Famílias pagam mais
- Em Portugal
entre 2007 e 2012, a despesa total em Saúde em % do PIB desceu muito mais do que
a média da UE quando o PIB português caiu mais do que a média da UE, ou seja, a
queda em valores absolutos é ainda mais acentuada.link
- Esta evolução reflectirá, essencialmente, a queda
de preços com salários, medicamentos e MCDTS.
- Por outro
lado verifica-se que os pagamentos
directos feitos pelas Familias no momento de utilização de cuidados foi o que mais subiu: 4,5% (acréscimo médio de 0,3% na UE).
- A despesa privada
das famílias reparte-se, essencialmente , em medicamentos, consultórios
medicos, MCDTS e despesas hospitalares
(taxas moderadoras).
- Se a despesa
total com a Saúde é das que mais desce quando no mesmo período a despesa
directa das famílias é a que mais sobe, o quadro de transferência galopante de
custos da saúde para as famílias é evidente.
… «o outro aspecto que chama a atenção é o
aumento da despesa privada out-of-pocket, ou seja, pagamentos directos feitos
pelas Familias no momento de utilização de cuidados de saúde. Esta despesa
corresponde a falta de protecção financeira dada pelo Serviço Nacional de Saúde
(e outros mecanismos complementares – os seguros não devem ser incluídos aqui,
pois são protecção financeira, mesmo que paga privadamente, não correspondem a
despesa no cidadão no momento de utilização). Ora, a evolução das despesas privadas
em saúde em pagamento directo era perfeitamente previsível, e na verdade
aumentam a equidade do financiamento do serviço nacional de saúde. Bom, sendo
provavelmente pouco intuitiva esta afirmação, convém perceber de onde virá este
aumento e porque era previsível – as deduções em sede de IRS das despesas
privadas em saúde reduziram-se fortemente durante este período e reduziram-se
mais para os grupos de rendimento mais elevado. As alterações dos benefícios
fiscais fazem com que despesa privada que era deduzida via sistema fiscal ao
imposto pago se traduzissem na verdade em despesa privada. Como só deduz esta
despesa privada quem paga imposto, por um lado, e como tradicionalmente as
classes de rendimento mais elevado gastam mais em cuidados de saúde privados, a
consequência imediata da redução dos benefícios fiscais está no aumento da
despesa privada em saúde. Essa evolução pode ser melhor vista não nestes
números da OCDE e sim na evolução dos valores detalhados na Conta Satélite da
Saúde publicada pelo INE (e onde presumo seja obtida a informação usada pela
própria OCDE). Não é possível querer ao mesmo tempo reduzir os benefícios
fiscais, tornando menos regressivo o financiamento público da saúde, e reduzir
a despesa privada. Ou seja, parte substancial deste efeito está associado com
medidas da área das deduções fiscais e não com um aumento da utilização de
cuidados de saúde privados por falta de resposta do Serviço Nacional de Saúde
(que seria a interpretação natural, caso não tivesse ocorrido esta alteração
fiscal).» link
Clara Gomes
Etiquetas: Crise e politica de saúde
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