Baixa credibilidade
Os estudos sobre hospitais valem o que valem, há-os para todos os gostos. E, quando realizados sob encomenda são, a mais das vezes, como fatos feitos à medida, assentam que nem uma luva a quem paga ao alfaiate. Repare-se no estudo encomendado pelo grupo Mello á Universidade Nova de Lisboa, alguém de boa fé acredita (por princípio) nos resultados sabendo-se que o financiador é parte interessada nos mesmos? O Conselho Científico e a Comissão de Ética (se é que existe) da Nova não o deveriam ter rejeitado em nome da transparência e credibilidade científica da Instituição?
Em nome da ética, o mínimo que se exige dos investigadores é que, aquando da publicação, conste no artigo que o mesmo foi financiado pelo Grupo José de Mello Saúde. É assim que mandam as boas práticas editoriais de revistas científicas (médicas, as que melhor conheço) com credibilidade mundial, aos investigadores é sempre exigida uma declaração de interesses e da mesma é dado conhecimento aos leitores. É completamente diferente o peso científico de um artigo realizado por investigadores independentes de um financiado por organizações externas directamente interessadas na natureza dos resultados. E, quem lê, tem todo o direito a ter juízo crítico sob práticas que, está mais que demonstrado, podem, por acção ou omissão, influenciar o desenvolvimento e as conclusões.
É pena que estas coisas ainda se passem assim por cá. Que uma Universidade aceite participar em estudos encomendados, que os nossos principais órgãos de informação escrita (Público e Expresso, por exemplo) se prestem a dar publicidade ao seu resultado sem uma nota crítica a um princípio básico de toda a metodologia científica, o de a por a salvo de conflitos de interesses entre quem investiga e quem financia.
Só a baixa credibilidade da nossa investigação pode explicar que um ministro, no caso Correia de Campos, tenha tido a desfaçatez de ordenar a um colaborador, no caso Ana Jorge, que colocasse em gaveta esconsa um estudo cujos resultados vinham contrariar os seus desígnios para a política hospitalar.
Em nome da ética, o mínimo que se exige dos investigadores é que, aquando da publicação, conste no artigo que o mesmo foi financiado pelo Grupo José de Mello Saúde. É assim que mandam as boas práticas editoriais de revistas científicas (médicas, as que melhor conheço) com credibilidade mundial, aos investigadores é sempre exigida uma declaração de interesses e da mesma é dado conhecimento aos leitores. É completamente diferente o peso científico de um artigo realizado por investigadores independentes de um financiado por organizações externas directamente interessadas na natureza dos resultados. E, quem lê, tem todo o direito a ter juízo crítico sob práticas que, está mais que demonstrado, podem, por acção ou omissão, influenciar o desenvolvimento e as conclusões.
É pena que estas coisas ainda se passem assim por cá. Que uma Universidade aceite participar em estudos encomendados, que os nossos principais órgãos de informação escrita (Público e Expresso, por exemplo) se prestem a dar publicidade ao seu resultado sem uma nota crítica a um princípio básico de toda a metodologia científica, o de a por a salvo de conflitos de interesses entre quem investiga e quem financia.
Só a baixa credibilidade da nossa investigação pode explicar que um ministro, no caso Correia de Campos, tenha tido a desfaçatez de ordenar a um colaborador, no caso Ana Jorge, que colocasse em gaveta esconsa um estudo cujos resultados vinham contrariar os seus desígnios para a política hospitalar.
tá visto
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3 Comments:
O que a imprensa rotulou de estudo comparativo entre diferentes modelo de gestão hospitalar mais não é, na realidade, que o relatório de actividades da gestão do HFF pelo grupo Mello e das suas tumultuosas relações com a entidade contratante, durante o período de vigência do contrato. Só não percebo o motivo porque foi esse mesmo relatório solicitado a uma entidade externa (U. Nova). Terá sido para dar crédito à parte do trabalho em que se comparam resultados com os dos hospitais EPE?
Não sendo perito na matéria, parece-me que este tipo de comparação é de muito difícil execução tendo em conta os princípios totalmente distintos de financiamento. Repare-se no que é dito no relatório sobre esta matéria:
>> Para os dez hospitais EPE do grupo de comparação, todos os valores utilizados constam do respectivo contrato anual, disponível no sítio de internet do Ministério da Saúde.
Para o HFF, o processo foi mais complicado e envolveu estimativas internas, fornecidas pelo próprio Hospital, para além de recorrer, em certos casos, a um grau de agregação de informação superior ao dos outros hospitais (esta diferença de disponibilidade de dados deve-se ao facto de existirem diferenças de contrato que remuneram o Hospital Fernando da Fonseca por “doentes saídos”, enquanto que os hospitais EPE são remunerados por “doente equivalente”, não estando publicada, para o Hospital Fernando da Fonseca, informação de doentes equivalentes directamente comparável com a dos hospitais EPE).
Pergunto, remuneração por “doente saído” é por GDH? Não sendo perito na matéria, é que, se assim for, são mesmo filosofias de pagamento totalmente distintas.
Seria bom que quem soubesse mais do assunto nos esclarecesse.
sra ministra, importa-se de esclarecer?
li este fim de semana que a ministra da saúde esteve em fátima, num encontro da pastoral da saúde, e anunciou qualquer coisa como 'o acordo com a pastoral/igreja católica sobre a assistência religiosa nos hospitais está quase pronto'. o meu queixo caiu . bom, exagero, na verdade não sou assim tão ingénua. mas gosto de fingir que sim -- e sobretudo não vejo motivos para ser sofisticada nesta matéria. é que nisto das leis, das constituições, e assim, só há que seguir o risco amarelo.
andamos nesta treta de conversa há anos - desde a revisão da concordata, em 2004 - e o estado português continua a fingir que não sabe ler.negociar 'acordos' com a igreja católica a que propósito? a concordata de 2004 só diz sobre esta matéria que o estado português se compromete a viabilizar a assistência religiosa católica nos hospitais. a lei da liberdade religiosa (de 2001) estatui que todos os pacientes/presos/militares devem poder ter acesso a assistência religiosa da sua confissão se a solicitarem e que a comissão da liberdade religiosa tem de dar parecer sobre as matérias que têm a ver com a lei em causa.
nada, absolutamente nada, na lei implica que haja 'negociações' com uma das confissões em detrimento das outras - pelo contrário, naturalmente. o decreto-lei que está a fundamentar esta negociação, e que diz que a assistência religiosa nos hospitais deve ser organizada de acordo com a igreja católica, decorria da concordata extinta e portanto não pode ser honestamente invocado por qualquer das partes.
e se a lei não chega, é talvez conveniente lembrar ao governo que a assistência religiosa nos hospitais já foi objecto, nesta legislatura, de uma fita absolutamente vergonhosa protagonizada pelas altas instâncias da igreja católica a propósito do anterior projecto, em que o conhecimento privilegiado do documento permitiu aos bispos virem para a praça pública inventar histórias sobre o respectivo conteúdo, numa campanha terrorista contra a efectiva liberdade religiosa (chegaram a afirmar que a assistência religiosa nos hospitais ia ser impossível, só porque as outras confissões iam estar, pela primeira vez, em igualdade de ciscunstâncias, e se propunha desmantelar o corpo de capelães católicos residentes nos hospitais e pagos em exclusividade com o erário público) e batendo-se pela manutenção de um projecto anterior - que lhes dava ainda mais dominância que aquela que actualmente detêm, criado uma espécie de bispo dos hospitais, à semelhança do existente bispo das forças armadas, com toda uma estrutura 'dirigente' para a assistência religiosa baseada na 'representatividade' e, naturalmente, generosamente paga pelos contribuintes - , projecto esse que correia de campos teve o bom senso de mandar retirar, por ter constatado a sua inconstitucionalidade (ainda na sua recente entrevista a um semanário frisou que fora 'um erro dos serviços do ministério' ter elaborado o documento).
mas eis que em nome de uma qualquer noção de delicadeza (reverência é a palavra que ocorre) se volta a atraiçoar o espírito da constituição e da lei. aguarda-se com alguma impaciência, pois, o conhecimento do 'acordo'. e, já agora, que a comissão de liberdade religiosa, presidida por mário soares, lembre ao governo que existe, e que o anúncio público desta 'negociação' e de um 'acordo quase final', a ser verdadeiro, a faz passar por verbo de encher. é que, afinal, a comissão da liberdade religiosa é apenas a comissão criada para que as confissões minoritárias tenham voz e para que a liberdade religiosa seja sempre respeitada. e a última vez que olhei, a confissão católica não era oficial nem fora eleita para me representar.
Fernanda Câncio
A questão religiosa deixou de estar no centro do debate.
Das capelanias não capelanias hospitalares não depende a sustentabilidade do SNS.
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