermelhas) estavam a cargo de especialistas, em menor número.

"Pode ter acontecido que fosse alterada a prioridade, com menos urgentes a passaram à frente de outros a inspirar mais cuidados, devido a exames que demoram tempo", disse a directora clínica. Pode ter sido esta uma das razões que motivou a falta de atenção à mulher de 85 anos que deu entrada na quarta-feira, às 13.50, e esteve até às 17.45 sem ser vista.

As mudanças são feitas para que "nunca mais aconteça" outro caso como este. Embora sinalizada com fita amarela (urgência intermédia), que implicava um período de atendimento recomendado de uma hora, Albertina Mendes, por motivos ainda em fase de averiguações internas, foi esquecida e acabou por morrer.

Agora, e com excepção dos utentes mais urgentes, que são vistos de imediato, "prioritários são sempre os amarelos", vincou Lurdes Sá. Estes doentes vão ser reavaliados por médicos de clínica geral "ou outros, consoante a disponibilidade, mas sem alterar a ordem como devem ser observados".

A directora clínica espera que o serviço volte a ganhar a confiança dos utentes. "Não queremos as pessoas alarmadas, foi uma excepção, já que a maioria das vezes corre bem", disse, admitindo que a urgência tem sentido "muita pressão" na afluência, e que os meios humanos foram reforçados "até ao limite do possível".
DN 05.01.08

3:57 da tarde  
Blogger Clara said...

Pantomineiro perigoso

Declarações do mais baixo nível, indignas de um bastonário, mesmo substituto. link

José Manuel Silva, bastonário em exercício da Ordem dos Médicos, afirma que José Sócrates é quem manda na Saúde, diz que a doente que morreu na Urgência do Hospital de Aveiro já percebeu as medidas e a política do ministro da Saúde e não tem dúvidas em dizer que o Serviço Nacional de Saúde está a ser destruído. Em nome de um perigoso pacto de regime entre o PS e o PSD para garantir os investimentos privados.
entrevis de JMS, CM 06.01.08

4:47 da tarde  

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