Oportunidade Histórica (cuidados primários)
Relativamente aos comentários “postados” penso q se justifica analisar 2 questões:
A)- Cuidados Primários ou ADSE ?
1. Defendi q os CP deveriam dar resposta cabal às necessidades da população e q nas áreas da Grande Lisboa e Porto/Braga havia problema q requeria solução rápida e flexível. Pensava em verdadeiros CP e em reforçar o q de melhor tem o SNS (ou Organizações Integradas de Cuidados):
1.1. Controlo de acesso aos recursos mais sofisticados (gatekeeping);
1.2. Garantir resposta local adequada (imediata, eficaz e de qualidade) numa perspectiva familiar e integrando aspectos preventivos, curativos e de reabilitação/apoio pessoal;
1.3. Gestão adequada da “carteira de doentes” numa óptica de saúde e de modo custo-efectivo (orçamento global, por capitação ou outro que facilite a eficiência global);
1.4. Coordenação clínica, entre os diferentes médicos (prestadores) e serviços envolvidos, p/ melhor uso da informação sobre o doente e evitar uso inapropriado de serviços (ex. urgência/”banco”).
Qualquer opção q não respeite estas garantias não será uma verdadeira solução (não serão CP).
2. Esta perspectiva “nada deve” a soluções do “tipo ADSE” pq esta é substancialmente diferente:
2.1. Não considera os aspectos referidos em 1.1, 1.2 e 1.3;
2.2. Não integra de pleno a coordenação de cuidados nas suas preocupações;
2.3. Trata-se de um conjunto de intervenções desgarradas e consumistas (diversos prestadores ao longo do tempo actuando de modo não coordenado e por opção do doente q saltita de especialista em especialista cf. pensa q é melhor);
2.4. Tem todos os defeitos dos sistemas de pagamento ao acto – incentiva à sua multiplicação, sendo por isso globalmente ineficiente;
2.5. Aliás a ADSE até é um mau exemplo pq se verifica ser um autêntico sorvedouro de impostos que duplica a oferta q o SNS faz (funcionários usam o cartão q mais lhe interessa, duplicam actos e serviços, acedem a meios sofisticados de necessidade/adequação duvidosa s/ qualquer penalização ou controle – é, por isso, uma solução não equitativa);
2.6. ADSE é um monstro burocrático ineficaz: pensem qual o custo acrescido do tratamento no próprio hospital de um s/ funcionário (factura só passa por…) e da eficácia do controle q ADSE faz na restante despesa… (“reduz custos administrativos”? aumenta-os!)
2.7. ADSE é um problema grave sendo uma reminiscência/duplicação desnecessária e não é solução p/ ninguém! (ou evolui p/ Organização Integrada de Cuidados ou será melhor libertar os funcionários para, se quiserem, aderirem a seguro de saúde).
Soluções baseadas neste tipo de resposta parecem concebidas p/ fomentar o descalabro financeiro e a insustentabilidade do sistema de saúde.
3. Todas as soluções apontadas na “aposta tripla” teriam q ter uma configuração semelhante (e p/ melhor…) à do SNS, respeitando as mesmas regras da produção pública (ex. concessão).
B)- USF estão isentas de problemas e perigos ?
1. Ninguém defende q a solução USF seja a única: deve haver outras soluções q permitam escolha e competição saudável, respeitando sempre a missão pública dos CP. Aliás se queremos uma solução rápida e flexível p/ grandes urbes esta solução nunca será suficiente.
2. Também não é uma solução milagreira (s/ problemas e riscos), sendo de prever a ocorrência de diversos problemas derivados de:
i. Cultura instalada, ambiente geral (burocracia, centralização de decisão), conflitos de interesses e poderes informais (pressão corporativa);
ii. Emergência de revindicação de pagamentos acrescidos, reclassificações e novas necessidades de profissionais.
Pressupomos q a USF será integrada em CS, doutro modo a solução será sub-óptima:
– C/ deseconomias de escala, ausência de partilha de custos fixos e de serviços/responsabilidades;
– Menores ganhos por interacção e aprendizagem mútua.
3. Não será uma solução imutável, tendo q ser devidamente trabalhada, implementada e controlada;
i. Em primeiro devemos reconhecer e elogiar o óptimo trabalho efectuado na revisão/redefinição recente;
ii. A implementação será sempre muito exigente e difícil, até pq as RRE não tiveram tempo p/ tratar de modo adequado aspectos importantes:
– Pessoal não MF (qualificação e nº);
– Prescrição de medicamentos e MCDT;
– Coordenação de cuidados;
– Sistemas de gestão (qualidade, formação e avaliação de pessoas, incentivos).
iii. Finalmente haverá q monitorizar e controlar a experiência p/ garantir os melhores resultados.
Nota final: Estranhei o comentário do ToniTosa questionando o modelo USF: “pagamento à peça e qualidade posta em causa”. Estranhei pq tinha acabado de defender uma solução (?) ADSE, essa sim de “pagamento à peça”, s/ questionar os efeitos de qualidade, depois pq a solução USF não é de pagamento ao acto (marginalmente e em apenas alguns actos isso se passa).
SemMisericórdia
A)- Cuidados Primários ou ADSE ?
1. Defendi q os CP deveriam dar resposta cabal às necessidades da população e q nas áreas da Grande Lisboa e Porto/Braga havia problema q requeria solução rápida e flexível. Pensava em verdadeiros CP e em reforçar o q de melhor tem o SNS (ou Organizações Integradas de Cuidados):
1.1. Controlo de acesso aos recursos mais sofisticados (gatekeeping);
1.2. Garantir resposta local adequada (imediata, eficaz e de qualidade) numa perspectiva familiar e integrando aspectos preventivos, curativos e de reabilitação/apoio pessoal;
1.3. Gestão adequada da “carteira de doentes” numa óptica de saúde e de modo custo-efectivo (orçamento global, por capitação ou outro que facilite a eficiência global);
1.4. Coordenação clínica, entre os diferentes médicos (prestadores) e serviços envolvidos, p/ melhor uso da informação sobre o doente e evitar uso inapropriado de serviços (ex. urgência/”banco”).
Qualquer opção q não respeite estas garantias não será uma verdadeira solução (não serão CP).
2. Esta perspectiva “nada deve” a soluções do “tipo ADSE” pq esta é substancialmente diferente:
2.1. Não considera os aspectos referidos em 1.1, 1.2 e 1.3;
2.2. Não integra de pleno a coordenação de cuidados nas suas preocupações;
2.3. Trata-se de um conjunto de intervenções desgarradas e consumistas (diversos prestadores ao longo do tempo actuando de modo não coordenado e por opção do doente q saltita de especialista em especialista cf. pensa q é melhor);
2.4. Tem todos os defeitos dos sistemas de pagamento ao acto – incentiva à sua multiplicação, sendo por isso globalmente ineficiente;
2.5. Aliás a ADSE até é um mau exemplo pq se verifica ser um autêntico sorvedouro de impostos que duplica a oferta q o SNS faz (funcionários usam o cartão q mais lhe interessa, duplicam actos e serviços, acedem a meios sofisticados de necessidade/adequação duvidosa s/ qualquer penalização ou controle – é, por isso, uma solução não equitativa);
2.6. ADSE é um monstro burocrático ineficaz: pensem qual o custo acrescido do tratamento no próprio hospital de um s/ funcionário (factura só passa por…) e da eficácia do controle q ADSE faz na restante despesa… (“reduz custos administrativos”? aumenta-os!)
2.7. ADSE é um problema grave sendo uma reminiscência/duplicação desnecessária e não é solução p/ ninguém! (ou evolui p/ Organização Integrada de Cuidados ou será melhor libertar os funcionários para, se quiserem, aderirem a seguro de saúde).
Soluções baseadas neste tipo de resposta parecem concebidas p/ fomentar o descalabro financeiro e a insustentabilidade do sistema de saúde.
3. Todas as soluções apontadas na “aposta tripla” teriam q ter uma configuração semelhante (e p/ melhor…) à do SNS, respeitando as mesmas regras da produção pública (ex. concessão).
B)- USF estão isentas de problemas e perigos ?
1. Ninguém defende q a solução USF seja a única: deve haver outras soluções q permitam escolha e competição saudável, respeitando sempre a missão pública dos CP. Aliás se queremos uma solução rápida e flexível p/ grandes urbes esta solução nunca será suficiente.
2. Também não é uma solução milagreira (s/ problemas e riscos), sendo de prever a ocorrência de diversos problemas derivados de:
i. Cultura instalada, ambiente geral (burocracia, centralização de decisão), conflitos de interesses e poderes informais (pressão corporativa);
ii. Emergência de revindicação de pagamentos acrescidos, reclassificações e novas necessidades de profissionais.
Pressupomos q a USF será integrada em CS, doutro modo a solução será sub-óptima:
– C/ deseconomias de escala, ausência de partilha de custos fixos e de serviços/responsabilidades;
– Menores ganhos por interacção e aprendizagem mútua.
3. Não será uma solução imutável, tendo q ser devidamente trabalhada, implementada e controlada;
i. Em primeiro devemos reconhecer e elogiar o óptimo trabalho efectuado na revisão/redefinição recente;
ii. A implementação será sempre muito exigente e difícil, até pq as RRE não tiveram tempo p/ tratar de modo adequado aspectos importantes:
– Pessoal não MF (qualificação e nº);
– Prescrição de medicamentos e MCDT;
– Coordenação de cuidados;
– Sistemas de gestão (qualidade, formação e avaliação de pessoas, incentivos).
iii. Finalmente haverá q monitorizar e controlar a experiência p/ garantir os melhores resultados.
Nota final: Estranhei o comentário do ToniTosa questionando o modelo USF: “pagamento à peça e qualidade posta em causa”. Estranhei pq tinha acabado de defender uma solução (?) ADSE, essa sim de “pagamento à peça”, s/ questionar os efeitos de qualidade, depois pq a solução USF não é de pagamento ao acto (marginalmente e em apenas alguns actos isso se passa).
SemMisericórdia
Etiquetas: Semisericórdia
8 Comments:
Não defendi uma solução do tipo ADSE "tout court".
No meu comentário o que está escrito é:
..."Uma contribuição alternativa para complementar o recurso às USF seria, exactamente, admitir-se aquilo que hoje existe para os beneficiários da ADSE: médicos com acordo a que os utentes pudessem recorrer regularmente. Em muitos casos, estou convencido, de que ficaria mais económico ao SNS esse tipo de acordo". ...
Ou seja, depois de ter dito que devemos encontrar novas soluções para os problemas considerei, como uma das possíveis, o recurso a acordos com médicos e clínicas (a designada medicina convencionada) a que os utentes (pelo menos uma parte) poderiam recorrer regularmente.
Reconhecem-se as dificuldades e inconvenientes que a medicina convencionada pode trazer. E de que são exemplo soluções já experimentadas noutros países.
Como se pode verificar pelos meus comentários (vários) sobre a matéria não sou radical nas minhas críticas à solução USF. Provavelmente e pelo que se lê, sou menos optimista que muitos outros quanto à bondade desta solução.
Mas do próprio comentário do SemMisericordia ressaltam algumas preocupações com as USF.
Quanto ao "pagamento à peça" sei que é uma remuneração marginal, mas não deixa de correr o risco de "descambar" em maiores e injustificados custos.
E foi o que escrevi, nos seguintes termos: "O sistema das USF se não houver à partida uma "atitude" correcta pode vir a descambar na dependência dos médicos e técnicos envolvidos, que não tardarão a reivindicar pagamentos acrescidos e dificilmente o Governo poderá recusá-los".
Como sou dos que penso que a ninguém é devido um salário maior por desenvolver o seu trabalho como um "profissional normal e diligente e durante o tempo normal da sua duração" não concordo que tenha que se pagar marginalmente a alguém a não ser para trabalhar para além do seu período normal de trabalho. E parece-me não ser o caso das USF.
Como se sabe há anos que muitos defendem que poderão ser observados (tratados) mais doentes se houver um pagamento adicional por doente tratado.
Mas não vejo idêntica preocupação com possíveis penalizações aos que se situem aquém do que seria normal produzir.
E para mim, um sistema de incentivos (que até me parece de complexa aplicação na área da saúde) não poderá ser motivador de um atendimento (eventualmente) menos eficaz.
Fica uma pergunta: que resultou, em boa verdade, do chamado regime de exclusividade e horário de 42 horas dos médicos? E do horário acrescido dos enfermeiros?
Soluções que também foram anunciadas como "boas" para os HH pouco mais significam do que maiores despesas com honorários.
Em primeiro lugar quero agradecer ao semMisericórdia mais este excelente trabalho.
Todos sabemos que a ADSE é um "monstro burocrático ineficaz",
foi, no entanto, definido como modelo para uniformização dos sistemas da Função Pública (ainda mais despesistas), polícia, tribunais.
Penso que não está nada previsto para proceder a sua integração numa "Organização de Cuidados".
Não seria esta uma medida prioritária a implementar para o controlo de gastos da Saúde ?
Em relação às USF vejo algumas dificuldades:
a) - Instalações
Penso que falta programação e financiamento;
b) - RRE - só aplicável ao pessoal médico.
Será que só estes profissionais é que carecem de motivação ?
c) - A articulação com os hospitais será a maior dificuldade.
Haverá, naturalmente, muitas resistências e dificuldades em organizar a coordenação desta articulação.
A criação de ULS, se tivermos por exemplo a de Matosinhos, também não facilitará muito esta tarefa.
d) - A falta de pessoal médico.
Os MF existentes têm já uma idade bastante avançada.
Quando CC fala em dez anos para implementar esta rede de cuidados estará a pensar especialmente nesta dificuldade.
Penso que a pedra de toque para o êxito deste projecto estará na capacidade de CC fazer despoletar mecanismos motivadores (não me refiro estritamente aos remuneratórios) dos profissionais das USF.
Realmente, é uma oportunidade histórica de contrução de um novo tipo de cuidados, mais humanizado e eficiente.
Temo, no entanto, que este desafio, com os instrumentos que conhecemos, não seja suficientemente motivador para um grande número de profissionais.
A troca de cartas, referida pelo cavacisim, é, a meu ver, um exemplo de gestão democrática .
Não achei a resposta do coordenador,Dr. Pisco, nada azeda, mas sim pedagógica.
Acho pertinente , no entanto, analisar as acusações da coordenadora do CS do Pragal relativamente ao projecto das USF:
«Parece-me evidente que esta proposta governativa pretende transferir para os profissionais a responsabilidade que até agora era do Estado em garantir resposta plena, ao nível dos Cuidados de Saúde Primários, abarcando utentes actualmente inscritos sem médico de família, pondo em causa direitos dos profissionais, nomeadamente a intersubstituição gratuita nos períodos de férias, ou de doença até duas semanas e a perda do actual horário de trabalho de acordo com uma carteira de serviços contractualizada e o cumprimento de objectivos “constitucionalmente” duvidosos, como a redução de custos em prescrições e exames complementares de diagnóstico.»
Esqueci-me de acrescentar:
«Mas questiono, porque pretendem aumentar as responsabilidades dos profissionais dos cuidados de saúde primários, actualmente em número insuficiente, para garantir resposta no próprio dia a todas as solicitações duma população superior à que actualmente é da sua responsabilidade individual, como principal solução encontrada para suprir a falta de médicos de família?… é que não há dinheiro que pague a saúde… e é a nossa saúde que poderá vir a estar em causa, ao assumirmos responsabilidades inaceitáveis!
E o que será dos Cuidados de Saúde Primários com os poucos médicos de família que ainda tem, mas exaustos e doentes?...
É que somos um recurso escasso e precioso…assim o confirmam os indicadores de saúde dos últimos anos…
Os mais fortes sobreviverão?...»
Anabela Bitoque
Sem ovos não se fazem omoletes.
URGENTE:
CC tem de providenciar a colocação de médicos de família na Rede de Cuidados de Saúde Primários, a um ritmo superior ao que tem previsto.
Apenas e só mais esta nota: uma coisa é a ADSE enquanto organismo do Estado e a sua orgânica interna primando pela burocracia como é de bom tom (?) na nossa AP. Outra coisa é a realização de acordos com médicos e outros técnicos e serviços de saúde a que os utentes possam recorrer, sem dias e dias de espera e em geral com atendimanto de qualidade.
É evidente que a medicina convencionada tem a oposição de muita gente. E sabe-se porquê!
A segunda área que merece a observação atenta, é a implementação das primeiras fases da reforma dos cuidados primários em que estão previstas novas dinâmicas de gestão dos centros de saúde. A apresentação das propostas, quiçá ‘dejá vu’, suscitou cepticismo por parte de médicos e enfermeiros. O que não espanta o observador atento, pois que a melhor implementação das Unidades de Saúde Familiar (USF) depende de factores de sucesso dos mais críticos na gestão em saúde contemporânea: 1) Existência de uma liderança técnica reconhecida; 2) Poder político com efectiva dinâmica executiva nos seus diferentes órgãos (sobretudo Administrações Regionais de Saúde); 3) Investimento integrado; 4) Informatização do sistema de informação para garantir a monitorização do processo.
Paulo Kuteev Moreira, DE 02.02.06
Mais um excelente texto do semMisericórdia a trazer a qualidade da análise para níveis só acessível a uns poucos.
A caracterização qualitativa dos cuidados primários é exemplar.
O projecto das USF parece-me frouxo, uma vez que não conhecemos, em profundidade, os apoios com que este pode contar
Em primeiro lugar, os investimentos em instalações, equipamentos, meios de informação.
Em segundo lugar, qual será o grau de adesão que CC e o DR. Pisco esperam após a apresentação deste projecto ?
Está previsto estender o RRE a todos os profissionais das USF ?
A existência de poucos novos médicos para injectar nesta rede de cuidados não poderá fazer gorar o projecto?
Qual é o grau máximo de autonomia que se pretende para estas novas unidades ?
Concessão privada, é para avançar ?
Enfim vejo muitos problemas e poucas respostas.
Talvez se deva, simplesmente, a um défice de informação junto da opinião pública.
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