É impossível um médico trabalhar assim
O texto do JMS link é um bom pedaço de demagogia e de oportunismo.
As dificuldades na identificação do problema são evidentes:
a) Nem sequer expõe bem o problema, verificando-se alguma confusão: i) Problema é só no OBS? ii) É no atendimento ambulatório - em todo ou só no médico? iii) Problema é permanente e geral (acontece sempre) ou apenas agora - com gripes e problemas respiratórios?
b) Repare-se que se for só no OBS o problema resolve-se provavelmente com melhor organização/gestão clínica: dar alta para internamento atempadamente, gerir adequadamente as camas do internamento, etc.
c) Se o problema é temporário e há boa produtividade então um reforço temporário de pessoal pode ser a solução.
d) Se o problema acontece apenas nalguns períodos do dia a solução passa por ajustar pessoal à procura (mais nuns períodos, menos noutros).
e) Claro se problema é geral (todos os SU e HH, em Portugal) deve pugnar por solução geral:
i) Aumento da resposta dos cuidados primários (programada e não programada); ii) Aumento da resposta na Consulta Externa hospitalar (menores listas de espera levam a menor afluxo ao SU); iii) Limitações de acesso de tipo clínico e administrativo (incluindo taxas moderadoras), etc.
Mas o que impressiona é que uma pessoa aparentemente tão sapiente e tão interessada na qualidade do atendimento e nos doentes não tenha dedicado um segundo sequer a apresentar uma sugestãozinha, fosse quanto à organização do Serviço (atendimento médico, OBS, SU), do seu hospital (percebe-se que o quer melhorar mas esqueceu-se de sugerir medidas) ou da rede de urgências. Tratou apenas de "declinar responsabilidades" e, note-se, não apenas as suas e no local em que trabalha mas de todos "... pelos erros que possam ser cometidos em situações de sobrecarga de doentes NOS serviços de urgência de QUALQUER instituição de saúde...".
Para ajudar a compreender a situação agradeço que vejam o quadro seguinte quadro (link) cujos comentários apresento no mesmo.
A população que paga os impostos e os profissionais tem direito a ver todos os ângulos do problema, como o autor (JMS) também tem de a analisar e de a difundir para os colegas. Talvez assim se perceba que nem tudo o que luz é ouro, ou melhor, muita da luz que aparece deve-se apenas a pirite...
Quem quiser melhorar o SNS deve apresentar sugestões e promover alternativas, sempre que o possa fazer e nos locais apropriados. Melhora-se mais o SNS analisando e difundindo informação e dados quantitativos que fazendo descrições cheias de adjectivos, pressupostos e distância. É bom reclamar reclamar voz e mostrar proactividade, mas deve fazer-se sobretudo a contribuir para a melhoria, não apenas a reclamar e desresponsabilizar-se ... E tudo isto com uma atitude de quem parece defender que dos profissionais qualificados não seja de esperar bons contributos para melhores cuidados, mas apenas mão-de-obra em linha de montagem sem voz nem ideias!
As dificuldades na identificação do problema são evidentes:
a) Nem sequer expõe bem o problema, verificando-se alguma confusão: i) Problema é só no OBS? ii) É no atendimento ambulatório - em todo ou só no médico? iii) Problema é permanente e geral (acontece sempre) ou apenas agora - com gripes e problemas respiratórios?
b) Repare-se que se for só no OBS o problema resolve-se provavelmente com melhor organização/gestão clínica: dar alta para internamento atempadamente, gerir adequadamente as camas do internamento, etc.
c) Se o problema é temporário e há boa produtividade então um reforço temporário de pessoal pode ser a solução.
d) Se o problema acontece apenas nalguns períodos do dia a solução passa por ajustar pessoal à procura (mais nuns períodos, menos noutros).
e) Claro se problema é geral (todos os SU e HH, em Portugal) deve pugnar por solução geral:
i) Aumento da resposta dos cuidados primários (programada e não programada); ii) Aumento da resposta na Consulta Externa hospitalar (menores listas de espera levam a menor afluxo ao SU); iii) Limitações de acesso de tipo clínico e administrativo (incluindo taxas moderadoras), etc.
Mas o que impressiona é que uma pessoa aparentemente tão sapiente e tão interessada na qualidade do atendimento e nos doentes não tenha dedicado um segundo sequer a apresentar uma sugestãozinha, fosse quanto à organização do Serviço (atendimento médico, OBS, SU), do seu hospital (percebe-se que o quer melhorar mas esqueceu-se de sugerir medidas) ou da rede de urgências. Tratou apenas de "declinar responsabilidades" e, note-se, não apenas as suas e no local em que trabalha mas de todos "... pelos erros que possam ser cometidos em situações de sobrecarga de doentes NOS serviços de urgência de QUALQUER instituição de saúde...".
Para ajudar a compreender a situação agradeço que vejam o quadro seguinte quadro (link) cujos comentários apresento no mesmo.
A população que paga os impostos e os profissionais tem direito a ver todos os ângulos do problema, como o autor (JMS) também tem de a analisar e de a difundir para os colegas. Talvez assim se perceba que nem tudo o que luz é ouro, ou melhor, muita da luz que aparece deve-se apenas a pirite...
Quem quiser melhorar o SNS deve apresentar sugestões e promover alternativas, sempre que o possa fazer e nos locais apropriados. Melhora-se mais o SNS analisando e difundindo informação e dados quantitativos que fazendo descrições cheias de adjectivos, pressupostos e distância. É bom reclamar reclamar voz e mostrar proactividade, mas deve fazer-se sobretudo a contribuir para a melhoria, não apenas a reclamar e desresponsabilizar-se ... E tudo isto com uma atitude de quem parece defender que dos profissionais qualificados não seja de esperar bons contributos para melhores cuidados, mas apenas mão-de-obra em linha de montagem sem voz nem ideias!
semmisericórdia
Etiquetas: Semisericórdia
12 Comments:
Obviamente discordo desta ideia do Semmisericórdia que pode levar a pensar que só tem legitimidade para criticar a situação no SNS quem apresentar soluções. Ou que a crítica deve vincular os seus autores a apresentar soluções.
Essa é uma tarefa dos que gerem as instituições e o SNS. E quem critica, pode até estar à frente das instituições mas não tem que ser limitado em tornar públicas as suas críticas.
Estaremos em dois momentos diferentes: o da crítica e denúncia de situações como a que foi descrita e da procura e adopção de medidas ou soluções para os problemas existentes.
E a denúncia pública é por vezes a forma que resta para sensibilizar os detentores do poder dentro e fora das organizações.
Não percebo, de resto, qual a dificuldade na leitura do texto de JMS. Para mim ele é claro como água cristalina: denuncia a situação existente na Urgência de alguns hospitais, a aprtir do que se verifica nos HUC, em relação com as deficientes condições físicas de trabalho dos profissionais, tornando difícil um atendimento de qualidade.
E nem sequer importa saber se o problema é permanente ou não. De resto é claro e evidente para todos nós que o afluxo às urgências não é uniformemente distribuído ao longo do dia, do mês ou do ano. Para quê questionar se o problema é permanente ou não?
Mas quando surgem situações que se prolongam por vários dias (e frequentemente muitos dias) os problemas agudizam-se. E se a situação das Urgências já é precária para responder a um dia normal de trabalho, torna-se caótica em períodos específicos de desmesurada procura induzida por gripes ou outras doenças "epidémicas".
E o que JMS vem também dizer-nos é que a actuação do MS tem contribuído para o agravamento da situação.
É isto que não agrada aos "apoiantes" de CC?! Se é, se o que está em causa é sermos ou não defensores da actual política de encerramento de serviços, então há que ser claros.
Eu sou dos que estão contra a centralização a "esmo" que tem sido prosseguida pelos actuais responsáveis da saúde. E como já disse, tem sido muito mais "fácil" encerrar serviços (por simples despacho) do que melhorar os existentes!
E sei por experiência própria o que são as dificuldades de profissionais de saúde,doentes e gestores responsáveis quando os SU ficam "entupidos". E não é com medidas paliativas ou conjunturais que os problemas se resolvem. O que JMS bem destaca é a dificuldade na prestação de um serviço de qualidade e em "segurança" aos doentes.
E talvez nenhum dos nossos hospitais do SNS tenha um SU com infraestruturas (instalações e equipamentos) adequados a um serviço de qualidade. Basta pensarmos nos tempos de espera verificados mesmo em dias de afluência média ao SU.
O congestionamento é o resultado, conseguido, não restam dúvidas, de centralização do atendimento e do modelo desadequado de gestão de RRHH nas unidades de saúde. Os surtos de gripe, por exemplo, não deveriam ser tomados como imprevistos, o recurso a séries estatísticas poderia minimizar esse factor de imprevisibilidade e possibilitar um planeamento de recursos que dê resposta aos picos de afluência. Mas, se a ideia é abandalhar para privatizar, isso esta a ser conseguido em pleno.
O texto é demagógico, oportunista e os indicadores de produtividade do HUC são ruins.
Ficámos, no entanto, também a saber, que, daqui em diante, quando se verificar um qualquer pico de afluência aos serviços de urgência de um qualquer hospital da rede pública (até ver) basta consultar a Contabilidade Analítica do IGIF para ficarmos a saber se a dito (pico de afluência) se justifica (e é justificável) ou não.
Porque será que quando se relatam as dificuldades, os problemas, as apreensões e se criticam as medidas tomadas que em vez de aliviarem as dificuldades, resolverem os problemas e acalmarem as apreensões, se apelida de demagógico e oportunista quem deles é relator?
Contrapõem os críticos do documento com dados contabilísticos de fiabilidade duvidosa e que analisados duma maneira “fria” e sem o conhecimento da realidade local, ainda menor fiabilidade lhes confere.
Escolhem-se criteriosamente os valores que fazem sustentar a crítica e ocultam os que a contrariam alegando a subjectividade ou a falta de objectividade.
Com razão, de facto.
Mas…mesmo correndo o risco da subjectividade...
Que nível de qualidade assistencial é dada nas instituições comparadas? Qual o tempo de espera no SU? Qual o grau de satisfação? Qual a taxa de abandonos? Qual a atitude terapêutica adoptada? Qual a taxa de mortalidade e morbilidade? Que equipe médica está presente? Qual a qualidade dos profissionais (muitos deles indiferenciados e de preparação duvidosa)? etc, etc e etc...
A importância que está a ser dada a este documento é resultante da importância que muitos acham dever ser dada ao SNS e pelo interesse de repetida e hipocritamente se tentar atirar para cima dos profissionais da saúde (médicos incluídos) o ónus dos males do SNS.
Não proponho aqui nenhuma solução, só proponho que os que tão mal tratam os profissionais da saúde e os funcionários públicos em geral não se esqueçam que não é desta maneira (demagógica e hipócrita) que se faz pedagogia e se motiva para melhor produzir.
Dados do IGIF? Que dados?
Basta olharmos para os dados do CHC, dos HUC e do HSJ para ser legítimo colocarmos todas as dúvidas à fiabiliade dos dados.
Sabemos há muito (ou devíamos saber) que não há informação fiável ou que a informação disponível não corresponde a universos semelhantes.
E os técnicos superiores do MS ou dos HH mais do que ninguém devem ter disso consciência!
Considero esta discussão a pretexto do texto do JMS muitíssimo importante, pois ela é exemplar das atitudes e posições que temos visto defender a propósito do encerramento de unidades de saúde.
Ninguém esta disposto a discutir com seriedade esta matéria, mas tão só fazer chinfrineira,protestar e explorar os sentimentos das pessoas, como faz JMS.
O texto do JMS é demagogia e oportunismo político do mais barato. Dramatiza factos e situações do atendimento da urgência do HUC (que sempre experimentou grandes e pequenas dificuldades, como aliás todos os hospitais)tentando imputar culpas ao ministro pelos recentes encerramentos dos SAPs (que atendiam em média dois doentes e meio por noite).
Como peça literária o texto de JMS fraqueja no português coxo e repetitivo.
Tecnicamente, se queria discutir o entupimento das urgências devido a qualquer dificuldade: deficiências estruturais do hospital, falta de recursos, pico de procura provocado por surto de gripe, procura acrescida provocada pelo encerramento doutras unidades do SNS, JMS não apresenta quaisquer dados que nos permitam analisar e discutir a situação, falhando redondamente este objectivo.
É percetível da parte de JMS um único objectivo: dar nas vistas junto da populaça.
Se a maioria dos defensores do SNS fossem desta marca seríamos confrontados com o seu desaparecimnto a muito curto prazo.
Felizmente o SNS conta com profissionais de outra estirpe e amor à camisola que dão mais do que recebem do SNS.
Só quem não vive os problemas pode colocar tantas questões, porque de facto a resposta a elas não lhes é apresentada em relatórios anuais elaborados pelo IGIF, com dados facultados pelas administrações, de outro modo não as colocariam.
Dizer que a ocupação do OBS deve ser gerida administrativamente com uma boa gestão das altas do internamento é de quem vê o tratamento do doente (que se encontra em estado crítico) do ponto bem afastado dum gabinete de gestão.
Nem tão pouco o é gerido através de altas do SU pois a sê-lo, não teriam indicação para se proceder ao internamento em OBS.
As “macas” assim denominadas existentes nos Serviços de Urgência não são as camas do OBS, mas sim macas (é mesmo assim que são chamadas) que acomodam os doentes, que impossibilitados de permanecerem sentados, ali aguardam observação ou o completar um tratamento instituído para poderem ter alta.
Nestas fases de maior afluxo efectivamente amontoam-se macas umas ao lado das outras e é assim nos HUC, no CHC, no HSJ ou HSM.
Não são este tipo de doentes que efectivamente deveriam ser assistidos no SAP.
Mas e os outros todos? Os 50 doentes/hora lá assistidos?
Será o SemMisericordia ou o joaopedro que vão definir a urgência ou não urgência duma consulta no SU hospitalar?
Será que os 50 doentes/hora não merecem o mesmo atendimento digno, mesmo no pressuposto de alguns deles não deverem ser considreados merecedores duma urgência efectiva?
É que todos têm que ser observados.
E o que os críticos do artigo se esquecem, é do urinol que fica em cima da cadeira ao lado da cabeceira do doente da maca, do doente que necessita de vomitar e não sabe onde, do que precisa de urinar e não tem espaço para se deslocar ou de defecar e tem que fazê-lo com dezenas de pessoas à volta dele...
É disto que JMS se queixa e eu me queixo também.
Não como doente, felizmente, mas como profissional que vê o doente como um ser humano e não como um “papel”, uma calculadora ou uma folha de Exel.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Caro Semmisericórdia,
Em relação ao seu comentário ao meu comentário ao post “É impossível um médico trabalhar assim”, julgo serem devidos da minha parte os seguintes esclarecimentos:
1.É óbvio que li o post original. E até, repare, tive o cuidado de escrever “pode levar a pensar que só tem legitimidade…”. O que é diferente de que “se pretende que só tem legitimidade…”.
2.Mas, na verdade, foi você que escreveu: …”Mas o que impressiona é que uma pessoa aparentemente tão sapiente e tão interessada na qualidade do atendimento e nos doentes não tenha dedicado um segundo sequer a apresentar uma sugestãozinha…"
3.O que eu não percebo é que o Semmisericórdia continue com dificuldades em identificar o problema trazido a público por JMS.
Será que o texto que se segue não está escrito em português?
Vejamos o que escreveu JMS:
…”O espaço físico não comporta esta qualidade de doentes e os recursos humanos e técnicos, sobretudo os primeiros, são claramente insuficientes nas horas de maior sufoco.
Em dias de maior enchente não há condições para observar os doentes, nem macas suficientes para os deitar! Interrogamos um doente e estão vários a escutar a nossa conversa! Observamos outro doente e somos acompanhados pelo olhar atento de uns quantos! Queremos auscultar um coração, mas o ruído de fundo parece o de uma discoteca! Necessitamos de medir a tensão arterial e temos de ir em verdadeira gincana entre cadeiras e macas, buscar um aparelho que, muitas vezes, não existem em número suficiente! Palpamos abdomens com doentes sentados porque não há um local apropriado para os deitar! É necessária uma glicemia capilar mas, no meio da confusão, já ninguém sabe onde está a máquina! É importante administrar um medicamento ou colher sangue para análise, mas os enfermeiros estão sobreocupados! É preciso transportar um doente à ecografia, mas não há auxiliares disponíveis! Chega um doente grave e está outro a gritar por um urinol! Os telefones tocam por informações ao mesmo tempo que os doentes (os que falam) solicitam assistência! Tão depressa um doente está em risco de aspirar um vómito quanto é necessário acorrer a um doente desorientado à beira de se atirar da maca abaixo! Os frascos de soro de 100cc esgotaram, pelo que é necessário desperdiçar mais tempo a preparar diluições com frascos de 500cc! Etc, etc, etc…”
4. Sem grande esforço (eu acho) que se percebe que são as deficientes condições físicas para um excessivo afluxo de doentes que estão, sobretudo, em causa. E naturalmente, face ao elevado número de doentes, os RH tornam-se insuficientes.
5. Deixe-me perguntar-lhe:
Já alguma vez visitou a Urgência de um Hospital em períodos de “um surto de gripe ou doenças respiratórias"?
Acredito, que o tenha feito, mas olhe que não parece!
6. Semmisericórdia,
Leia o texto de JMS publicado no Jornal Público. Não diz lá que: …”Quem fecha serviços de atendimento permanente nos centros de saúde sem alternativas efectivas, quem pretende encerrar serviços de Urgência sem a reforma profunda do sistema de Saúde, quem desorganiza serviços de Urgência com a contratação de empresas de mão-de-obra médica desligada da respectiva instituição, quem não cuida de criar mecanismos de assistência aos idosos que dispensem o recurso sistemático à Urgência hospitalar, quem não investe a sério em verdadeiros cuidados paliativos, quem se preocupa mais com o orçamento do que com os doentes, quem não tem conhecimento suficiente para introduzir reformais racionais e não racionamento cego, quem não dimensiona os recursos técnicos e humanos de forma dinâmica em função das necessidades, quem não resolve os constrangimentos ao fluxo de doentes, quem concede populares tolerâncias de ponto sem cuidar de mecanismos de compensação e rotatividade (só para as greves é necessário assegurar serviços
mínimos?), etc., etc., etc., quem governa deficientemente que assuma integralmente as suas responsabilidades!”
Acha que sou eu (que li o texto de O Público) que mando indirectas? Por amor de Deus…como disse uma vez o "seu amigo" CC “haja moralidade no debate…)
7. Entende o meu caro amigo que é "suposição e trama minha"
afirmar que “a situação das urgências já é precária para responder a um dia normal de trabalho, tornando-se caótica em períodos específicos de desmesurada procura…”
Então como explica que, na generalidade das nossas Urgências hospitalares os doentes, salvo raríssimas excepções, tenham que aguardar horas para serem atendidos?
Volto a fazer-lhe a pergunta: já alguma vez se deu ao “trabalho” de visitar um SU?
Já alguma vez foi utente de um SU, sem entrar pela porta do cavalo (sem ofensa)?
Vá, veja e depois diga-me em que SU, "porquê, onde e quando" não observou uma situação precária.
Ou será que vivemos em países diferentes?
Vá, meu caro amigo, a uma urgência e verá quanto tempo demora a ser atendido (salvo raríssimas excepções). E não me venha com essa do tempo de espera dos não urgentes. Porque quem vai a uma Urgência não sabe, nem quer saber se o seu caso é ou não urgente.
E na verdade mesmo os “urgentes” tem tempos de espera incompatíveis com um serviço de qualidade!
8. A terminar, Semmisericórdia, permita-me que lhe diga: eu deixo a CC o papel de atribuir culpas do mau SNS aos profissionais de saúde (como recorrentemente tem feito) e recuso-me a alinhar pelos discursos do poder político nesta matéria.
9. Também sei por experiência própria que quando as urgências “entopem” não é na gestão das altas e do internamento que se encontram as soluções. Essas serão meras panaceias, sem prejuízo de se dever melhorar a “gestão” de que fala. Infelizmente, o que mais frequentemente acontece é a degradação dos cuidados e a “espera” que a crise passe.
E nunca se chegam a "medir" as verdadeiras consequências de um atendimento menos cuidado, nem se apuram (também por isso) responsabilidades.
Semmisericórdia,
O aspecto central deste nosso debate é que "os problemas existem e são reais".
A situação descrita por JMS é recorrente nos nossos HH. E dela o colega acaba por desviar-se para se centrar nas causas (possíveis) e nas medidas a adoptar. As causa todos nós as conhecemos em maior ou menor profundidade, e as soluções existem mas se fôssem tão fáceis como pode transparecer da sua análise, há muito certamente o "caos" não se verificaria.
E neste debate quase me vejo tentado a pensar na velha história do ovo e da galinha. Há afluxo às urgências porque não há resposta em CE...e não há resposta em CE porque há afluxo (exagerado) à urgência.
Não me passaria pela cabeça que o Semmisericórdia nunca tivesse estado num SU, como bem se percebe. Mas ... uma provocaçãozita também não fica mal (mesmo antecipando-se a resposta).
Como já escrevi, as soluções teóricas são óptimas e abundam. O problema é quando passamos à prática.
E como o colega sabe, em momentos de grande afluxo aos serviços de saúde e em particular a SU, rapidamente se esgotam as soluções de internamento e/ou transferência interna ou externa. Mandar as pessoas para casa (rapidamente e em força?) pode ser uma solução mas sempre muito arriscada e limitada, sobretudo quando, como geralmente acontece, estamos perante grupos de risco (idosos, nomeadamente).
Seja como for, a deficiente distribuição de médicos e outros RH de saúde, o desequilíbrio na cobertura do território em infraestruturas, a falta de respostas exteriores, etc. não ilibam os governantes de responsabilidades.
E até parece que a moda é a concentração!
Em boa verdade, em matéria de reorganização do SNS, o que vamos vendo é "muita parra e pouca uva".
Se perante um problema como o descrito por JMS (e que, repito, é recorrente e verificável em vários hospitais) nos detivermos a procurar explicar as causas e a encontrar os "culpados" em vez de reconhecermos a sua existência real e tomarnmos medidas concretas e viáveis para a sua resolução, tudo vai certamente continuar como dantes. E o "caos" não tardará a repetir-se.
Os "trabalhadores" podem e devem ser solicitados a colaborar nas soluções (sem eles, nem soluções haverá) mas é um direito que lhes cabe alertar para o que está mal. Mesmo que se saiba que quase sempre os responsáveis não gostam muito de ouvir dizer as verdades.
Quanto às perguntas formuladas na parte final do seu comentário, considero as respostas tão óbvias que me dispenso de as dar, dizendo-lhe apenas que o meio termo é capaz de ser mais equilibrado (um mix de medidas certamente dará resultados).
Um abraço
Este artigo de JMS demagógico e oportunista para uns, realista e oportuno para outros, teve ou tem pelo o menos o mérito de lançar e prolongar esta discussão.
Mas é pela voz do SemMisericórdia que mais oposição a ele se levanta.
Já tive oportunidade de aqui interpretar as palavras do autor do referido artigo, como um desabafo. Um desabafo que apontava as razões da sua insatisfação. Insatisfação que se fundamenta na grande afluência de doentes ao SU dos HUC, nas condições físicas existentes (reconhecidas só por quem lá trabalha e por quem se vê obrigado a lá permanecer como doente) para receber tanta afluência no dia a dia e em dias como o que foi relatado e das consequências de tudo isto resultantes.
Não pertendo ser nem advogado de JMS nem tão pouco do Tonitosa (quem sou eu?)
Mas o SemMisericordia diz:
1º. “Já estive muitas vezes em SU, em todos os seus sectores, como profissional de saúde e também já estive como acompanhante e doente” mas não confirma nem desmente as condições boas ou más que encontrou;
2º. “estadia aí (no OBS) nada tem a ver com SAPs e a sobreocuapção deve-se a maior parte das vezes a demora na alta ou transferência para o exterior, ou a má coordenação clínica (interna)” . Efectivamente nada tem a ver com os SAP, como eu também referi, mas com que poder de análise e em que se baseia o SemMisericordia para fazer juízos de valor sobre a altura em que um doente deve ter alta, deve ser transferido ou deve abandonar o OBS? O dizer que “isto ou aquilo” frequentes vezes sucede, que me desculpe o SemMisericordia mas falta-lhe da mesma forma a objectividade que tanto defende.
3º. O que neste ponto diz é confuso e como tal de difícil análise. Não sendo a isto que nos habituou o SemMisericordia, depreende-se no entanto reconhecer a situação irregular de aumento de afluxo de doentes ao SU “não urgentes” (também por mim reconhecida, mas talvez não pelo doente). Não sendo esta situação criada pelos HH mas sim por um deficiente apoio ambulatório nos Cuidados Primários, não invalida o reconhecimento da falta de estruturas físicas para os receber com dignidade, já que fora dos períodos de maior afluxo, estas condições também o são deficientes para os doentes e profissionais.
4º pelo que aqui diz, dispenso-me de o comentar, alinhando assim, propositadamente na “não crítica” alicerçado na existência da liberdade de expressão crítica que a todos deve assistir.
5º. às várias questões que coloca eu responderia a todas elas com a minha concordância. Mas uma coisa é a realidade e outra é o que deveria ser. E o que deveria ser ainda não existe e enquanto não existe, tem o Serviço Público que dar resposta, com a dignidade que se exige, às solicitações que lhe são colocadas para não sucederem casos como os de Odemira.
Corrijam-se os males antigos e depois modernize-se o que há a modernizar.
Meu Caro Semmisericórdia,
Deixe-se de ser o defensor oficioso de uma política de saúde que só agrada ao grupo restricto daqueles que recebem benesses deste Governo.
Deixe essa sua tendência professoral e discuta as coisas práticas da vida.
Mais do que "mil ideias" o que precisamos é de mil e uma soluções aplicáveis no terreno. As teorias, meu estimado colega, têm que ser postas à prova e ser credíveis pela sua tradução em resultados.
E podemos e devemos transformar a realidade, mas não a podemos ignorar!
As suas profundas reflexões jamais me desviarão da crítica séria (ou apoio se for o caso) ao que no dia a dia preocupa os portugueses que procuram um serviço de saúde de qualidade. Não me deixarei nunca embalar no canto do cisne.
Mas porque fugiu o colega, sempre, à procura (fácil) de perceber o que JMS referiu no texto que publicou? Não foi o Semmisericórdia que enveredou pela "conversa da treta"? Não foi o caro colega que veio com a "conversa da treta" de que quem crítica só tem legitimidade se apresentar soluções?
Pode elevar o nível da discussão se considerar que os outros também são capazes de ter ideias. Caso contrário ficará muitas vezes a falar sozinho!
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