quinta-feira, dezembro 28

Gestão Profissionalizada, ainda há esperança

Há uma dimensão macroeconómica na saúde, que urge fixar ou manter sob controlo, e que tem sido o quebra-cabeças dos políticos que têm assumido a pasta da saúde – a % do PIB destinada aos cuidados de saúde.
Também os académicos estão de acordo quanto a este desiderato. E os seus trabalhos tendem a explicar as causas do aumento da despesa, ainda que os trabalhos apresentados não tenham esgotado todas as vertentes. A tarefa não é fácil mas é fundamental conhece-las se queremos alterar, de forma sustentada e segura, o rumo das coisas.
A acção dos nossos políticos, os de hoje e os de ontem, tem motivações suficientemente fortes para os manter entretidos com projectos, ideias miraculosas, que pouco acrescentam à sustentabilidade do nosso SNS.
E até descansam consciências com fenómenos mais ou menos idênticos, ainda que de diferente dimensão, verificados noutros países comunitários. Afinal o fenómeno não é só nosso, dizem. Quem me dera, contudo, que estivéssemos ao seu nível de desempenho, satisfação do doente e eficiência, apesar de ainda haver muito para fazer.
Os Bloguistas do saudesa tem dado o seu contributo com alguns remédios de experiência feitos e suportados em diagnósticos, em regra empíricos, sem o formato que os académicos muito bem reclamam mas, nem por isso, deixam de ser um bom contributo.
A tónica mais ouvida, nos últimos tempos, é que é necessário reduzir, ou mesmo eliminar, desperdício. Cortar nas gorduras como, figurativamente, se expressam os titulares do MS.
Não contesto esta forma, diria quase filosófica, de acção. Até tenho alinhado com ela. Mas mais importante que isso é conhecermos as causas e concentrarmos as nossas energias no seu combate que, apesar de necessário, nada nos diz que seja, só, o remédio certo e suficiente.
A nossa economia tem-se afirmado, de forma tendencialmente crescente, como uma economia de mercado. O papel do Estado musculado, interventor, patrão, centralizador de decisões, empregador, produtor e distribuidor dos mais variados bens e serviços, tende a ser cada vez mais diminuto. Mas ninguém gosta de perder. E nesta transformação são exactamente os nossos políticos os mais avessos á mudança. O que fazem é mais a reboque das circunstâncias, das imposições comunitárias, que da sua iniciativa incondicional.
É bem prova disto o recente documento da CE que dá, para os novos países aderentes, o exemplo da prática portuguesa, do que não deve ser feito. E a sua tónica assenta na necessidade de se reduzir o peso do Estado na economia.
É, por isso, necessário emagrecer, cortar nas gorduras, da apetência voraz dos nossos políticos que mandam na saúde portuguesa. Mas também eles não gostam de perder no que suporta o seu poder de manipulação, de decisão e, principalmente, de nomear os seus seguidores e adoradores. Já se viu algum reizinho sem o seu séquito?
Os nossos políticos sentem-se mais seguros mandando. Ceder o poder de decisão aos cidadãos, á sociedade, é um processo doloroso. Mas é incontornável. E é nesta etapa que considero fundamental, prioritário, agir.
Faço minhas, se tal me é permitido, as palavras do AIDENÓS – O futuro da saúde em Portugal (6) -”4. Para definir correctamente as prioridades, há uma condição que considero mais do que importante: é imprescindível desenvolver ou criar no MS e nos Serviços que o apoiam capacidade de definição e de avaliação e controlo porque esta é imprescindível para a navegação que se mostra necessária ao SNS..
Interpreto a afirmação como tendo por conteúdo a necessidade do MS eleger o Planeamento e Controlo como instrumento privilegiado para a condução da acção. Convém salientar que esta utilização tem de ser feita com profissionalismo e saber e não, como é prática, dum modo faz de conta e suportada no improviso tão ao jeito dum certa mentalidade latina.
Introduzir á prática do planeamento e controlo operacional nos estabelecimentos de saúde é, na minha opinião, o único caminho capaz de reduzir e eliminar desperdício e de gerar eficiência. É o principal instrumento de gestão que, no actual estadio das coisas, é capaz de mobilizar todos os profissionais ligados aos estabelecimentos de saúde, se bem utilizado e, nomeadamente, na vertente da negociação.
Que não se continue a brincar com coisas sérias como é demonstrativo a farsa da contratualização que não responsabiliza ninguém, nem é susceptível de o fazer, não nos levando a lado algum que não seja maior carga burocrática.
Ainda tenho esperança de ver os responsáveis pelo MS com práticas e atitudes de gestão profissionalizada, bem suportada no saber que as Escolas de Gestão nos ensinam e que as empresas e organizações de sucesso praticam.
xicodocanto

1 Comments:

Blogger saudepe said...

Plenamente de acordo com o xico do canto quanto à contratualização.
Construções na areia vão com a próxima maré.

2:44 da manhã  

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