Liberdade de expressão
Cartoons do profeta Maomé publicados na imprensa europeia provocaram a fúria da comunidade islâmica (link)
«Estamos perante uma questão de direito à livre expressão.»
José Gil
Temas de Saúde. Crítica das Políticas de Saúde dos XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI Governos Constitucionais
7 Comments:
Principalmente porque, ao contrário do que Sócrates resolveu explicar, com o seu oportunismo e a sua absoluta inconsciência cultural, a liberdade (no caso, da imprensa) não leva à "lei do mais forte". O que leva à "lei do mais forte" é o petróleo e o dinheiro do petróleo. Quando o Islão berra, a Europa treme. O resto, a baixa retórica do relativismo, não passa da eterna sabujice da dependência.
vpv jp 05.02.06
A todos os crentes, de todas as religiões, é devido o maior respeito. Sabemos que por vezes há críticas exageradas e que podem ser consideradas ofensivas. Daí aceitar-se o direito ao protesto. Mas não pode aceitar-se no Mundo Civilizado a actuação violenta, particularmente quando exercida sobre cidadãos que nada têm a ver com os "autores" das ofensas.
Ninguém viu os Católicos" actuarem da mesma forma contra os que publicaram caricaturas, entre outras, de João Paulo II.
Um erro não justifica outro!
Concordo com o Alrazi quando se refere ao respeito pelos outros.
Discordo no que se refere ao direito a protestar por qualkquer forma.
Misturar as guerras entre cristãos e mulçumanos com esta questão das caricaturas é confundir a árvore com a floresta.
Seria o mesmo que defendermos hoje um processo como foi a inquisição.
Será defensável a guerra entre católicos e protestantes Irlandeses no que possa ter de "imposição ao outro" de prática religiosa.
Quantos autores puseram até hoje em causa o que foi a vida de Cristo? Houve algum processo de condenação à morte desses autores por parte dos que seguem a Cristo?
É isto que está em causa.
Direito ao protesto, sem dúvidas. Recurso à violência como aquela a que se assite, nunca. Afinal que valores se defendem?
A crença vale mais que a vida?
ONDE ESTÃO? Serão 15, 18 ou até mesmo 20 milhões, os muçulmanos a viver na Europa. Onde está a sua indignação diante do pequeno episódio das caricaturas de Maomé? Dou uma ajuda: comecem pela igreja de San Petronio, em Bolonha. Lá, um fresco de Giovanni de Modena (salvo erro do século XV) representa um Maomé torturado no círculo nono do Inferno de Dante. A 24 de Janeiro de 2002, o Guardian noticiava, sem causar comoção a ninguém, que o rapaz conhecido no meio como Amsa o Líbio, tinha sido detido em Londres três semanas antes. Parece que "trazia instruções" da Al-Qaeda para células inglesas, belgas e espanholas, com um objectivo específico: fazer explodir a dita igreja. Avisadamente e desde então, os responsáveis pela igreja puseram o fresco de Giovanni numa parede lateral e num ângulo tal, que é impossível ler a inscrição - Mahomet - no corpo do torturado.
A comandita chilreante dos jornais excitou-se ( até tresleu o velho Marx) com meia dúzia de incêndios em embaixadas de exportadores de bacon & cerveja. Pensem um bocadinho o que teria acontecido se a turma residente se tivesse zangado a sério. E já agora, se não for pedir muito, rebusquem no vosso ocioso córtex pré-frontal por que motivo tal (ainda) não aconteceu.
FNV- mar salgado
liberdade vs. crença
Sou claramente a favor da liberdade de expressão. Uma crença pode impôr comportamentos a quem a professar, mas não a quem lhe for exterior. Se o islão proibe os desenhos de Maomé, só os pode proibir aos seus fiéis (do mesmo modo que, em Portugal, quem faz uma promessa não pode obrigar alguém a ir descalço a Fátima para a cumprir). E este princípio deve ser rígido, sem contemplações. Os desenhos eram de mau gosto? Paciência. Nenhum governo, de nenhum país, deve pedir desculpa aos muçulmanos ou a quem quer que seja.
2. direito à indignação vs. segurança
Aqui, julgo que os dois valores se equilibram. Não tenho nada a opor aos protestos dos muçulmanos. Não me aborrece que invadam as ruas ou queimem bandeiras (uma bandeiras só obriga, como digo antes, quem acreditar nela). No entanto, é importante que os países europeus defendam os seus cidadãos e os seus bens sem hesitar.
3. Ocidente vs. outros.
Antigamente era eurocêntrico, e hoje ainda o sou em alguns aspectos: no que diz respeito à relação entre os sexos. À integração das minorias (incluindo as muçulmanas). Ao convívio com a tecnologia. À divisão dos poderes políticos. Mas um árabe valorizará outras coisas: talvez uma noção superior de amizade, hospitalidade, e ligação familiar. Ou uma visão mais límpida da morte e do prazer. Dará mais importância à glória ou à abnegação. Não sei. Mas sei que, dentro do mesmo barco, não cabe à pescada dizer se é mais saborosa que o atum.
Para resumir: julgo que o escândalo dos muçulmanos não nos obriga a nada. Os seus protestos não nos devem repugnar. Mas devemos proteger-nos sem hesitações, e sem imaginar que somos superiores.
Franco Atirador
1. Toger Seidenfaden, director do jornal dinamarquês Politiken, título de referência, entrevistado por Ana Navarro Pedro: «No Verão de 2005 [...] um polemista dinamarquês, Kaare Bluitgen, muito conhecido pela sua islamofobia [...] escreveu um livro sobre a vida de Maomé, destinado às crianças e à juventude dinamarquesa, que apresenta o Profeta como um pedófilo e um criminoso de guerra. O livro é provocante e, na minha opinião, vulgar. [...] Bluitgen queixou-se publicamente que um ou dois desenhadores tinham recusado ilustrar o seu livro. Até hoje, não sabemos se isso foi um facto — o que sabemos é que publicou o livro, e com ilustrações.» Cf. Público de anteontem, página 5.
2. O Jyllands-Posten, jornal popular de grande circulação — «o mais lido» da Dinamarca, segundo Seidenfaden —, deu eco às queixas de Bluitgen e convidou 40 caricaturistas a fazer cartoons de Maomé. Doze aceitaram o desafio. Os 12 cartoons foram publicados na edição de 30 de Setembro, acompanhados de um editorial que reivindica o direito a «desafiar, blasfemar e humilhar o Islão».
3. Entre Outubro e Novembro do ano passado, um grupo islamita, radicado na Dinamarca, divulgou em vários países do Médio Oriente um dossiê sobre o assunto, ilustrado com quinze cartoons: os 12 que o Jyllands-Posten publicara, e mais 3, aparentemente apócrifos.
4. Logo em Outubro, onze embaixadores árabes acreditados na Dinamarca pediram para ser recebidos pelo primeiro-ministro dinamarquês. Anders Fogh Rasmussen recusou esse pedido (convém lembrar que o actual governo dinamarquês sobrevive devido ao apoio parlamentar da extrema-direita). A Líbia encerrou então a sua embaixada em Copenhaga. Outros países árabes chamaram os seus embaixadores. O caso chegou à Liga Árabe e à Conferência Islâmica.
5. Em Janeiro, tablóides noruegueses, suíços, franceses, espanhóis, italianos, húngaros, polacos, etc., solidarizam-se com o Jyllands-Posten, publicando alguns dos cartoons. Em Fevereiro, o Die Welt, o El Pais e o Le Monde, três jornais de referência, aderiram discretamente à «cruzada». Em Portugal, pelo menos dois jornais, o Público e o Expresso, fizeram o mesmo, demarcando-se ambos, em editorial, da «afronta». Em França, o proprietário do France Soir despediu o editor do jornal. Na Jordânia, o matutino que publicou os cartoons foi retirado de circulação horas depois de distribuído, sendo preso o chefe de redacção responsável pela «ousadia».
6. Copenhaga está a ferro e fogo. Ontem, em Damasco, capital da Síria, as embaixadas da Dinamarca e da Noruega foram vandalizadas e incendiadas. Os governos dinamarquês e norueguês aconselharam a imediata retirada dos seus cidadãos. As embaixadas da Suécia e do Chile também sofreram danos (esta última por estar situada no mesmo edifício). Já hoje, em Beirute, foi destruída a embaixada da Dinamarca. Cidadãos dinamarqueses estão a ser retirados do Líbano. O autor de um blogue croata foi ameaçado de morte após divulgar os cartoons.
7. Por que será que os jornais ingleses e americanos não publicam os cartoons da discórdia? Alguém duvida da sua isenção em matéria de liberdade de expressão?
8. Aqui chegados, lamento ser desmancha-prazeres, mas não encontro qualquer analogia, mesmo remota, com a ignóbil fatwa de Khomeini contra Rushdie, em 1989, execrando The Satanic Verses, nem com o assassinato, em 2004, do holandês Theo van Gogh, autor do filme Submission. Nem Rushdie nem van Gogh quiseram «desafiar, blasfemar e humilhar o Islão», propósito menor. O direito a (e o dever de) questionar e denunciar sociedades retrógradas, nunca se confunde com blasfémia e humilhação de crenças, sejam elas quais forem. Kaare Bluitgen tem direito às suas idiossincrasias e a publicar os livros que entender, ilustrando-os da forma que achar mais corrosiva. O Jyllands-Posten pode fazer as manchetes que achar convenientes e com elas criar «um caso». A ingenuidade universal é que me parece excessiva. Não sei, e gostava de saber, quais são os pergaminhos desses jornais na defesa de direitos humanos inalienáveis.
9. Se, por hipótese, em vez do livro sobre Maomé, o sr. Bluitgen tem publicado uma versão do Kama Sutra em que a figura da rainha (da Dinamarca) fosse o móbil da obra, o coro «solidário» atingia estas proporções?
Eduardo Pitta
Basta pensar dois minutos para entender até que ponto o que vemos é em grande medida o resultado da manipulação política dos sentimentos religiosos de muita gente pelo islamismo radical e pelos governos ditatoriais e teocráticos do mundo islâmico. Os mesmos dois minutos chegam para se concluir que, ofendidos ou não pelas caricaturas do profeta, milhões de muçulmanos não partilham do mesmo sentimento de vingança e de ódio, que muitos têm opiniões diferentes que sabem que não podem exprimir em voz alta, sob pena de repressão violenta.
Querer responder a tudo isto com meia dúzia de considerações politicamente correctas - ou aparentemente sensatas - sobre exageros de parte a parte, que se alimentam mutuamente é confundir tudo. Querer responder a tudo isto com discussões mais ou menos bizantinas sobre os limites à liberdade de imprensa nos países europeus é não compreender a verdadeira dimensão do problema. Se não fossem os cartoons, seria outra coisa qualquer a desencadear a aparente indignação do mundo islâmico conta a islamofobia ocidental. Outros episódios haverá com as mesmas consequências.
Ana de Sousa JP
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