segunda-feira, junho 20

Pureza


Nós
jamais ficamos lívidos.
E nascemos tão simples,
que o rubor em nossos rostos
não tem sentido
não é possível
nem existe.

É uma fonte de aves o nosso canto
e o grito de capataz
não é sonho inventado
mas existe na manhã cósmica dos cargueiros atracados
e guindastes de duzentas e cinquenta toneladas.

Lívidos
nascem os outros
e o rubor em nossos rostos
não tem sentido nem existe.
Mas o permanente sentido de angústia
nossos corações de negros
faz cada vez mais puros.

José Craveirinha, publicado em 31 03 1962 na Voz de Moçambique.

Etiquetas: