sábado, junho 18

Não ceder à Xenofobia


O Presidente da República alertou, este sábado (18.06.05), no bairro da Cova da Moura, na Amadora, para a necessidade de não se fazerem cedências à xenofobia. Portugal deve manter um espírito de tolerância.
1. - A adesão aos contornos extraordinários da notícia, ainda que inconsistentes, atraiu tanto jornalistas quanto espectadores. Todos quiseram acreditar. Provavelmente, foi suficiente alguém - polícia, mirone ou comentador de oportunidade - dizer "eram pr´aí uns 500", para que não mais a notícia descolasse deste número extraordinário, sem que este "facto" fosse colocado em questão
rui marques JP 18.06.05
2. - Aqui há uns dias, o país assistiu atónito a uma encenação levada a cabo na praia de Carcavelos. Houve quem julgasse ser verdadeira a notícia de que um grupo de gangs tinha decidido lançar o pandemónio naquele local, mas parece que tudo não passou, afinal, de uma iniciativa organizada pelos órgãos de comunicação social, provavelmente com o objectivo de combaterem a escassez de matéria noticiosa em época de fim-de-semana prolongado.
João Cândido da Silva - JP - 18.06.05
3. - A redução da dimensão do que se passou em Carcavelos a "trinta ou quarenta" pessoas envolvidas nos assaltos é uma simplificação absurda de quem não quer ver o óbvio. O que se passou em Carcavelos corresponde a um problema gravíssimo de integração da segunda geração de filhos de imigrantes africanos que está, há quase duas décadas, a transformar a área metropolitana de Lisboa num barril de pólvora. E este problema não é maior nem menor do que outros, que geram outro tipo de violência mas sempre violência, em comunidades que nada têm a ver com a imigração africana, como é o caso dos bairros degradados da região do Porto. Aí é uma violência "branca", tal como aquela que está latente na manifestação de extrema-direita xenófoba e racista convocada para hoje em Lisboa. Ou seja, nos últimos vinte anos emergiram em Portugal fenómenos de violência que exigem um trabalho policial muito maior e mais sofisticado, em primeiríssima instância, e também um conjunto de políticas sociais, económicas e culturais que ataquem as causas e que não têm sido desenvolvidas .
Eduardo Dâmaso - JP- 18.06.05
4. - É evidente que se trata de um problema gravíssimo de integração da segunda geração de filhos de imigrantes africanos. Só que este problema de violência urbana não se resolve com mais polícia, porrada e detenções, requerendo antes um conjunto de políticas sociais, económicas e culturais sempre adiadas ou abandonadas a favor de outras prioridades, por escassez de meios e muita falta de vontade. O mais importante neste processo é não escolhermos os caminhos obtusos da xenofobia, perdendo a oportunidade de construir uma sociedade mais rica e multifacetada através do contributo das várias culturas dos nossos imigrantes.
Xavier - SaudeSA - 18.06.05