Politica do medicamento
Referi aqui pela primeira vez, a propósito do anterior post sobre a descida de preços dos genéricos decretada em França, o estudo da OCDE “Pharmaceutical Pricing Policies in a Global Market” link recentemente publicado, que faz uma analise das diferenças de consumo e preços dos medicamentos,formação dos preços, vantagens e desvantagens das várias políticas e práticas entre os países da OCDE.
Na tabela dos maiores gastadores – gastos totais com medicamentos, ano 2005 – Portugal ocupa a 16.º posição com 4.100 milhões USD, à frente da Suécia, Austria, Noruega, Finlândia, Hungria, R. Checa, Dinamarca, Irlanda, Luxemburgo, Islândia.
Em termos de gastos per capita a média dos países da OCDE é de 413 USD PPP. Portugal apresenta-se acima da média europeia com 445 USD PPP.
Na tabela dos maiores gastadores – gastos totais com medicamentos, ano 2005 – Portugal ocupa a 16.º posição com 4.100 milhões USD, à frente da Suécia, Austria, Noruega, Finlândia, Hungria, R. Checa, Dinamarca, Irlanda, Luxemburgo, Islândia.
Em termos de gastos per capita a média dos países da OCDE é de 413 USD PPP. Portugal apresenta-se acima da média europeia com 445 USD PPP.
Segundo o referido relatório, a nossa factura de medicamentos representa cerca de 21% do total da nossa despesa em saúde, também acima da média dos países da OCDE (cerca de 16%).
Quanto ao nível de preços (dados de 2005, anteriores portanto às medidas administrativas de redução de 6% do preço dos medicamentos), Portugal integra um grupo de quatro países (França, Suécia, UK) com níveis de preços entre os 91% e os 94% da média dos países da OCDE. Suiça, Islândia, Canadá, EUA, Alemanha e Dinamarca ocupam o topo dos países onde os medicamentos são mais caros.
Quanto ao grupo comparador de Portugal, apenas a Itália (117%) apresenta níveis de preços acima da média dos países da OCDE (França, 91%; Espanha, 77% e Grécia 73%)
Estes dados sobre o nível de preços no nosso país, sugerem que a actuação na área do medicamento deve ser dirigida essencialmente aos prescritores através de medidas que promovam a adequação da prescrição com base em critérios técnicos e com muito maior participação e responsabilidade dos prescritores e gestores envolvidos.
Quanto ao nível de preços (dados de 2005, anteriores portanto às medidas administrativas de redução de 6% do preço dos medicamentos), Portugal integra um grupo de quatro países (França, Suécia, UK) com níveis de preços entre os 91% e os 94% da média dos países da OCDE. Suiça, Islândia, Canadá, EUA, Alemanha e Dinamarca ocupam o topo dos países onde os medicamentos são mais caros.
Quanto ao grupo comparador de Portugal, apenas a Itália (117%) apresenta níveis de preços acima da média dos países da OCDE (França, 91%; Espanha, 77% e Grécia 73%)
Estes dados sobre o nível de preços no nosso país, sugerem que a actuação na área do medicamento deve ser dirigida essencialmente aos prescritores através de medidas que promovam a adequação da prescrição com base em critérios técnicos e com muito maior participação e responsabilidade dos prescritores e gestores envolvidos.
Mas isto, toda a gente sabe.
15 Comments:
FAZ SENTIDO?
"Portugal pode vir a nacionalizar alguns bancos."
TSF 09.10.08
E nesta conjuntura vai privatizar a gestão de quatro hospitais um deles com a universidade de Medicina.
Enquanto quem prescreve com a ponta da caneta não for sujeito a regras de responsabilização - a famosa "accountability" - não iremos muito longe:
Para ver o que para aí vai com a prescrição de antibióticos consultar: link
Cefalosporinas, quimolonas, macrolides continua tudo à la garder...
Ao invés do que tem sido hábito neste blog, esta é uma análise pertinente e, na minha opinião, bastante acertada.
No entanto, politicamente, é mais fácil descer preços e fazer de conta que é aí que está o grande mal do que fazer frente à classe médica.
O governo escandaliza-se com o facto das farmácias comprarem medicamentos com grandes descontos. No entanto, não se escandaliza com o facto, neste momento muito evidente, de haver laboratórios a pagarem directamente aos médicos por embalagem prescrita...
Não acredito que alguma farmácia venda mais ciprofloxacinas pelo facto de as ter comprado com melhor desconto (vai é obviamente, tentar vender as dessa marca ao invés de outras). O que se tem visto é que a prescrição de alguns medicamentos, entre eles alguns antibióticos, têm aumentado. Se calhar, a cenoura à frente do nariz até é eficaz...
Consumo de cefalosporinas representa em Portugal 10,5 % do total de consumo de antibióticos em 2007.
Apesar da melhoria verificada nos últimos anos estamos ainda longe da racionalização dos países do norte de UE.
Sensibilização dos prescritores.
O secretário de Estado dá o exemplo.
Carta Aberta
Lisboa, 29 de Setembro de 2008
Aos Médicos
O Governo decidiu uma redução de 30% dos preços máximos de venda ao público dos medicamentos genéricos a partir de 1 de Outubro. Em Portugal, ao contrário de outros países, os genéricos têm ainda preços geralmente elevados e são prescritos ainda apenas a 1/8 dos doentes, apesar de representarem já quase 1/5 dos custos. A sua quota de mercado em valor é muito superior à sua quota em número de embalagens vendidas.
Com esta medida pretende-se conter o ritmo de crescimento da despesa com medicamentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, nos primeiros sete meses deste ano, aumentou 5,6%, e, ao mesmo tempo, abrir espaço para novos medicamentos, geralmente mais eficazes e sempre mais dispendiosos.
Em termos de qualidade, eficácia e segurança, o medicamento genérico oferece as mesmas garantias que o medicamento de marca. É um medicamento com a mesma substância activa, a mesma forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação terapêutica do que o medicamento original, de marca, que serviu de referência ao seu fabrico.
Para entrar no mercado, os medicamentos genéricos têm de provar que são bioequivalentes ao medicamento de referência, têm a mesma segurança, que é permanentemente avaliada pelo Infarmed.
Os medicamentos genéricos têm qualidade, eficácia e segurança comprovadas, podendo ser prescritos em grande número de doenças. Uma vez que as substâncias activas são prescritas há vários anos, o seu perfil de segurança é hoje bem conhecido.
Com esta redução do preço dos genéricos, não apenas o SNS, mas sobretudo os cidadãos conseguirão poupanças significativas nos seus gastos com os medicamentos, com total garantia de segurança terapêutica e de qualidade.
Nos últimos 10 anos, a utilização de genéricos em Portugal tem crescido a ritmos ímpares na Europa. Sendo verdade que o ponto de partida era muito baixo, este sucesso fica a dever-se à crescente adesão dos médicos à prescrição de medicamentos genéricos.
Para aprofundar este movimento, é crucial reforçar a informação disponível aos médicos sobre as vantagens da prescrição de genéricos sempre que, do ponto de vista terapêutico, essa seja a decisão correcta.
O preço dos medicamentos genéricos é, no mínimo, 20% ou 35% mais barato que o medicamento de marca de referência, atingindo, a partir de 1 de Outubro próximo, 50% do preço do medicamento de marca. Os genéricos permitem atingir os objectivos terapêuticos com menos custos, para o utente, para o SNS e para todos nós.
A eficiente utilização dos recursos públicos dedicados à Saúde é, para todos nós, um imperativo ético, pois determina a capacidade de investimento do SNS na promoção da saúde e no diagnóstico e tratamento das doenças, de forma eficaz, eficiente, equitativa e com qualidade crescente.
É indispensável que evoluamos no caminho da utilização racional do medicamento e da sua prescrição criteriosa que, Governo e profissionais, reconhecem ser aquele que traz mais vantagens sociais. E nesse percurso tem sido inquestionável o papel dos médicos no aumento da utilização destes medicamentos.
Sempre que a avaliação clínica recomende a prescrição de medicamentos, e no quadro indiscutível e inquestionável de liberdade de decisão terapêutica por parte do médico, a opção pelos genéricos traz, assim, vários benefícios para o utente, para o SNS e para a sociedade.
A opção pelos medicamentos genéricos é uma opção responsável que permite libertar recursos para o tratamento de mais doentes, de novas doenças e para novos medicamentos.
O Secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Francisco Ramos
As despesas com os medicamentos estão correlacionadas, prioritariamente, com o rendimento per capita. O largo leque abrangente – entre 792 e 144 USD - parece seguir fio condutor em que este critério tem grande influência, pelo menos, para explicar um elevado número de disparidades (e não disparates).
Nos 30 países da OCDE - onde a média é de cerca 400 USD – só 12 dos 30 países excedem essa mediana. Portugal, tem um desvio de 18%.
E a disponibilidade dos genéricos é diferente em muitos países, bem como a sua implantação e confiança junto do precritor, sendo essa prescrição em Portugal semelhante à verificada na França, Espanha e Itália.
Todavia os genéricos, enquanto mera política de baixa de preços não são a “solução mágica” para manter contidas as despesas com medicamentos.
Senão vejamos essa relação doutro modo. Países como a Polónia Eslováquia Turquia, Coreia, Grécia, Espanha, tem os mais baixos preços de medicamentos, variando entre 70 a 80% da média da OCDE. O seu consumo tendo em conta as purchasing power parities (PPP’s) é completamente anómalo em relação à posição no “ranking” da OCDE publicado no post. A Espanha está em 4º lugar (517 USD) e a Polónia em 25º. (243 USD).
Outros motivos existirão, e um deles será as políticas fiscais dos diferentes Países, nomeadamente as que incidem sobre o consumidor (IVA?)
Mais de metade das especialidades farmacêuticas vendidas RU, EUA e Países Baixos são genéricos. Tal facto, que devia traduzir um menor custo do medicamento, pelo menos em relação aos EUA, não afecta que continue no topo das despesas.
Esta vantagem trazida pelo mais baixo custo dos genéricos pode ser rapidamente anulada pela adopção pelo prescritor de comportamentos que privilegiam os “novos” medicamentos, em busca de maiores evidências terapêuticas e de melhores resultados, mas também pela pressão do doente que, muitas vezes, crê, acriticamente, nas virtudes terapêuticas da inovação e em iatrogenias bizarras, por vezes de difícil explicação, em efeitos adversos "curiosos" mas que afectam a compliance terapêutica, logo, a eficácia relativa do fármaco.
A política de fixação de preços assenta em valores comparativos internacionais (convém que tenham um PIB semelhante) e, a partir daí, criar um preço de referência para determinado medicamento.
A indústria farmacêutica, recordemos que o seu âmbito, a sua implantação e o seu mercado é multinacional, rapidamente, orquestrou respostas para esta metodologia. Opta por apresentar e introduzir no mercado os novos produtos onde pode fixar livremente os preços (como na Alemanha e EUA) ou, então em Países onde tem capacidade negocial para impor preços elevados (P.exº. Suiça).
Bem, todas estas considerações avulsas, para esclarecer um ponto estranho ao relatório da OCDE, e constante já em muitos comentários, que reputo de essencial.
“Estes dados sobre o nível de preços no nosso país, sugerem que a actuação na área do medicamento deve ser dirigida essencialmente aos prescritores através de medidas que promovam a adequação da prescrição com base em critérios técnicos e com muito maior participação e responsabilidade dos prescritores e gestores envolvidos.”
Será conveniente esclarecer se critérios técnicos e critérios médicos são a mesma coisa. A mim parece-me que não.
Não há estudos suficientemente significativos que ponham em causa – ou contestem - a adequação da prescrição. Não é um valor que possa ser avaliado pela gestão (envolvida na política económica do medicamento).
A longa história da metodologia da introdução dos genéricos em Portugal (disse metodologia) está por fazer. Mas sobre os genéricos propriamente ditos, a actuação do Infarmed (destruição de medicamentos por demoras de avaliação inaceitáveis e, outras, por excesso de zelo burocrático), da ANF (interessadíssima no negócio), da Industria Farmacêutica emergente (genéricos de marca?), da contemplativa APIFARMA, e pelo meio, os dois mexilhões - o médico e o doente - , existem muitos episódios rocambolescos a desvendar, que ajudaram a construir e a destruir diversos preços e, o que é pior, a desencadear soluções de continuidade (ou retiradas do mercado) de princípios activos, muitos deles “velhos”, mas essenciais à Saúde dos portugueses.
Retail prices
For each product countries had to indicate the retail price for a standardised consumption unit.
Reported retail prices includes distribution margins (wholeselers, and pharmacists margins mark-up) as well as VAT rates.
They represent “total costs of pharmaceutical to the society” (eurostat 2007) and not only the share of the cost paid out of pocket by final consumer.
O preços dos medicamentos é influenciado essencialmente pelos custos de distribuição e as taxas.
Vejamos os seguintes exemplos quanto à formação dos preços dos medicamentos que parecem contrariar as conclusões do e-pá:
Espanha : Custos produção: 63; Margens: Armazenista:7; Farmácias:26; Taxas:4
Dinamarca : Custos produção: 59; Margens: Armazenista:4; Farmácias:16; Taxas:21
Portugal : Custos produção: 68; Margens: Armazenista:8; Farmácias:19; Taxas:5
Noruega : Custos produção: 61; Margens: Armazenista:5; Farmácias:15; Taxas:19
A Dinamarca apresenta despesa "per capita" baixíssima em relação a Portugal (94) apesar de ter preços dos medicamentos dos mais elevados (120) e a taxa mais elevada (21).
Idem Noruega.
Portanto o problema do elevado consumo per capita e dos elevados gastos com medicamentos em Portugal está essencialmente na prescrição pouco racional(os canetas de ouro) ou no autoconsumo (pouco provável).
Caro João Pedro:
Eu levanto ao longo do meu comentário variadas questões e múltiplas interrogações.
Há, todavia, uma coisa de me parece inquestionável.
Quando mais baixo for o padrão de desenvolvimento, quanto mais incipiente for a prevenção, maior será a incidência e prevalência de doenças.
E, em consequência, entrando em linha de conta com a procura de cuidados curativos, as listas de espera, o recurso às urgências e consequente consumo de meios de diagnóstico e terapêuticos, parece-me natural que os custos em medicamentos per capita aumentarão.
Por outro lado, o mercado dos medicamentos está bloqueado pela fixação de preços (embora agora já possam haver descontos nas farmácias), pelo que a fuga passa por “malabarismos” na construção dos preços. Embora, não me pareça significativo, na pequena lista que referenciou, Portugal tem o mais elevado custo de produção.
Aliás, a grande volume de diferentes genéricos que são introduzidos no mercado português, não são produzidos em Portugal. Muitos são na India e em Marrocos. Porquê custos tão altos? Qual o controlo de qualidade?
Para mim, não há prescrição pouco racional, há prescrição adequada, prescrição baseada na evidência científica do custo/benefício e assente num diagnóstico correcto.
Agora, um a outra questão que levanta sobre os níveis de automedicação, tudo leva a crer que serão elevadíssimos.
Num estudo da ANF realizado em 1995a prevalência da automedicação já era de 26,2 %, para uma demora média para obter uma consulta menor do que 1 mês! Hoje, como se depreende, será bem pior.
As "canetas de ouro" não influenciam a medicação. Elas, as "canetas de ouro" são as que levantam problemas sobre a qualidade do genérico, nomeadamente sobre o controlo da qualidade. (É como nos mercados financeiros).
Embora, possa parecer chocante, não subscrevo a passagem (para um farmacologista simplista) do apelo do S. Secretário de Estado, onde diz:
"Em termos de qualidade, eficácia e segurança, o medicamento genérico oferece as mesmas garantias que o medicamento de marca. É um medicamento com a mesma substância activa, a mesma forma farmacêutica e dosagem e com a mesma indicação terapêutica do que o medicamento original, de marca, que serviu de referência ao seu fabrico."
Um automóvel tem chassis, carroceria, motor, caixa de velocidades, sistemas de transmissão, rodas, etc.
Mas não vamos comparar um Fiat Uno com um Ferrari... embobra a referencia para o fabrico dos 2 automoveis possa ser a metodologia da ancestral fábrica de Henry Ford...
O recente episódio dos produtos lácteos chineses em relação à introdução de melamina, substância tóxica utilizada em resinas e colas, etc. deve-nos manter alerta sobre o controlo dos processos de fabrico. Coisa difícil neste mundo globalizado. Esta criminosa adulteração produtiva , dura há já bastante tempo e terá afectado milhares de crianças. O leite parecia igual, tinha a mesma cor, consistência e, vejam lá, embora diluído em água para dar maiores lucros, tinha analiticamente um teor proteico mais elevado. Isto durou até sabermos porquê.
As “canetas de ouro” são prescritores que lidam com medicamentos onde a confiança na qualidade tem de ser total. Onde as doses são exactas. Muitas vezes, em determinadas situações como p. exº., na cardiologia ou na endocrinologia trabalhamos nas fronteiras da toxicidade.
Agora, admito que existam "canetas de aluguer". Mas mesmo estas estão em via de extinção, em favor dos bónus farmacêuticos que chegam a atingir o rácio 1:5!
A prescrição é difícil de simplificar, de monitorizar, de sistematizar, exactamente na medida em que não há doenças, há doentes
Mesmo lidando com protocolos terapêuticos cuidadosamente desenhados (p. exº. na Oncologia) surgem sempre problemas.
Porque cada doente é "caso" humano personalizado e especial.
E, finalmente um desabafo.
Por cada acção na área saúde susceptível de envolver custos, os médicos são acusados de desperdício, promiscuidade, quando não de corrupção.
Não acham que nessa "senda" vão acabar por esgotar a credibilidade e a bagagem imputativa?
Não me lembro qual o autor, mas lembro-me do contexto.
- Sabem porque os "ghosts" abandonaram os velhos e soturnos castelos da Escócia?
- Porque as pessoas (muitas) deixaram de acreditar em fantasmas...
França lidera «consumo»
Herman Goosens e a sua equipa analisaram a utilização de antibióticos nos cuidados primários e consultas externas hospitalares em 26 países e compararam este consumo com as taxas de resistência da população.
O estudo revela que o Sul da Europa é a zona de maior consumo de antibióticos, enquanto o Leste prescreve moderadamente e o Norte apresenta um recurso mais fraco. A prescrição destes medicamentos na comunidade é sobretudo preocupante no Sul da Europa, onde a França bate recordes, seguida da Grécia, do Luxemburgo e de Portugal.
Os franceses consumiam 32 doses diárias de antibióticos por mil habitantes, em 2002, e os portugueses 26. Um cenário oposto é encontrado nos países do Norte, que registam um menor consumo de antibióticos e taxas inferiores de resistência a estes medicamentos. A Holanda é aquele que menos recorre a estes tratamentos: Cada holandês consumia 10 doses diárias de antibióticos por mil habitantes em 2002, menos de metade dos antibióticos usados por um português.
Aprofundar disparidades
Luís Caldeira, colaborador do Infarmed para a área dos antibióticos, explica que, apesar de tudo, os padrões de consumo parecem ter estagnado nos últimos cinco anos. Um estudo semelhante datado de 1999 colocava até Portugal no segundo lugar dos países analisados. Em declarações ao "Público", na edição de sexta-feira, Luís Caldeira defendia que estes dados devem-nos levar a aprofundar as razões para a existência de tantas disparidades na utilização de antibióticos.
Além de disparidades no consumo entre os países, os especialistas detectaram grandes diferenças entre o tipo de antibióticos usados em cada um deles. Os in¬vestigadores analisaram informação recolhida entre 1997 e 2002 e detectaram na maioria dos países uma utilização crescente de antibióticos mais inovadores - que combatem um largo espectro de bactérias - e um declínio da prescrição dos remédios antigos, como as penicilinas.
Neste campo, Portugal também se destaca pela negativa: É o segundo maior consumidor de quinolonas (seguindo a Itália), um antibiótico cuja utilização generalizada levou ao aparecimento de uma percentagem significativa de estirpes resistentes.
Má utilização
Portugal é ainda apontado como exemplo da má utilização de antibióticos. Segundo os investigadores, é o único dos 26 estudados onde a utilização da ciprofloxacina varia ao longo do ano.
O facto de existir uma flutuação sazonal na utilização deste medicamento, destinado por exemplo a tratar infecções urinárias, mostra que o antibiótico é usado no Inverno no tratamento de problemas respiratórios, para o qual não está recomendado.
Luís Caldeira frisa que estes dados são preocupantes, uma vez que a exposição maciça da população aos antibióticos pode criar resistência e diminuir a eficácia da resposta aos tratamentos, admite Luís Caldeira. «Apesar de vários estudos nacionais já apontarem para estas conclusões e de os médicos estarem mais alerta para o problema, vemos que o padrão de prescrição em Portugal não se alterou», considera.
Sendo Portugal o segundo maior consumidor de penicilinas e o terceiro ao nível da resistência do pneumococo (bactéria responsável por muitas infecções respiratórias) a estes antibióticos, Luís Caldeira diz que é preciso olhar estes dados com cautela, porque o consumo excessivo de antibióticos não é o único responsável pelo aparecimento de resistências, sendo necessários estudos específicos e mais profundos na população de cada país.
Segundo os autores, outros estudos apontam para novos motivos de preocupação: As resistências não são só consequência do consumo de antibióticos, mas também uma causa para o aumento da sua utilização, já que a resistência das bactérias obriga os doentes a usar tratamentos alternativos mais potentes.
Caro tambemquero:
As quinolonas de que a ciprofloxacina é uma das mais conhecidas são - como afirma - medicacamentos de 1ª. linha para as infecções urinárias graves provocadas pela Escherichia coli.
Mas não se esgota aí.
É uma arma terapêutica para as infecções respiratórias por Pseudomonas aeruginosa. Todavia, em relação a esta indicação coloca-se aqui um problema custo/eficácia.
Mas o grande "pico" - não de consumo mas de compras - deve ter sido após o 11.09, para fazer stocks de prevenção para a eventualidade guerra biológica com uns "pós brancos" que se enviavam em cartas anómimas e que se suspeitavam ser bacillus anthracis, o agente biológico do vulgar antraz, que infectou muitos dos nossos avós.
Tem ainda utilidade no tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis
(DST's) sendo de difícil, senão impossível, de correlacionar com os fluxos aferentes de prostituição. Desconheço em que altura acontecem esses "picos" ou se a fluência é regular e permanente.
Bem, os antibióticos, tem de ter forçosamente espectros largos, senão desaparecem do mercado.
A penicilina é, por exemplo, um dos medicamentos referidos no texto que é vitima, frequente, de quebras de stocks nas farmácias e distribuidoras.
Estas rupturas de stocks são fatais para qualquer medicamento.
Mas, no meu entender, o grande problema de custos dos medicamentos no futuro será as condições de prescrição do "novos agentes biológicos" do tipo dos anticorpos monoclonais quiméricos, humanizados,proteinas de fusão, inibidores de linfócitos, do TNF alfa, etc. Aquilo que metemos no grande saco de "imunomodeladores".
Se não existirem ou se não se construirem regras de prescrição com protocolos rígidos, validados por comissões técnicas competentes, autonómas da Indústria - esta inovação terapêutica poderá dar origem a uma outra "bolha" financeira.
O quadro utilizado no post não pertence ao “Pharmaceutical Pricing Policies in a Global Market" (fig.1.2 pag. 12, edição set 2008) mas sim a outro trabalho da OCDE "Health at a glance-2007".
link
Os dois quadros apresentam algumas alterações de valores que não prejudicam no entanto a análise de carácter geral que foi efectuada.
A primeira edição referida é só de leitura não permitindo a reprodução de quadros.
Fica aqui o esclarecimento que devia ter sido efectuado ab inicio.
Pelo sucedido as minhas desculpas.
Mais uma “derrocada” na bolsa dos EUA
As quedas foram para valores de 2003. O Dow e o S&P caíram mais de 7 por cento e o Nasdaq quase 6 por cento. O principal motivo é a falta de confiança, apesar de anúncios do governo norte-americano que vai intervir no sector financeiro dos EUA. Só que ninguém confia no que vem aí.
Enquanto isto:
Portugal pode vir a nacionalizar alguns bancos enquanto privatiza a gestão de quatro hospitais.
O consumo de cefalosporinas representa, em Portugal, 10,5 % do total de consumo de antibióticos em 2007.
Mais de metade das especialidades farmacêuticas vendidas no Reino Unido, nos EUA e na Holanda são genéricos. Em Portugal os genéricos têm ainda preços, geralmente, elevados e são prescritos ainda apenas a 1/8 dos doentes.
Nos 30 países da OCDE - onde a média é de cerca 400 USD – só 12 dos 30 países excedem essa mediana. Portugal, tem um desvio de 18%.
Portugal é o segundo maior consumidor de quinolonas (seguindo a Itália), um antibiótico cuja utilização generalizada levou ao aparecimento de uma percentagem significativa de estirpes resistentes.
Os custos com a medicina privada, em Portugal, são dos mais elevados na Europa. Tarda a separação entre os sectores. A combinação público-privada degrada-se. Horários reduzidos no sector público para garantir a reforma (não vá o diabo tecê-las) e tempo alargado no sector privado (desvio de doentes, gestão “inteligente” do SIGIC, recurso aos HH’s públicos como back-office da actividade privada). Chega-se ao ponto de médicos e gestores do SNS pedirem licença sem vencimento para ir dirigir ou trabalhar em unidades e grupos privados.
Insiste-se na “pantomina” da concorrência do SNS com o sector privado…Será que não há lucidez (ou coragem) para fazer o que é necessário?
Turning to the industry’s effects on national economies, the report notes that all 15 of the world’s top drugmakers (in terms of global sales) have their headquarters in an OECD country, with about half of these in the USA and the rest in Europe - France, Germany, Switzerland and the UK. The USA accounts for 39% of global production and Europe for 36%, while the two biggest net exporters of pharmaceuticals are Ireland, where the sector accounts for 11% of Gross Domestic Product (GDP) and Switzerland, where it represents 3%.
In 2006, the top 10 drugmakers accounted for nearly half the value of world sales. As the market is increasingly global, trade and policy practices make market segmentation and corresponding by-country price differentiation difficult, particularly within Europe, where multinationals have encouraged their subsidiaries to set prices within narrow price corridors, says the report. New active ingredients are launched in an average of 10 countries, although firms often release multiple versions of patented products in different markets to reflect consumer preferences and to reduce opportunities both for prospective buyers to make external price comparisons and for wholesalers to engage in parallel trade, it adds.
Price controls
All OECD countries have introduced some degree of drug price regulation. Canada and Mexico cap the prices of all patented drugs, whether or not they are covered by public insurance, but most nations regulate the prices of products which are subsidised in this way, whether or not they are patent-protected.
The most widely-used price-setting policy is external benchmarking, which sets the price limit based on what other countries pay, but it has several drawbacks for governments, says the report. First, companies launch their products first in countries where they can set a price freely at market entry (such as Germany and the USA) or negotiate relatively high prices (eg, Switzerland). Second, there is a risk of benchmarking to artificially high list prices because payers negotiate confidential rebates, reducing the real price paid. Together with the threat to industry profits posed by parallel and cross-border trade, this practice contributes to convergence of list prices and affordability problems in lower-income countries, it says.
Another commonly-used policy compares prices with those for alternatives already on the market and, usually, award a price premium only for products that are assessed as having extra therapeutic advantages. In Germany and a growing number of other countries, the drug’s reimbursement is capped by the price of products considered similar, so if patients buy more expensive products they pay the difference out of their own pocket.
Finally, around a third of OECD countries are now using pharmacoeconomic assessment to decide whether a medicine is worth what its maker proposes to charge, although few of them have formal programmes for original assessment and valuation. Such assessment can help obtain good value for money and provide important market signals as to what sorts of investment are most useful, but it remains a “technically challenging and value-laden exercise,” the OECD concludes.
The report’s findings will be discussed at the OECD’s pharmaceutical pricing symposium on October 27-28, which will be led by former Mexican health minister Dr Julio Frenk.
“Pharmaceutical pricing is a real challenge for policymakers who want both to get good value for money and to support pharmaceutical innovation. While getting the best possible bargain today might mean fewer new medicines to meet health challenges in the future, policies that consider the benefits new medicines provide relative to their cost can help to meet both objectives,” says Dr Frenk, who will become dean of the Harvard School of Public Health next January.
By Lynne Taylor
ACCOUNTABILITY
Enquanto quem prescreve com a ponta da caneta não for sujeito a regras de responsabilização - a famosa "accountability" - não iremos muito longe:
-Definição de objectivos clínicos;
-Estabelecimento de orçamentos por nível de serviço clínico;
-Acompanhamento/supervisão da praxis clínica pelos "primus inter pares";
-Análise mensal dos desvios face aos orçamentos estabelecidos por nível de serviço clínico;
-Apuramento de desvios Real versus Orçamentado;
-Identificação de não conformidades geradoras de desperdício;
-Correcção dos erros detectados e minimização dos desvios.
É na prática clínica que se situa o epicentro do desperdício...
Das duas uma ou se pratica a liberdade absoluta de prescrição do médico (empregado ) ou prevalece a lógica do SNS ( patrão )
Mas modernas filosofias e culturas de gestão pratica-se a TQM e a CRM através de um modelo de gestão participada por objectivos que ajusta de forma permanente os vários factores de produção em presença e por meio da sua combinação optimizada se consegue uma boa performance.
A eficiência e eficácia hospitalar só será conseguida se a garantia de qualidade for factor de decisão sem esquecer as boas práticas de gestão.
A centralidade do doente e boas práticas clínicas não são incompatíveis com a dinâmica de excelência e do bom desempenho das organizações
Que se saiba o menor consumo de medicamentos nos países nórdicos não significam menos qualidade de prestação de cuidados médicos.
Antes pelo conrtário, a prescrição exagerada de antibióticos está a diminuir as resistências dos portugueses a determinadas estirpes de bactérias
Vamos lá .
Para quando o estabelecimento de uma protocolo de prescrição terapêutica nos HH de que já ouço falar há mais 20 anos
Onde está um protocolo clínico base para a abordagem de um determinado episódio de doença, que defina claramente o percurso da cadeia de diagnóstico e não permita subir vários degraus de uma só vez , tantas vezes com incómodos para os doentes sem apport de mais valias para a definição de um diagnóstico e com um agravamento estúpido dos encargos.
Enquanto não formos por aqui, andamos a enganar os portugueses,o SNS, o país e uns aos outros.
Como afirma Peter Drucker " tentar construir o futuro é difícil, mas ,no entanto, é mais fácil do tentar não o construir"
A irresponsabilidade política e de gestão trouxe-nos ao ponto onde estamos.
Comentador anónimo do saudesa
Caro tambemquero (não sei se devo chamá-lo "comentador anónimo do Saudesa"). No fim, vai dar ao mesmo...
A famosa "accountability”, tal como é entendida em gestão, não se aplica literalmente à Saúde.
E como não se adapta à Saúde, mais difícil vai ser impô-la aos médicos…
Aliás, os médicos neste particular campo de prestação de contas preferem usar o termo “responsabilização”..
Todos percebem!
Algumas questões:
- Definição de objectivos clínicos?
Objectivos são metas de produção, com controlo de qualidade e finalidades específicas, previamente discutidas e colectivamente acordadas.
Em conjunto: a gestão + os participantes.
Senão caímos numa empresa de calçado com níveis de produção, padrões de controlo e quotas de mercado?
- Estabelecimento de orçamentos por nível de serviço clínico?
Os famosos “package” dos seguros, da agências de viagem., etc.
- Acompanhamento/supervisão da praxis clínica pelos "primus inter pares"…
Quem escolhe os primus inter pares.
A gestão?
Ou o médico continuará a ter autonomia técnica.
Quem responde em caso de insucesso, falhanço, neglicência, má prática?
- Análise mensal dos desvios face aos orçamentos estabelecidos por nível de serviço clínico…
Quem determina o nível do Serviço Clínico?
A actual gestão já não faz isso?
Quem responde por orçamentos criativos e irrealistas?
Quem é capaz de determinar os fluxos mensais dos Serviços?
- Apuramento de desvios Real versus Orçamentado…
Que mecanismos dispõe de instrumentos para a confrontação, com rigor, entre o real versus o orçamentado?
- Identificação de não conformidades geradoras de desperdício…
Quem identifica as não conformidades – os "primus inter pares", os gestores, ou auditorias independentes?
- Correcção dos erros detectados e minimização dos desvios…
Como se a medicina fosse uma ciência exacta.
- É na prática clínica que se situa o epicentro do desperdício...
Devem ser dados fornecidos pelo INE ou pela ENSP.
Mas mesmo se fosse assim onde está o hipocentro – o foco telúrico do sísmico desperdício?
O epicentro não está muito próximo dos epifenómenos que as estatísticas mostram…
Das duas uma ou se pratica a liberdade absoluta de prescrição do médico (empregado) ou prevalece a lógica do SNS (patrão).
Ao pugnar contra a liberdade de prescrição está a meter-se em caminhos ínvios.
Em caso de problemas quem responde perante o doente e, se for caso disso perante os Tribunais?
Ou a gestão substitui os Tribunais.
Qual é a lógica do patrão. Será o lucro, o controlo da despesa (a qualquer custo) ou a qualidade dos cuidados?
Aliás a concepção dicotómica do SNS entre patrão e empregados é sublime.
Com esse posicionamento estará à beira de ser contratado para a SONAE.
O TQM (Total Quality Management), também conhecido pelo Toyotismo modelo de gestão implementado no Oriente (na Toyota), em oposição ao Ocidental (modelo Ford).
Ora nós vivemos no Ocidente e quer goste quer não temos comportamentos identitários.
De qualquer maneira é uma estratégia de gestão que terá de perguntar ao “patrão” se está de acordo.
Só depois é que vão aparecer, julgo, os médicos e os demais profissionais de saúde – mas isso é outra conversa.
É muito fashion as múltiplas e variadas certificações de qualidade.
É só passar nos frontispícios do HH’s portugueses e ler as grandes parangonas…
O CMR (Customer Relationship Management ) penso que está a referir a um sistema de relacionamento com “clientes”, em que o ambiente de marketing é a centralidade do processo.…
Vem tarde, já somos um País inundado de HH’s de excelência….
Finalmente: “A centralidade do doente e boas práticas clínicas (sabe o que são?) não são incompatíveis com a dinâmica de excelência e do bom desempenho das organizações”
Estava assustado porque sentia que os processos de gestão tinham feito desaparecer o doente.
Continuamos com frases feitas. De facto, não lidamos com doentes. É com números e frases feitas.
É de bom tom “crucificar” os médicos em nome da defesa dos direitos dos doentes. Desde Leonor Beleza.
Agora esfolam-se os médicos como “gastadores inveterados”.
Deve estar para nascer o 1º. HH sem médicos…
Quem o ouve descrever a situação pensará que não temos Hospitais, com CA, gestão administrativa, gestão de recursos humanos, gestão clínica, direcção de Enfermagem, serviço hoteleiro, etc.
Pensa que tratamos os doentes em improvisadas tendas de campanha do tipo militar. Olhe que a crise financeira não é, ainda, uma guerra.
Não estamos bem. Mas não sei onde visionou esse descalabro na Saúde.
Trabalhei em HH’s espanhóis e alemães.
Nunca senti a Administração. Mas a gestão clínica estava omnipresente eos Serviços organizados. Havia, o sentimento da necessidade de stakeholder’s em vez de marionetas da gestão..
Parece-me que, aqui, queremos começar a casa pelo telhado…Um amigo meu estva participando, silencioso e atento, num brainstorming , quando, cansado, pediu a palavra, e disse para escândalo dos presentes:
Se os administradores administrassem, se os gestores gerissem, se os secretários secretariassem, se os médicos medicassem, se os enfermeiros “enfermeirassem”, se os auxiliares auxiliassem, e por ai adiante, o Hospital vivia sem problemas.
Termino com uma referência a Goethe:
“Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes.
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