domingo, novembro 30

António Costa

Primeiro, dizemos que o Congresso do PS será apenas sobre Sócrates, um velório em torno de um fantasma que ensombra a consagração do novo líder.
Não creio que Costa fique sem margem de manobra com este fantasma que lhe caiu em cima. Toda a gente sabe que, tendo sido ministro de Sócrates, nunca aceitou pertencer a qualquer “ismo”, que sempre se colocou no PS com uma assinalável autonomia, mesmo quando era ainda um jovem secretário de Estado de Guterres. Quando se viu confrontado com uma desautorização do ministro com quem trabalhava, disse ao então ao primeiro-ministro: ou ele ou eu. E foi ele. Saiu do Governo precisamente quando achou que tinha de se afastar do primeiro ministro, se queria preservar a sua autonomia e acabar com a situação de “número dois”. Quando foi agora confrontado com a prisão de Sócrates, teve a capacidade de colocar as coisas no seu devido lugar. Tem de adaptar-se às novas circunstâncias, mas tem capacidade para o fazer. O PS tem a sorte de dispor neste momento de um líder forte que é uma espécie de “dois em um”. Explico-me. Como os líderes socialistas da geração anterior à sua, tem vida própria, pessoal e profissional, bebeu muito cedo algumas fortes convicções sobre aquilo que é justo e o que não é, bem como a importância fundamental da liberdade em todas as suas declinações. Tem mundo, como se costuma dizer, e tem cultura. É mais jovem, como Passos Coelho, mas a sua vida é diferente da de Sócrates ou do primeiro-ministro, que foram quase sempre dependentes da política. O escândalo que hoje envolve Sócrates esbarra contra essa autonomia. 
Teresa de Sousa, JP 30.11.14
Mas desenganem-se os que esperam que este caso bastará para remeter António Costa a posições defensivas — excepto nas que dizem respeito à corrupção, o que não é coisa pouca. No seu discurso de ontem no Congresso, Costa mostrou por que razão é um adversário político temível. Diz o que tem a dizer sobre tudo — incluindo sobre o fantasma que paira no congresso —, mas fá-lo com uma precisão e uma frieza cirúrgicas. A sua gestão da crise tem sido exemplar e a menos  que franco-atiradores, como Mário Soares, lhe perturbem a cerebral distinção entre a solidariedade pessoal a Sócrates e a necessidade de o PS assumir as suas responsabilidades, pode ter possibilidade de travar um duelo ombro-a-ombro com Passos Coelho. Já não será o passeio triunfal que muitos dos seus próximos anteviam, mas, a julgar pelo que aconteceu esta semana, o afundamento de Costa no caso Sócrates está ainda longe de ser provado. 
Manuel Carvalho, JP 30.11.14
Assombramento: "Uma maioria, um Governo, um Presidente"
Portugal só poderá ultrapassar a profunda crise económica e social que atravessa após saneamento dessas figuras sinistras (passos coelho e cavaco) que sombreiam o nosso futuro.

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