quarta-feira, fevereiro 15

Portugal, sad example

O “dinheiro fácil” do BCE para a banca europeia está a anestesiar os europeus para a ideia da Grécia poder sair do euro e, em consequência, a deixar o efeito de contágio circunscrito a Portugal.

Apesar do "custe o que custar" em Lisboa, o país permanece hoje colado à Grécia como um mexilhão. Em Berlim nunca existiu uma sensação de urgência para criar soluções solidárias de estabilização do euro e a que existia no resto da Europa parece ter-se perdido. E assim ficamos entregues à promessa ‘privada' do ministro alemão, Wolfgang Schäuble.

Mas até para poder cobrar essa promessa Portugal precisava que a situação da Grécia estabilizasse. Isso está longe de acontecer. Nos próximos dias, Atenas deverá receber um aval político ao segundo "resgate", evitando assim a bancarrota em Março, mas ninguém no seu perfeito juízo poderá realmente respirar de alívio com esta decisão. O dilema de ‘vida ou morte' da Grécia no euro, em que os credores colocam o país, vai continuar em cima da mesa. As cenas dos próximos episódios não serão muito diferentes das que vimos em Atenas nos últimos dias.

Mesmo aplicada a meio gás, a receita de austeridade na Grécia provocou até agora cinco anos de recessão profunda, 20% de desemprego e manteve o défice externo com dois dígitos. Em dois anos, o défice primário (antes de juros da dívida) caiu de 10,9% para 2,1%, mas a dívida subiu de 129% para 162%. Agora, o vendaval de despedimentos na função pública (150 mil até 2015) e o corte severo (mais de 20%) de salários e pensões vão deprimir ainda mais a economia e tornar a correcção da dívida mais difícil. Não é muito sério imaginar, como faz a ‘troika', que o país cresça a uma média de 1,5% até 2020 e a dívida caia para 120%. O único forte candidato a primeiro-ministro, Antonis Samaras, diz que assinar o acordo é a melhor maneira de rever a "má receita". Como disse Keynes sobre o Tratado de Versailles, a Grécia assinou o acordo da ‘troika' numa "aceitação insincera de condições impossíveis". A reestruturação em curso na dívida grega (100 em 350 mil milhões) é muito curta para o que está em jogo e, por isso, este será provavelmente o primeiro de vários cortes à dívida grega.

Se o caminho da Grécia for o abandono do euro, para Neelie Kroes, vice-presidente da CE, isso "não é um drama", é um dracma. Dois anos depois de Merkel ter espantado os mercados ao admitir que um país poderia sair do euro, Schäuble diz que UE está "melhor preparada" para um ‘default' grego. A convicção em Bruxelas é que o impacto nos bancos sistémicos seria reduzido porque estes se libertaram de dívida grega e abateram 50% da restante. Os empréstimos de 1% do BCE, a três anos, deram nova vida aos bancos e parecem, de momento, absorver, com lucros e juros baixos, a emissão de dívida italiana e espanhola nos mercados secundários. Em Portugal, só a indiscrição do ministro alemão conteve os juros. Mas promessas, leva-as o vento.
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Luís Rego, Bruxelas, DE 15.02.12

«Imagine a country that strictly follows stringent cuts demanded by the IMF. Imagine a country that has slashed massively is applauded by the IMF and its friends. Surely it’s on a path to recovery?

That country is Portugal and in fact it is spiralling deeper into a hole. The austerity is shrinking its economy – making its national debt even harder to pay off. If this carries on, Portugal will also have to default.

And Portugal’s sad example shows why Greece should tell the IMF that its prescribed austerity won’t work. Austerity kills growth – creating a worsening debt spiral.
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