SNS, morte lenta
A morte lenta do SNS é uma constatação de Adalberto Campos Fernandes, explicada pelo desleixo a que os profissionais têm sido votados. Integrá-los nas decisões, reconhecer-lhes mérito e dar-lhes projectos estáveis são algumas sugestões para prevenir o burnout entre clínicos e a sua debandada.
«Estamos a viver um tempo triste, que é o de vermos morrer de forma paulatina, definhando, o SNS; vemo-lo morrer porque a matéria-prima essencial que o tem feito viver está a ser descurada e desacompanhada».
«Estamos a viver um tempo triste, que é o de vermos morrer de forma paulatina, definhando, o SNS; vemo-lo morrer porque a matéria-prima essencial que o tem feito viver está a ser descurada e desacompanhada».
Solução: «É fundamental existirem estáveis políticas de gestão e de desenvolvimento pessoal e profissional, senão o sistema de Saúde, nomeadamente o SNS, não consegue reter os melhores profissionais, não consegue fidelizar projectos de vida profissional e anda-se sempre a correr atrás do prejuízo.»
Adalberto Campos Fernandes frisou a importância de se «reflectir» sobre «quais são as verdadeiras expectativas dos profissionais». «Sou daqueles que acreditam que 90% das pessoas não mudam de lugar de trabalho por dinheiro», sublinhou, justificando: «Acima de tudo, a maior parte dos médicos o que pretende é ter um projecto de vida profissional bem definido e condições de exercício na equipa, de preferência equipas multidisciplinares estáveis, com uma certeza estratégica quanto ao reconhecimento da sua competência e quanto ao seu futuro profissional. Respeito pela autonomia do exercício profissional», reconhecendo que «a profissão médica rende mais se tiver um carácter autónomo e se a responsabilidade for acometida individualmente». Por outro lado, frisou a importância de «incluir os médicos no processo de decisão, transmitindo-lhes a ideia de que, numa organização de saúde, a gestão é muito mais um instrumento de apoio do que uma forma de controlo».
Adalberto Campos Fernandes contextualizou o momento presente do ponto de vista social, político e económico, lembrando que vivemos um período de «condicionalismo extremo em termos orçamentais». E «quando existem condicionalismos orçamentais e não se fizeram os trabalhos de casa nos tempos que os precederam, naturalmente que o risco das medidas avulsas e das medidas intempestivas cegas podem facilmente repercutir-se sobre as organizações».
Notando que em algumas áreas da Saúde os profissionais abundam e o desemprego prolifera, mas, noutras, as carências são evidentes, o orador apontou esta como outra possível causa de descontentamento. E aproveitou a ocasião para criticar fortemente a abertura de novos cursos de Medicina, que considera «um erro de consequências que podem ser trágicas para a qualidade do ensino médico». Na sua opinião, a falta de médicos em Portugal é um «mito», admitindo apenas a carência de clínicos «sectorialmente nalgumas especialidades e nalguns domínios de actividade». E ao invés de se «atomizar o ensino médico», entende que se devia estar «numa fase de concentração universitária para termos faculdades de Medicina de dimensão internacional com potência de meios e recursos financeiros».
Com a opção que está a ser seguida «vai haver seguramente» desemprego médico no País. Além disso, «a proletarização do trabalho vai ser maior, a tendência do pequeno contrato vai ser maior, e a qualidade dos formadores e dos formandos vai inexoravelmente cair».
TM 22.03.10
Adalberto Campos Fernandes frisou a importância de se «reflectir» sobre «quais são as verdadeiras expectativas dos profissionais». «Sou daqueles que acreditam que 90% das pessoas não mudam de lugar de trabalho por dinheiro», sublinhou, justificando: «Acima de tudo, a maior parte dos médicos o que pretende é ter um projecto de vida profissional bem definido e condições de exercício na equipa, de preferência equipas multidisciplinares estáveis, com uma certeza estratégica quanto ao reconhecimento da sua competência e quanto ao seu futuro profissional. Respeito pela autonomia do exercício profissional», reconhecendo que «a profissão médica rende mais se tiver um carácter autónomo e se a responsabilidade for acometida individualmente». Por outro lado, frisou a importância de «incluir os médicos no processo de decisão, transmitindo-lhes a ideia de que, numa organização de saúde, a gestão é muito mais um instrumento de apoio do que uma forma de controlo».
Adalberto Campos Fernandes contextualizou o momento presente do ponto de vista social, político e económico, lembrando que vivemos um período de «condicionalismo extremo em termos orçamentais». E «quando existem condicionalismos orçamentais e não se fizeram os trabalhos de casa nos tempos que os precederam, naturalmente que o risco das medidas avulsas e das medidas intempestivas cegas podem facilmente repercutir-se sobre as organizações».
Notando que em algumas áreas da Saúde os profissionais abundam e o desemprego prolifera, mas, noutras, as carências são evidentes, o orador apontou esta como outra possível causa de descontentamento. E aproveitou a ocasião para criticar fortemente a abertura de novos cursos de Medicina, que considera «um erro de consequências que podem ser trágicas para a qualidade do ensino médico». Na sua opinião, a falta de médicos em Portugal é um «mito», admitindo apenas a carência de clínicos «sectorialmente nalgumas especialidades e nalguns domínios de actividade». E ao invés de se «atomizar o ensino médico», entende que se devia estar «numa fase de concentração universitária para termos faculdades de Medicina de dimensão internacional com potência de meios e recursos financeiros».
Com a opção que está a ser seguida «vai haver seguramente» desemprego médico no País. Além disso, «a proletarização do trabalho vai ser maior, a tendência do pequeno contrato vai ser maior, e a qualidade dos formadores e dos formandos vai inexoravelmente cair».
TM 22.03.10
Etiquetas: s.n.s
3 Comments:
É curioso este discurso de ACF. Principalmente porque ainda há pouco tempo subscrevia a opinião de Correia de Campos, minimizando as consequências da saída de profissionais do SNS. Agora vem dizer precisamente o oposto, reconhecendo que o SNS vai morrendo lentamente por políticas erradas.
Por mera questão de justiça, espera-se que Ana Jorge não venha a ser responsabilizada pela morte lenta do SNS. É que quando chegou à cabeceira do doente já ele estava moribundo.
Afinal, também temos um Medina Carreira na Saude.
ACF parece empenhado em esbanjar o capital acumulado.
A análise (actual) de Correia de Campos sobre a falta de médicos
Os problemas de falta de médicos eram esperados daqui a dois anos. Foram antecipados por factores como: reformas voluntárias estimuladas pelo aumento da idade obrigatória; oportunidades de trabalho bem pago no novo sector privado hospitalar ou em empresas de médicos itinerantes; desinteresse pela rotina hospitalar pela concentração excessiva de candidatos antes do topo; maus vencimentos no sector público onde, com exclusão das USF, o pagamento regular, só com horas extra se tornou apelativo; concentração de admissões às faculdades nos anos setenta, até atingir o ridículo contingente de 192 alunos, em 1986. Esta combinação de factores foi antecipada dois anos, devido ao aparecimento de quase 700 novas camas privadas e pela recente abertura do Hospital de Cascais.
E agora ? Agora convirá acelerar a reforma da gestão clínica hospitalar, redistribuir os médicos ainda em excesso nos hospitais centrais, agregar os pequenos hospitais ainda dispersos aos seus irmãos maiores, recrutar médicos em Cuba, Uruguai e outros países com razoáveis padrões formativos, encerrar os SAP e urgências que ainda subsistem sem qualidade, ampliar a cirurgia de ambulatório e as plataformas tecnológicas concentradas, melhorar o Saúde 24. E exigir padrões de desempenho no sector público. Finalmente, esperar melhores tempos depois de 2015. Tudo isto pode ser odioso para alguns, mas será muito bom para os portugueses.
DE 18.03.10
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