quarta-feira, março 17

Mercantilização da Saúde

A propósito do impasse na negociação das tabelas salariais dos médicos, Carlos Arroz disse: O mercado está a favor dos médicos, lamento dizê-lo, mas é verdade.

A destruição gradual do corpo jurídico que enquadrava o SNS, no qual se insere a empresarialização dos hospitais, passando a gestão para a esfera do direito privado-comercial; a par do bloqueamento das carreiras médicas e da instituição do contrato individual de trabalho, teve como consequência inevitável a mercantilização da Saúde. Para tal estado de coisas contribuíram de forma decisiva dois ministros da saúde - Correia de Campos e Luís Filipe Pereira.

Não discuto das vantagens da empresarialização na área da gestão financeira, nomeadamente pela maior agilização de aquisição de bens e serviços, por ser matéria que não domino. Porém, ao que parece pelo resultado das contas dos EPE, as vantagens não são notórias, podendo haver ainda muito “lixo financeiro” varrido para baixo do tapete segundo opinião do Tribunal de Contas.

Do ponto de vista de recursos humanos, médicos em particular, a empresarialização ameaça transformar-se num desastre para o SNS. Utilizar uma lógica de mercado num universo com carência de profissionais e altamente competitivo, com hospitais EPE/PPP a poderem competir entre si na contratação, a par da entrada em força dos grupos económicos privados, só poderia ter como consequência o disparar do valor da mão de obra médica. Não admira pois que Isabel Vaz se tenha queixado deste facto e responsabilizado o Estado pelo mesmo tendo em conta os valores praticados nos contratos individuais nas instituições públicas.
Como consequência da adopção de regras de mercado, destaco ainda o facto de cada profissional passar a valer mais em função da especialidade que tem do que do lugar de carreira que possa vir a adquirir, o que vai necessariamente ter repercussões nas relações de trabalho hospitalar.

Sendo as coisas como são, é com este pano de fundo que a comissão hospitalar recém constituída (haja Deus!) vai ter de trabalhar. A primeira medida anunciada é a da obrigatoriedade de dedicação exclusiva (DE) para os directores de serviço. Saúda-se a decisão mas lembro que já existiu e sem grandes resultados, por só se aplicar às novas direcções a nomear e pelo valor irrisório de pagamento do cargo. Por outro lado, não faz sentido exigir DE ao director sem lhe conferir poder de decidir em que regime quer os profissionais que consigo trabalham. Assim sendo, se a medida for para levar a sério, a possibilidade de recrutar colaboradores naquele regime terá de ser de alguma forma contemplada.

Face às regras criadas, o Estado ou as muda ou vai ter necessariamente de se ajustar a um modelo competitivo. Faço ainda notar que é o próprio Estado a municiar os privados com doentes de subsistemas pagos maioritariamente pelo orçamento, regime do qual beneficiam os próprios prestadores de cuidados de saúde públicos.

Peca pois por defeito o apelo de Ana Jorge quando diz “Os administradores têm de se organizar e motivar os profissionais e isso não se faz só com mais dinheiro mas também com condições de trabalho”. É evidente que muito mais há a fazer em termos organizacionais mas sem dinheiro será difícil suster a derrocada.

tavisto

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9 Comments:

Blogger DrFeelGood said...

Governo promete reembolsar farmácias no prazo de 15 dias

As facturas das farmácias portugueses têm desde o início do mês um novo destino: a Central de Conferência de Facturas.
O Ministério da Saúde avançou finalmente com um projecto que estava na gaveta deste 2007 e cujo objectivo é centralizar todas as facturas de medicamentos e meios complementares de diagnóstico.
São cerca de 5 milhões de papéis por mês, que até agora eram analisados à mão, um a um. Com o novo processo estas facturas são digitalizadas e conferidas electronicamente. O Ministério da Saúde prevê que a médio prazo, com a generalização da prescrição electrónica, 90% das facturas passem a ser analisadas através do computador.
A central de conferência de facturas vai permitir ao Estado poupar 7 milhões de euros por ano, disse ao Diário Económico o secretário de Estado da Saúde. De acordo com Óscar Gaspar, a par da poupança, o novo processo electrónico permite reduzir o prazo de pagamento às farmácias.
“Comprometemo-nos a fazer o reembolso das facturas em 15 dias”, garante Óscar Gaspar. Mas a grande vantagem, continua o secretário de Estado, “é o cruzamento da informação. Podemos cruzar dados sobre quem prescreve, em que quantidades, com que frequência, quem dispensa, etc., o que tem como enorme vantagem o combate à fraude”. O centro de conferência de facturas, localizado na Maia, é gerido pela consultora Accenture.
A funcionar desde o dia 8 de Março, emprega 70 pessoas, mas até ao final do mês deverão estar a trabalhar 110 funcionários. C.D.

DE 16.03.10

1.- À atenção da FINANFARMA - SOCIEDADE DE FACTORING SA, cujo único accionista é a ANF, que garante às farmácias o pagamento pontual das comparticipações do Estado no preço dos medicamentos.

2. – Um grande instrumento de combate à fraude.

3. – Os prescritores passam a estar sob observação apertada.

12:32 da manhã  
Blogger tambemquero said...

O valor do novo salário não pode ser conseguido através de uma regra de três simples

Carlos Arroz, I, 04.03.10

As frequentes declarações de Carlos Arroz, um tanto ou quanto incendiárias, não prejudicaram o processo de negociação em curso?

12:45 da manhã  
Blogger Antunes said...

Esta tem piada

Passenger to a Sexy Air Hostess:
"What is your name ?"
Air Hostess answers:
"Benz , Sir...."

Passenger says:
"lovely name! any relation with Mercedes-Benz?"

Air hostess:
"Same price sir!..."

1:07 da manhã  
Blogger tambemquero said...

Pelo menos um terço das remunerações pagas a médicos dos hospitais portugueses (EPE) são relativas a horas extraordinárias. De acordo com Carlos Arroz, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), "40% dos valores pagos são horas extraordinárias, incluindo os valores pagos a empresas de prestação de serviços", que não vêm discriminados nos relatórios de contas. No Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, os médicos receberam mais 40,8% (10 milhões de euros) do que os seus salários em 2008 pagos em: horas extras (7,48 milhões), regime de prevenção (1,94 milhões), noites e suplementos (589 mil euros). E aqui não vêm os gastos com empresas.

O mesmo acontece em Centros como o Alto Ave: os médicos recebem mais 45% do seu ordenado em suplementos, que representam 35% da despesa total com os profissionais. No Centro da Póvoa do Varzim, os médicos recebem mais 29,4% em remunerações.

As verbas são mais elevadas em "hospitais de pequena e média dimensão, o que exclui unidades como Santa Maria, com grandes equipas formadas", refere Carlos Arroz. De acordo com uma análise feita pelo SIM, em pelo menos 12 hospitais EPE, o peso destes suplementos era muito elevado e estava mais ligado às urgências.

Já a Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), de Janeiro a Setembro de 2009, o universo de hospitais EPE despendeu 1.953.682 milhões de euros em custos com o pessoal, dos quais 402. 514. 447 foram em trabalho extraordinário (192 milhões) noites e outros suplementos . Isto significa que 20,6% dos gastos remuneratórios foram em regimes especiais. Embora as rubricas abranjam outros profissionais, a maior parte das verbas são referentes a médicos.

Esta é uma situação preocupante, uma vez que afecta sobretudo "médicos que estão em regime de prestação de serviços. Mesmo quando estão a recibos verdes, há limites no que diz respeito à realização de horas extras, que se estabeleceram num máximo de 200 horas". O DN contactou o Ministério da Saúde, mas não teve uma resposta.

Há situações ilegais "como as dos médicos que fazem 48 ou 60 horas seguidas, pondo em causa a qualidade do tratamento do doente e aumentando os riscos para o doente"

Pedro Lopes, presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares reconhece a situação. "Só nos custos com médicos, sabemos que 30% são horas extras, sem contar com as empresas". O excesso, "continua a ocorrer. E a qualidade do tratamento é lesada".

A situação, no entanto, tem vindo "a melhorar, porque se tem feito um esforço de contenção por parte dos hospitais", avança. Porém, admite que a diminuição foi ligeira e que os hospitais estão a utilizar outras estratégias para que "estas despesas não entrem nas contas, como o recurso a empresas. Não há uma política séria, sobretudo na gestão das urgências".

Pedro Lopes ressalta que é normal "que os hospitais mais pequenos tenham menos recursos e necessitem de mais horas extras. E há unidades que atingem os 40% ou 50%". Se esta era a situação em 2008, é possível que tenha piorado, perante o envelhecimento dos clínicos e as aposentações, que obrigam a respostas de recurso.

dn 16.03.10

6:18 da tarde  
Blogger ochoa said...

Vamos poupar andando mais!
A nossa modesta contribuição para o PEC:

Um estudo recente conduzido pela Universidade de Lisboa mostrou
que cada português caminha em média 440 km por ano.

Outro estudo feito pela Associação Médica de Coimbra revelou que,
em média, o português bebe 26 litros de Vinho por ano.

Isso significa que o português, em média, gasta 5,9 litros aos 100km,
ou seja... é económico!

M.Laires

3:52 da tarde  
Blogger helena said...

A alta comissária da saúde defendeu hoje a criação de uma situação de exceção para profissionais de saúde relativamente à antecipação do alargamento da idade da reforma para evitar a saída em massa destes trabalhadores.

«Ao ser alterado o processo de reforma, há grupos profissionais que devem ter uma política específica, nomeadamente alguns profissionais de saúde. Sei que o Ministério da Saúde está a trabalhar nisso», disse a alta comissária, Maria do Céu Machado, no final da apresentação de resultados do Plano Nacional de Saúde 2004-2010.

«Acredito que muitos médicos ou enfermeiros que estão a pedir a reforma, se lhes garantissem as mesmas condições de reforma ao fim de quatro ou cinco anos, continuariam a trabalhar. Estou absolutamente convicta disso«, acrescentou.

DD 17.03.10

4:44 da tarde  
Blogger tambemquero said...

O líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, afirmou hoje, que é preciso corrigir a "balbúrdia" que se instalou na gestão do Serviço Nacional de Saúde e resolver a crise da falta de recursos humanos no sector. link

11:13 da tarde  
Blogger DrFeelGood said...

O PEC ataca três áreas responsáveis pela maior parcela dos gastos: medicamentos (com corte nos apoios aos remédios mais caros, um tecto de crescimento da despesa de 2,8% nos hospitais e de 1% nas farmácias), meios de diagnóstico e recursos humanos. Mas não só.
O governo prepara-se para fazer um controlo à lupa das contas das unidades de saúde. Os hospitais, incluindo aqueles com estatuto empresarial (EPE), estarão sob olhar permanente dos ministério das Finanças e da Saúde e passam a ter que mostrar relatórios de execução orçamental todos os meses, para que “o accionista Estado possa agir concertadamente”. Uma das áreas a atacar será a dos gastos com empresas de tarefeiros (que asseguram as urgências quando os médicos dos quadros não chegam). Estão previstas “auditorias sistemáticas visando fiscalizar o cumprimento da lei da acumulação de funções, designadamente por profissionais de saúde aposentados, conflito de interesses e precariedade laboral” e ainda confirmar se os hospitais estão a cumprir os preços máximos por hora para cada médico. Será ainda feito um acompanhamento mensal, serviço a serviço, dos gastos gerais com recursos humanos. As auditorias – “diversas, temáticas ou dirigidas a entidades ou domínios com maior evidência de maior crescimento de custos” – são uma arma para o cerco aos gastos.
E se o Ministério da Saúde recuou no novo modelo de financiamento, não é ainda tempo para os gestores descansarem. O PEC prevê ainda este ano “uma revisão da metodologia de financiamento dos EPE, com reforço das vertentes de ganhos em saúde e de sustentabilidade económico-financeira e actualização dos níveis de preço eficiente por grupos de hospitais”. Como? Não explica. As Unidades Locais de Saúde (que incluem hospitais e centros de saúde da região, como no caso de Matosinhos) terão também um novo financiamento, com base na população atendida (capitação).
O Estado conta gastar menos com medicamentos e meios de diagnóstico, mas também comprar melhor e avançar com a conferência electrónica das facturas. Uma das apostas para reduzir custos é a utilização da central logística criada no final de 2009.

I 17.03.10

11:28 da tarde  
Blogger Hospitaisepe said...

É que dos 600 médicos que já pediram a reforma antecipada este ano, “400 são médicos de medicina geral e familiar, o que vai fazer com que mais 1 milhão de portugueses fique sem médico de família”, diz Mário Jorge Neves.
O problema, encarado pelos especialistas como o maior desafio que a ministra da Saúde terá a curto prazo, está a preocupar todo Governo e é hoje tema da interpelação do Bloco de Esquerda, no Parlamento (ver propostas dos partidos). O Ministério da Saúde não quis falar ao DE sobre o assunto, mas a ministra Ana Jorge já admitiu que Portugal vai registar um período muito crítico”de falta de médicos. O próprio primeiro-ministro já se envolveu no assunto, tendo mostrado numa reunião que teve no final do mês passado com os sindicatos “total receptividade para encarar todas as hipóteses dentro do plano legal”, contou ao DE Mário Jorge Neves. Também o Ministério das Finanças admite que a aplicação da regra que condiciona a entrada de um funcionário à saída de dois tem de ser analisada caso a caso no sector da saúde (ver texto ao lado).
Ontem, foi a vez de um perito da Organização Mundial de Saúde, que fez a avaliação externa dos indicadores do Plano Nacional de Saúde alertar para o problema: Portugal é um dos países onde o acesso a médicos especialistas é mais difícil, o que também se verifica nos clínicos gerais, referiu Jeremy Veillard. Também a alta comissária da saúde se mostrou preocupada com o assunto e defendeu a criação de uma situação de excepção para profissionais de saúde relativamente à antecipação do alargamento da idade da reforma para evitar a saída em massa dos médicos.
“Ao ser alterado o processo de reforma, há grupos profissionais que devem ter uma política específica, nomeadamente alguns profissionais de saúde. Sei que o Ministério da Saúde está a trabalhar nisso”, disse Maria do Céu Machado.

Em Portugal existem 270 médicos especialistas por cada 100 mil habitantes. A Grécia é o país da União Europeia com mais médicos da especialidade: 330 por cada 100 mil habitantes.

DE 18.03.10

Não as pensam. Depois anda tudo à procura da rolha.
Ou antes, a fingir que defendem o Serviço Público.

O sector privado é só esperar pela derrocada.Dentro em breve os médicos vão provar as agruras do mercado. Tal como já acontece com os enfermeiros e pessoal técnico.

12:21 da tarde  

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