terça-feira, janeiro 1

SNS, Requalificação da Rede de Atendimento


I - Algum trabalho de casa ter-lhe-ia permitido, para além de conhecer os membros da Comissão Técnica de Apoio Processo Requalificação das Urgências (CTAPRU), rever o Relatório técnico final da comissão link , acessível no portal da saúde e reler o comunicado 2/2007 (link) , sobre "Requalificação das Urgências e alegado encerramento de Serviços". Veria que são médicos de reconhecido mérito na área da urgência, para além de serem pessoas independentes, e que muitos trabalham e vivem em sítios como:
Vila Real (Fernando Próspero), Abrantes (J. Pratas Barata), Viseu (Alexandra Guedes), Sines (Adelaide Belo), Portimão (Pedro Quaresma) os outros trabalham H. S. Francisco Xavier (Luis Campos), H. Santo António (António Marques), H. Feira (Jorge Teixeira), CHC (José Manuel Almeida), H Amadora-Sintra (Paulo Telles Freitas).
Quanto à substância:
1.º Os critérios da requalificação da rede de urgência são conhecidos, a proposta de pontos de rede pela Comissão também é conhecida, foram discutidos publicamente durante longo tempo, a ANMP foi ouvida, foram estabelecidos protocolos, chegou a hora de os fazer cumprir para que não fique como dantes, vide
Rede de 2001(link);
2.º Começaram a ser colocados no terreno meios de emergência pré-hospitalar, o INEM viu-se obrigado pelas circunstâncias a abrir mão de um modelo de emergência centrado nos médicos, o que já de si é muito positivo, o INEM triplicou o número de efectivos com este Governo;
3.º O Call Center nacional, Saúde 24, entrou em funcionamento em Abril de 2007;
4.º Iniciou-se a implementação das Vias Verdes Coronárias e do AVC, primeiro no Algarve link link e depois no Alentejo (2.º semestre de 2007) link;
5.º Iniciou-se a dessapização do país, a propósito recomendo-lhes um artigo de Luis Rebelo na Revista Portuguesa de Clínica 1997:14,250-264, fazendo reverter as horas despendidas em consultas personalizadas para atendimento fora de horas, começando finalmente a separar o atendimento não programado da doença aguda das verdadeiras urgências (para bem dos doentes e dos médicos);
6.º Iniciou-se a formação de USF's demonstrando que a acessibilidade pode ser garantida pelos CS.
"Alguma destas senhoras e/ou senhores sabe o que é "estar" horas à espera num SU depois de "bem mais de meia hora" de viagem por estradas que, sobretudo em época de chuva, gelo e nevoeiro, são uma constante ameaça à integridade de quem por elas (assim) se vê obrigado a circular, nomeadamente durante a noite?"
Não sei se vive fora de uma grande cidade, pela forma como escreve, espero que sim. Também eu vivi e trabalhei, bem no interior do país, durante 14 anos, fartei-me ver doentes urgentes, traumas, avc´s, enfartes, insuficiências cardíacas, lesões várias, andarem a percorrer a via sacra do SAP, de um falso Serviço Médico-Cirúrgico (tipo Anadia, Chaves, Peso da Régua), até serem enviados para um Serviço Médico Cirúrgico ou Polivalente.
Doentes atendidos em SAP, por um excelente clínico (MGF), acompanhado de um enfermeiro, ainda sou do tempo em que o enfermeiro era uma ajudante de enfermagem, de um estetoscópio e de material de sutura, depois lá veio um electrocardiografo, mas o rx e as análises nunca chegaram a não ser para ver a glicémia e a urina II, lá iam de Bombeiros, as vezes acompanhados por um médico, no SAP não ficava ninguém, se fossem religiosos lá iam pelo caminho a rezar para ver se o doente lá chegava vivo. Será a isto que queremos condenar os que estão em piores condições de acesso aos serviços, a morrerem de mortes evitáveis, a ficarem com sequelas evitáveis.
Os hipócritas sempre preocupados com a saúde dos mais desfavorecidos, nestes casos os do interior ou das pequenas localidades, mas sempre calados perante a evidência de desigualdades com esta, enchem a boca, concerteza que não é o seu caso, com a preocupação pelos mais desfavorecidos, pelos do interior e estão a condená-los muitas vezes a morte e a sequelas evitáveis. Todos sabemos que nas situações de urgência/emergência, o que necessitamos é de um bom serviço de emergência pré-hospitalar, suporte básico de vida ou avançado, transporte o mais rápido possível de acordo com a situação clínica, e se isto é bom para a nossa família também o devemos desejar para os outros.
O que é extraordinário é que as pessoas que deveriam ter mais literacia, vão atrás de argumentos primários, bairrismo, talvez não saiba mas no distrito de Viseu perante a proposta da Comissão em criar um SUB num de três concelhos que antes tinham um SAP de 24 horas, dois dos autarcas preferiram não o ter a tê-lo no concelho vizinho, da demagogia populista, exacerbada pelo aproveitamento político, atrás da imprensa e da sua voracidade para arranjar títulos disposta a quase tudo para arranjar uma boa história.

II- O conhecimento de causa no que respeita cuidados continuados é espantoso: "E posso afirmá-lo, com conhecimento de causa, nada ou quase nada se tem feito no domínio dos tão prometidos cuidados continuados, cuidados paliativos e apoio domiciliário!"
O que tem sido feito em Cuidados Continuados está bem à vista.
Mas vamos lá, como é do conhecimento público a chamada rede de cuidados continuados que vinha de 2003, não diferenciava os doentes nem as suas necessidades, não tinha critérios para admissão na rede e pagava cama ocupada ou desocupada. Em 2005 o Governo criou um novo modelo de intervenção dirigido às pessoas idosas e dependentes, centrado nas dimensões da saúde e da segurança social, os cuidados continuados. A rede permite disponibilizar cuidados, que garantem a continuidade do tratamento, a recuperação funcional e a reinserção das pessoas idosas e dependentes no seu domicílio ou se necessário em unidades de internamento de convalescença (até 30 dias de internamento), de média duração e reabilitação (até 90 dias de internamento) e longa duração e manutenção (até 6 meses ou mais de internamento).
Após o decreto lei n.º 101/2006 de 06 de Junho que criou a "Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados" link, foi publicada a portaria de preços (entretanto já revistos em 2007) link . No primeiro ano de funcionamento foram criadas 909 camas de cuidados continuados de convalescença, média duração e longa duração. Na Zona Centro, por exemplo, passaram de 379 camas para 734 no ano de 2007, no Algarve passou-se de 15 camas para 189estando neste momento a funcionar a nível nacional cerca de 2.000 e mais 600 até final do 1.º semestre de 2008. Viajando pela net poderia ter encontrado no site da RNCCI as Opções do Plano para 2007, onde se encontra clarinhas as intenções do Governo até 2009, compromisso de atingir 30% da rede a atingir na totalidade em 2016. É claro que em muitos Hospitais, Centrais e Distritais, estão internados doentes chamados de "sociais", alguns são no mesmo, outros deveriam ter sido encaminhados para a Rede de Cuidados Continuados Integrados se esta tivesse capacidade. link
Nesta nossa continuada "Arte de ser português", fácilmente se passa, do 8 ao 80, do "nada se ter, para tudo se querer".

"Pior cego é o que não quer ver".
Avicena

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9 Comments:

Blogger e-pá! said...

Caro Avicena:

Ao ler o seu texto revive-se um grande entusiasmo pelo trabalho desenvolvido pelo XVII Governo Constitucional, nomeadamente, na área da Saúde.
Ficamos (fiquei, eu pelo menos) com a impressão que quase mais nada resta para fazer.... está tudo planeado é só esperar que aconteça!
Até me convenci que havia dotação orçamental para tudo e, que, só por "cegueira" não enxergamos o clima de grande distenção no investimento público.
Podíamos, inclusivé, extinguir o MS e criar uma pequena Secretaria de Estado, na área dos Assuntos Sociais, o que para além da poupança (não disse combate ao desperdicio...), estaria de acordo com a taxa de realizações do prometido e já conseguido.

O entusiasmo revelado ao longo deste balanço de fim (ou princípio) de ano é tão vasto que torna-se necessário seleccionar algum tema para reflexão.
É enternecedora a afirmação: "O que tem sido feito em Cuidados Continuados está bem à vista."
Claro que está!
Por exemplo: existem fisiatras nos centros em funcionamento (autorizados pela UMCCI, ainda sem regime de licenciamento definido)?
Ou já substituímos o determinado na Portaria n.º 1087-A/2007 de 5 de Setembro onde se lê "a prestação dos cuidados clínicos, de reabilitação, de manutenção e de apoio psicossocial adequados", por técnicos não ou menos qualificados, com menos custos?

E quanto à estratégia de continuidade e desenvolvimento da rede (RNCCI)?
É, ou não, verdade que as Misericórdias representam as Santas Casas representam mais de 3/4 da rede instalada e, portanto, deve-se dar a César o que é de César...

Mas, o grande problema não será só esse.
A continuar um clima de "afrontamento" que se iniciou entre o Pe. Melícias e CC, e que tem, subterraneamente, continuado com o actual presidente da União das Misericórdias, Dr. Manuel Lemos, pode, p. exº., em caso de conflito ou de impasse nas negociações (exigidas pela UMP) levar à suspensão da sua integração na rede, exactamente devido aos preços, nomeadamente, as diárias atribuidas às Unidades de Internamento de Longa Duração.
Como sabe o Dr. Manuel Lemos é um ex-deputado, ex-presidente da ARSNorte, ex-chefe de gabinete de Leonor Beleza e não um dócil padre franciscano... próximo da área do actual poder.
De maneira que, caro Avicena, o Ano Novo, deve trazer-nos esperanças, mas não diletantismo...

Desabafo Final:
Não subscrevo - até sou frontalmente contra - o papel preponderante das Misericórdias, ou das IPSS, na rede de Cuidados Continuados e Integrados. Preponderante, sublinho.
Acho que este desenvolvimento estratégico pode vir a comprometer todo o trabalho da Unidade de Missão.
Não consigo olhar para esta nova vertente que representa um conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social a uma população envelhecida, sem temer a sua feudalização à estratégica, do tipo caritativo, da Igreja. Que nunca deixou de ser lucrativa.
Aliás, ainda neste contexto, o trajecto das IPSS's, lembra-me as sábias palavras de Chateaubriand, um homem que viajou pelas margens da pobreza, ao longo da bacia mideterrânica, e a partir daí ganhou folego para pretender interpretar a História.
Disse, ou melhor, escreveu:
" Toda a instituição passa por três estágios - utilidade, privilégio e abuso".

Mas, sinceramente, pelo menos até aos Reis (fim da época festiva), não pretendia ficar tão azedo...

6:49 da tarde  
Blogger e-pá! said...

TAXAS MODERADORAS SOBEM 2.1%

Não resisto a exprimir um pequeno repositório de inquietações, relativas ao anunciado aumento das taxas moderadoras, prontamente anunciadas no dealbar deste ano.
1.) As "taxas de punição" também designadas como taxas moderadoras (cirugias de ambulatório, internamentos) estiveram em vigor cerca de 8 meses. Não foi?
2.) Em relação a estas taxas a inflação não pode ser estimada 2,1% ao ano. Não é?
3.) Logo, em relação a estas taxas, o aumento deveria conter um factor de correcção?
4.) Ou só ser aplicado lá mais para a frente (na Primavera)?

Isto para além da iniquidade destas taxas de punição dos utentes e da "promessa" da actualização ANUAL de acordo com a inflação estimada.
E não me venham com o tradicional exemplo do Belmiro de Azevedo que, quando, por infelicidade, lhe surge um problema de saúde importante, corre para Paris (provavelmente com um seguro de saúde na mão...).

Tentar fazer justiça fiscal fora da cobrança dos impostos (IRS,IRC) só tem um resultado: afundar, ainda mais, a já "triturada" (ou proletarizada?) classe média.
É esse o papel que essas taxas - acrescidas a outros apetites do quotidiano saque fiscal indirecto (p.exº. combustíveis) - têm vindo a desempenhar.

11:04 da tarde  
Blogger tambemquero said...

E mais uma vez Cavaco Silva voltou a dizer nada.
Basta ver os títulos dos jornais:
a) - Diário digital: "Cavaco Silva apela a melhor funcionamento da Justiça" link

b) - TSF: "Cavaco Silva insatisfeito com resultados na economia" link

c) - Jornal de Notícias: "Cavaco exige melhor combate a desemprego" link

d) - Público on line: "Cavaco questiona rendimentos elevados de altos dirigentes de empresas" link

JMF fala num "mas" em relação ao discurso de fim deano de José Sócrates (copo meio cheio/meio vazio).

Eu direi, completamente vazio de ideias.

11:32 da tarde  
Blogger Clara said...

TENTATIVAS DE GANHAR na SECRETARIA

E no dia 16 Jan vamos ter a 2.ª votação para o Bastonário da OM.
Entretanto a comissão eleitoral nacional da Ordem dos Médicos (OM)
decidiu adoptar novos procedimentos para «garantir o escrupuloso cumprimento das regras estipuladas no regulamento eleitoral.
«o que não aconteceu no Norte, na primeira volta» (Pedro Nunes).

Os novos procedimentos são relativos à não introdução nas urnas dos votos não assinados, a verificação das assinaturas e a garantia de que durante a noite os votos permanecem em caixas devidamente fechadas a cadeado e a centralização dos votos por correspondência em Coimbra.

Ou o Miguel Leão ganha por larga margem ou voltamà bailade novo a falha de procedimentos.

11:54 da tarde  
Blogger e-pá! said...

A FRASE DO DIA:

"Seria importante que os portugueses percebessem para onde vai o país em matéria de saúde".

Excerto da Mensagem de Ano Novo do Presidente da República - 1 Jan 2008.

ou, um iniludível aviso a Sócrates?

11:40 da manhã  
Blogger tonitosa said...

Lendo este texto do Avicena que mereceu honras de primeira página no Saúde SA (é necessário defender, mais do que nunca a política de CC...) e face aos diversos comentários já feitos, quase me apetecia ficar por aqui, e, parafraseando um anúncio a que acho imensa piada (ainda que não seja especial apreciador do programa dos intervenientes)dizer apenas: o que tu queres sei eu...mas deixa lá...é Natal!
Na verdade o que o Avicena há muito prossegue é a defesa do seu Ministro e isso "sei eu".
E nem sequer lhe levo a mal sabendo mesmo que outros, no seu lugar, fariam o mesmo...
Mas ainda ssim, não quero deixar de voltar ao assunto.
O que o Avicena acha que deve ser trabalho de casa, já há muito outros o fizeram. E nem assim, deixo de considerar oportunas as minhas críticas. Na verdade o que se verifica é que os hospitais referidos não são nenhum dos que perdem protagonismo; pelo contrário, só beneficiarão com o encerramento de Urgências dos seus vizinhos (mais ou menos próximos).
E duvido, continuo a duvidar, que as senhoras ou senhores em causa saibam, de verdade, o que é a vida das populações do interior do país em matéria de recursos médicos hospitalares, tempos de espera. deslocações, etc.. Os hospitais referidos não são os verdadeiramente representativos do "interior" (profundo) do país.
Mas como disse, sendo nomeados por CC e funcionando na dependência do MS, fica sempre a legitimidade de se poder duvidar da sua verdadeira independência. Desde logo, no momento e critério da "escolha".
Depois, não deixa de nos surpreender a UNANIMIDADE verificada quer no seio da CTAPRU quer dos organismos da Saúde intervenientes. Todos diferentes todos iguais? Só na publicidade!
Quanto à ANMP e aos protocolos, basta lê-los para percebermos que não têm ponta por onde se lhes pegue. E fica até a sensação de que nada daquilo é para levar a sério.
Vejam-se os casos de Mogadouro, Miranda do Douro, T. de Moncorvo, F. E. à Cinta, Mirandela, Macedo de Cavaleiros,Chaves, V. P. de Aguiar (e creio que não só) onde tudo parece resolver-se com mais ambulânia, menos ambulância; mas sobretudo com UM HELICÓPTERO a estacionar em Macedo de Cavaleiros!
É que vaão dar sempre ao mesmo: um helicóptero... . Será isto sério?
Vá o Avicena fazer a viagem, uma só vez, de Miranda do Douro a Bragança, particularmente de noite, no inverno e com nevoeiro ou geada e diga-me se, mesmo para um cidadão saudável e sem pressa de chegar, a viagem é cómoda e segura (repita a tal experiência de 14 anos...vá lá não custa nada!).
No caso de um doente, o mesmo até pode morrer na viagem e isso nem é problema para a Saúde: lá estará o hospital a atestar o óbito "tendo o doente dado entrada no mesmo já sem vida". E nunca, provavelmente, se chegará a saber se foi por inadequada assistência que a morte ocorreu! Dirão mesmo os familiares e amigos: coitadinho, saíu daqui já tão mal!
Quanto ao resto, aos CCI faça-se de interessado: procure resolver o problema de cuidados continuados em estabelecimento (dos tais protocolados) ou no domicílo e verá as respostas que tem. Fale com o serviço de Assitência Social... . Mas se tiver não um, mas dois familiares, com mais de oito dezenas e meia de anos de idade, com fracturas de femur e bacia e três/quatro dias depois do internamento/cirurgia lhe disserem que têm alta e devem regressar a casa, meu caro amigo, garanto-lhe que você jamais virá aqui ao Saúde SA defender a actual situação em matéria de CCI! Ou então a "cegueira" ter-se-á mesmo apoderado de si.
Finalmente uma reflexão: tem-se dito, e o Avicena o repetiu, que o anterior sistema de Cuidados Continuados pagava cama ocupada ou desocupada. Na verdade não era assim. Havia um mínimo que, com ou sem ocupação era pago. E isso permitia negociar a preços aceitáveis por ambas as partes. Tratava-se de garantir que "sempre que necessário" haveria uma cama vaga para os doentes a necessitar de cuidados e que deveriam libertar as camas hospitalares. O que em termos negociais nem era inadequado...bom negócio é aquele em que todos ganham!
Mas, mais do que isso, é importante referir que a responsabilidade da negociação era de cada hospital (ao tempo SA) o que exigia aos CA's decisões reponsáveis e autónomas. E hospitais houve que não seguiram os princípios definidos pelo então MS nesta matéria.
E meu caro amigo, se hoje há uma enorme carência de camas para CCI, poder-se-á dizer que, então (na prática) não haveria camas pagas sem estarem ocupadas.
Dou naturalmente o benefício da dúvida a algumas das medidas deste MS enquanto reformadoras do SNS. Mas só o tempo dirá se os resultados foram os projectados.

5:20 da tarde  
Blogger e-pá! said...

AINDA O INTERMINÁVEL BULIÇO DO FECHO DOS SAP’s

Caro Avicena:

O pecado original de CC será ter sonhado que poderia alimentar extemporaneamente e “ad eternum” o descabelado (designação de vivóporto) ataque iniciado por Leonor Beleza contra os médicos e por esses ínvios caminhos entrar na galeria dos grandes ministros da Saúde.
Mas, como podemos constatar, substituir médicos por ambulâncias, não colhe, nem confere essa honraria.
E porquê?
Os médicos – esses “insaciáveis seres comedores de horas extraordinárias” – estão lá, todos os dias. Hoje um, amanhã outro, … podem não conhecer os utentes, … mas estão lá!

- Estão lá, mas não estão capacitados para actuar no caso de uma situação urgente! – dirá o MS.
- É a mesma coisa do que não estivesse lá ninguém!
Este o grande equivoco.
Eles, limitadíssimos na sua acção, são a proximidade, próxima, visível, palpável – passe o pleonasmo.
Não têm tecnologia disponível, não estão dimensionados em termos de recursos materiais e humanos, mas são a interface do primeiro embate entre o doente que se julga (mal ou bem) possuído de uma situação urgente e o SNS. E, nas dificuldades, naquilo que os ultrapassa, fazem a triagem possível, metem o doente numa ambulância e transferem-no para um urgência hospitalar. Sem desassossegos.

Vou descrever uma lição que, na adultícia jovem, tive de assimilar:
Em África (na guerra colonial), numa situação complicada tentava eu explicar a um grupo populacional maconde que tinha de deslocar as suas palhotas (a sua povoação) para outro local. Por uma questão de segurança das populações indígenas. Resistiam, não queriam. Evoquei que tinha recebido ordens superiores da capital, do Governo de Lourenço Marques (actual Maputo). Encolhiam os ombros. Entretanto, o chefe indígena da povoação estava internado em Mueda, doente. Desloquei-me ao Hospital de campanha. Conversei com ele, sentado na sua esteira (os hospitais não tinham camas…), sobre o problema da mudança, muitas e longas horas. Passei lá dois dias. Depois, regressei à minha unidade militar e esperei, pacientemente, pela chegada do chefe tribal, que se verificou 2 meses depois, já restabelecido. Numa “banja” (reunião de autóctones) em meia-hora, ele resolveu tudo…
Aprendi a lição. Quando se vive no interior (ou no mato), com condições parcas, em situações difíceis, isolados do Mundo, não há capacidade de abstracção e o automático reconhecimento de um poder longínquo, invisível, sem rosto, sem boca para falar e comer, com eles, no interior da palhota, no mesmo prato, à volta de uma fogueira.

É este o grande erro do MS. Enquanto não conquista a confiança das populações, através dos seus representantes, têm de manter abertos os SAP ou em alternativa colocar lá (nos CS’s) ambulâncias com médicos. Não daqueles médicos requisitados “ad hoc” a empresas de “aluguer a retalho” de clínicos, mas médicos locais, com cursos de suporte avançado de vida.
Daqui a uns anos (sim, disse anos!) - estes médicos serão os naturais promotores do projecto de reestruturação das urgências, em articulação com as suas unidades funcionais e as suas organizações profissionais, depois de as populações estarem sossegadas e confiantes.
E a reforma das urgências faz-se, tranquilamente.
Mas até o momento, os médicos, quer os organismos representativos, quer as associações científicas que os agrupam, não foram tidos nem achados para essa reforma. Esta seria a reforma dos gestores, da administração, do planeamento, e… dos contabilistas. O contributo dos médicos limitar-se-ia a integrar a Comissão (CTAPRU). Não chega!

CC, é responsável, pela 2ª vez, da pasta da Saúde.
Não deveria ignorar um facto absolutamente pragmático (está na moda o socialismo ser pragmático):
Não há reformas na Saúde sem a participação e a mobilização dos médicos. Tão simples!
A esmagadora maioria até trabalha no SNS.

10:50 da tarde  
Blogger Unknown said...

Caro É-Pá

Um Ano Bom de 2008 extensível aos outros bloguistas do Saúde Sa e em particular ao Xavier.

Mais que o meu entusiasmo acerca da execução do Programa XVII Governo Constitucional, importa saber se o está ou não a cumprir e se o fizer se é de uma forma satisfatória.

1. Cuidados Continuados

Eu com o meu optimismo e o meu diletantismo, apesar de procurar fundamentar os meus argumentos mesmo que sejam nos números e nas estatísticas "chatas", pelos vistos para si, sem me preocupar com o estudo e a reflexão permanentes, talvez por considerar que dar opinião deve ser uma forma de puro lazer, onde a vocação e o trabalho não têm lugar. Ao contrário de mim você, argumenta que o chorrilho de números só empatam, que o primado da política deve estar presente, mesmo que algumas das opiniões que a sustentam não tenham suporte nem evidência. Enfim vamos lá, como deveria saber os acordos para as unidades de convalescença e média duração e reabilitação, estabelecem as regras para a contratualização, e estipulam que estas unidades devem ter diáriamente a presença de médico, incluído o fisiatra, bem como de fisoterapeutas, terapeutas ocupacionais e terapeutas da fala, e que existem para além disto indicadores de avaliação conhecidos dos intervenientes. Quanto à estratégia de continuidade e desenvolvimento, você achará que os representantes do Estado serão tão estúpidos que não procurarão diversificar os parceiros. Acha mesmo que o clima é de afrontamento? não terá percebido que a avaliação das Unidades em actividade em 2005 foi realizada por uma Comissão que incluia os representantes das Misericórdias e que antes não funcionava e que apesar das tomadas de posição públicas, O Estado e os parceiros aceitaram os compromissos que levaram a aprovação das referidas portarias e aos acordos.

2. SAP´s, Urgências e Ambulâncias

O nosso atraso na área da emergência pré-hospitalar é conhecido, os poucos recursos que têm dotado esta área tem feito com que tivessemos chegado ao final do século XX, com um ainda incipiente serviço de INEM e com um modelo excessivamente centrado ´por um lado nos médicos e por outro nos bombeiros. A maioria dos médicos em exercício, não dispos de um currículo pré-graduado nesta área, os internatos da especialidade sempre colocaram esta área para segundo plano e ainda nos Hospitais a Urgência é terra de ninguém, a formação em suporte de vida avançado, trauma, atls, abrange poucos profissionais mesmo nas áreas em que muito ^deles praticam num SMC ou num Polivalente, na MGF escasso tem sido o investimento nesta área e só recentemente se começo a avaliar as necessidades de formação nestas áreas. Aliás o nosso atraso é tanto nesta na área que a maioria dos profissionais de saúde não têm formação em reanimação cardio-respiratória e a maioria dos serviços não dispõem de Desfibrilhadores Automáticos Externos, os CODU'S e os recursos do INEM foram e são escassos. Não sou perito, mas todos conhecemos alguns bons exemplos de Serviços de Emergência de Grandes Cidades Europeias não centrados nos médicos (SMUR/SAMU francês). Pelo que nesta área, medidas de suporte básico de vida, transporte rápido adequado, acompanhado pelos profissionais com os conhecimemtos e as práticas mais adequadas são essenciais para evitar mortes e lesões evitáveis, pelo que a sua afirmação "Este o grande equivoco. Eles,limitadíssimos na sua acção, são a proximidade, próxima, visível, palpável – passe o pleonasmo. Não têm tecnologia disponível, não estão dimensionados em termos de recursos materiais e humanos, mas são a interface do primeiro embate entre o doente que se julga (mal ou bem) possuído de uma situação urgente e o SNS. E, nas dificuldades, naquilo que os ultrapassa, fazem a triagem possível, metem o doente numa ambulância e transferem-no para um urgência hospitalar. Sem desassossegos." não faz qualquer sentido nos nossos dias e espero que não perdure por muito tempo, até porque de uma forma egoísta muitos de nós estamos na idade de começarmos a ter alguns achaques". O que necessitamos é de cidadãos que saibam reconhecer uma PCR, façam suporte básico de vida, DAE em grandes espaços e serviços de emergência e catástrofe organizados,com ambulâncias, motas, helis, com pessoal treinado, paramédicos, enfermeiros, médicos (os peritos que se entendam na sua combinação) que iniciem os cuidados adequado o mais brevemente possível e já agora que mantenham um programa de formação continuada. Os tempos actuais não se compadecem com " fazem a triagem possível, metem o doente numa ambulância e transferem-no para um urgência hospitalar." pelo menos para mim e para os que me são queridos, familiares ou não. Quanto aos médicos locais, estamos a falar provávelmente de médicos especialistas em medicina geral e familiar, pois se estamos deverá saber que as suas competências não se dirigem para a actividade de emergência, o que não quer dizer que não devam saber operar com um Desfibrilhador, nem que seja um DAE, ou tenham um curso de suporte de vida avançado ou trauma, se formos por aí todos os médicos os deveriam ter independentemente da sua especialidade, mas a sua actividade principal não essa, devem antes prestar cuidados gerais,acessíveis,integrados, continuados, de equipa, holísticos, personalizados, orientados para a família, orientados para a comunidade, coordenados,aos seus pacientes e serem ainda os provedores dos seus pacientes advogando por eles em todos os problemas de saúde e na sua relação com todos os outros prestadores e níveis de cuidados.
São estas características que há muito movem os médicos de família, foi por isso que lhe recomendei a leitura do artigo de Luis Rebelo, conferência inaugural do Congresso de Clínica Geral desse ano, mas como não leu cito " a opção pelos SAP's significou a consagração e subsequente manutenção de 6 ou 12 horas semanais para atendimento de doentes, inscritos ou não no médico ou na unidade de saúde, em actos esporádicos, e como tal à margem dos conceitos de globalização e integração de cuidados. Priveligiaram-se, deste modo, os actos meramente pontuais e, por via regra, deficitariamennte supletivos de consulta personalizada. Numa palavra, optou-se pelo primado da acessibilidade precária imediata e imponderada sacrificando a qualidade da intervenção em Saúde" Imagine o total de horas dispendidas em SAP's, SASUS, CATUS e quejandos, por esse país fora ao longo dos anos, horas normais e extraordinárias, e as implicações que tiveram nas consultas programadas, nas taxas de cobertura de programas de saúde de grupos vulneráveis, etc., é a isto que os MGF chamam desde há muito " a sapização do país", advogando a transferência dessas horas para atendimento em horas de consulta expressa. Finalmente dizer-lhe que a sua afirmação de que " Mas até o momento, os médicos, quer os organismos representativos, quer as associações científicas que os agrupam, não foram tidos nem achados para essa reforma. Esta seria a reforma dos gestores, da administração, do planeamento, e… dos contabilistas. O contributo dos médicos limitar-se-ia a integrar a Comissão (CTAPRU). Não chega!" não corresponde à verdade, uma ida à página da MCSP, teria bastado para encontrar os CV's dos missionários e teria descoberto que apesar de lá estarem a título pessoal, alguns deles têm CV conhecido enquanto dirigentes sindicais ou de organismos técnico científicos para além de ser presidida pelo actual presidente da APMCG: António Rodrigues(FNAM)(Colégio da OM de MGF); Armando Brito e Sá (APMCG); Moura Reis (SIM); João Rodrigues(FNAM); Henrique Botelho (FNAM)
Para além do facto do documento sobre as urgências ter estado em discussão pública alguns meses, são conhecidos pareceres e opiniões favoráveis,do Colégio da OM de Medicina Intensiva, do Colégio da OM de MGF. Quanto aos SAP´s desde 1990 que a APMCG, se tinha pronunciado sobre eles no documento " Um Futuro para a Medicina de Família em Portugal", e são muitos os artigos e pronunciamentos na área da MGF contra a sua continuação, aliás a reforma dos CSP, criação das USF's e o dos Agrupamentos dos CS apontam para isso mesmo, aliás estes não consagram qualquer unidade de urgência básica ao contrário dos anteriores diplomas de 1999 e 2003. Como sabe penso eu a própria Unidade de Missão para os Cuidados de Saúde Primários, tem mesmo uma posição mais radical uma vez que se pronunciou contária a existência de consultas abertas dos CS nos Hospitais chamados de nível I.

5:13 da tarde  
Blogger Paulo Ferreira said...

A actual política do Ministro da saúde de encerrar serviços de urgência, maternidades e centros de saúde e de substituir esses serviços de saúde por ambulâncias e VMERs do INEM não tem qualquer fundamento.

Um serviço de saúde com urgência aberta recebe maioritariamente situações não urgentes, são situações que não põem em causa a vida do utente mas que carecem ser avaliadas e vistas por um médico, situação que descondiciona as urgências hospitalares.

Se existem serviços de urgência a funcionarem incorrectamente, sem capacidade de diagnosticar e estabilizar um doente grave e preparar o seu transporte, isso somente acontece por falta de investimento em equipamento e de formação, e estamos a falar de um investimento irrisório para o serviço nacional de saúde, uma formação complementar de semanas para médicos na área da emergência médica no INEM, como a existência de equipamento idêntico a uma VMER em todos centros com serviço de urgência aberto ao público, devia ser obrigatório a muitos anos, para estabilizar e preparar o transporte, com o apoio depoisde uma VMER e ambulância ou de helicóptero a ser activado pelo INEM, sem existir a necessidade de usar os meios humanos do centro de urgência para a evacuação,
Mas essas situações urgentes são muito reduzidas, mas existe a necessidade desses serviços de urgência dar respostas as situações urgentes, pela proximidade as populações e aos locais de ocorrência, mas esses serviços urgência por uma lado libertam os hospitais de centenas de situações não urgentes, que facilmente resolvem nesses serviços de urgência rudimentares, poupando tempo em deslocações desnecessárias a urgências hospitalares, totalmente sobrelotadas.

Outra situação é a situação do transporte das situações não urgentes, ainda hoje o Sr. Ministro da Saúde no jornal da uma RTP, não conseguiu responder ao povo o que fazer quando o INEM se recusa accionar meios de socorro, mandando as pessoas ligar para os Bombeiros pedir ambulância.

Se não justifica meios de socorro, porque o INEM manda o cidadão ligar para os Bombeiros?

Bombeiros que depois tem que ter meios de socorro disponiveis para fazerem face aos pedidos do próprio INEM.

E quem não tem capacidade financeira para pagar?

Os bombeiros são obrigados a efectuar esse serviço recusado pelo INEM e fiar esse serviço ao cidadão?

Porque existem quem pague mesmo que o hospital se recuse assumir a despesa, mas actualmente a divida somente do ano 2006/7 é superior a 30.000 euros somente no meu corpo de Bombeiros, de cidadãos que se recusam a pagar depois do serviço efectuado, fora a divida dos hospitais, um problema grave que esta comprometer o socorro, porque tudo tem custos, e custos elevados como é sabido, que o INEM e o SNS não quer comparticipar em nada, o INEM actualmente se recusa accionar meios para situações que no mínimo estranhas, como acidentes de viação, trauma simples etc, depende do dia e da hora e de esteja na central CODUs

Cadelas apreçadas parem filhos cegos.

9:21 da tarde  

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