Fechar a MAC
O nosso grande e excelente útero, é mais que estúpido
Os médicos dizem-nos, e com toda a razão, que a nossa saúde é resultado de um conjunto. De estados, vontades, atitudes e cuidados. Estados do corpo, vontades da mente, atitudes de vida e cuidados sociais.
Obviamente, isto anda tudo ligado: a saúde humana, a saúde da sociedade, a saúde do território. Um grande metabolismo, onde deveríamos tudo fazer para ter gosto na vida e confiança de futuro. Porém, algumas partes andam doentes. Muito doentes. Devido sobretudo a atitudes e cuidados errados. Que nem sequer nos dão prazer. Muito pelo contrário.
A gravidade é tanto maior quando os erros são feitos… em nome da nossa saúde. Anuncia-se o fecho da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), pouco depois da abertura do novo hospital de Loures, e antes, muito antes, da hipotética abertura do hospital de Chelas.
O que está em causa é muito: estados, vontades, atitudes e cuidados. Dos indivíduos e da sociedade.
O possível fecho da MAC reveste-se de uma enorme carga emocional. A MAC é futuro: é onde nascem mais bebés. A MAC é sucesso: no nascimento de cada novo ser, no excelente serviço público, no combate à mortalidade infantil.
A MAC é cosmopolitismo: no centro da nossa cidade principal, acessível a todos e pelos mais variados meios. A MAC é identidade: todos, mesmo os que lá não nasceram, sentem a MAC como útero urbano. A MAC é um dos centros efectivos e afectivos de toda uma sociedade.
O hospital de Loures, no alto de uma colina e longe de qualquer centro (vê-se Loures lá em baixo, a oeste umas torres de Santo António dos Cavaleiros) é enorme. Imponente. Obeso. Construído pelos grupos Mota Engil e Opway, gerido pela Espírito Santo Saúde, irá prover a centenas de milhares de utentes, como nós tributários somos chamados. Custou centenas de milhões de euros, investimento a ser evidentemente rentabilizado.
Mas a saúde não tem preço. Adaptaram-se quatro carreiras de autocarros, mas quase só se chega lá de automóvel. À disposição, uma vasta gama de fast-food, perdão, de fast-road. Um novoriquismo territorial, cheio de molhos e maioneses, de grandes marcas, claro, que nos deu cabo da saúde.
Pois uma metrópole dispersa tem custos altíssimos. Gasta imensa energia, consome loucamente, é bastante esquizofrénica. É muito doente.
A contínua concentração económica e de poder, em Portugal, feita sem qualquer visão integrada de território e de promoção da qualidade de vida; feita sem uma real estratégia de saúde colectiva; continua assim a promover a desconcentração territorial da sociedade, e a deslocação tectónica das nossas centralidades, mobilidades e identidades. Se não é intencional, é grande a irresponsabilidade. Se é intencional, é a maior loucura.
Uma visão efectiva — e afectiva — dos nossos territórios é vital para o nosso futuro. Nesta, os espaços da saúde são dos mais centrais. E, nestes, as maternidades são os centros das nossas esperanças. Juntam em si todos os nexos. Fazem todos os círculos.
Entre o que a MAC é e significa, e a população de Lisboa, de toda a região de Lisboa, existe um elo profundo, um nexo de cumplicidade e de permanência.
Fechar a MAC, o nosso grande e excelente útero, e diluí-la por razões espúrias e interesseiras, é mais que estúpido ou cruel. É ignominioso. É preciso reagir. Pela nossa saúde, e pela nossa identidade.
Geógrafo João Seixas, JP 06.05.12
Os médicos dizem-nos, e com toda a razão, que a nossa saúde é resultado de um conjunto. De estados, vontades, atitudes e cuidados. Estados do corpo, vontades da mente, atitudes de vida e cuidados sociais.
Obviamente, isto anda tudo ligado: a saúde humana, a saúde da sociedade, a saúde do território. Um grande metabolismo, onde deveríamos tudo fazer para ter gosto na vida e confiança de futuro. Porém, algumas partes andam doentes. Muito doentes. Devido sobretudo a atitudes e cuidados errados. Que nem sequer nos dão prazer. Muito pelo contrário.
A gravidade é tanto maior quando os erros são feitos… em nome da nossa saúde. Anuncia-se o fecho da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), pouco depois da abertura do novo hospital de Loures, e antes, muito antes, da hipotética abertura do hospital de Chelas.
O que está em causa é muito: estados, vontades, atitudes e cuidados. Dos indivíduos e da sociedade.
O possível fecho da MAC reveste-se de uma enorme carga emocional. A MAC é futuro: é onde nascem mais bebés. A MAC é sucesso: no nascimento de cada novo ser, no excelente serviço público, no combate à mortalidade infantil.
A MAC é cosmopolitismo: no centro da nossa cidade principal, acessível a todos e pelos mais variados meios. A MAC é identidade: todos, mesmo os que lá não nasceram, sentem a MAC como útero urbano. A MAC é um dos centros efectivos e afectivos de toda uma sociedade.
O hospital de Loures, no alto de uma colina e longe de qualquer centro (vê-se Loures lá em baixo, a oeste umas torres de Santo António dos Cavaleiros) é enorme. Imponente. Obeso. Construído pelos grupos Mota Engil e Opway, gerido pela Espírito Santo Saúde, irá prover a centenas de milhares de utentes, como nós tributários somos chamados. Custou centenas de milhões de euros, investimento a ser evidentemente rentabilizado.
Mas a saúde não tem preço. Adaptaram-se quatro carreiras de autocarros, mas quase só se chega lá de automóvel. À disposição, uma vasta gama de fast-food, perdão, de fast-road. Um novoriquismo territorial, cheio de molhos e maioneses, de grandes marcas, claro, que nos deu cabo da saúde.
Pois uma metrópole dispersa tem custos altíssimos. Gasta imensa energia, consome loucamente, é bastante esquizofrénica. É muito doente.
A contínua concentração económica e de poder, em Portugal, feita sem qualquer visão integrada de território e de promoção da qualidade de vida; feita sem uma real estratégia de saúde colectiva; continua assim a promover a desconcentração territorial da sociedade, e a deslocação tectónica das nossas centralidades, mobilidades e identidades. Se não é intencional, é grande a irresponsabilidade. Se é intencional, é a maior loucura.
Uma visão efectiva — e afectiva — dos nossos territórios é vital para o nosso futuro. Nesta, os espaços da saúde são dos mais centrais. E, nestes, as maternidades são os centros das nossas esperanças. Juntam em si todos os nexos. Fazem todos os círculos.
Entre o que a MAC é e significa, e a população de Lisboa, de toda a região de Lisboa, existe um elo profundo, um nexo de cumplicidade e de permanência.
Fechar a MAC, o nosso grande e excelente útero, e diluí-la por razões espúrias e interesseiras, é mais que estúpido ou cruel. É ignominioso. É preciso reagir. Pela nossa saúde, e pela nossa identidade.
Geógrafo João Seixas, JP 06.05.12
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