Há mais vida para além do défice
O Economist de 18/6/2005 (Pág. 92), traz dois números cuja importância requer uma leitura ponderada:
1. º - Gastos de saúde per capita (estudo da OCDE): entre 23 países, Portugal tem os valores mais baixos (menos de 2000 dólares), somando públicos e privados.
2.º - Taxa de crescimento mundial em 2005 (52 países representando 90% do PIB mundial): 3,8%.
Taxa de crescimento de Portugal: previsão da UE : 2,2% (a preços constantes) ; OCDE: 0,7% (a preços constantes); FMI: 1,8% (a PPP). (link)
Jorge A. Vasconcellos e Sá, DE 04.07.05
5 Comments:
Pois é, quando olhamos para a realidade normalmente é isto que observamos. Não gastamos defacto muito mas sabemos todos que gastamos uma parte significativa mal gasta. Será diferente noutros países?
Veja-se o que se passa com os medicamentos: normalmente são receitadas embalagens completas com n doses. O que fazemos? Chegamos a meio ou porque já estamos bem (achamos nós) ou porque não está a fazer efeito (continuamos nós a achar) paramos a toma e lá fica o desperdício. No Brasil, por exemplo, o medicamento é receitado e vendido à dose, isto é, se são x comprimidos os julgados necessários vamos à farmácia e não temos que comprar uma embalagem completa. Evita-se o desperdício.
Nós temos listas de espera em tudo quanto é medicina. Nas consultas, nas cirurgias, nos exames, etc. Porquê? Porque quem devia começar a trabalhar a horas não o faz. Nos hospitais os médicos quando chegam (e não chegam tarde) a primeira coisa que fazem é vestir a bata (assim já estão ao serviço...) mas vão para o café tomar o pequeno almoço, ler o jornal e quando começam a trabalhar já lá vai no mínimo um hora. É assim, sem dúvidas e salvo honrosas excepções.Mas mais curioso é que os próprios directores de serviços dão o exemplo!
E tudo quanto seja registos de produção informatizados, é vê-los repudiar a implementação dos sistemas de informação!
Lisboaearredores, não me parece que os gastos com a saúde em % do PIB seja um número nem manipulável nem a desprezar. É um bom indicador de quanto gastamos da riqueza que criamos em saúde.
Thy neighbour
Os médicos não repudiam a implementação dos sistemas de informação. Os médicos foram desde o início do IGIF postos à margem dos SI.
Foi à minha frente que em 1992,na presença de um secretário de estado da saúde certo engenheiro declarou que a informática estava reservada à área administrativa, os médicos não tinham nada que se preocupar com isso. A incúria que reina nesta área põe Portugal a milhas doutros paises da UE.
A quem aproveitam os milhões que continuam a gastar-se sem ter em atenção os princípios de universalidade e portabilidade? Ninguém parce estar preocupado com a informatização de processos clínicos electrónicos actualizados que são o âmago do processamento de dados, tanto nos hospitais como centros de saúde. Ninguém parece atento às negociatas na aquisição de programas informáticos que nunca funcionam devidamente ou se o fazem são incompatíveis com os restantes sistemas (Ex. Alert). São sistematicamente deitados para o lixo para logo a seguir se adquirirem outros igualmente obsoletos. E a procissão continua.
Volto à minha: temos desperdício e significativo na saúde (e não só).
Os médicos, meus caros, enquanto corporação, não gostam de sistemas de informação de gestão (a não ser para os outros serviços). Falo por experiência própria. Houve boicote (alguns não conseguidos) à informatização no hospital X (o mesmo que refiro noutro comentários) nomeadamente na prescrição clínica electrónica. A informatização da gestão de doentes teve que fazer "uma pausa" sobretudo quando perceberam que o CA ia mudar.
Concordo e acho que os médicos e todos os profissionais devem ser envolvidos na reorganização/gestão das unidades onde trabalham. É aí, na capacidade de mobilização (e tem que haver persistência) que os líderes (gestores) se revelam.
Concordo também com a necessidade de se assegurarem sistemas integrados e o famoso ALERT não é um bom exemplo. E acrescento que além do elevadíssimo custo tenho dúvidas se existe em Portugal algum Hospital com condições para fazer o seu real aproveitamento. Em termos teóricos vende muito bem...mas na prática, acho que falta demonstrar a sua eficácia, sobretudo porque depende muito da intervenção dos autores dos actos (médicos, enfermeiros, auxiliares, etc.). E numa urgência com macas por tudo quanto é sítio (como ainda há pouco se viu) lá se vai o ALERT...
Vamos ser claros estes rácios só interessam aos políticos quando o objectivo é justificar um caminho e o seu contrário.
A comparação correcta só pode ser abrangente e feita com o cruzamento de vários indicadores tais como :
níveis de acessibilidade
níveis de cobertura
encargos do cidadão
satisfação dos utentes
qualidade de prestação:
consumo de medicamentos per capita
consumo de antibióticos per capita
taxa de infecção nosocomial
taxa de morbilidade e mortalidade por patologia
Encargos com a prevenção e promoção da saúde
taxa de utilização de equipamentos de mcdt
Nº de equipamento de alta tecnologia / valor de aquisição acima de 100 000 euros / 1000 habitantes
etc,etc
Sempre disse que o problema não está em afectar poucos recursos financeiros ao SNS, o verdeiro problema é a má prática de gestão, o que leva a gastar muito para o nível de prestação de cuidados e respcitiva cobertura, prestados e a sua qualidade ( onde estão os dentistas e acessibilidade a ofalmologiam otorrino, demartologia, ortopedia,neurocirurgia etc)
O consumo de medicamentos, os encargos com horas extrordinários e com os mcdt pagos a prestadores externos é um verdadeiro escândalo e representa um choque para quaisquer gestores hospitalares europeus , mesmo dos países mais ricos
Afirmo-o por experiência própria
Só se poupam recursos com outro modelo de gestão clínica ( a verdadeira gestão de produção), a qual passa por aplicar um modelo de contrtualização interna com têm os hospitais franceses.
Cada hospital acima de 250 camas ( para mim a dimensão mínima - é-me dificíl aceitar unidades com menos camas - os hospitais com dimensão menor devem agrupar-se em centros hospitalares
estes hospitais devem ser estruturados em micro - empresas de 5 unidades de gestão, no mínimo, com orçamento de cerca 15 milhões geridos por um AH e director médico e enfermeiro/técnico.
Só assim se pode melhorar a afectação de recursos e controlar o orçamento do hospital e do SNS
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