Sobre as Carreiras
O SaudeSA, colocou ao presidente da FNAM, Mário Jorge Neves, as seguintes questões:
Agora que os hospitais são empresas, não serviços dependentes duma hierarquia político-administrativa, e os profissionais passam a ter estatuto de contrato de funções públicas e não funcionários públicos, como acha que nas carreiras devem ser tratados (princípios comuns):
SA - Avaliação dos médicos hospitalares, quanto às atitudes/ comportamentos e quanto ao contributo para os resultados?
SA - Avaliação dos médicos hospitalares, quanto às atitudes/ comportamentos e quanto ao contributo para os resultados?
MJN - A avaliação do desempenho dos médicos, não só hospitalares como das outras especialidades, deve ser um instrumento importante na melhoria contínua da prática assistencial e na adequação da resposta dos serviços públicos de saúde às reais necessidades das populações.
Mas é determinante que a avaliação do desempenho esteja baseada em parâmetros e indicadores credíveis e objectivos para que ela não se transforme numa arma persecutória ou de favorecimento de alguns.
A avaliação de desempenho tem de ser encarada, sobretudo, como um exercício pedagógico e nunca numa perspectiva punitiva.
Neste contexto, as atitudes/comportamentos, encarados num sentido lato, deslizam para uma área de grande subjectividade que não devem incorporar, como tal, a avaliação do desempenho.
As atitudes/comportamentos nocivas e/ou graves estão já tipificadas no âmbito do estatuto disciplinar e é nesta base que terão de ser avaliadas.
Simultaneamente, o desempenho global dos serviços de saúde está cada vez mais dependente dos resultados das equipas multiprofissionais e interdisciplinares.
O paradigma da organização do trabalho na saúde é o trabalho de equipa, o que coloca a inevitabilidade de a avaliação individual ter de se inserir no contexto do desempenho global de cada serviço e de cada equipa.
É a nível dos resultados concretos que a avaliação do desempenho tem de se basear, tornando-se indispensável que esses resultados tenham algo com que se comparem.
A avaliação é também um processo de comparação e se não existirem objectivos contratualizados para as várias instituições de saúde e respectivos serviços específicos, os resultados obtidos não permitem verificar se são ou não adequados à missão de cada uma das referidas instituições.
SA - Mecanismos de recompensa aos melhores desempenhos?
Mas é determinante que a avaliação do desempenho esteja baseada em parâmetros e indicadores credíveis e objectivos para que ela não se transforme numa arma persecutória ou de favorecimento de alguns.
A avaliação de desempenho tem de ser encarada, sobretudo, como um exercício pedagógico e nunca numa perspectiva punitiva.
Neste contexto, as atitudes/comportamentos, encarados num sentido lato, deslizam para uma área de grande subjectividade que não devem incorporar, como tal, a avaliação do desempenho.
As atitudes/comportamentos nocivas e/ou graves estão já tipificadas no âmbito do estatuto disciplinar e é nesta base que terão de ser avaliadas.
Simultaneamente, o desempenho global dos serviços de saúde está cada vez mais dependente dos resultados das equipas multiprofissionais e interdisciplinares.
O paradigma da organização do trabalho na saúde é o trabalho de equipa, o que coloca a inevitabilidade de a avaliação individual ter de se inserir no contexto do desempenho global de cada serviço e de cada equipa.
É a nível dos resultados concretos que a avaliação do desempenho tem de se basear, tornando-se indispensável que esses resultados tenham algo com que se comparem.
A avaliação é também um processo de comparação e se não existirem objectivos contratualizados para as várias instituições de saúde e respectivos serviços específicos, os resultados obtidos não permitem verificar se são ou não adequados à missão de cada uma das referidas instituições.
SA - Mecanismos de recompensa aos melhores desempenhos?
MJN- Constitui um claro compromisso público do Governo quanto à necessidade de alguns sectores profissionais, devido à sua marcada especificidade, disporem de um sistema próprio de avaliação do desempenho.
Os médicos estão nesta situação e foram, até, mencionados como um desses exemplos.
Deste modo, o SIADAP em vigor não se lhes aplica e terá de ser definido o sistema de avaliação específico em sede da futura negociação da contratação colectiva da carreira especial.
É importante que existam mecanismos de recompensa/incentivos a nível dos médicos en função dos resultados obtidos. E, por isso, consideramos que esses incentivos devem ser aplicados com clara prioridade às equipas.
Aliás, o diploma dos CRIs ( Centros de Responsabilidade Integrados) hospitalares, publicado em 1999, pela então ministra Drª Maria de Belém, estabelecia a existência de incentivos aplicados a todos os profissionais e na base dos resultados obtidos pelas equipas.
SA - Lealdade ao empregador, quanto à não concorrência na produção de cuidados?
Os médicos estão nesta situação e foram, até, mencionados como um desses exemplos.
Deste modo, o SIADAP em vigor não se lhes aplica e terá de ser definido o sistema de avaliação específico em sede da futura negociação da contratação colectiva da carreira especial.
É importante que existam mecanismos de recompensa/incentivos a nível dos médicos en função dos resultados obtidos. E, por isso, consideramos que esses incentivos devem ser aplicados com clara prioridade às equipas.
Aliás, o diploma dos CRIs ( Centros de Responsabilidade Integrados) hospitalares, publicado em 1999, pela então ministra Drª Maria de Belém, estabelecia a existência de incentivos aplicados a todos os profissionais e na base dos resultados obtidos pelas equipas.
SA - Lealdade ao empregador, quanto à não concorrência na produção de cuidados?
MJN - A questão da chamada lealdade é um aspecto que terá de ser analisado em várias vertentes.
Os hospitais EPE e várias instituições privadas de saúde têm vindo a colocar a exigência dessa suposta lealdade nos vários contratos individuais de trabalho que celebram com os profissionais, com base na exclusividade de funções.
Então, importa ter em conta as seguintes questões:
O Estado pode exigir lealdade aos seus profissionais de saúde quando é ele próprio que assegura o financiamento da generalidade das empresas privadas de saúde, através de convenções ou de contratos com os subsistemas de saúde, ou seja, quando é ele próprio que estimula essa concorrência através dos dinheiros públicos?
As empresas privadas podem exigir eticamente essa lealdade quando têm vivido das acumulações com o emprego público e quando nunca investiram verbas na formação de médicos?
Estas empresas começaram a fazer essa exigência nos últimos 4 ou 5 anos em relação directa com a política iniciada pelo ex-ministro Luís Filipe Pereira, no governo PSD/PP, que tem conduzido à amputação de vários serviços públicos de saúde, à enorme insatisfação profissional, a situações contratuais de enorme precariedade e à não abertura de concursos de provimento.
Por outro lado, a constatação objectiva de grande carência de médicos que se verifica actualmente no nosso país levaria a que, se fosse imposta a dedicação exclusiva, se desencadeasse uma desnatação dos serviços públicos, conduzindo, em linha directa, à integral desarticulação e esvaziamento do SNS.
A lealdade ao empregador não é sinónimo de exclusividade de funções, mas ao cumprimento integral das funções e do regime de trabalho em que foi contratado e que implica, naturalmente, o claro empenhamento na concretização dos objectivos contratualizados pelo respectivo serviço.
Uma vez cumpridas as suas obrigações contratuais e laborais com o empregador principal, nada deve obstar a que possa complementar essa sua actividade com o desempenho da sua profissão noutro local.
É óbvio que a situação desejável, em minha opinião, seria a existência de uma política de delimitação de sectores que introduzisse maior transparência a toda a actividade prestadora de cuidados de saúde.
Mas, para isso, não era somente no plano dos profissionais que essa delimitação se teria de aplicar e deveria começar, desde logo, pelo impedimento de o Estado continuar a fazer convenções ou outros contratos com o sector privado de saúde.
No actual momento, e com as carências de médicos bem visíveis, aplicar uma política de delimitação de sectores seria, como já referi, a forma mais rápida de destruir o SNS.
Mário Jorge Neves, presidente da FNAM
Os hospitais EPE e várias instituições privadas de saúde têm vindo a colocar a exigência dessa suposta lealdade nos vários contratos individuais de trabalho que celebram com os profissionais, com base na exclusividade de funções.
Então, importa ter em conta as seguintes questões:
O Estado pode exigir lealdade aos seus profissionais de saúde quando é ele próprio que assegura o financiamento da generalidade das empresas privadas de saúde, através de convenções ou de contratos com os subsistemas de saúde, ou seja, quando é ele próprio que estimula essa concorrência através dos dinheiros públicos?
As empresas privadas podem exigir eticamente essa lealdade quando têm vivido das acumulações com o emprego público e quando nunca investiram verbas na formação de médicos?
Estas empresas começaram a fazer essa exigência nos últimos 4 ou 5 anos em relação directa com a política iniciada pelo ex-ministro Luís Filipe Pereira, no governo PSD/PP, que tem conduzido à amputação de vários serviços públicos de saúde, à enorme insatisfação profissional, a situações contratuais de enorme precariedade e à não abertura de concursos de provimento.
Por outro lado, a constatação objectiva de grande carência de médicos que se verifica actualmente no nosso país levaria a que, se fosse imposta a dedicação exclusiva, se desencadeasse uma desnatação dos serviços públicos, conduzindo, em linha directa, à integral desarticulação e esvaziamento do SNS.
A lealdade ao empregador não é sinónimo de exclusividade de funções, mas ao cumprimento integral das funções e do regime de trabalho em que foi contratado e que implica, naturalmente, o claro empenhamento na concretização dos objectivos contratualizados pelo respectivo serviço.
Uma vez cumpridas as suas obrigações contratuais e laborais com o empregador principal, nada deve obstar a que possa complementar essa sua actividade com o desempenho da sua profissão noutro local.
É óbvio que a situação desejável, em minha opinião, seria a existência de uma política de delimitação de sectores que introduzisse maior transparência a toda a actividade prestadora de cuidados de saúde.
Mas, para isso, não era somente no plano dos profissionais que essa delimitação se teria de aplicar e deveria começar, desde logo, pelo impedimento de o Estado continuar a fazer convenções ou outros contratos com o sector privado de saúde.
No actual momento, e com as carências de médicos bem visíveis, aplicar uma política de delimitação de sectores seria, como já referi, a forma mais rápida de destruir o SNS.
Mário Jorge Neves, presidente da FNAM
Etiquetas: Fnam
2 Comments:
«É a nível dos resultados concretos que a avaliação do desempenho tem de se basear, tornando-se indispensável que esses resultados tenham algo com que se comparem.»
Estou de acordo com este ponto.
A avaliação de objectivos deve incluir indicadores de produção e indicadores de desempenho.
Por outro lado a avaliação de competências deve incluir indicadores comportamentais.
Desempenho individual deve ser constituído por critérios objectivos em termos da produção, eficiência operacional e qualidade (p. ex., número de cirurgias, n.º de consultas externas)
A atribuição da remuneração variável deve ser calculada com base na aplicação destes critérios.
Embora o trabalho hospitalar seja essencialmente executado em equipa, a avaliação individual não deve diluir-se na avaliação do grupo de trabalho.
ATÉ AO LAVAR DOS CESTOS É VINDIMA...
Nesta entrevista, onde Mário Jorge esclarece muitas questões, torna-se visível um facto que estamos a rodear, para não o enfrentar.
A circunstância dos funcionários dos HH's passarem para um estatuto diverso, o tal "contrato de funções públicas", não significa que as futuras carreiras médicas, que tanto têm interessado aos Sindicatos (a ambos) não integrem um contrato colectivo de trabalho (em contraposição aos CIT's).
As renumerações variáveis, tão desejadas para os outros pelos gestores, só tem cabimento dentro de um quadro de estímulo à produção e já agora aos resultados (quantitaivos e qualitativos). São incentivos, não lhe chamaria remunerações.
De resto, as ditas remunerações variáveis só serviriam para colocar funcionários uns contra os outros e instalar as leis do mercado livre no seio dos HH's.
Quanto à avaliação das competências quando se sobrevaloriza os "indicadores comportamentais" (?) sugere-se que os funcionários hospitalares seriam, também, avaliados por psicólogos, sociólogos, etc?
Os médicos, p. exº., nunca aceitarão ser avaliados por alguém que não seja um seu par, qualificado para essa função.
Mário Jorge sabe disso.
E se este assunto não veio a talhe de foice foi porque o entrevistador preferiu ignorá-lo.
Finalmente, achei engraçada a tirada da transformação dos hospitais em empresas (tout court, no texto) como "não serviços dependentes duma hierarquia político-administrativa".
Então, os actuais HH's EPE's, não dependem de ninguém?
Não têm tutela?
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