quinta-feira, maio 4

A Farmácia

Local de exercício da profissão, nunca mais voltará a ser o que era!!!
Não há nenhum economista que não ache correcto o aplicar de regras que estimulem este mágico binómio oferta/procura i.e.mercado/consumidor. Eu imagino porquê. Fizeram toda a sua formação académica ao redor desta matriz e aplicam-na de forma geral e indiscriminada.
Não tenho formação nesta matéria para, com eles, poder argumentar com bases científicas, mas tenho experiência de vida e profissional bastante para me aperceber que "o mercado" da saúde destipifica o protótipo do consumidor.
Passar a disponibilizar medicamentos às populações mediante a regra instituída da prática dos descontos é, de facto, a matriz académica dos economistas mas é o antípoda da matriz académica dos farmacêuticos; é, aliás, tudo quanto nos foi transmitido como não deontológico, não ético, como má prática...transmitido nos bancos das faculdades e transcrito pelo legislador, enquanto preceito legal ,até à data ainda não revogado.
Eis que é esta a proposta do governo, parece que já "cozinhada" com os ideólogos legítimos representantes das farmácias...a troco de quê? Qual é a outra face da moeda? A Profissão sabe? E está calada? (--Se está calada é porque não sabe--).
É com a maior das mágoas que constato que a Farmácia (local de exercício de uma actividade profissional) nunca mais voltará a ser como era!
Agora o farmacêutico de oficina, profissional de saúde de formação superior (que custou largos milhares de euros ao Estado e que é um privilegiado que contribui para a exígua percentagem nacional de população licenciada--não esqueçamos que esta percentagem é ,em Portugal, menor que a da população analfabeta--) dizia eu que agora o farmacêutico de oficina vai começar o seu trabalho, pela manhã, a comparar os preços dos seus medicamentos com os dos medicamentos da farmácia vizinha, numa azáfama de ora tira cêntimo, ora põe cêntimo...tarefa enobriante e de grande mais valia para o PIB nacional ( que tão doente está).
Lá mais para diante, com o avançar do sol e quando as farmácias mais próximas já não lhe fizerem sombra, porque a hora da noite já vai alta...então voltemos à enobriante tarefa de aumentar outra vez os preços ( até ao máximo que o Estado deixa, claro...mas na venda livre pode-se ir por aí fora...).
No dia seguinte, pela manhã, lá volta a enobriante tarefa....
Coitado do doente que, em pouco mais que uma década viu "saltar" o seu estatuto de doente, para paciente, para utente...até que lá lhe deram o privilégio de ser "consumidor"! Olha que coisa tão boa, e eu agora que já consumo "Zocor's"!!!!
O Estado reforça nos seus serviços as taxas moderadoras e o governo reforça a tónica de que são mecanismos de moderação ao acesso injustificado (plenamente de acordo ); as farmácias que tinham sido pioneiras, penso que há 40 anos já tinham taxas de serviço permanente, agoram vão retirá-las, provávelmente para as irem incorporando no tal preço que vai "girando" com o sol!
Apesar de há cerca de seis anos a minha vida profissional já não se passar na farmácia, tenho uma mágoa profunda pelo que se está a passar, pelos meus Colegas que exercem na farmácia de oficina e por ver que não há vozes de gente respeitada que baixinho dêm o grito que vai na alma de todos nós.
E o que é mais perigoso...é que não estou a ser "velha do Restelo", repito : a Farmácia, enquanto local de exercício da profissão, nunca mais voltará a ser o que era!
Um abraço amigo a todos.
Clara Carneiro

1 Comments:

Blogger El Unclo said...

Cara Clara Carneiro:

Entendo bem o que diz... isto de trabalhar mais é mesmo muito chato!

Mas consta que há por aí gente que já o faz há uns anos e tem sobrevivido... vai ver que não dói nada! Pode ser que lhe ganhe o gosto!

5:34 da tarde  

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