sexta-feira, março 4

Fialho d’Ameida – cem anos depois…

Completam-se hoje 100 anos após a morte de Fialho de Almeida (1857-1911).
Fialho foi mais um médico que enveredou pela literatura. Não deixou obra como médico, aliás concluiu a sua licenciatura aos 38 anos, tendo misturado a sua vida de estudante com a frequência dos meios boémios, literários e jornalísticos de uma Lisboa em ebulição. Era antes um assíduo frequentador do café “A Brasileira”, espécie de tertúlia lisboeta dos finais do século XIX, do que um ser enredado nos meandros dos meios académicos ou científicos.

Cedo começou a escrever em jornais, revistas e, desde novo, publica livros. Todavia, a sua grande obra será “Os Gatos”, uma extensa compilação de crónicas mensais, logo tornadas semanais, devido ao estrondoso êxito. Este é provavelmente um dos mais valiosos exemplares nacionais de um tipo de jornalismo panfletário em voga no final do século XIX, a par das “Farpas” de Ramalho Ortigão.

É, na sua auto-definição, um “prosador colérico”. Mas, para além disso, foi um crítico impiedoso e sarcástico. Tem um estilo de escrita muito variegado, sendo difícil de enquadrá-lo nos estereótipos da época onde pontificava a corrente “naturalista/realista”, em telúrica oposição ao romantismo. Será, também, um precursor daquilo a que viria a ser designado pela “geração de 70”, movimento liderado, em Coimbra, por Antero de Quental (à volta da chamada “Questão Coimbrã”) e que viria a assentar arraiais, em Lisboa, no Casino Lisbonense, onde se organizaram as célebres “Conferências do Casino” que juntaram vultos consagrados da nossa literatura como Eça de Queirós, Oliveira Martins, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Batalha Reis, etc. Tornou-se famosa a sua violenta polémica com Eça (de quem foi admirador na juventude) acerca do livro “Os Maias”.

Sempre criticou a monarquia mas, na fase final da vida, tornou-se um admirador de João Franco. Morre logo após a implantação da República (a 4 de Março de 1911) mas já descrente e crítico em relação ao novo regime, com 5 meses de existência…
Escreveu: “Dada a ignorância e o desmazelo relaxado, que foi o que a Monarquia legou às classes médias, dadas as tendências vaziamente exibicionistas, que foi o que o partido republicano deu às multidões, a República, como forma de governo, há-de reproduzir todos os fracassos da Monarquia... Na essência, o País ficará o mesmo. Que digo eu? Ficará pior.”

O País que nada lhe deve enquanto médico. Como escritor será um dos esquecidos… ou, um “mal-amado”. Aqui fica assinalada a efeméride que, hoje, é notícia.

e-pá!

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