quinta-feira, março 30

Pouco Responsáveis

A Revista Teste Saúde n.º 60 (Abril/Maio), analisa neste número o estudo desenvolvido por várias associações de consumidores europeias, incluindo a DECO, com o apoio da Comissão Europeia, sobre a política de responsabilidade social da Indústria Farmacêutica, avaliada através da investigação das seguintes áreas de actuação: Segurança e Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento, Marketing, Transparência e Apreciação Global.
O estudo conclui que os laboratórios actuam com falta de transparência, quer na divulgação dos resultados (indicações terapêuticas e reacções adversas), quer no marketing utilizado para divulgação dos seus produtos.
Efectivamente um grande número de empresas farmacêuticas promove junto dos médicos, benefícios não comprovados para os seus medicamentos e não divulga os resultados de todos os estudos. Segundo a revista Prescrire, 35% dos dados de informação prestados pelos DIM não correspondem às indicações oficiais do medicamento.
Como se sabe, a informação médica em Portugal é promovida quase exclusivamente pela Indústria, em todas as fases do processo de introdução de novas substâncias (divulgação das indicações e avaliação das terapêuticas) que antecedem a sua prescrição corrente. Por outro lado, os Laboratórios não divulgam todos os efeitos secundários apurados nos ensaios clínicos, como ficou amplamente provado no caso do célebre painkiller Vioxx.
No entender dos responsáveis deste estudo os dados da farmacovigilância coligidos pelo Infarmed deviam estar disponíveis na net.
Outras das conclusões do referido estudo é que a Indústria Farmacêutica é pouco inovadora, apresentando como novidades produtos que não diferem muito dos existentes no mercado, os “me too”. Entre 2000 e 2004 dos 14 laboratórios objecto deste estudo só metade colocaram no mercado medicamentos verdadeiramente inovadores.
Nos estudos de avaliação não existe a obrigatoriedade de efectuação de estudos comparativos com medicamentos de referência, quando estes existem, de forma a comprovar mais facilmente a sua utilidade. A multiplicação de estudos em que basta apresentar resultados positivos de dois, são outro dos truques de que a Indústria se serve para comprovar as vantagens de novas substâncias.

Para protecção dos cidadãos o estudo da DECO faz várias recomendações:
a) – Avaliação da mais valia terapêutica, através da proibição de entrada no mercado de medicamentos não devidamente estudados e comparados com o melhor tratamento já disponível;
b) – tornar obrigatória a publicação de todos os estudos, incluindo os menos favoráveis;
c)– Reforçar a farmacovigilância, criando mecanismos que permitam aos doentes comunicar directamente os efeitos adversos não constantes do folheto informativo às autoridades de saúde (Infarmed).
d)- Tornar acessível ao público a base de dados europeia de efeitos secundários – Eudravigilance;
e)– Os sistemas de auto-regulação das empresas na área do marketing e da publicidade não são suficientes para evitar abusos. É indispensável legislar sobre esta matéria ao nível da União Europeia;
f)- As autoridades de saúde devem assumir um papel relevante na formação contínua dos profissionais de saúde;
g)– Para garantir a defesa dos interesses de saúde pública, a EMEA deve estar dependente da DG SANCO (Direcção de Saúde e Protecção dos Consumidores da Comissão Europeia) e não da Direcção Geral de Empresas;
h)– Esta matéria vai ser levada pelas Associações de Consumidores Europeias à discussão da Assembleia Mundial de Saúde da OMS em Maio.

1 Comments:

Blogger ricardo said...

O presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) assegurou segunda-feira que todos os medicamentos colocados no mercado português são devidamente testados e recusou acusações da associação de consumidores DECO de falta de transparência do sector.

Gomes Esteves reagia desta forma à notícia hoje avançada pela Agência Lusa sobre um estudo da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), o qual concluiu que a maioria dos laboratórios é pouco transparente e usa o patrocínio a grupos de doentes e médicos, bem como campanhas sobre doenças, para promover medicamentos.
Para a Apifarma, as empresas (laboratórios) têm «a obrigação de divulgar os medicamentos que estão a desenvolver».
A DECO constatou que «as autoridades responsáveis, nomeadamente a Agência Europeia do Medicamento, são muito permissivas em relação a estas empresas».
Um dos exemplos indicados na revista refere-se aos efeitos indesejáveis dos medicamentos: «Antes de colocar o medicamento à venda, a indústria avalia a sua eficácia e efeitos secundários através de testes em animais de laboratório (primeiro) e, depois, no Homem».
A venda dos medicamentos «só será permitida se houver provas de que os ganhos para o doente são superiores aos riscos».
Contudo, «estes estudos não permitem identificar todos os efeitos secundários», pois «alguns só surgem quando o medicamento é utilizado em larga escala, por milhares de pessoas».
Para Gomes Esteves, todos os medicamentos que são colocados no mercado português são sujeitos a um «rigoroso controlo».
«Não há a mínima hipótese de um medicamento ser lançado em Portugal sem estar devidamente autorizado», disse o presidente da Apifarma, lembrando que a indústria farmacêutica é «das mais regulamentadas do mundo».
Sobre a divulgação dos medicamentos, que a DECO criticou, acusando as empresas de usarem «o patrocínio a grupos de pacientes e médicos e campanhas de informação sobre doenças» como forma de promoção, Gomes Esteves disse que a indústria farmacêutica tem a obrigação de divulgar os seus produtos.
jdigital

1:35 da manhã  

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