Os Lagartos ao Sol
Expõe ao sol a perna escalavrada,
no jardim do Principe Real,
uma velha inglesa. Não há nada
tão bonito (pra mim), so natural.
E conversamos: “Helioterapia
medicina barata em Portugal “.
Accionista do sol, ajudo à missa:
“But, não muito, que senão faz mal “.
Gozosos, eu e a velha, ali ficamos
à mercê de meninos marçanos.
Ela, a inglesa, de perninha à vela;
e eu, o português, à perna dela.
Talvez que, se Briol nos conservara,
Alguém um dia nos ajardinara.
Alexandre O´neill - MS - 2.ª edição, poemas da minha vida, JPúblico, Maio 2005.
no jardim do Principe Real,
uma velha inglesa. Não há nada
tão bonito (pra mim), so natural.
E conversamos: “Helioterapia
medicina barata em Portugal “.
Accionista do sol, ajudo à missa:
“But, não muito, que senão faz mal “.
Gozosos, eu e a velha, ali ficamos
à mercê de meninos marçanos.
Ela, a inglesa, de perninha à vela;
e eu, o português, à perna dela.
Talvez que, se Briol nos conservara,
Alguém um dia nos ajardinara.
Alexandre O´neill - MS - 2.ª edição, poemas da minha vida, JPúblico, Maio 2005.
Hoje a compra do JPúblico deu direito a prémio. A 2.ª edição da selecção de poemas de Mário Soares que no prefácio da 1.ª edição escreveu o seguinte:
Sem pretensão e com humildade, aqui vos deixo os poemas que se seguem. Não tenho a pretensão de pensar que, por amor deles, possa passar por entendido em poesia. Não sou. Sou apenas um apaixonado por alguma poesia: a que escolhi e muita outra que não pude seleccionar por falta de espaço.
Da selecção de MS escolhi o poema do O´neill a paquerar a bifa entradota. A perna ao léu apesar de escalavrada e a tarde solarenga do jardim do Principe Real criaram o encanto inspirador desta obra prima.
Etiquetas: poetas e versos
2 Comments:
Até pensei que era uma mensagem subliminar em relação ao jogo de hoje.
Com os "posts" posteriores fiquei esclarecido.
Há que ter juízinho até à próxima jornada e ir ao Bessa para ganhar.
Será uma grande vitória para o Benfica e Trapatoni.
Numa sociedade sem respeito pelos velhos, baseada na ideia de que os velhos já não prestam para nada, o exemplo do Trapatoni é singular e digno de toda a estima.
Tal como este velhinha de boa perna que mereceu toda a atenção de um dos nossos grandes poeta.
Um abraço e parabéns ao Xavier pela sua sensibilidade muito especial.
Sobre o livro distribuído à borla com a edição do Jornal Público de Sábado passado, Prado Coelho parece ter gostado especialmente da edição cuidadosamente preparada.
Juntando-se a uma edição do PÚBLICO, tivemos recentemente, numa ideia interessante e num grafismo aliciante, Os Poemas da Minha Vida, e neste caso a vida é a de Mário Soares. Homem culto, acompanhado de modo muito intenso por pintores, Mário Soares tem também os seus poetas: Camões, o Camões lírico, D. Dinis, Bocage, Sá de Miranda, como seria de esperar. Mas mais inesperados para estes primeiros tempos são Frei Agostinho da Cruz ou Filinto Elísio e ainda o desacreditado Guerra Junqueiro. De Cesário Verde temos o que seria de esperar, sobretudo o mais famoso, O Sentimento de um Ocidental. De António Nobre não espanta encontrarmos Lusitânia no Bairro Latino. De Camilo Pessanha até podiam ser mais: mas lá está o belíssimo Quem poluiu, quem rasgou os meus lençóis de linho. Já mais surpreendente é a Ode à Liberdade de Jaime Cortesão, que raramente aparece entre os nomes da nossa poesia.
De Pessoa algumas coisas essenciais, desde o Mar Português ao Menino de Sua Mãe. Os heterónimos estão bem representados, incluindo Ricardo Reis: Para Ser Grande, Sê Inteiro. Inesperada é Irene Lisboa (é, contudo, extremamente justo que aqui esteja). E depois temos amplamente representada a geração que Mário Soares ainda conheceu e aquela de que foi companheiro: de Adolfo Casais Monteiro a Manuel da Fonseca, de Sophia a Carlos de Oliveira, de Eugénio a Cesariny, de O"Neil a Ruy Belo, de Ramos Rosa a David Mourão-Ferreira (O Portugal Futuro, claro). Mais desconcertante é vermos a poesia de Herberto Helder nalguns dos seus poemas mais intensos.
Estes livros (seguem-se Miguel Veiga e Diogo Freitas do Amaral) são extremamente trabalhados do ponto de vista gráfico. E têm uma característica anacrónica: são livros que têm as páginas dobradas e exigem esses objectos em desuso que são facas de papel. Recuperamos assim um prazer antigo: um gesto prévio de cortar as páginas para tornar o livro acessível. Hoje esse protocolo iniciático já existe muito pouco. E no entanto é algo que nos aproxima de um livro e o torna, no sentido rigoroso do termo, amável. Faz parte dos preliminares da leitura.
Eu devia ter para aí uns cinco anos quando os meus pais fizeram uma assinatura do Cavaleiro Andante (a alternativa seria O Mundo de Aventuras). O jornal vinha com as folhas fechadas. O meu pai dobrou-as pelo vinco e foi buscar uma faca de cortar papel. Quando vi o meu primeiro jornal ser objecto de uma tal operação, desatei a chorar copiosamente. E fiz o que se chama "uma birra": proclamei que tinham estragado o jornal e que portanto agora eu já não ia lê-lo; queria outro igualzinho, mas com as páginas inteiras. Hoje sinto uma enorme vergonha por essa cena analfabeta e absurda, que o meu pai tentou desmontar pacientemente, mas que vinha embater no meu desgosto inconsolável. Será daí que vem esta nostalgia de livros por abrir? Abertos vêm quase todos agora: só falta tempo para os ler. E cada um que chega como um "cavaleiro andante" trazido pelo carteiro acrescenta o lugar obscurecido dos livros que nunca chegarão a ser lidos.
Eduardo Prado Coelho.
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