A crise, a regulação e o SNS
Ler os textos do Pensador paga sempre, v. "Em tempo de estreia" . Quem não gostar da mensagem não deixará de se deliciar com a prosa, da melhor, se não a melhor, que aparece no Saudesa. O caso concreto é, além disso, um excelente exemplo de como, serenamente, se pode usar a ironia sem perder clareza na mensagem. É tão raro que me apetece relevá-lo!
Sem discordar da mensagem, parece-me, no entanto, que ela é parcelar – não quero dizer parcial porque a este termo se associa, geralmente, um sentido pejorativo que, no caso, seria incorrecto –. Quero apenas dizer que não cobre toda a realidade que está em jogo e que, infelizmente, é bem mais extensa.
Vou dizer por quê, mas antes quero afirmar que, no Saudesa, talvez ninguém tanto como eu, e há tanto tempo, terá batido a tecla da imprescindibilidade da definição, avaliação e controlo (hoje diríamos supervisão ou regulação), em todos os casos, e mais ainda quando estão em causa os privados no mercado da saúde. Lembro que, a este propósito, cheguei a evocar a fábula da rã e do lacrau: se o SNS não estiver imunizado não deve pôr-se a jeito porque a picada é quase certa. E o Estado pode e deve imunizar-se porque a exposição ao risco, no contexto envolvente, é inevitável. Porque tudo muda, também o SNS não ficará como nasceu. De resto, já nem está como nasceu (v. M. Tatcher e T. Blair, a revisão constitucional, a Lei de Bases da Saúde e a transição HH-SPA -> HH-EPE) e o que a vacina deve prevenir é a perda das que são as características fundamentais do SNS. Destas, o que pode dizer-se é que, se não estão satisfatoriamente realizadas, não seria objectivamente aceitável afirmar que estão perdidas.
A abordagem do Pensador é óptima como protesto ao qual não haverá quem se não associe. Por que a considero parcelar, sem demérito para o Pensador que não estava obrigado a esgotar o tema?
Porque a sua linha de raciocínio, o seu argumento nuclear, se desenvolve tal como se ignorasse que a crise que nós atravessamos tem duas componentes:
- A primeira, que é nossa e já é crónica – pelo menos ao longo dos últimos 30 anos e antes não porque ganhávamos e gastávamos pouco e tínhamos posição monopolista em relação às matérias primas das colónias (é, por exemplo, o caso do branco algodão donde, se espremido, jorraria sangue preto, como disse há muitos anos o bispo da Beira, D. Sebastião Resende, se não erro) – crise essa que se designa por sobreendividamento. Ainda que, nos últimos anos, o ritmo da formação da dívida pública (apenas parte da dívida total) tenha diminuído, a verdade é que, quando referida ao O.E., representa um peso excessivo cujas consequências incidem sobre o contribuinte e são exportadas para
- a segunda crise, de incidência mundial, derivada de causas várias, algumas criminosas outras de imprudência culpável ou não, e com a qual só não perde quem nada tiver ganho ou já nada tiver para perder. E aqui está a diferença importante: muito poucos conseguirão, apesar de tudo, encontrar na crise oportunidades de novos ganhos; poucos verão apenas reduzidas as suas expectativas; muitos mais vão sofrer reduções efectivas, até no que consideravam – e deviam ser – conquistas inalienáveis; ao contrário de outros que, no tempo bom, amealharam, nós, estado e indivíduos, vamos adicionar a essa redução os efeitos exportados pelo anterior endividamento que ninguém nos vai perdoar e o que se gasta em juros não fica para almofadar a crise.
Totalmente de acordo com o Pensador: os responsáveis pelo que nos espera nunca serão suficientemente denunciados, e muito menos serão suficientemente punidos. Mas quem são os responsáveis? Bem vistas as coisas, embora com níveis de responsabilidade muito diferentes, quem fica de fora? E, depois da denúncia e até da punição (se dela fôssemos capazes), como ficamos? Portugal representa 0,4% do conjunto da EU, e apenas centésimas na economia global. Suspeito que seja pouco, mesmo que tivéssemos virtudes de fermento, para se chegar a uma leitura diferente. Ou nos isolamos, ou vamos por onde forem os outros. E, globalmente, parece que, com os volteios dos políticos, nos quais não quero entrar, estamos a ir.
Nesta perspectiva, a grande conclusão a que se chegou é a de que o mercado não dispensa a supervisão e, sem ela, pode desregular-se e gerar crises sistémicas que não podem comparar-se com as chamadas crises cíclicas. Crises sistémicas que não são uma “normalidade” factual e derivam não de “grandes gestores, homens de coragem e de fibra que ousam correr riscos” mas sim da desonestidade de gestores anormais, desprovidos de qualquer código de conduta que não seja a “espiral da ganância” em que se envolveram. Do código que adoptaram não faz parte qualquer preocupação com à função social da riqueza referida na “Rerum Novarum”. São estes anormais que justificam e impõem a imprescindibilidade da supervisão ou regulação do Estado. A vida ensina muita coisa e estou convencido de que hoje JS não justificaria com os argumentos que usou o abandono dos HH-PPP com gestão clínica e ter-se-ia poupado à crítica de LCC que lhe ripostou que o problema está na incapacidade de defender o interesse geral perante os interesses privados. A supervisão e controlo continuam imprescindíveis, seja qual for a sua dificuldade.
Noutro ponto tenho absoluta certeza de que estou de acordo com o Pensador: “o buraco da saúde” em 2008 não foi ainda assumido e, se existir como é provável, será bem menor do que os montantes assumidos com a nacionalização do BPN. Quanto a dívidas do SNS, não sendo uma especificidade do SNS, são reivindicadas pelos credores e parece que vão ser pagas. A pouca eficiência do sector público, quem é que a contesta? Entendo, porém, que, no contexto da crise que vamos suportar, a obrigação de eficiência do SNS sai reforçada, para os profissionais e sobretudo para os decisores, até pelas razões de solidariedade social que estão na base da sua existência.
Aidenos
Sem discordar da mensagem, parece-me, no entanto, que ela é parcelar – não quero dizer parcial porque a este termo se associa, geralmente, um sentido pejorativo que, no caso, seria incorrecto –. Quero apenas dizer que não cobre toda a realidade que está em jogo e que, infelizmente, é bem mais extensa.
Vou dizer por quê, mas antes quero afirmar que, no Saudesa, talvez ninguém tanto como eu, e há tanto tempo, terá batido a tecla da imprescindibilidade da definição, avaliação e controlo (hoje diríamos supervisão ou regulação), em todos os casos, e mais ainda quando estão em causa os privados no mercado da saúde. Lembro que, a este propósito, cheguei a evocar a fábula da rã e do lacrau: se o SNS não estiver imunizado não deve pôr-se a jeito porque a picada é quase certa. E o Estado pode e deve imunizar-se porque a exposição ao risco, no contexto envolvente, é inevitável. Porque tudo muda, também o SNS não ficará como nasceu. De resto, já nem está como nasceu (v. M. Tatcher e T. Blair, a revisão constitucional, a Lei de Bases da Saúde e a transição HH-SPA -> HH-EPE) e o que a vacina deve prevenir é a perda das que são as características fundamentais do SNS. Destas, o que pode dizer-se é que, se não estão satisfatoriamente realizadas, não seria objectivamente aceitável afirmar que estão perdidas.
A abordagem do Pensador é óptima como protesto ao qual não haverá quem se não associe. Por que a considero parcelar, sem demérito para o Pensador que não estava obrigado a esgotar o tema?
Porque a sua linha de raciocínio, o seu argumento nuclear, se desenvolve tal como se ignorasse que a crise que nós atravessamos tem duas componentes:
- A primeira, que é nossa e já é crónica – pelo menos ao longo dos últimos 30 anos e antes não porque ganhávamos e gastávamos pouco e tínhamos posição monopolista em relação às matérias primas das colónias (é, por exemplo, o caso do branco algodão donde, se espremido, jorraria sangue preto, como disse há muitos anos o bispo da Beira, D. Sebastião Resende, se não erro) – crise essa que se designa por sobreendividamento. Ainda que, nos últimos anos, o ritmo da formação da dívida pública (apenas parte da dívida total) tenha diminuído, a verdade é que, quando referida ao O.E., representa um peso excessivo cujas consequências incidem sobre o contribuinte e são exportadas para
- a segunda crise, de incidência mundial, derivada de causas várias, algumas criminosas outras de imprudência culpável ou não, e com a qual só não perde quem nada tiver ganho ou já nada tiver para perder. E aqui está a diferença importante: muito poucos conseguirão, apesar de tudo, encontrar na crise oportunidades de novos ganhos; poucos verão apenas reduzidas as suas expectativas; muitos mais vão sofrer reduções efectivas, até no que consideravam – e deviam ser – conquistas inalienáveis; ao contrário de outros que, no tempo bom, amealharam, nós, estado e indivíduos, vamos adicionar a essa redução os efeitos exportados pelo anterior endividamento que ninguém nos vai perdoar e o que se gasta em juros não fica para almofadar a crise.
Totalmente de acordo com o Pensador: os responsáveis pelo que nos espera nunca serão suficientemente denunciados, e muito menos serão suficientemente punidos. Mas quem são os responsáveis? Bem vistas as coisas, embora com níveis de responsabilidade muito diferentes, quem fica de fora? E, depois da denúncia e até da punição (se dela fôssemos capazes), como ficamos? Portugal representa 0,4% do conjunto da EU, e apenas centésimas na economia global. Suspeito que seja pouco, mesmo que tivéssemos virtudes de fermento, para se chegar a uma leitura diferente. Ou nos isolamos, ou vamos por onde forem os outros. E, globalmente, parece que, com os volteios dos políticos, nos quais não quero entrar, estamos a ir.
Nesta perspectiva, a grande conclusão a que se chegou é a de que o mercado não dispensa a supervisão e, sem ela, pode desregular-se e gerar crises sistémicas que não podem comparar-se com as chamadas crises cíclicas. Crises sistémicas que não são uma “normalidade” factual e derivam não de “grandes gestores, homens de coragem e de fibra que ousam correr riscos” mas sim da desonestidade de gestores anormais, desprovidos de qualquer código de conduta que não seja a “espiral da ganância” em que se envolveram. Do código que adoptaram não faz parte qualquer preocupação com à função social da riqueza referida na “Rerum Novarum”. São estes anormais que justificam e impõem a imprescindibilidade da supervisão ou regulação do Estado. A vida ensina muita coisa e estou convencido de que hoje JS não justificaria com os argumentos que usou o abandono dos HH-PPP com gestão clínica e ter-se-ia poupado à crítica de LCC que lhe ripostou que o problema está na incapacidade de defender o interesse geral perante os interesses privados. A supervisão e controlo continuam imprescindíveis, seja qual for a sua dificuldade.
Noutro ponto tenho absoluta certeza de que estou de acordo com o Pensador: “o buraco da saúde” em 2008 não foi ainda assumido e, se existir como é provável, será bem menor do que os montantes assumidos com a nacionalização do BPN. Quanto a dívidas do SNS, não sendo uma especificidade do SNS, são reivindicadas pelos credores e parece que vão ser pagas. A pouca eficiência do sector público, quem é que a contesta? Entendo, porém, que, no contexto da crise que vamos suportar, a obrigação de eficiência do SNS sai reforçada, para os profissionais e sobretudo para os decisores, até pelas razões de solidariedade social que estão na base da sua existência.
Aidenos
Etiquetas: Aidenós
7 Comments:
Quanto ao engenho na utilização da escrita de Camóes (rigor, humor e sensibilidade)o saudesa reúne um naipe de excelentes comentadores como o pensador, rezingão, hermes, silyseason. Como é raro ver na nossa imprensa.
Mas o fundamental neste blog tem sido a oportunidade de discussão e aprendizagem sobre temas mais cadentes da nossa política de saúde.
Há muito que se justifica a recolha em livro das melhores intervenções do saudesa.
30 ANOS
- de parabéns ou de atalaia?
As efabulações que construímos e vivemos, nos últimos 30 anos, à volta do SNS, acabam por esgotar a complacência, incomodar os pequenos comprazimentos, tornar onerosos quer grandes, ou pequenos, empreendimentos, alimentar inexequíveis quimeras, desmontar estranhas utopias, construir irreais fantasias, passar por indecorosos vexames, incubar obscenas hesitações, vislumbrar feéricos êxitos, desbaratar oportunidades, etc.
30 anos é, em regra, o esplendor da adultícia humana. No SNS, que temos e lutamos é o ocaso, a lassidão, a contingência e a insuportável incógnita do provir.
Precisamos de tudo, mas essencialmente, como está dito, e repisado, no post: avaliação e controlo.
A avaliação é uma questão de natureza eminentemente técnica. Portanto, as soluções, os desfechos, deverão ser, também, técnicos.
O controlo, de parelha com a avaliação depende, largamente, da disponibilidade de meios de identificação dos determinantes das soluções sanitárias, assentes na preservação (ou melhoria) da qualidade de vida e no conferir aos utentes capacidades para exercer uma conferência alargada das carências ou a revisão sobre incongruências do sistema.
Ambos são difíceis de aceitar porque estão, muitas vezes, conotados com atitudes repressivas. Mas não será, necessariamente, esse, o roteiro obrigatório. Deve, antes, traduzir-se na aquisição de uma forte consciência de responsabilidade social dos cidadãos sobre a Saúde.
Esta conduzirá à mobilização de recursos humanos que vitalizarão – humanizando – a promoção da Saúde, indo além das redundantes e estafadas (e ziguezagueantes como se destacava recentemente) políticas sociais. Mais importante será a participação social, que, neste País, está completamente inquinada, desencaminhada, por objectivos políticos colaterais, como se observou nas mudanças de processos que obrigatoriamente levam a alterações: encerramentos de SAP’s, redução de períodos de atendimento de situações agudas, racionalização das necessidades de maternidades e outros casos.
Tudo começou, há muito tempo com a primeira tentativa rudimentar de criar o SNS. Nos tempos conturbados que se seguiram a Abril quando os estudantes faziam o Serviço Cívico, os médicos partiram para o Interior, animados de um ingénuo entusiasmo – pareciam os históricos bandeirantes - e aportaram às decrépitas Misericórdias, lançando, no terreno, os fundamentos dos Cuidados Primários de proximidade. O saldo deste esforço será relevante quando retrospectivamente triados sob a pressão de índices sanitários, hoje em voga, mas temos de reconhecer que os meios eram escassos, para não dizer nulos.
Foi o primeiro da Saúde em busca da participação social. Até aí prevaleceu o espírito do João Semana, da filantropia a retalho e do aproveitamento político, eminentemente caciquista (médicos de partido).
Aqui a participação social, não funcionou no sentido dos ventos da história. Foi antes uma peia que engordou falsos impedimentos. Quando se fala em estabelecer uma rede operacional, em coordenar esforços e racionalizar intervenções, nasce a desconfiança. Frente a qualquer tentativa de organização prolifera a desconfiança.
Entretanto, decorreram muitos anos.
De nada nos tem valido as estruturas em campo: IGAS, ACSS, ERS, Infarmed, Tribunal de Contas, etc.
Todavia, chegamos relativamente incólumes aos 30 anos.
Hoje, a ameaça, o mau prenúncio, são as PPP’s em Saúde. Introduzidas em 2002, pelo ministro LFP, através do Decreto-Lei n.º 185/2002, de 20 de Agosto, as parcerias público/privadas na saúde, desde de início que se orientaram para abocanharar e tentar eliminar, de um dos pilares assistenciais - os HH’s - a gestão pública.
A razão foi sempre camuflada. Nunca se mostrou o incontrolável apetite pelo controlo global destas instituições…
Invocaram-se motivos nobres e o regime de gestão e financiamento privados, foram apresentados como um instrumento para obter melhores serviços com partilha de riscos e benefícios mútuos entre as entidades públicas que têm a responsabilidade pelos serviços públicos e outras entidades que se lhe associam com carácter duradouro.
Aberta a porta, começa o assédio que visa essencialmente a captura do SNS. De parte do SNS, porque haverá sempre uma fatia social cujo denominador comum serão os serviços ou os cuidados sem rentabilidade e que a iniciativa privada ou a preservará ou a endossará ao sector social da saúde (IPSS’s). O sector privado ensaia a “estratégia de Tróia” que, como todos sabemos, levou ao saque da cidade que sucumbe, nos termos da lenda, ao fim de 10 anos. Tanto como Ulisses necessitou para regressar a casa.
Todos sabemos que o financiamento do sistema de saúde implica a mobilização de valores elevados. Que existem problemas na acessibilidade. Que a política do medicamento não tem conseguido a contenção esperada. Que as deduções fiscais não corrigem as condições de desigualdade económica.
Este “rosário” de limitações emana, em primeira linha, do patamar de desenvolvimento onde nos encontramos no espaço político e económico (“na cauda da Europa”!). Estamos tão mal que a recessão generalizada nos países europeus desenvolvidos “evita” entrar neste jardim à beira mar plantado…
Estas terríficas condições não deviam favorecer a iniciativa privada. Mas como a iniciativa privada, em Portugal, insulta publicamente o Estado, mas vive na sua dependência, crises orçamentais públicas escancaram portas.
Os mecanismos de avaliação e controlo existentes não servem (não conseguem) para debelar, conter, tamanhos apetites. Algo de novo, eficiente, provavelmente autónomo do Estado e dos interesses do grande capital financeiro (que também já se alimenta do Estado), teria de ser erguido com os custos inerentes. No topo desta avaliação o Tribunal de Contas com competências reforçadas.
Se não o cavalo de Tróia vai franquear as portas da cidade e incendiar o burgo.
A definição do sistema é, por outro lado, um problema eminentemente político. Quer a definição quer a evolução.
Definições políticas de fundo são questões para os “alegristas” e/ou a esquerda arcaica se masturbarem no ”ops!”.
Na indefinição marca de água dos tempos socráticos, e por precaução, é melhor ficar de atalaia.
Excelente post do Aidenós.
Aproveito para cumprimentar o rezingão, o pensador e outros que nos têm igualmente trazido contributos de altíssimo nível.
Hermes
.../ O único país grande sem quaisquer inibições orçamentais é a Alemanha, o motor europeu. Apoiando um plano forte, emprestava de novo a sua credibilidade à zona euro junto dos mercados. Mas depois de um interregno de sete anos, Berlim está de volta à ortodoxia financeira e ao preconceito contra o sul incontinente (Itália, Grécia, Portugal, França…). Se levar a melhor, a crise vai doer ainda mais. E a UE continuará condenada a ser uma espécie de G27: há uns princípios gerais e cada um aplica como puder.
Luís Rego, DE 24.11.08 link
Quanto pior for a crise, pior para o nosso SNS, constrangido pelas limitações de financiamento.
(...) A segunda é que estamos a viver uma mudança de paradigma. Os neoliberais dizem que “no passa nada”, “isto é apenas um sobressalto”, “a regulação não é necessária”, “os produtos financeiros são complexos e só os especialistas os entendem”, o que é preciso é “inovação e produtos ainda mais complexos”. Estão errados. O que se passa é que este paradigma em que vivemos caracterizado por mercados livres, crédito fácil, falta de regulação, especulação galopante, ausência de ética e dominação absoluta da economia virtual, vai acabar. O novo paradigma vai assentar em mercados mais regulados, em crédito mais apertado, menor especulação, maior consciência ética e maior intervenção dos governos com politicas que promovam o crescimento a longo prazo.
António Costa e Silva link
Caro tambemquero:
O SNS vai ficar prisioneiro de decisões ao nível da política social dos governos.
Esta crise, para mal do nosso descontentamento, veio colocá-lo, permanentemente, a prazo.
Uma espada de Dâmocles foi colocada sobre o SNS, reinando o sentimento de danação iminente.
Até lá, o mercado livre prevelacerá, com alterações cosméticas, sem permitir qualquer tipo credível de regulação ou avaliação.
Faz parte do seu património genético.
A tão desejada mudança de paradigma será sempre convulsiva, para não dizer violenta.
O neoliberalismo está instalado e não cederá o seu espaço gratuitamente. Tudo o que temos assistido até agora têm sido múltiplos esforços para controlar danos e o salvar da tormenta política.
À atenção dos Governos
Fala-se muito do aumento da expectativa de vida nos países desenvolvidos, mas nem sempre nos preocupamos em saber que qualidade tem essa vida. Investigadores da Universidade de Leicester (Carol Jagger et al.), no Reino Unido, acabam de publicar na Lancet (edição do passado dia 17) um estudo sobre esta problemática, que abrangeu os 25 países da UE.
Os autores do estudo calcularam a expectativa de vida e os anos de vida com saúde a partir dos 50. Em 2005 (ano de referência), um homem de 50 anos poderia esperar viver, em média, até aos 67,3, sem limitações impostas por doença, e uma mulher até aos 68,1. Os anos de vida com saúde após os 50 variam mais entre os países do que a expectativa de vida, concluíram os investigadores, pois vão de 9,1 e 10,4 para homens e mulheres, respectivamente, na Estónia, a 23,6 e 24,1, na Dinamarca. O rendimento familiar bruto e os custos dos cuidados com os idosos estão positivamente associados aos anos de vida com saúde depois dos 50, em homens e mulheres, mas, nos homens, há uma associação negativa com o desemprego a longo prazo, e uma associação positiva com a aprendizagem ao longo da vida.
Está-se a ver que se os governos querem reter os idosos por mais tempo no mercado de trabalho, vão ter de gastar mais para os manter capazes de trabalhar. Com as máquinas passa-se o mesmo — sem manutenção, emperram. Param, mesmo.
TM 24.11.08
O título deveria ser: À atenção da senhora Alta Comissária da Saúde
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