Meias Tintas
Hoje a par de alguns comentários requentados sobre a derrota do Sporting no campeonato da liga, o assunto do dia foi o aumento do preço dos medicamentos.
Após João Cordeiro ter lançado o rastilho entre os utentes do SNS, todos têm exemplos para dar. O Omeprazol 20 mg da minha sogra aumentou 50%. Vejam só. Aonde é que a gente vai parar.
Os responsáveis do Ministério da Saúde não conseguem explicar convenientemente aos portugueses o alcance das suas medidas. E a ANF aproveita.
Quem assistiu ontem às declarações do secretário de estado da Saúde, Francisco Ramos, na televisão, certamente terá ficado espantado com a sua intervenção. Sem chama. Sem se fazer entender.
Hoje o ministro da Saúde, António Correia de Campos, do Algarve, tentou compôr a defesa, acusando a ANF de «inventar números fantásticos» sobre o preço dos medicamentos por não estar interessada em que os custos para o utente baixem». E, acrescentou que não vai ceder a pressões. O habitual, quando se está encurralado.
É pouco para quem abriu as hostilidades com a ANF e teve muito tempo para se preparar para a guerra.
A ANF vai continuar a explorar a sensibilidade dos utentes aos aumentos do preços dos medicamentos, sendo urgente o governo melhorar a qualidade das suas intervenções junto dos cidadãos. É preciso contar toda a verdade. Deixar as dissimulações. As meias tintas. O zé povinho aceita sempre bem toda a verdade por mais dura que ela seja. »Reafirmar que todos os medicamentos terão uma redução de preço de seis por cento, à excepção dos genéricos, que sofrerão um aumento de quatro por cento». É correcto. Mas não chega.
Após João Cordeiro ter lançado o rastilho entre os utentes do SNS, todos têm exemplos para dar. O Omeprazol 20 mg da minha sogra aumentou 50%. Vejam só. Aonde é que a gente vai parar.
Os responsáveis do Ministério da Saúde não conseguem explicar convenientemente aos portugueses o alcance das suas medidas. E a ANF aproveita.
Quem assistiu ontem às declarações do secretário de estado da Saúde, Francisco Ramos, na televisão, certamente terá ficado espantado com a sua intervenção. Sem chama. Sem se fazer entender.
Hoje o ministro da Saúde, António Correia de Campos, do Algarve, tentou compôr a defesa, acusando a ANF de «inventar números fantásticos» sobre o preço dos medicamentos por não estar interessada em que os custos para o utente baixem». E, acrescentou que não vai ceder a pressões. O habitual, quando se está encurralado.
É pouco para quem abriu as hostilidades com a ANF e teve muito tempo para se preparar para a guerra.
A ANF vai continuar a explorar a sensibilidade dos utentes aos aumentos do preços dos medicamentos, sendo urgente o governo melhorar a qualidade das suas intervenções junto dos cidadãos. É preciso contar toda a verdade. Deixar as dissimulações. As meias tintas. O zé povinho aceita sempre bem toda a verdade por mais dura que ela seja. »Reafirmar que todos os medicamentos terão uma redução de preço de seis por cento, à excepção dos genéricos, que sofrerão um aumento de quatro por cento». É correcto. Mas não chega.
4 Comments:
O Governo parece ter dado uma grande ajuda ao lóbi do sector farmacêutico com a recente alteração dos regimes de comparticipações de medicamentos, com reflexos no preço final a pagar pelos utentes.
Desde há anos que decorre esta "guerra" entre governos diversos e o poderoso lóbi farmacêutico. Trata-se de um sector oligopolista, que investe fortemente no marketing. As suas acções de propaganda são, em geral, mais sofisticadas que as dos governos.
Diversos governos, conscientes de um forte desequilíbrio entre produtor/consumidor favorável aos sector empresarial, abriram frentes de luta pela introdução dos medicamentos genéricos e pela redução de preços finais (ou das comparticipações do Estado) à custa da redução das elevadas margens de lucro do sector. As empresas encaixariam bem esta redução, mas sabem que têm vantagem em dificultar o processo desde o seu início.
Por exemplo: no caso da venda de alguns medicamentos fora das farmácias (o que permitiria introduzir alguma concorrência) têm feito uma intensa propaganda da ideia de que essa venda é perigosa. No caso dos genéricos, a ideia divulgada foi semelhante, e obteve mesmo algum apoio da Ordem dos Médicos.
Ora as recentes decisões governativas vieram proporcionar à indústria farmacêutica alguns trunfos adicionais, que esta não irá desperdiçar, como se vê nesta notícia do jornal Público. Dominando as contas - e seleccionando judiciosamente os exemplos - a Associação Nacional de Farmácias (ANF) "prova" que os consumidores vão ser imensamente prejudicados.
Estamos agora a assistir a uma guerra das percentagens como não se via, talvez, desde o final dos anos 70, quando sindicatos e governo usavam indistintamente (conforme as conveniências) os diferentes indicadores da inflação (homóloga, média) e confundiam subidas percentuais com subidas de pontos percentuais. No caso dos medicamentos genéricos, o governo anulou uma comparticipação acrescida de 10%, que fora criada para fomentar o uso dos genéricos, divulgando que o aumento de preços será apenas de 4%. A ANF contrapõe: «o corte de 10% na majoração significa que todos os medicamentos genéricos estão hoje 10% mais caros» e «Os doentes têm o direito de saber que esta alteração lhes vai custar mais 30 %», «um utente do regime especial (doentes crónicos e pensionistas) pode chegar a desembolsar o triplo por um genérico». Também é referida pela ANF a existência de casos em que os genéricos poderão ficar mais caros do que os correspondentes de marca.
Confuso? Esclareça-se que o valor de 4% adiantado pelo governo para aumento de preços, resulta de uma conta simplista: (a) os genéricos aumentam 10%; (b) os restantes diminuem 6%, a suportar pela indústria; (c) logo: 10% - 6% = 4%. Muito simples.
Mas não é assim tão simples: há que contar com a diferente ponderação dos diferentes tipos de medicamentos e outras alterações legisladas, território em que a ANF manobra com destreza. Veja-se por exemplo este seu argumento: «388 medicamentos em 500 perderam as comparticipações a 100%, o que significa que milhares e milhares de doentes crónicos, que não pagavam nada, passaram agora a pagar importâncias que lhes fazem falta.» Demagogia em estado puro, mas certamente com alguma eficácia.
Outro argumento (e trunfo) dos farmacêuticos é o de que as subidas de preços vigoram de imediato, enquanto que as descidas só se farão sentir após as reposições de stocks: diz a ANF que «milhares de doentes se sentiram 'ludibriados' porque pensavam que a partir da passada 5ª-feira teriam medicamentos mais baratos nas famácias.» Mais um aspecto em que o governo foi inábil, pois poderia ter feito coincidir ambos os efeitos; neste caso, o impacto da subida impressiona mais, enquanto que as descidas se farão talvez ao longo de algum tempo, sem impacto mediático.
O fulgor argumentativo da ANF pode ser verificado na sua página: «O Governo anunciou um abaixamento de 6% no preço dos medicamentos comparticipados (...) O que não disse foi que os laboratórios seriam os menos penalizados (...) Se a lei fosse cumprida, os medicamentos em Portugal não seriam dos mais caros da Europa e os portugueses pagariam menos 220 milhões de euros por ano.» Na página Direcção-Geral da Saúde nada consta sobre o assunto e uma pesquisa sobre "preços dos medicamentos" não fornece nada.
A opinião pública é muito sensível ao custo dos medicamentos e facilmente mobilizável contra as empresas farmacêuticas, o que tem jogado a favor das medidas governativas. Mas as pessoas são igualmente sensíveis aos aumentos dos preços, o que abre caminho às campanhas das farmácias. Com estas recentes medidas, atendendo à confusão instalada, atendendo à dificuldade do governo em se fazer explicar (agora é que tinha calhado bem um daqueles encartes que só aparecem em períodos pré-eleitorais) e atendendo à facilidade do sector farmacêutico em publicitar as suas posições, o pêndulo ameaça deslocar-se a favor deste sector.
Pura Economia
O preço dos medicamentos só baixou (?) para o SNS/Governo. Para os doentes na verdade face à redução das comparticipações aumentou.
Estamos na verdade numa situação muito complicada. São-nos pedidos sacrifícios e ao ouvirmos falar os governantes até parece que com estas medidas, esta brutal redução de direitos sociais, o País estará a salvo da "falência" financeira.
Por mim não acredito e estou certo de que daqui a um, dois, três, quatro anos, etc, (talvez mesmo na próxima geração) se continuará a assistir a este discurso sobre a Crise do Estado-Providência. Crise que continuará a ser só para alguns, certamente para um número cada vez maior mas onde os "privilégios" continuarão.
Cada conferência de Imprensa da ANF vai ser um sufoco para o ministro da Saúde.
Há que procurar acertar o discurso dirigido aos utentes. deixar as arrogâncias, as tiradas soltas. è necessário falar de forma que o povo entenda.
É necessário preparar cuidadosamente as intervenções. Fazer os trabalhos de casa.
Se não melhorar este aspecto da comunicação vão ser peras doces para a ANF.
Comentário enviado por mail:
Genéricos: 1. Para retirar a majoração dos genéricos o ministro invocou (ontem, no Algarve) o estudo encomendado pelo Infarmed a uma empresa inglesa. Mas o estudo o que recomenda é a retirada da majoração quando a quota de mercado for superior a 20% (está nos 13%); 2. Os 6% de baixa anunciados são sobre os preços. Os 10% da majoração são sobre a comparticipação. Não se pode calcular 10 – 6 = 4, porque estamos a falar de coisas diferentes; 3. Todas as medidas tomadas pelo Ministro da Saúde, neste pacote, destinam-se a penalizar os mais pobres – os que consomem genéricos (porque são mais baratos) e os que estavam no escalão dos 100% (passou para 95%).
Luís Oriente
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