sexta-feira, dezembro 10

Entrevista de João Lobo Antunes

João Lobo Antunes, (link) presidente da Comissão Organizadora das Comemorações dos 50 anos do Hospital de Santa Maria, deu uma interessante entrevista ao DN da qual reproduzimos os pontos mais importantes:
1. - A «doença hospitalar» é incurável?
Pode ser minorada, atenuada com um uso mais inteligente e prudente de antibióticos. Desse ponto de vista, os médicos portugueses são dos piores da Europa, no sentido de prescreverem antibióticos com pouco critério e má escolha. Isto está documentado. Há estirpes que se apuram dentro do hospital, correndo-se o risco de criarem resistências antibióticas.
2. - E o acto médico, como se avalia?
É mais difícil e há muitos critérios de qualidade: desde números elementares como taxas de mortalidade, factores de morbilidade, duração do internamento, até aspectos mais intangíveis como a satisfação pessoal dos doentes, a forma como acham que o atendimento foi realizado mesmo no aspecto humano. A cultura de avaliação não é uma cultura nacional mas, a pouco e pouco, está a impor-se, até por exigência das pessoas.
3. - As políticas de saúde que têm sido aplicadas estão num caminho certo, ou seria necessário virar tudo ao contrário?
Um dos males deste país tem sido virar sempre tudo ao contrário. E virar ao contrário antes que as coisas se levantem. O ministro da Saúde teve a coragem de mudanças essenciais, uma das quais, para mim, foi a introdução dos genéricos. E a separação entre o financiador e o prestador era fundamental. Seria necessário ensaiar outras formas de gestão e, sobretudo, uma cultura de avaliação.
4. - A política de saúde deve encontrar o progresso na continuidade?
Acho importante analisar-se o que foi feito e retirar daqui aquilo que for considerado positivo. Um dos nossos males é que estamos sempre a começar de novo. Estamos sempre a inventar a roda e nunca chegamos a andar.
5. - Sei que conhece as qualidades e os vícios do Hospital de Santa Maria...
Não serei das pessoas que melhor conhecem nem uma coisa nem outra. Tenho uma observação de alguém interessado. Ao longo destes 50 anos, o hospital tem mantido as três componentes que lhe foram atribuídas: assistência aos doentes, ensino e investigação. Com períodos de mais brilho, com períodos de menos brilho, mas foi sempre - e continua a ser - uma referência. Do ponto de vista da produtividade científica, é, provavelmente, no seu conjunto, o mais pujante de todos os hospitais universitários.
(link)