terça-feira, agosto 29

Hospitais SA e EPE


A intenção de CC em fazer regressar os hospitais EPE , em pior situação financeira, ao SPA (mecanismo pedagógico), poderá levar-nos a duvidar da eficácia do modelo EPE como Experiência Inovadora de Gestão (EIG). Sobre esta matéria achei oportuno trazer à colação este texto do semmisericórdia.

Os hospitais SA representaram diferenças mais de oportunidade, após EIG, e de estilo (incrementalismo e experimentação vs “big bang”) – porventura ambas justificadas no tempo em que foram decididas. De facto e face às EIG não se verificaram grandes mudanças no modelo SA. Consolidou-se definitivamente o modelo de empresa e generalizou-se a um número razoável de unidades, criando massa crítica e maior capacidade de influenciar os restantes hospitais. A sua aplicação teve alguns percalços porque:
– Criou-se um ambiente de divisão (a favor/contra, SA versus SPA) e promoveu-se a alteração de regras (estatísticas, contabilísticas) que prejudicaram a comparação e consolidação no SNS;
– Resultou em menor autonomia e maior controlo/intromissão dos órgãos centrais (face a EIG);
– Possibilitou o “furar” das regras de planeamento (desenvolvimento, criação ou diminuição de serviços), devido à disponibilidade do capital social e ao eclipse das ARS/Agências Regionais (também pela nomeação de alguns CA com nula/reduzida experiência em gestão de saúde).

Nos SA assistimos ao modo como empresas “como as outras”, com Assembleia Geral, Conselho Fiscal e etc., viram esvaziar-se parte da autonomia (daí também parte da sua responsabilidade…) com o papel preponderante da Unidade de Missão substituindo-se, por vezes, aos CA e intrometendo-se indevidamente na gestão dos hospitais. O modelo SA foi alvo de acusações, algumas das quais não tinham nem a substância nem a importância que foram então alardeadas:
– Salários e regalias excepcionais para os gestores;
– Politização de cargos;
– Intromissões abusivas na autonomia profissional (ex. pedido de demissão da D. Clínica do H. Viseu);
– Alguns recrutamentos pouco sustentados e inflação de remunerações;
– Gestão de pessoas sem regras e uniformidade (“abusos, prepotência, desprezo de direitos”, etc.).

A pretendida conversão dos funcionários públicos em CIT no prazo de um ano fracassou. Verificou-se o reeditar sucessivo da promessa não cumprida de institucionalização de incentivos. Não chegou a ser concluído um Acordo Colectivo de Trabalho que regulamentaria carreiras, retribuição e outros aspectos. Daqui resultou: aumentos na remuneração base nalgumas especialidades e áreas geográficas; assimilação dos benefícios da FP (ex. forma de pagamento do trabalho extraordinário); facilidades que foram concedidas para execução do programa de recuperação de listas de espera no interior dos hospitais.

As EPE vieram reconhecer e ratificar uma conclusão óbvia e já algo tardia: o estatuto normal dos hospitais deve ser o de empresa, com as limitações e especificidade que a sua natureza e integração no SNS justificam.
Não se encontram diferenças significativas nos 2 modelos (SA vs. EPE) no que respeita aos recursos humanos.
semmisericórdia

3 Comments:

Blogger coscuvilheiro said...

SPA, SA, EPE parecem siglas de um jogo que parece ser jogado pelo senhor ministro conforme as conveniências da contabilidade da saúde.

Fica-nos essencialmente a sensação que a mudança SA- EPE, não era necessária, servindo apenas descredibilizar o processo de empresarialização dos hospitais que, apesar de inúmeras vicissitudes, dava provas de constituir um projecto inovador capaz de produzir importantes mais valias para a gestão dos hospitais do SNS.

9:59 da manhã  
Blogger Peliteiro said...

Depois dos EPE, Correia de Campos criará agora os Hospitais XXX.

XXX de obsceno, que não deveria ser observado por menores de 18 anos, tanta é a desfaçatez, a incompetência, o descontrolo, a deriva e a impunidade reveladas por esta medida, um perfeito exemplo de como não deve ser feita política de Saúde.

2:14 da tarde  
Blogger saudepe said...

SA ou EPE, dois modelos para um capricho.

Os piores hospitais regressam ao SPA.

O que acontecerá aos hospitais com melhores resultados ?
O ministro não arriscou dizer.

Os melhores hospitais, os mais bem preparados para a realização de lucros a curto prazo passarão, naturalmente, para a exploração privada.
Parece-me lógico face á pedagogia avançada pelo senhor ministro.

A política de mercantilização dos cuidados de saúde defendida por CC, far-se-à em definitivo à estrada após a apresentação do estudo encomendado sobre a sustentabilidade do SNS.

4:44 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home