segunda-feira, abril 11

Acesso à inovação

Adalberto Campos Fernandes: É importante fazer o filtro entre inovação e “novidade”

Como se pode tornar o sistema de saúde português sustentável?
A tensão sobre a despesa, em saúde, é fortemente dominada por três factores: inovação tecnológica, aumento do rendimento e envelhecimento da população. Trata-se de variáveis externas ao próprio sistema de saúde com uma forte influência no seu desempenho global. Portugal defronta-se com os mesmos problemas que os restantes países europeus. No entanto, talvez pudéssemos ir um pouco mais longe nalgumas áreas: política do medicamento, gestão da inovação e reforma dos modelos de organização e gestão. Temos de melhorar o acesso ao medicamento investindo na qualidade da prescrição, na adesão aos medicamentos genéricos e no apoio à inovação de qualidade. Por outro lado é muito importante implementar uma avaliação rigorosa de tecnologias da saúde que faça o filtro entre inovação e “novidade”. A nível organizacional é fundamental a gestão estratégica dos recursos humanos, alavancada em carreiras profissionais técnico-científicas e em projectos mobilizadores que garantam que a organização do trabalho favorece a eficiência operacional e os resultados.

É possível quantificar quanto se pouparia coma adopção de medidas mais eficientes e sustentáveis?
Do lado directo dos custos podemos supor que se poupariam muitos milhões de euros tendo em conta as diferentes estimativas existentes sobre o desperdício e a despesa ineficiente. Do lado dos resultados teríamos a certeza de estar a contribuir, decisivamente, para melhorar os índices de desenvolvimento social e humano. Com efeito apostar num sistema de saúde eficiente e sustentável é apostar numa sociedade de progresso fundada no bem-estar individual e comunitário.

Como se poderá introduzir medicamentos inovadores quando, face aos prejuízos, se obriga os hospitais a reduzir custos?
De facto não se consegue. É necessário estabelecer um pacto, de médio-prazo, para a sustentabilidade entre os diferentes actores: Estado, indústria farmacêutica e biomédica envolvendo as ordens profissionais no sentido de garantir acesso à inovação de qualidade num quadro de estabilidade jurídica e regulamentar, com incentivo à investigação mas com um forte compromisso sobre os encargos financeiros.


Dírcia Lopes, DE 07.04.11

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