sábado, janeiro 14

Mediatização da Mudança


O semanário expresso desta semana ( n.º 1733 14.01.05), mimoseia o último caso Santa Maria com alguns títulos bombásticos: "Balbúrdia em Santa Maria" (1.ª página) , "Assalto ao Santa Maria" (pag. 4) (o Independente de Paulo Portas fez escola)
Todos conhecemos os detalhes deste episódio da história recente da nossa gestão hospitalar:
Depois de queixas sobre ameaças a elementos e familiares do CA do hospital de Santa Maria, efectuadas por indivíduos ligados a interesses ilícitos e ilegítimos, o ministro da saúde, inrrompeu inflamado no meio de uma sessão pública a sentenciar que «Uma ameaça a um dirigente do Ministério da Saúde é uma ameaça ao ministro da Saúde e ao Governo de Portugal ».

O expresso vem agora esmiuçar os interesses ilícitos e ilegítimos que estarão por detrás das ameaças efectuadas aos elementos do CA:
a)– uma família viveu num dos pisos subterrâneos do hospital (catacumbas) mais de 20 anos;
b) – a morgue foi utilizada por bandos de assaltantes como armazém dos pilhanços (a jornalista, mais adiante, refere que são armazéns contíguos à casa mortuária. Em que ficamos ?);
c) – os frequentes assaltos aos produtos de consumo hospitalar durante o trajecto de distribuição interna;
d) – auditorias que revelaram indícios de irregularidades financeiras graves;
e) – Desvio de materiais do armazém central, ao ritmo de 600 mil euros ao ano (há uma eternidade).

Para já, a actual Administração, zelosa, cumpriu o ritual: entrega dos casos detectados à Inspecção Geral de Saúde, rescisão de alguns contratos e muitas trancas às portas.

O que transparece desta triste história é o profundo estado de desleixo e incompetência com que o estado tem gerido esta gigantesca unidade hospitalar, deixando engordar desmesuradamente os serviços, pressionados por uma procura insuportável; descurando de forma inacreditável a manutenção das instalações; pactuando, reverencial, com o poder dos senhores professores; atirando para a fogueira sucessivas administrações, rapidamente trucidadas, incapazes de dar um passo; deixando agravar, ano após ano, o subfinanciamento da instituição (o grande responsável de quase todos os males) o que fez de SM uma das campeãs dos pagamentos em atraso do nosso país.
Mais uma vez, o caminho da mediatização escolhido pelo ministro da saúde, António Correia de Campos, não augura nada de bom. Lavar roupa suja na praça pública para criação do clima favorável à mudança já provou no passado recente não ser a melhor estratégia.

3 Comments:

Blogger tonitosa said...

No HSM EPE subsiste uma situação: a de Hospital Universitário. Qual será o futuro? Sabendo-se do interesse de determinada universidade em criar o curso de Medicina, ter um HSM na mão dava jeito,não acham?
A apetência dos "Profes" pela gestão dos HH tem sido evidente.
E para tal uma parceria até permitia manter uma certa aparência de continuidade sob gestão do Estado/SNS.
Até pode vir a ser uma espécie de "Iberdrola" na Saúde. Percebem?
Como dizia o grande Fernando Pessa: pense menino! Pense!

2:49 da tarde  
Blogger xavier said...

Felizmente, por coincidência ou não, a revista Única do semanário expresso, traz um trabalho exemplar da Ana Cristina Câmara sobre os gloriosos trabalhadores do Serviço de Medicina Intensiva do Hospital de Santa Maria.

Nas salas de coma, entre baterias de equipamento, o desespero dos familiares a aguardar lá fora, estes profissionais manejam as técnicas em que são exímios para trazer à vida todos os dias cidadãos deste nosso Portugal.

São unidades de produção onde se faz o que de melhor há em todo o mundo.

É preciso ter estofo e conhecimentos de ponta para trabalhar nestas UCI. Com as remunerações mais baixas dos países da UE .

A única tristeza que grassa entre estes profissionais é não serem Deus para poderem salvar todos os que lhe passam pelas mãos.
Não desanimem. Falta muito pouco.

6:04 da tarde  
Blogger helena said...

O nosso jornalismo com raras excepções, fica-se pelos títulos especulativos. Pouca ou nenhuma análise, incapacidade de dar uma versão por moto próprio dos factos.

Este texto faz, quanto a mim, uma análise certeira dos factos.
Este assuntos são demasiadamente graves para serem tratados como uma cowboiada.
Mas quando o chefe máximo dá o exemplo ...

3:13 da tarde  

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